O MF foi isolado de diversas plantas na África do Sul (MARAIS, 1944; VICKERY; VICKERY; ASHU, 1973), Austrália (OELRICHS; McEWAN, 1962; McEWAN, 1964; APLIN, 1967; EVERIST, 1974; BARON et al., 1987) e Brasil (OLIVEIRA, 1963; MORAES-MOREAU et al., 1995; KREBS; KEMMERLING; HABERMEHL, 1994; CUNHA, 2008), cuja ingestão determina a morte com evolução superaguda em bovinos. Há ainda, fortes indícios de que essa substância também seja o princípio ativo das outras plantas tóxicas brasileiras que também determinam a chamada “síndrome da morte súbita” (SDCP - Sudden death causing plants). Acredita-se que, pelo menos 600.000 bovinos, morrem anualmente no Brasil intoxicados por SDCP (TOKARNIA, comunicação pessoal).
2.2.1 Plantas que contêm MF
No Brasil, o MF foi identificado por cromatografia em camada delgada (CCD) nas folhas de Palicourea marcgravii (OLIVEIRA, 1963; MORAES-MOREAU et al., 1995) e, através de espectroscopia por ressonância magnética nuclear flúor19 (RMN19F) tanto em P. marcgravii
(KREBS; KEMMERLING; HABERMEHL, 1994; MORAES-MOREAU et al., 1995), quanto em Arrabidaea bilabiata (KREBS; KEMMERLING; HABERMEHL, 1994). Cunha (2008) tentou identificar o MF em extratos de Mascagnia rigida através de CCD e CLAE e detectou a presença de pico cromatográfico com tempo similar ao observado para MF, entretanto, ressalta que “paira a dúvida se realmente o pico observado confirma, de forma definitiva, a presença de fluoroacetato no extrato da planta”, uma vez que segundo a autora “por esta técnica não pode ser descartada a presença de interferentes com tempo de retenção similar”.
Na África do Sul, esse composto foi isolado e identificado por Marais (1944) em Dichapetalum cymosum e, posteriormente, em diversas outras espécies de plantas desse gênero
(VICKERY; VICKERY, 1972; VICKERY; VICKERY; ASHU, 1973; NWUDE; PARSONS; ADANDI, 1977). Na Austrália, outros autores identificaram o MF por cromatografia gasosa em
Acacia georginae (OELRICHS; McEWAN, 1961; OELRICHS; McEWAN, 1962) e
Gastrolobium grandiflorum (McEWAN, 1964). Estudos posteriores detectaram e quantificaram o MF por espectroscopia de RMN19F em Oxylobium spp., A. georginae e Gastrolobium spp. (BARON et al., 1987), e por espectroscopia infra-vermelha em A. georginae (OELRICHS; McEWAN, 1962) e G. grandiflorum (McEWAN, 1964).
2.2.2 Plantas que provavelmente contêm MF
Embora ainda não tenham sido desenvolvidos estudos com a finalidade de detectar a possível presença do MF nas outras nove plantas brasileiras que causam “morte súbita” (P. grandiflora, P. juruana, P. aeneofusca, Arrabidaea japurensis, Pseudocalymma elegans, Mascagnia elegans, M. pubiflora, M. exotropica e M. aff. rigida) é provável, que esse composto também seja o principio tóxico determinante dos sinais clínicos e da morte dos animais intoxicados por essas plantas. Na Tabela 6, encontra-se resumido o quadro clínico-patológico observados nos casos de intoxicação por essas plantas.
Tabela 6. Aspectos clínco-patológicos da intoxicação experimental pelas outras nove plantas tóxicas brasileiras que causam “morte
súbita” em bovinos e, que provavelmente, contêm MF como princípio ativo (continua).
Planta Dose letal
(g/kg) administração e o Tempo entre a óbito
Quadro clínico Achados de
necropsia Achados histopatológicos
Palicourea aeneofusca 0,75 12h a 24h Cai em decúbito lateral e morre. Negativos Degeneração hidrópico-vacuolar dos
túbulos uriníferos contornados distais dos rins e vacuolização de hepatócitos.
Palicourea juruana 2,0 11h 50min a
13h 46min
Dispnéia, taquicardia, queda, perda do controle dos movimentos, decúbito lateral, movimentos de pedalagem, mugidos e morte.
Negativos Necrose hepática e necrose do miocárdio
(em um bovino). Leve a moderada
degeneração hidrópico-vacuolar dos
hepatócitos.
Palicourea grandiflora 1,0 e 2,0 Até 24 h Relutância em mover-se, decúbito
esternal, decúbito lateral, opistótono, movimentos de pedalagem, mugidos e morte.
Negativos Degeneração hidrópico-vacuolar dos
túbulos uriníferos contornados distais associada à picnose nuclear.
Arrabidaea japurensis 1,5 a 10 6h a 22h Andar cambaleante, tremores musculares,
súbita perda de equilíbrio, deita-se repetidas vezes, dispnéia, taquicardia, pulso venoso positivo, decúbito esterno- abdominal, decúbito lateral, movimentos de pedalagem, mugidos e morte.
Negativos Degeneração hidrópico-vacuolar dos
túbulos uriníferos contornados distais associada à picnose nuclear.
Pseudocalymma elegans 2,5 a 10 12h a 44h Andar rígido, instabilidade, tremores
musculares, deita-se rápido ou cai em
decúbito esternal com membros
posteriores esticados, opistótono,
nistagmo e taquicardia. Ocasionalmente ressecamento do conteúdo do omaso e reto. Vacuolização citoplasmática de
hepatócitos e miocárdio. Degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos uriníferos contornados distais associada à picnose nuclear.
Tabela adaptada de Pinto (2008).
F am íli a R ub ia ce ae F am íli a B ig no ni ac ea e
Tabela 6. Continuação.
Planta Dose letal
(g/kg) administração e o Tempo entre a óbito
Quadro clínico Achados de
necropsia Achados histopatológicos
Mascagnia elegans Indeterminada Indeterminada Queda ao solo, taquicardia, micções
frequentes, ligeira sobrecarga ruminal, falta de apetite, tremores musculares, movimentos de pedalagem e morte.
Negativos Não há dados.
Mascagnia publiflora 5,0 a 20 16h 48h Relutância em mover-se, andar rígido,
tremores musculares, micção frequente, deita-se ou cai quando movimentado, decúbito lateral, movimentos de pedalagem, mugidos e morte.
Negativos Degeneração hidrópico-vacuolar dos
túbulos uriníferos contornados distais associada à picnose nuclear.
Mascagnia aff. rigida 0,625 a 2,5 17h 45min a 37h 45min Queda em decúbito esterno-abdominal,
depois decúbito lateral, movimentos desordenados com a cabeça, tremores musculares, pulso venoso positivo, dispnéia, movimentos de pedalagem, mugidos, respiração espaçada ou forçada, movimentos de pedalagem e morte. Em administrações repetidas, observaram-se áreas branco-acinzentadas na região do músculo papilar.
Degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos uriníferos contornados distais associada à picnose nuclear. Em
administrações repetidas, processo
degenerativo, necrótico, proliferativo e inflamatório na região do músculo papilar.
Mascagnia exotropica 5,0 a 10 14h a 23h Cansaço, jugular ingurgitada, tremores,
taquicardia, decúbito, morte. Coloração avermelhada na
mucosa do intestino delgado e edema da subserosa da parede da vesícula biliar.
Degeneração hidrópico-vacuolar dos túbulos uriníferos contornados distais associada à picnose nuclear, congestão hepática centrolobular e hemorragias na mucosa do intestino delgado.
Tabela adaptada de Pinto (2008).
F am íli a M al pi gh ia ce ae
2.3 Histórico dos Estudos que Visaram Identificar o Princípio Tóxico de Palicourea