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Obstáculos para a disseminação do BIM no Brasil

3.5 Difusão do BIM no Brasil

3.5.1 Obstáculos para a disseminação do BIM no Brasil

Na literatura pertinente, em geral, confluem-se as opiniões sobre as dificuldades para se implantar a metodologia e as ferramentas BIM. Certamente há que ressaltar as especificidades relativas à indústria, aos escritórios de arquitetura e de engenharia e aos profissionais que atuam de forma liberal, no entanto, alguns aspectos são comuns a todos.

Algumas das principais dificuldades encontradas para a implantação da tecnologia BIM, segundo Souza, Amorim e Lyrio (2009) apud Coutinho (2015), estão descritas na Figura 18.

Esses dados foram obtidos pelos autores em pesquisa feita com escritórios brasileiros que tiveram a iniciativa de implantar a tecnologia BIM.

Conforme se observa, três aspectos se destacam na Figura 18: a falta de tempo para implantação, a resistência à mudança de software pela equipe e a incompatibilidade com parceiros de projeto.

Figura 18 - Dificuldades para implantação da tecnologia BIM

Fonte: SOUZA, AMORIM e LYRIO (2009) apud COUTINHO (2015).

Souza (2009), por sua vez, elenca os seguintes fatores que dificultam a implantação efetiva da tecnologia nos escritórios de projeto do país: a escassez de mão de obra especializada, a resistência à mudança, e o alto investimento com máquinas e treinamento.

Sousa e Meiriño (2013) apud Coutinho (2015), por sua vez, reforçam e abordam outros fatores que vêm se tornando críticos para o bom desempenho e utilização da tecnologia, destacando-se:

_ “A necessidade da configuração de parâmetros e definição de informações não geométricas nas fases iniciais de concepção do modelo, exige do usuário um certo nível de experiência e conhecimento projetual,...”.

_ “Outra questão relevante é o investimento financeiro necessário à implementação da metodologia BIM… (hardware, software e treinamentos)”.

_ “Observam-se dificuldades de interoperabilidade entre os softwares...” (softwares desenvolvidos por empresas diferentes, ou de versões diferentes não possuem total compatibilidade, sendo necessário a utilização de formatos IFC, que podem gerar perdas de informação).

_ “… o número de projetistas capacitados fazendo uso efetivo das ferramentas BIM é insuficiente para promover total integração entre os escritórios, empresas e profissionais autônomos de AEC...”.

_ “Reclamação frequente entre usuários remete à falta de flexibilidade dos “softwares”, ou seja, às poucas possibilidades de customização (as necessidades especificas da empresa em questão)”.

_ “... é necessária a criação de mecanismos jurídicos que assegurem a autoria dos projetos e a integridade das informações técnicas especificadas por todos os especialistas envolvidos”.

É importante ressaltar também que aspectos conjunturais influem na atual organização, estrutura e grau de maturação da Cadeia Produtiva da Indústria da Construção (CPIC), no Brasil, em especial se comparada com outros países.

De acordo com Amorim (2014) apud Coutinho (2015),

“A introdução do BIM rearticula atores em função de novas funções e conteúdos de produto, mas respeita as dimensões culturais, legais, regulamentares e estruturas econômicas mais gerais existentes... (A construção brasileira não será igual à alemã em decorrência da introdução do BIM...)”.

Para Coutinho (2015), “desta afirmação conclui-se que a introdução da tecnologia BIM pode ser afetada por aspectos conjunturais e de maturidade intrínsecos a realidade da CPIC no Brasil”.

Venâncio (2015), além de destacar a importância de se avançar na interoperabilidade entre os diferentes softwares, ressalta também a questão do alto custo que envolve a implantação da metodologia BIM, em especial no que se refere aos recursos tecnológicos e à formação de profissionais.

A adoção da metodologia BIM acarreta também custos elevados, tanto a nível de tecnologias de informação (hardware e software) como também no que respeita à formação de recursos humanos, havendo inclusivamente necessidade de melhorar a interoperabilidade entre diferentes softwares, para facilitar a partilha de informação (VENÂNCIO, 2015).

Amorim (2014) apud Coutinho (2015) aborda, ainda, outras questões relevantes, tais como:

 O grau de formalização e normalização de processos e produtos é diferente conforme países/regiões;

 A participação da concepção e gestão na formação de valor também varia muito;

 Os processos de formação de preços e de contratação (Design-Bid- Building, Procurement...) também são variados e têm forte influência nas decisões empresariais.

Considera-se importante a superação de todos esses entraves apontados; contudo, de acordo com Coutinho (2015), uma barreira difícil de transpor é a inércia da absorção de inovações por toda a Cadeia Produtiva da Indústria da Construção.

Essa inércia tem um componente cultural importante e muito comum do ponto de vista social; qual seja: a forte resistência às mudanças e ao novo, o que se expressa tanto em relação às pessoas quanto às empresas. Certamente este fator explica o fato da questão da resistência de profissionais às mudanças tecnológicas ser destacada com maior ênfase por alguns autores.

Para Kouider; Paterson e Thomson (2007) apud Maciel (2014), “um dos fatores que apresenta maior resistência para a implantação do BIM é a atual cultura de trabalho e a falta de vontade dos profissionais em mudar as práticas de trabalho tradicionais”.

Segundo Venâncio (2015),

Como em qualquer área inovadora, em que são adaptados os processos de trabalho a uma nova realidade tecnológica, existe alguma resistência dos meios humanos à mudança do processo tradicional de trabalho para esta nova realidade. A adoção desta metodologia exige às empresas adaptação e a reformulação da organização, sendo necessários novos procedimentos. Pode-se afirmar que este conjunto de fatores, tidos como entraves para a implantação do BIM, ainda se fazem presentes e representam grandes desafios a serem transpostos, não sendo, inclusive, um problema apenas do Brasil.

Vergara e Beiza (2012) apud Maciel (2014), a partir de pesquisa realizada no Chile, identificaram os seguintes problemas e desafios:

(...) a falta de compreensão do verdadeiro alcance da tecnologia, a falta de profissionais capacitados e programas de treinamento da tecnologia preparados sob medida para as necessidades da indústria de AEC, as

diferenças de interesse e de capacidades entre as diversas disciplinas envolvidas no desenvolvimento de empreendimentos, a necessidade de participação ativa de clientes e contratantes (públicos e privados), as barreiras econômicas para escritórios e empresas de pequeno porte e baixo apoio público para a inovação tecnológica no setor.

Tendo em vista a superação de tais desafios, Venâncio (2015) esclarece que “em alguns países, foram desenvolvidas normas que apoiam e orientam a adoção desta metodologia, guiando as empresas em termos de processos internos e externos”.

Ainda de acordo com esta autora (Id. 2015),

Para que esta metodologia seja aplicada em toda a sua potencialidade, todos os intervenientes no ciclo de vida de um edifício devem ter esta metodologia implementada, de forma a garantir um processo colaborativo que envolva todos os agentes.

Maciel (2014), por sua vez, destaca que para se ter sucesso na implantação da metodologia BIM faz-se necessário

(...) entender como os aspectos técnicos e conjunturais influenciam a adoção da tecnologia no Brasil. As empresas terão que amadurecer seu conhecimento sobre seus produtos e processos para poder realizar uma implantação bem-sucedida e que esteja habilitada para atingir bons níveis de troca de informação com diferentes parceiros, levando toda a indústria a mudança de paradigma.

Trata-se, pois, exatamente de mudança de paradigma, o que exige de profissionais e empresas da AEC maior conhecimento, determinação e vontade para observar e aplicar os requisitos necessários para a implantação da metodologia BIM. Sendo assim, procura-se, a seguir, elencar alguns dos requisitos necessários a implantação da metodologia BIM.