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Veja só esta questão:

(CESPE

– Câmara dos Deputados – 2014) Julgue o seguinte item, acerca de crimes relacionados a

arma de fogo e à propriedade industrial.

Se um indivíduo que não possua porte de arma de fogo transportar, a pedido de um amigo que possua o referido porte, munição de uma arma de fogo e, estando sozinho nessas circunstâncias, for encontrado pela polícia, tal fato configurará crime previsto em lei.

RESOLUÇÃO:

Quem tem a autorização para o porte de arma de fogo é o amigo, não o indivíduo que a transportou, o qual responderá pelo crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido por ter transportado ilegalmente a arma:

Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Item correto.

Vamos a uma outra?

(CESPE

– STF – 2013 - Adaptada) Ainda a respeito do Estatuto do Desarmamento, julgue os itens

subsequentes.

Incorrerá em contravenção penal por portar munição em desacordo com a legislação vigente uma pessoa que, durante abordagem em barreira policial, for surpreendida com munições de uso permitido sem que esteja autorizada a portá-la.

RESOLUÇÃO:

Negativo! Acabamos de ver que a pessoa que portar munição em desacordo com a legislação vigente também responderá pelo crime do art. 14 – tipificado como crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido

Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Item incorreto.

Jurisprudência dos Tribunais Superiores

Professor, eu pratico a conduta de porte ilegal de arma de fogo (art. 14) se eu portar uma arma desmuniciada

(sem munição)?

Oras, bolas... Se o mero porte de munição sem a arma já configura o delito do art. 14, quem dirá o porte de uma arma de fogo sem munição!

Segundo o STF, a posse (art. 12) ou o porte (art. 14) de arma de fogo configura crime

mesmo que ela esteja desacompanhada de munição.

Para o STF, a conduta de portar arma sem munição representa um crime de perigo abstrato, sendo irrelevante que a arma apreendida esteja desacompanhada de munição, já que o bem jurídico tutelado é a segurança pública e a paz social.

STF: “A 2ª Turma denegou habeas corpus no qual se requeria a absolvição do paciente — condenado pelo porte de munição destinada a revólver de uso permitido, sem autorização legal ou regulamentar (Lei 10.826/2003, art. 14) — sob o argumento de ausência de lesividade da conduta. (...) a objetividade jurídica da norma penal em comento transcenderia a mera proteção da incolumidade pessoal para alcançar, também, a tutela da liberdade individual e do corpo social como um todo, asseguradas ambas pelo incremento dos níveis de segurança coletiva que a lei propiciaria. Por fim, firmou-se ser irrelevante cogitar-se da lesividade da conduta de portar apenas munição, porque a hipótese seria de crime de perigo abstrato, para cuja caracterização não importaria o resultado concreto da ação”

(HC 113.295/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 2ª Turma, j. 13.11.2012 - Informativo 688).

O STF entendeu que o fato de o agente portar uma arma de fogo sem autorização, por si só, já caracteriza uma conduta perigosa, que põe em risco à sociedade.

Veja só esta questão:

(CESPE – PC/SE – 2018) Julgue o item seguinte, referente a crimes de trânsito e a posse e porte de armas de fogo, de acordo com a jurisprudência e legislação pertinentes.

O porte de arma de fogo de uso permitido sem autorização, mas desmuniciada, não configura o delito de porte ilegal previsto no Estatuto do Desarmamento, tendo em vista ser um crime de perigo concreto cujo objeto jurídico tutelado é a incolumidade física.

RESOLUÇÃO:

Negativo... Para o STJ e STF, o porte de arma de fogo de uso permitido é considerado crime de perigo abstrato, de modo que o simples fato de portar a arma desmuniciada não desconfigura esse tipo penal, não sendo necessário demonstrar a ocorrência de qualquer resultado posterior.

Item incorreto.

O STJ já decidiu que o porte de apenas um projétil - utilizado para ameaçar uma única pessoa - não

configura o crime do art. 14:

A Turma, por maioria, absolveu o paciente do crime de porte ilegal de munição; ele fora preso com um único projétil, sem ter havido apreensão da arma de fogo. O Min. Relator entendeu que se trata de crime de perigo abstrato, em que não importa se a munição foi apreendida com a arma ou isoladamente para caracterizar o delito. Contudo, no caso, verificou que não houve lesão ao bem jurídico tutelado na norma penal, que visa resguardar a segurança pública, pois a munição foi utilizada para suposta ameaça, e não é esse tipo de perigo, restrito a uma única pessoa, que o tipo penal visa evitar. E, por se tratar de apenas um projétil, entendeu pela ofensividade mínima da conduta, portanto por sua atipicidade” (HC 194.468/MS, rel. Min. Sebastião Reis Júnior, 6ª Turma, j. 17.04.2012 - Informativo 495).

E se o sujeito portar apenas uma arma quebrada, incapaz de efetuar disparos?

Para o STJ, é atípica a conduta de posse/porte ilegal de arma de fogo ineficaz – como é o caso de uma arma de fogo quebrada!

“Não está caracterizado o crime de porte ilegal de arma de fogo quando o instrumento apreendido sequer pode ser enquadrado no conceito técnico de arma de fogo, por estar quebrado e, de acordo com laudo pericial, totalmente inapto para realizar disparos” (AgRg no AREsp 397.473/DF, rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 5ª Turma, j. 19.08.2014, noticiado no Informativo 544). Em igual sentido - STJ: REsp 1.451.397/MG, rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 6ª Turma, j. 15.09.2015, noticiado no Informativo 570.

Contudo, haverá o crime de posse/porte ilegal (art. 12 ou 14) se ficar constatado que as munições estão aptas.

Lembre-se: o porte das munições, em regra, já é suficiente para configurar o crime, conforme o Estatuto do Desarmamento.

Agora suponha que Zezinho portou arma de fogo com a única e exclusiva finalidade de roubar um banco à mão armada... Como fica a situação de Zezinho?

Para o STF, o crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido pode ser absorvido quando a arma for utilizada exclusivamente para a prática do outro crime

9

.

Sendo assim, se ficar provado que o agente portou a arma de fogo exclusivamente para roubar, ele não será condenado pelo crime de porte ilegal de arma de fogo, respondendo “apenas” pelo crime de roubo majorado pelo emprego de arma!

9 STF. 1ª Turma. HC 120678/PR, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em 24/2/2015(Info 775).

Para o STJ, o porte ilegal de mais de uma arma de fogo, munição ou acessório, no mesmo contexto fático, constitui crime único, já que há uma única ação e consequentemente única lesão ao bem jurídico protegido (a segurança coletiva e a incolumidade pública).

Confere comigo o julgado:

O crime de porte de mais de uma arma de fogo, acessório ou munição não configura concurso formal ou material, mas crime único, se no mesmo contexto, porque há uma única ação, com lesão de um único bem jurídico, a segurança coletiva (HC 106.233 – SP - 03/08/2009).

Por outro lado, se as armas de fogo, munições ou acessórios forem de uso permitido e de uso restrito, por exemplo, NÃO haverá a configuração de crime único, ainda que apreendidas em um mesmo contexto fático:

Consoante a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, a conduta de possuir arma de fogo e munições de uso permitido e de uso restrito, ainda que aprendidas num mesmo contexto fático, não configura crime único, na medida em que, por se tratar de crimes distintos, atingem bens jurídicos diversos. No presente caso, o recorrido tinha em depósito, no interior do veículo, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar, arma de fogo de uso restrito (arma calibre .40 de marca Taurus); e, no interior de sua residência, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, arma de fogo e munições de uso permitido e munições de uso restrito (arma calibre .380, munições, uma espingarda de pressão e explosivo para detonação tipo emulsão power gel). Assim, inegável a configuração dos delitos previstos nos artigos 12 e 16, caput, e parágrafo único, inciso III, ambos da Lei n. 10.826/2003, em concurso formal (STJ, REsp 1.270.840/GO)