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OCUPAÇÃO DO DISTRITO DE ARACÊ PELA ESTRADA

2.1 - COLÔNIA DE SANTA LEOPOLDINA

O ponto de partida dos alemães e cearenses que se fixaram no distrito de Aracê foi, à época de sua chegada ao Espírito Santo, a colônia de Santa Leopoldina. Segundo Franceschetto (2014), a Colônia Imperial foi criada em 1856, em princípio com o nome de Santa Maria, localizada às margens do Rio Santa Maria da Vitória, rio que tem a sua foz junto à ilha de Vitória. Essa colônia se tornaria a maior colônia do Império Brasileiro. Sua ocupação inicial se fez a partir de alemães e suíços que estavam descontentes com o sistema de parceria nas fazendas cafeeiras paulistas.

O núcleo da colônia de Santa Leopoldina foi construído em uma área de terras de 500.000 braças quadradas, de propriedade dos fazendeiros José Cláudio de Freitas e Bento de Freitas. O núcleo começou a existir em 1856, mas essas terras só foram desapropriadas de seus antigos donos em 1875 (RÖLKE, 2016).

A colônia de Santa Leopoldina recebeu grandes levas de imigrantes, passando a sua população de 1.235 habitantes em 1867 para 5.000 em 1874 (ROCHA, 2000). Em 1877, já se contava com 11.366 habitantes (RÖLKE, 2016). Ainda que considerada uma das mais importantes da província, essa colônia tinha problemas com o solo fraco, o terreno muito acidentado e o transporte deficiente que encarecia os produtos (CELIM, 1984). Cultivava-se o café com boa produtividade por família e também se produzia milho, feijão, arroz, inhame e cará (RÖLKE, 2016). A Colônia de Santa Leopoldina estava, então, dividida em núcleos: Santa Cruz (Ibiraçu), Timbuí (Santa Teresa) e Porto de Cachoeiro. Estes, por sua vez, dividiam-se em distritos (RÖLKE, 2016).

O núcleo de Timbuí, situado a 10 km do Porto de Cachoeiro, sede da colônia de Santa Leopoldina, foi fundado em 1874 e recebeu, no ano seguinte, 325 tiroleses. A terra imprópria para o cultivo levou muitos colonos a abandonarem a região e se assentarem em terras devolutas nos vales dos rios Santa Maria e Santa Joana. O núcleo de Santa Cruz, localizado às margens do Rio Piraqueaçu, foi criado em 1877 e recebeu 134 cearenses no mesmo ano. Posteriormente para esta localidade se dirigiram levas de italianos (ROCHA, 2000).

O desenvolvimento aparece também nas benfeitorias recebidas pela Colônia de Santa Leopoldina. Uma agência do Correio foi instalada no ano de 1878, e o serviço de telégrafo, em 1879. Nesse período, havia também em funcionamento sete casas comerciais, uma farmácia, médico, artesãos, duas escolas, o porto e um rancho. O rancho destinava-se a receber as tropas vindas do interior carregadas de mercadorias, em especial o café, que voltavam para a sua localidade levando produtos que iriam abastecer as vendas e casas comerciais (RÖLKE, 2016).

A presença do porto foi fator que ajudou no desenvolvimento da colônia de Santa Leopoldina. A falta de estradas de boa qualidade forçava que todo o comércio da região central do Espírito Santo fosse feito por meio das tropas de mula desde os centros de produção, seguindo até onde o Rio Santa Maria deixa de ser encachoeirado e, então, por meio de canoas até o Porto de Vitória, seguindo pelos 60 quilômetros em que o rio é navegável (COSTA, 1982).

O fato da migração partindo do núcleo de Santa Teresa ter se ampliado para o norte não impediu que muitos imigrantes alemães se dirigissem para o Oeste, para as terras frias, região com altitude acima de 700 metros. Essa imigração interna ocorreu já com os filhos dos imigrantes. Avançou-se em direção às terras devolutas, ocupando-se terrenos entre 60 e 70 hectares, observando-se sempre que essas terras tivessem acesso a rios ou córregos (RÖLKE, 2016). No caso do distrito de Aracê, os cearenses fizeram este trajeto: saíram da colônia de Santa Leopoldina e rumaram para as terras mais altas, antes mesmo dos descendentes dos imigrantes alemães.

O projeto oficial da Colônia de Santa Leopoldina estava completo por volta do ano de 1880, com a área central da colônia toda ocupada e uma população de cerca de 7.000 habitantes. A colônia se tornou município com o nome de Santa Leopoldina, no ano de 1884. Com a emancipação, surgiu a administração da colônia de Santa Leopoldina. Da área da colônia denominada de “terra fria”, iniciou-se outro processo de imigração interna, dessa vez em direção a “terras quentes” (RÖLKE, 2016).

Segundo Costa (1982), durante cerca de cinquenta anos, o comércio no Porto do Cachoeiro se manteve intenso, trazendo, através das tropas de mula, e levando, de canoa, em direção ao porto de Vitória, mercadorias do Guandu, de Timbuí, de Santa Teresa, de Itaguaçu, de Afonso Cláudio e até de Marechal Hermes (hoje Mutum, Minas Gerais). Essas tropas traziam a

produção dessas regiões e depois retornavam a elas carregadas de toda sorte de mercadorias. Essa região se tornou assim o maior empório comercial do Estado do Espírito Santo à época.

Não havendo indústria nacional, e devido à procedência dos imigrantes estrangeiros, o alto comércio de Santa Leopoldina passou a importar da Europa e principalmente de Hamburgo não apenas ferramentas, mas utensílios domésticos e tecidos. Também eram importados produtos, como: comidas, bebidas e instrumentos musicais, além de artigos de luxo, como: rendas, porcelanas de Sèvres, de Limoges e até de Macau, brinquedos de Leipzig, perfumes franceses, máquinas de costura alemãs (Vesta e Vibratória) e vinhos de Borgonha e de Portugal. Representantes comerciais da Europa se dirigiam primeiro ao Porto de Cachoeiro e somente depois iam a Vitória atender ao comércio da capital (COSTA, 1982).

A construção de estradas, a chegada dos caminhões e a construção da ponte Florentino Avidos, que ligava a ilha de Vitória ao continente, fizeram com que Santa Leopoldina perdesse sua posição elevada e fosse iniciado um processo de retração da região (COSTA, 1982). Entre os ocupantes do distrito de Aracê que vieram de Santa Leopoldina pela Estrada Imperial seguindo em direção às terras mais altas estavam os imigrantes cearenses da família Pereira e Lima e os descendentes de imigrantes alemães, os Simmer e os Bickel.

2.2 - OS CEARENSES

Minha mãe, ela era cearense (BICKEL, 2018a).

A presença de cearenses no distrito de Aracê tem relação direta com as secas que ocorreram no Nordeste brasileiro, nos séculos XIX e XX. O fenômeno da seca é antigo na região e, segundo Nordoto (2016), as notícias de secas no Nordeste remontam desde o tempo do Brasil Colônia. Citando o padre jesuíta Fernão de Cardin, Nordoto (2016) afirma que, no ano de 1583, houve em Pernambuco uma grande seca que provocou tamanha esterilidade que não havia água para mover os engenhos e muitas plantações de cana e mandioca secaram, trazendo grande fome para o sertão. Consta ainda que, nessa seca, cerca de quatro a cinco mil indígenas movidos pela fome teriam descido do sertão e buscado ajuda junto aos brancos (NORDOTO, 2016).

Outro episódio de seca que se tem registro ocorreu no Rio Grande do Norte, nos anos de 1792-1793, causando grande fome e morte, e teria sido testemunhada pelo padre Joaquim José Pereira. Segundo Nordoto (2016), o padre narra que os retirantes, já sem forças, eram durante a noite atacados por um número impressionante de morcegos, e não havia quem os ajudasse a se livrar dos bichos já que todos tinham as suas forças minadas pela fome (NORDOTO, 2016,).

As secas ocorridas na passagem do século XIX para o XX foram as seguintes: de 1877-1879, de 1888-1889, de 1900, de 1915 e de 1919. A saída de trabalhadores da região da seca foi tão grande que preocupou os proprietários rurais que temeram a falta de braços quando as chuvas voltassem. Esses nordestinos embarcavam para regiões distantes, como a Amazônia ou São Paulo. Pelos números oficiais, até fevereiro de 1878, 18.000 pessoas partiram do Ceará somente pelo porto de Fortaleza e, até 1909, cerca de 2.500.000 pessoas saíram dos estados do Norte por esse mesmo porto (CÂNDIDO, 2011).

A saída do sertão não ocorria de maneira tranquila. A retirada dessas pessoas colocava em risco a segurança dos grandes proprietários e suas terras, já que os retirantes iam entrando nas fazendas pelos lugares onde passavam. Notícias da seca de 1877, em Quixeramobim, dão conta de que grupos de infelizes armados invadiram as povoações e as fazendas com o firme intuito de não morrerem de fome. Prestar assistência às vítimas das secas passou a ser mais do que um ato de caridade, mas sim uma medida de controle contra a violência (CÂNDIDO, 2011).

Além da fome, da perda de lavouras e de todos os problemas que acarretava para o homem do campo, a seca era também um drama para os que viviam na cidade. Esses retirantes chegavam famintos, desnutridos e debilitados, e os locais de destino não tinham como acolher tamanho número de pessoas. Famintos, os imigrantes saqueavam lojas e casas em busca de comida. Além do problema da fome, havia frequente ocorrência de doenças, como diarreia e varíola, entre outras (NORDOTO, 2006).

Uma das maneiras encontradas de socorro público aos necessitados das secas do final do século XIX e início do século XX era o recrutamento desses imigrantes como operários em grandes obras públicas. O objetivo, segundo o pensamento das elites, era de evitar o ócio das multidões de flagelados. Esse trabalho era imposto a todos os que estavam em condições de

trabalhar. Os retirantes tinham que se engajar em serviços urbanos ou atuar nas grandes obras de socorro público para, dessa forma, receber o auxílio que era oferecido pelo Governo. Com o trabalho dos retirantes da seca, foram construídas as estradas de ferro de Sobral e Baturité e o açude do Cedro, em Quixadá (CÂNDIDO, 2011).

O engajamento como trabalhadores não era espontâneo e nem pacífico. Vinculado ao recebimento do socorro público, a atividade era intensa e disciplinada, havendo o retirante que se submeter a engenheiros autoritários que muitas vezes eram estrangeiros. Quem se submetia ao trabalho nas obras públicas vivia em um ambiente que lhe era estranho em relação aos códigos de trabalho, e em espaços onde ocorriam grandes conflitos (CÂNDIDO, 2011).

Além destas questões relativas ao trabalho, havia outros problemas, como a falta constante de água e de comida, a moradia que era compartilhada em abarracamentos improvisados e as muitas doenças. Essas eram as características típicas da vida dos trabalhadores das obras públicas, o que justificava a falta de adesão dos retirantes (CÂNDIDO, 2011). Para ilustrar a situação de vida nos abarracamentos, um episódio narrado no livro “A fome”, de Rodolfo Teófilo, um dos fundadores da Academia Cearense de Letras, e citado por Nordoto (2011) traz os seguintes relatos:

A peste e a fome matam mais de 400 por dia! O que te afirmo é que, durante o tempo que estive parado em uma esquina, vi passar 20 cadáveres: e como seguem para a vala! Faz horror! [...] E as crianças que morrem nos abarracamentos, como são conduzidas! Pela manhã os encarregados de sepultá-las vão recolhendo-as em um grande saco: e ensacados os cadáveres, é atado aquele sudário de grossa estopa a um pau e conduzido para a sepultura (TEÓFILO apud NORDOTO, p. 167).

Durante a seca de 1888-1889, a preocupação com a debandada de trabalhadores levou os proprietários de terras a requererem mais construções públicas que pudessem fixar os retirantes no Ceará. Já sendo conhecida a estratégia governamental de liberar socorro para trabalhadores de grandes obras, esses retirantes se deslocavam para os locais onde se daria o início de nova construção. Os gêneros a serem distribuídos eram enviados para os depósitos dessas localidades. A condição em que os retirantes chegavam a esses canteiros era lastimável, de maneira que o resultado das tarefas era insatisfatório em relação ao esperado quando se observava a quantidade de trabalhadores. Muitos dos que chegavam aos canteiros estavam incapacitados para qualquer atividade (CÂNDIDO, 2011).

Em 1915, o governo do Ceará criou uma espécie de campo de concentração às margens das grandes cidades e buscou impedir que os retirantes entrassem no meio urbano. Nesses currais, os seres humanos se amontoavam aos milhares e não podiam sair sem autorização dos inspetores, eles eram vigiados todo o tempo por soldados (NORDOTO, 2006).

Souza (2005) esclarece que, no período de secas ocorridas entre 1877 e 1915, a família cearense esteve sob o signo da seca. Quando as secas se aproximavam, o sertanejo logo pensava na possibilidade de emigrar. O processo emigratório familiar, durante os períodos de seca, levou à construção da noção de abalo familiar a partir do distanciamento da noção de família patriarcal. As migrações para as cidades litorâneas e para fora do Ceará, para a região Sudeste, afetava a família no seu aspecto demográfico, sentimental e de economia doméstica. Essas transformações podem ser observadas a partir da reorganização do domicílio, da atuação de uma política que enquadrava os trabalhadores migrantes em uma concepção liberal de trabalho, como uma mão de obra fácil e barata, e ainda da migração como fator desencadeador da prática assistencialista que, estando nas mãos da elite local, fazia com que a mesma se beneficiasse dos recursos econômicos destinados às vítimas da seca (SOUZA, 2005).

Nesse contexto, a família cearense passa a figurar como vítima da estiagem e, com isso, atraía recursos que financiavam a chamada “indústria da seca”41

, reforçando o modelo político assistencialista que facilitava o deslocamento da população e a saída de suas casas rumo a Fortaleza e a sua concentração em cidades litorâneas, como Aracati, Araçaú, Baturité e Quixadá. Os períodos de seca acabaram por se tornar “a pedra angular” da construção da identidade regional na medida em que passou a fazer parte da memória do Ceará (SOUZA, 2005).

A seca, seguida da emigração, acabou por desequilibrar a ordem da família. Em fortaleza se concentrou um grande contingente de viúvas e órfãos que passaram a morar na periferia e eram considerados “inválidos”. Eram mulheres e crianças que, sem a presença do chefe de família, não tinham condições de obter sustento e que também por isso estavam excluídas da

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Segundo Matos (2012, p. 4), o discurso da seca e a indústria da seca vê a emergência do conceito de Nordeste, criado pelas elites políticas da região que têm nessa situação a justificativa para (supostamente) conseguir verbas públicas e resolver seus problemas econômicos.

possibilidade de retorno ao sertão. Em 1887, a capital do Ceará tinha 34% dos domicílios chefiados por mulheres (SOUZA, 2005).

Parte dessa população afetada pela seca, sem esperança de solução do problema da fome em sua própria região, encontrou na emigração para o norte e para o sul do Império uma alternativa de sobrevivência. Essas outras regiões para onde os cearenses emigraram estavam, naquele momento, em expansão econômica e, assim, abriram oportunidades de trabalho e acesso à posse de terra. No Ceará, a seca que se apresentou mais severa foi a de 1888-1889, quando cerca de 60 mil pessoas emigraram ou morreram em consequência dela (NOZOE; BASSANEZI; SAMARA, 2003).

A província do Espírito Santo era atrativa para esses retirantes porque possuía terras devolutas e apresentava falta de mão de obra devido às restrições que se impunha à escravidão e também às constantes baixas populacionais que eram provocadas por surtos epidêmicos de febre amarela, varíola e cólera. A mão de obra existente estava concentrada na produção de café, do açúcar, da aguardente e da farinha, o que ocasionava pouca disponibilidade de braços para a produção de gêneros de primeira necessidade. Essas questões levaram os governantes a investirem na imigração internacional e absorver também os retirantes da seca (NOZOE; BASSANEZI; SAMARA, 2003).

Os imigrantes cearenses que estavam entre as primeiras famílias que chegaram ao distrito de Aracê se retiraram do Nordeste na seca de 1888-1889, vindos de navio a vapor, com passagem paga pelo Governo provincial ou imperial. Nesse período de seca, chegaram 1.680 pessoas ao Espírito Santo, oriundas do Ceará, conforme Nozoe, Bassanezi e Samara (2003). Considerando as listas de embarque para o Sul, organizadas por esses mesmos autores, trouxeram emigrantes para o Espírito Santo os seguintes navios: Manaós, Jaguaripe, Pernambuco, Purus, Cometa, Una, Alagoas, Maranhão e São Francisco. Em muitos casos, tem-se o nome dos passageiros sem constar o nome do navio em que viajaram. Nestas listas de embarque42, tem-se fonte oficial da chegada dos cearenses da família Lima e da família Pereira.

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A lista se refere a 5.860 portarias de emissão de passagens, com base nas quais embarcaram 31.830 pessoas com destino aos portos localizados ao norte e ao sul da Província do Ceará (NOZOE; BASSANEZI; SAMARA, 2003, p. 30).

Dados encontrados na lista de embarque referentes à família Lima: no livro 469, nº G, 66, consta que Agostinho Ferreira Lima (23 anos) e sua esposa Francisca Maria da Conceição (20 anos) eram imigrantes cearenses refugiados da seca de 1888-188943 e embarcaram no navio Pernambuco com destino a Vitória. Encabeçava o grupo a mãe de Agostinho, Maria Magdalena da Conceição (46 anos), viúva, e seguiam com ela os outros filhos, Raymunda Maria da Conceição (16 anos) e Francisco (7 anos), sendo que não consta o sobrenome de Francisco (NOZOE; BASSANEZI; SAMARA, 2003).

Os imigrantes cearenses que chegavam a Vitória eram encaminhados para várias localidades, inclusive para a colônia de Santa Leopoldina. Na tentativa de localizar a família Lima em Santa Leopoldina e, na busca do caminho percorrido por Agostinho Ferreira Lima, encontrou- se o trajeto de José Batista da Silva (25 anos), que também chegou do Ceará, retirante da seca de 1888-1889, juntamente com sua esposa Francisca Pereira (18 anos), oriundos de Baturité e vindos no navio Pernambuco, com destino a Vitória, conforme livro número 453, nº G, 241, segundo a lista de embarque para o sul (NOZOE; BASSANEZI; SAMARA, 2003). A família Silva foi enviada para Santa Leopoldina onde se estabeleceu e solicitou a compra de terra a que tinha direito por ser retirante cearense.

A compra da propriedade é atestada em documentos de Processo de Terras44, em que José Batista da Silva e sua esposa Francisca solicitaram a legalização de propriedade às margens do Rio das Piabas (ANEXOS E e F). Não há data no documento, mas considerando a idade de José, que tinha 25 anos quando chegou ao Espírito Santo, e que está registrado como 30 anos no documento de terras, a solicitação de compra do terreno ocorreu por volta do ano de 1893, cinco anos após a sua chegada ao Espírito Santo. O Rio das Piabas fica localizado em Ibiraçu, que era uma extensão da colônia de Santa Leopoldina. Assim, existe a possibilidade de Agostinho ter percorrido caminho semelhante ao seu conterrâneo, ou seja, ter sido enviado para Santa Leopoldina e, não estando de acordo com o lugar, seguiu em busca de terras devolutas de melhor qualidade para se estabelecer. No fragmento do documento (ILUSTRAÇÃO 13) de compra de terra (ANEXO E), abaixo, fica clara a situação de José Battista da Silva enquanto retirante cearense.

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O Espírito Santo recebeu, durante a seca de 1888-1889, o número de 1.680 imigrantes retirantes da seca oriundos da província do Ceará (NOZOE; BASSANEZI; SAMARA, 2003, p. 16).

ILUSTRAÇÃO 13 – Fragmento - Documento de compra de terra de José Battista da Silva

Fonte: Fundo de Agricultura, Série Processos de Terra – Arquivo Público do Estado do Espírito Santo.

Segundo Saletto (1996a), a propriedade da terra era dada a um número reduzido de brasileiros, em especial nordestinos, que tiveram acesso aos núcleos coloniais. Os nordestinos podiam optar por um núcleo em Santa Leopoldina, que incluía Santa Teresa e Pau Grande.

A estada da família Lima em Santa Leopoldina é um indício. O que se sabe ao certo é que Agostinho se estabeleceu em Aracê, na localidade próxima à Estrada Imperial, e lá permaneceu. Além do testemunho e da presença de seus descendentes na região, ainda se conta com documento oficial, conforme fragmento da Ilustração 14: em ofício enviado ao Secretário de Agricultura, de solicitação de venda de terreno e medição de terra, datado de 1940 (ANEXOS G, H e I), Agostinho Ferreira Lima, lavrador, solicita a compra à prestação de um terreno por ele ocupado no Alto Jucu, distrito de Pedreiras, Domingos Martins, para cultivo de cereais, terreno este medindo aproximadamente 30 hectares.

ILUSTRAÇÃO 14 – Fragmento - Solicitação de compra de terra feita por Agostinho Ferreira Lima

Fonte: Fundo de Agricultura, Série Processos de Terra – APEES

As Ilustrações 15, 16 e 17, seguintes, são três recortes dos documentos de solicitação de compra de terras, nos quais é possível obter outras informações sobre Agostinho Ferreira Lima.

ILUSTRAÇÃO 15 - Fragmento - Documento de solicitação de terra feita por Agostinho Ferreira Lima

Fonte: Fundo de Agricultura, Série Processos de Terra – APEES

Segundo o documento de solicitação de medição de compra da terra, na Ilustração 15 (ANEXO H), é possível observar, em nota escrita a mão, que Agostinho Ferreira Lima não sabia ler nem escrever.

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