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5. Estudo económico e energético

5.2 Oferta e procura de Urânio

O Urânio é um elemento que aparece com muita frequência na crosta terrestre e nos oceanos (Tabela 11).

Tabela 11 – Concentrações típicas de urânio

(fonte: Varandas s.d.)

Fonte Concentração (em partes por milhão)

Minério de Alta Concentração 20000

Minério de Baixa Concentração 1000

Granito 4

Rochas Sedimentares 2

Água do Mar 0,003

Mas se todo o planeta possui urânio, já as jazidas economicamente viáveis são exploradas por apenas cerca de duas dezenas de Estados (Tabela 12).

Tabela 12 – Recurso naturais conhecidos de urânio em 2009.

(fonte: www.world-nuclear.org)

País Toneladas de U Percentagem do mundo

Austrália 1673000 31% Cazaquistão 651000 12% Canadá 485000 9% Rússia 480000 9% África do Sul 295000 5% Namíbia 284000 5% Brasil 279000 5% Níger 272000 5% EUA 207000 4% China 171000 3% Jordânia 112000 2% Uzbequistão 111000 2% Ucrânia 105000 2% Índia 80000 1,5% Mongólia 49000 1% Outros 150000 3% Total mundial 5404000

O Uranium 2007 – Resources, Prodution and Demand, considerado como um dos relatórios referência para o sector da oferta e procura de urânio natural, anuncia que em 2006 a produção primária de urânio satisfez cerca de 60% das necessidades dos reactores nucleares de todo o mundo, isto é 39603 toneladas. Os restantes 40% foram supridos a partir de fontes secundárias de urânio, como os stocks militares que já não têm utilização prática, o reprocessamento através do ciclo fechado de combustível e o enriquecimento de urânio empobrecido.

A Europa Ocidental é uma região pobre em urânio, produzindo apenas 47 toneladas das 18060 toneladas consumidas pelos seus reactores (0,2% das necessidades). Mais uma vez, a inexistência de recursos naturais consistentes exige a importação de matéria-prima. Contudo, a indústria nuclear europeia suporta o seu negócio através de variáveis económicas e geopolíticas. O urânio é um combustível cujo preço ao consumidor é bem menos instável, ao não influenciar mais que 5% a 10% do preço final da electricidade produzida por este meio. Os países fornecedores da União Europeia são países politicamente estáveis e seus aliados, estratégicos e culturais.

Estima-se que, por volta de 2030, face a um previsível crescimento das necessidades uraniferas e ao aumento da procura desta matéria-prima, as necessidades mundiais de urânio natural variem entres as 93775 e 121955 toneladas.

Países como a Austrália, Cazaquistão, Níger, Namíbia e Uzbequistão não consomem urânio, pelo que toda a sua produção serve exclusivamente para exportações. É imperioso reforçar a produção primária de urânio, pois estima-se que a partir de 2020 as fontes secundárias sofram uma redução na sua importância. De acordo com diversos estudos internacionais, estima-se que os arsenais nucleares de todo mundo possuam 600 mil toneladas de urânio.

Após 2020, com a menor capacidade produtiva por via secundária, é expectável que o volume de recursos de urânio primário seja capaz de suprir essa diminuição, mesmo em cenários de menor eficiência do ciclo de combustível do urânio e sem qualquer necessidade de recorrer ao tório. Este factor terá também consequências no aumento do preço do urânio nos mercados internacionais e da pressão sobre o sector mineiro para o fornecimento do metal. A AIEA estima que existam ainda 16 milhões de toneladas de urânio por descobrir, o que estende significativamente o período de aproveitamento e utilização das reservas desta fonte de combustível, sem aplicar quaisquer técnicas de reciclagem. Segundo o Internacional Panel on Climate Change (IPCC), os recursos de urânio já identificados e com um consumo idêntico ao de 2004, os reactores terão matéria-prima para o seu funcionamento durante 85 anos. Se somar todos os recursos convencionais, o urânio durará mais 270 anos. Com o aproveitamento dos fosfatos, poderá funcionar mais 670 anos. Mas, através da operacionalização dos reactores a neutrões rápidos, as reservas de urânio natural estender- se-ão por milhares de anos, nunca menos de 2600 anos e podendo mesmo chegar aos 160 mil anos para os reactores regeneradores rápidos.

O valor do urânio está naturalmente dependente das flutuações do mercado, o qual é deveras sensível a quaisquer questões económicas, geopolíticas ou sociológicas. A indústria nuclear, por suscitar forte contestação em certos meios sociais, um cenário de crise estrutural tem como consequência a despolarização do preço do urânio. A queda que se sente desde Julho de 2007 comprova que o negócio não é independente de factores exógenos. As questões estratégicas podem não ser primordiais para negociar a matéria-prima, mas os acidentes naturais, pressão social, investimentos privados e avanços técnicos são directrizes a considerar, podendo implicar o aumento ou a baixa do preço do urânio. O mercado preza a credibilidade e a segurança das centrais nucleares. Estes parâmetros são fundamentais para o aumento do investimento na construção de mais reactores e na prospecção e exploração de matéria-prima, com a consequente subida do seu valor.

Pela análise de Figura 49, verifica-se a existência de um período de inquestionável quebra no preço do urânio, após vários anos de crescimento acentuado. Entre 2004 e 2007 assistiu-se a um período de euforia. A crescente preocupação com as alterações climáticas no planeta e a necessidade de encontrar alternativas aos hidrocarbonetos resultaram num maior interesse pela energia nuclear. Estes anos de fulgor do preço do urânio contrariam a tendência depressiva do mercado desde o desastre de Chernobyl, atingindo o pico negativo em meados da década de 1990. A queda verificada desde 2007 deve-se ao fim da bolha especulativa que catapultou o urânio para valores demasiados elevados. Além disso, há um maior aproveitamento do urânio proveniente do armamento nuclear desmantelado, pressupondo um menor interesse na matéria-prima negociada pelos mercados.

Figura 49 – Variação da cotação do urânio nos últimos 15 anos.

(fonte: www.infomine.com)

O incremento verificado nesta década deve-se à conclusão de um conjunto de projectos, provocando um aumento da procura da matéria-prima.

O combustível nuclear é aplicado com cada vez maior rentabilidade e durante um período de tempo superior nos reactores das novas gerações. Espera-se que a crescente produtividade das centrais de terceira geração, para valores superiores a 90%, permita uma menor necessidade de produção uranífera, o que ajudará a equilibrar o seu valor e evitar uma escalada dos preços. Também a aplicação do MOX influenciará o mercado, implicando uma redução das necessidades de urânio natural. Existe ainda em stock cerca de 250 mil toneladas de combustível irradiado, pelo que o seu reprocessamento lançaria no mercado algumas centenas de toneladas de plutónio (uma tonelada de plutónio elimina a necessidade de 120 toneladas de urânio natural) (Correia et al., 2009).