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OLHAR DAS GESTORAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA SECRETARIA DE

3. PRODUÇÕES LEGISLATIVAS SOBRE FEMINICÍDIO

4.1 OLHAR DAS GESTORAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS NA SECRETARIA DE

Em diálogos ocorridos em novembro de 2015 com as ex-gestoras da Secretaria de Política para as Mulheres Ane Cruz e Aparecida Gonçalves, alguns questionamentos e falas foram recorrentes. Com a gestora Ane Cruz tive a oportunidade de estabelecer diálogos em todos os períodos aos quais citarei ao longo do tópico e, com a gestora Aparecida Gonçalves, tive a oportunidade de dialogar pela ocasião de uma visita guiada à SPM. Neste período, acompanhou-se o Lançamento das Diretrizes Nacionais Feminicídio - Investigar, Processar e Julgar, com a perspectiva de gênero nas mortes violentas de mulheres e houve a oportunidade de dialogar com ambas as gestoras, conhecer a estrutura da SPM, bem como através de um exercício de observação participante analisar o período de inseguranças e incertezas, relativos à Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo Federal. Entre as visitas nas dependências da SPM, localizada no CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil, na Asa Sul de Brasília, em rodas de conversa com outras gestoras a presente autora questionou como foi o ingresso na SPM. Com esse questionamento inicial, busquei selecionar as gestoras com maior tempo de atuação na SPM.

A gestora Ane Cruz, apresentou uma rica trajetória institucional desde a fundação da SPM:

Ingressei na SPM/PR em 2003 por conta da experiência que tinha em políticas públicas na Coordenadoria da Mulher do Estado do Rio Grande do Sul. Iniciamos com a estrutura que já havia na época como Gerente de Projetos.

Com o tempo foram feitas reformas estruturais e fomos adaptando conforme as necessidades de uma política para as mulheres. Criamos Diretorias, Coordenações e Coordenações Gerais. Iniciei diretamente na Secretaria de Enfrentamento à Violência contra a Mulher. Em 2011 fui

diretora desta Secretaria e em 2015 fui Coordenadora Geral da Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180 (Fala de Ane Cruz).

Nota-se, na fala de Ane Cruz, que sua trajetória de 2003 até o momento do término da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, em 2016, deu-se em diversas áreas. Desde a gerência de projetos, como ordenadora de despesa, como diretora e coordenadora da Central 180, mas a ênfase de compor a Secretaria de Enfrentamento à Violência foi importante para minha escolha metodológica durante as entrevistas e visita à instituição.

Quando questionada, sobre a construção e consolidação da Secretaria de Política para as Mulheres, a resposta de Ane Cruz sobre os Governos Lula e Dilma diz:

Não foi um processo simples. Primeiro por conta da estrutura burocrática engessada e do corporativismo do quadro funcional. E, segundo que mesmo em um governo de centro esquerda, a questão de gênero não se consolidava como uma prioridade, tanto do ponto de vista político como orçamentário. Não há como fazer política pública para as mulheres sem orçamento e sem poder na estrutura.

Como entendemos que a política pública para as mulheres deve ser transversalidade, fomos construindo o diálogo com outros ministérios, observando e apontando os orçamentos necessários para que as ações acontecessem. Com o tempo foram incluídas ações e metas no Planejamento Orçamentário.

Neste momento, a entrevistada apresenta uma grande reflexão acerca da construção, consolidação e avaliação das políticas públicas para as Mulheres: as dificuldades de compreensão, por parte do governo e da estrutura burocrática para a efetivação das políticas. Apresenta temas importantes como a falta de prioridade política, bem como a falta de orçamento para a efetivação das políticas públicas em andamento na secretaria especial de políticas públicas para as mulheres. Sendo tal questão bem mais complexa, no que tange a estrutura do estado e a não consolidação como prioridade um dos temas mais apresentados pelas gestoras.

Ao ser perguntada sobre as bases para a consolidação das políticas públicas no ultimo período, Ane Cruz debate que:

Foram criados núcleos de gênero dentro dos ministérios para pautarem o tema e um comitê gestor de políticas de gênero a partir do Plano Nacional de Políticas para as mulheres, fruto da Conferencia Nacional de Políticas para as mulheres.

Além disso, como o tema do enfrentamento à violência para as mulheres era o "carro chefe" das ações e da política, afirmo que o Pacto Nacional de Enfrentamento à violência contra as Mulheres foi a maior política de interface entre os Ministérios no Governo Lula e diálogo diretor com os governos estaduais e municipais, efetivamente descentralizando (Fala de Ane Cruz).

Quando questionada pela atuação no Governo Dilma, a resposta foi:

Já no Governo Dilma, a Presidenta desejava criar uma marca para as mulheres e foi criado então o programa Mulher Viver sem violência, com o maior marco a construção das Casas da Mulher Brasileira.

Porém, eram construções nas capitais, ao contrario do Pacto que descentralizava o Viver sem violência centralizava nas capitais a política, por meio dos equipamentos ali criados (Fala de Ane Cruz).

Sobre a atuação da Secretaria de Políticas para as Mulheres para com o tema dos crimes de feminicídio, ao que se respondeu:

Tivemos pouco tempo para implementar esta ação, eu creio. Juntamente com a ONU Mulheres foram publicadas as “Diretrizes Nacionais para Investigar, Processar e Julgar com Perspectiva de Gênero as Mortes Violentas de Mulheres – Feminicídios”. A fim de aprimorar as investigações policiais, os processos judiciais e os julgamentos das mortes violentas de mulheres que tenham sido motivadas por questões de gênero, contribuindo para a implementação da Lei 13.104/2015 – que tipifica o crime de feminicídio. Mas para a efetivação é necessário que de fato se mantenha uma política nacional, que cada ente federado cumpra com seu papel e os poderes também, principalmente o judiciário (Fala de Ane Cruz).

Neste momento da entrevista, questionou-se sobre o desenvolvimento das políticas públicas em âmbito federal até novembro de 2015.

No meu ponto e vista, [as políticas foram desenvolvidas] com muita limitação. A conjuntura política de publicitar uma má gestão de uma mulher em seu segundo mandato era diária. A oposição na pressão e um dos argumentos era a de haver muitos ministérios, muitos gastos em políticas sociais. A instituição SPM estava praticamente estagnada desde o decreto da Presidenta em que retirava a SPM da Presidência (Fala de Ane Cruz).

Na entrevista realizada em março de 2016, as respostas estavam em constate diálogo com as incertezas políticas do Governo Dilma Rousseff (PT).

Foi um tempo de extrema tensão. Servidores divididos, pois muitos se organizaram em suas categoriais para enfrentar pois sabiam que viriam anos duros pela frente. Foi um período de junção de informações comprobatórias inclusive para a história, de arquivamento de processos, de descentralização de informações o mais rápido possível para que os municípios pudessem ter seus pleitos atendidos mesmo com aqueles que chegavam (Fala de Ane Cruz).

Na entrevista mais recente, na data de 11 de maio de 2016, o discurso das gestoras estava com um tom de pessimismo e incertezas.

Percebe-se o fim de um período de mais de 10 anos de investimentos, que para a história, não é nada, mas para quem nunca teve política social e para as mulheres, significou muita mudança de cultura, de comportamento e de vidas! (Fala de Ane Cruz).

Com tais questões trazidas em pelas gestoras em suas falas, nas visitas à SPM durante os anos de 2015 e 2016 e na entrevista concedida pela gestora Ane Cruz, percebo como pesquisadora que durante a construção e consolidação das políticas públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres, no que tange o governo federal, foram momentos de embates na arena política, de absorções das

demandas feminsitas pelo estado, mas que de alguam forma, de acordo com Ane Cruz, o Estado, por conta da sua estrutura burocratizada não assegurava as condições para a efetivação plena das demandas por políticas públicas para as mulheres de um modo geral. Não sendo considerado como prioridade, nas palavras de Ane Cruz, não havia também condições orçamentaias para tanto. Mesmo com uma política transversal de diálogo com os demais ministérios e secretarias, o tema do enfrentamento à violência de gênero não estava no centro do governo.

4.2 O ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NO RS: A