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4 REPELÊNCIA DE PREPARADOS HOMEOPÁTICOS E EXTRATOS

4.2.3 Obtenção dos preparados homeopáticos

Os preparados homeopáticos foram obtidos pelo método descrito na Farmacopéia Homeopática Brasileira (1997), elevados até a potência 30CH (centesimal hahnemaniana). As matrizes (dinamizações básicas) de Chenopodium ambrosioides e Taraxacum officinale foram adquiridas de farmácias homeopáticas do município de Lages – SC. Os nosódios foram preparados a partir de dois diferentes métodos de obtenção da tintura mãe, por maceração e trituração:

a) Método de maceração: Para a obtenção da tintura mãe através do método de maceração foram utilizadas 5 g de adultos de A. obtectus vivos para 95 ml de álcool 70%. A mistura foi acondicionada em um frasco de vidro coberto com papel alumínio e deixado macerar por 20 dias, o qual era agitado manualmente todos os dias durante o período de maceração. No final do período de maceração foi realizada a diluição em álcool 70% e a dinamização com auxílio de dinamizador mecânico até a potência 30CH.

b) Método de trituração: Para compor a amostra da matéria prima foram utilizados 5 g de adultos vivos de A. obtectus, pré-triturados em almofariz para homogeneização. Em seguida procedeu-se a desconcentração e trituração com auxilio de almofariz e pistilo até a potência 3CH trit, em meio sólido, utilizando lactose. As demais potências seguintes a 3CH

trit foram obtidas em meio líquido, utilizando álcool 70% para as diluições e dinamizador braço mecânico para as sucussões até a potência 30CH.

4.2.4 Obtenção dos extratos vegetais

Os extratos vegetais foram obtidos por maceração seguindo a metodologia descrita na Farmacopéia Homeopática Brasileira (1997), referente a tintura-mãe. Foram utilizadas folhas verdes das espécies Artemisia absinthium L., Ruta graveolens L. e Rosmarinus officinalis L. , colhidas em hortas de agricultores da região de Lages – SC.

O extrator utilizado foi o álcool de cana a 70%, na proporção de 10% da matéria prima, fazendo a correção para quantidade de matéria seca das folhas (MS=40% para todas as espécies utilizadas). A mistura de folhas mais extrator foi macerada por 20 dias, sendo agitada manualmente todos os dias e filtrada no final do período de maceração. O extrato obtido foi mantido em vidro âmbar com validade de um ano, sendo a quantidade suficiente para todas as repetições dos bioensaios.

4.2.5 Instalação e condução dos bioensaios

Amostras de 100 g de feijão foram colocadas em Erlenmeyers e com o auxílio de uma pipeta graduada 3 mL da solução pura de cada tratamento eram vertidos pelas paredes do frasco. Cada frasco foi agitado manualmente para possibilitar a distribuição uniforme do líquido sobre os grãos. Após isto, os grãos foram despejados cuidadosamente sobre uma folha plástica e deixados secar a temperatura ambiente por 2 horas, para então serem distribuídos nas placas de Petri, respectivamente aos tratamentos.

O delineamento experimental foi de blocos casualizados com dez tratamentos e cinco repetições, sendo o bioensaio repetido em três épocas diferentes. Caixas nas dimensões de 0,5 x 0,5 x 0,3 m com fundo de madeira, lados e tampo telados foram utilizadas como arenas para a condução dos ensaios de múltipla escolha. Os tratamentos foram: extratos de R. officinalis,

R. graveolens e de A. absinthium; nosódio macerado de A. obtectus 30CH, nosódio triturado

de A. obtectus 30CH, Taraxacum 30CH, Chenopodium anthelminticum 30CH, água destilada, álcool 70% e a testemunha sem intervenção. Placas de Petri destampadas com 20 g de feijão tratado constituíram as parcelas que, foram aleatoriamente distribuídas no interior de cada caixa, formando um círculo. No centro de cada caixa telada foram liberados 200 insetos

adultos com até 24 horas de idade. As caixas foram mantidas em sala escura a temperatura de 25±2°C e umidade de 60±10%.

Doze horas após a liberação dos insetos, iniciaram-se as avaliações. Nos três primeiros dias após a liberação a avaliação foi realizada a cada doze horas e após este período continuaram a cada vinte e quatro horas, estendendo-se por 10 dias consecutivos. Durante a avaliação, contou-se o número de insetos presentes no interior das placas de cada tratamento com auxílio de um pincel, sem removê-los ou retirar as placas da caixa. O número de insetos dispersos ou neutros, que não estavam em nenhuma placa de Petri/ tratamento, foi obtida da subtração do número de insetos liberados na caixa e da soma dos insetos presentes nos tratamentos.

Ao final do período de avaliação, os adultos foram retirados, as placas com os grãos foram fechadas e vedadas com filme de PVC para serem armazenadas em BOD a temperatura de 25±2°C e umidade relativa de 60±10% por 35 dias. Após este período foi feita uma única avaliação contando-se o número de insetos emergidos, com auxílio de uma pinça, definindo o efeito sobre a progênie aos 45 dias após o tratamento de grãos.

4.2.6 Análise estatística

As análises estatísticas foram realizadas a partir dos dados conjuntos resultantes dos três bioensaios, utilizando-se modelos lineares generalizados clássicos e modelos lineares generalizados com medidas repetidas no tempo, de acordo com a situação em estudo (DOBSON, 2002; LITTEL et al., 2006). As comparações entre os tratamentos foram efetuadas por meio de contrastes específicos (STEEL et al., 1997) e testadas através do teste 2. O sinal da estimativa demonstra o resultado da subtração entre os fatores analisados. Quando houve efeito significativo do fator tempo de leitura foi ajustada equação de regressão, tomando-se dados de todos os tratamentos. Todas as análises foram conduzidas usando-se os procedimentos GENMOD e GLIMMIX do software computacional estatístico SAS® (STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM, 2003) ao nível mínimo de significância de 5%.

4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os contrastes entre tratamentos homeopáticos e fitoterápicos não apresentaram diferença significativa quando comparados isoladamente com o tratamento testemunha sem

intervenção, nem quando comparados entre si, para a estimativa do número de insetos presentes nos diferentes tratamentos (Tabela 4). O número de insetos encontrados na média dos tratamentos ao longo do período de avaliação foi maior que na testemunha sem intervenção, porém estes tratamentos não foram significativamente atraentes para os adultos de A. obtectus (Figuras 2A, 2B, 2C). Esta tendência se manteve nas três épocas avaliadas.

Observou-se que, já na primeira avaliação, os insetos apresentaram imediata mobilidade na busca dos grãos tratados ou não (Figura 2). A análise de regressão, na média dos tratamentos, ajustou-se significativamente ao modelo exponencial (Figura 3). Isto significa que todos os tratamentos reduziram seu efeito de repelência ao longo do período de avaliação em taxas levemente decrescente. Fato que pode ser também detectado na observação do aumento do número de insetos encontrados fora das parcelas, e por isso chamados neutros (Figura 2).

Tabela 4 - Contrastes referentes a não-preferência apresentada por adultos de Acanthoscelides obtectus para grãos de feijão tratado com preparados homeopáticos e extratos vegetais. Lages, SC, 2008.

Contrastes Estimativa1 Pr> 2

Testemunha x Demais tratamentos -3,1223±3,1223NS 0,3173

Testemunha x Extratos vegetais -1,4542±1,0963NS 0,1847

Testemunha x Preparados homeopáticos -1,0357±1,4134NS 0,4637

Extratos vegetais x Preparados homeopáticos 2,7099±1,9929NS 0,1739 NS Não significativo a 5% de probabilidade.

1Médias ajustadas (±Erro padrão).

Como o período de vida na fase adulta de A. obtectus é relativamente curto, cerca de 15 dias, é possível que após o período ativo de oviposição, cerca de 5 dias, o feijão por si só passa a não ser mais atrativo aos adultos, já que estes não se alimentam dos grãos, sendo seu único interesse a possibilidade de perpetuação da espécie (HILL, 1990).

Mazzonetto & Vendramim (2003), estudando o efeito repelente de pós de origem vegetal, detectaram que as espécies estudadas podiam ser tanto neutras, como repelentes ou atrativas aos adultos de A. obtectus, sendo o pó de Chenopodium ambrosioides considerado repelente a estes insetos. Jovanovic et al. (2007) observaram que os extratos de Taraxacum

officinale na concentração de 30 e 100% foram repelentes para os adultos de A. obtectus. Os

resultados aqui encontrados para estes gêneros vegetais divergem do relato destes autores, visto que os preparados homeopáticos estudados não foram repelentes aos adultos do

caruncho. Tal efeito é explicado por Bonato & Peres (2007), que afirmam terem os preparados ultradiuídos e sucussionados efeito similar a ondas eletromagnéticas, possuindo dinâmicas diferentes para cada potência. Assim, quando se trabalha apenas com uma potência, como a 30CH, pode-se correr o risco de incrementar ou retardar o efeito, ou até mesmo considerar o medicamento homeopático ineficiente.

Da mesma forma, segundo Vieira et al. (2001a), é necessário pesquisar qual o método ideal de utilização do princípio ativo dos extratos vegetais. Uma mesma planta pode apresentar diferentes modos de ação quando for testada em diferentes modos de extração, ou ainda com diferentes solventes. Neste caso, mesmo sendo conhecido o potencial repelente ou insetífugo das plantas estudadas (SILVA JÚNIOR, 2003), o método de extração ou o solvente utilizado podem não ter sido adequados a fim de extrair o princípio ativo das plantas.

Figura 3 - Presença de adultos de Acanthoscelides obtectus entre os grãos de feijão, na média dos tratamentos, para os diferentes intervalos de leitura. Lages, SC, 2008.

Por outro lado, as avaliações posteriores do número de insetos emergidos, após 45 dias da montagem do ensaio, no efeito de repelência, mostraram resultados significativos na comparação dos extratos e preparados homeopáticos com a testemunha (Tabelas 5 e 6). Embora os insetos não tenham sido repelidos pelos tratamentos em comparação a testemunha, para os contrastes envolvendo a progênie, o efeito dos tratamentos foi significativo (Tabela 6).

Figura 2 - Presença de adultos de Acanthoscelides obtectus entre grãos de feijão tratado com preparados homeopáticos e extratos vegetais. (A) Bioensaio A; (B) Bioensaio B; (C) Bioensaio C. T1: Alecrim; T2: Arruda; T3: Losna; T4: Nosódio macerado; T5: Nosódio triturado; T6: Taraxacum; T7: Chenopodium anthelminticum; T8: Água; T9: Álcool 70%; T10: Testemunha sem intervenção. Neutros: insetos dispersos, que não estavam presentes em nenhum tratamento nas placas de Petri. Lages, SC, 2008.

A análise de contrastes, realizada com o tratamento testemunha sem intervenção versus os demais tratamentos mostrou haver significância em relação à emergência de adultos para o efeito de repelência. O tratamento testemunha apresentou maior número de insetos emergidos durante o período em que as parcelas ficaram em repouso após 45 dias do tratamento dos grãos (Tabela 5).

Tabela 5 - Efeito aos 45 dias após tratamento, expresso em número de insetos emergidos de Acanthoscelides obtectus em grãos de feijão tratado com preparados homeopáticos e extratos vegetais. Lages, SC, 2008.

Tratamento Insetos emergidos (nº)

1

Bioen.A Bioen.B Bioen.C

Extrato de Alecrim 37,0 0,2 2,0 Extrato de Arruda 12,4 1,2 0,2 Extrato de Losna 0,8 27,8 0,2 Nosódio macerado 30CH 0,0 6,0 0,0 Nosódio triturado 30CH 15,2 0,8 0,0 Chenopodium anthelminticum 30CH 18,6 2,6 0,8 Taraxacum 30CH 22,6 0,8 0,0 Água destilada 1,4 4,0 2,0 Álcool 70% 15,4 2,0 1,2 Não intervenção 49,2 7,2 2,2

1Média de cinco repetições

Para o contraste envolvendo a testemunha versus os extratos vegetais, houve também efeito significativo, com maior emergência na testemunha, da mesma forma que o contraste da testemunha versus tratamentos homeopáticos. Com base nestes contrastes pode-se verificar que a estimativa da testemunha em relação aos tratamentos com homeopatia, que foi de 5,47, foi maior que a diferença encontrada no contraste testemunha versus extratos vegetais, igual a 2,45 (Tabela 6). Isto evidencia que os tratamentos homeopáticos apresentaram maior efeito repelente após 45 dias do tratamento sobre a progênie emergida do que os extratos vegetais, quando comparados com a testemunha.

O efeito de preparados homeopáticos sobre o comportamento de insetos já foi comprovado por Giesel et al. (2007) no manejo da formiga cortadeira, no qual nosódios macerado e triturado de formiga apresentaram redução significativa de forrageamento do gênero Acromyrmex spp.

Tabela 6 - Análise de contrastes referentes ao efeito repelente após 45 dias do tratamento, de Acanthoscelides obtectus em grãos de feijão tratado com preparados homeopáticos e extratos vegetais. Lages, SC, 2008.

Contrastes Estimativa1 Pr> 2

Testemunha x Demais tratamentos 11,2501±3,0140* 0,0002

Testemunha x Extratos vegetais 2,5585±1,1343* 0,0241

Testemunha x Preparados homeopáticos 5,4748±1,6289* 0,0008

Extratos vegetais x Preparados homeopáticos 6,1905±4,7306NS 0,1907 1Estimativa ajustadas das três repetições do bioensaio (±Erro padrão).

* Significativo a 5% de probabilidade. NS Não significativo.

Como os adultos do caruncho não causam danos aos grãos, é de suma importância que os tratamentos reduzam a reprodução ou oviposição de A. obtectus. O efeito pode ter ocorrido através de compostos bioativos que tenham influência na postura e desenvolvimento de larvas de A. obtectus. A redução da progênie de A. obtectus já foi verificada com extratos de Urtica

dioica L. e Taraxacum officinale L. (JOVANOVIC et al., 2007), extratos de Piper nigrum L.

(BOFF et al., 2006) e pó de Chenopodium ambrosioides L. (TAPONDJOU et al., 2002). Baldin et al. (2008) detectaram que pós de espécies vegetais podem ser neutras, estimulantes ou deterrentes da oviposição de Zabrotes subfasciatus. Dentre as 17 espécies estudadas, destacaram-se Artemisia absinthium como estimulante e Chenopodium

ambrosioides e Ruta graveolens como deterrentes, resultados estes que divergem daqueles

aqui encontrados para as mesmas espécies, tanto na forma de extrato quanto como preparado homeopático.

Estes resultados reafirmam o proposto, que as formas de extração ou utilização podem expor diferentes princípios ativos existentes das espécies vegetais, que podem variar sua importância conforme a finalidade que se deseja aplicar (VIEIRA et al., 2001a). Neste caso o extrato alcoólico pode não ter sido a forma adequada de extração para expor o princípio inseticida almejado.

Os preparados homeopáticos e extratos vegetais não causaram repelência a adultos de

A. obtectus, porém, preparados homeopáticos reduziram a progênie com maior intensidade do

5 USO DE FOLHAS DE Rosmarinus officinalis L., Ruta graveolens L. e Artemisia

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