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RA XXII Sudoeste/Octogonal 06/05/

CAPÍTULO 3 – O PROUNI E SEUS SUJEITOS: AVALIANDO EFEITOS E IMPACTOS

3.4 O olhar dos bolsistas sobre o ProUni: uma análise à luz dos beneficiados

Esta pesquisa teve como objetivo analisar o impacto de uma política pública que, como toda ação governamental, é impregnada de contradições. Para que fosse possível ter uma visão mais ampla do programa, considerou-se relevante fazer uma “triangulação” de instrumentos de coleta de dados (questionário, entrevista e documentos), bem como de sujeitos (discentes, gestores e representante da associação de mantenedoras das IES). Nesse sentido, a avaliação dos bolsistas em relação ao ProUni foi importante para confrontá-la com

a narrativa dos gestores, assim como com a abordagem realizada por vários autores que escreveram sobre o tema e que foram abordados ao longo deste trabalho.

Nessa perspectiva, foi enviado um questionário, via google forms, com perguntas de múltipla escolha, para a construção do perfil desses alunos e que já foram analisados no início deste capítulo. Nesse mesmo instrumento, foram realizadas questões intervalares, com valores de 1 a 6, para que o bolsista marcasse a que mais se aproximasse de sua opinião acerca do que estava sendo perguntado. Por fim, foi feita uma questão aberta com a solicitação de que se fizessem críticas ou sugestões relacionadas ao programa.

Para a interpretação das respostas dadas por meio dos intervalos, foi utilizado o software estatístico Statistical Package for the Social Sciences – SPSS, o qual auxilia na descrição dos dados a partir do cálculo da média e do seu respectivo desvio padrão (s) e o coeficiente de variação. Segundo Levin; Fox e Forde (2012), o “uso da média é exclusivamente restrito a dados intervalares e [...] é muito influenciada por escores extremos em qualquer uma das direções” (p. 79 e 87). Além disso, essa medida tem menos variabilidade nas “amostras tiradas de qualquer população dada” (p. 91). Em outras palavras, o desvio padrão é o quanto as respostas variam ao redor da média; é uma medida de dispersão. Para exemplificar, os autores disseram que “quanto maior a variabilidade em torno da média de uma distribuição, maior o desvio padrão. Desse modo, s = 4,5 indica maior variabilidade do que s = 2,5” (p. 106), em um intervalo de 1 a 6.

No questionário havia algumas alternativas, relativas ao ProUni, que deveriam ser marcadas a partir da concordância ou não do bolsista, na escala proposta, no intervalo de 1 a 6. A seguir, apresenta-se tabela com cálculo da média, do desvio padrão e do coeficiente de variação que indicou o quanto o bolsista concordou ou não com a afirmação e, também, qual foi o nível de dispersão dessas respostas, ou seja, o quanto elas variaram em relação à média.

Tabela 12 – Descrição estatística com o cálculo da média e do desvio padrão – 2016 (continua) Estatística descritiva Questões N Mí nim o Má xi m o Mé di a D es vi o Padr ão ( s) C oef ici ent e de V ar ia çã o (% )

O ProUni contribui para a expansão do acesso à educação superior.

65 3 5 4,69 ,584 12,45

O ProUni contribui para que a expansão do acesso à educação superior alcance os segmentos da sociedade, mais desprovidos economicamente.

66 2 5 4,42 ,805 18,21

O ProUni contribui para que alunos de baixa renda possam frequentar cursos de alto custo, como medicina e engenharia civil.

66 1 5 4,23 1,005 23.75

O ProUni contribui para o acesso e permanência de alunos cotistas (pretos, pardos, indígenas e portares de deficiência) tanto em cursos de alta concorrência, como medicina e engenharia civil, quanto em cursos menos concorridos, como administração e letras.

64 1 5 3,69 1,332 36.09

A expansão e democratização do acesso à educação superior não seria possível sem o setor privado e políticas públicas com a do ProUni.

66 1 5 3,56 1,242 34,88

O ProUni é uma política pública que mais beneficia as instituições de educação superior privadas, do que o estudante de baixa renda.

64 1 5 2,75 1,234 44,87

O ProUni auxilia os estudantes a ter uma profissão.

66 1 5 4,12 1,222 29.66

O governo deveria ter avaliações mais sistemáticas do Programa Universidade para Todos.

Tabela 12 – Descrição estatística com o cálculo da média e do desvio padrão – 2016 (conclusão) Estatística descritiva Questões N Mí nim o Má xi m o Mé di a D es vi o Padr ão ( s) C oef ici ent e de V ar ia çã o (% )

A bolsa permanência do ProUni atende às necessidades financeiras dos estudantes.

65 1 5 2,65 1,408 53,13

O Programa Universidade para Todos melhorou minha vida, ao criar condições para o ingresso em uma instituição de educação superior.

66 1 5 4,44 ,930 20,94

Sem o ProUni, dificilmente, eu teria condições de ingressar em um curso de nível superior.

66 1 5 3,15 1,552 49,26

Fonte: Cruzamento de dados do questionário aplicado aos bolsistas, com a utilização do SPSS. N= quantidade de bolsistas que responderam à questão. Elaborado pela autora

A partir da explicação feita por Levin, Fox e Forde (2012) acerca do cálculo da média, do desvio padrão e do coeficiente de variação, pode-se inferir que as respostas com menor desvio padrão, portanto, menor variabilidade, são aquelas em que o valor da média apresenta-se mais consistente. Traduzindo, segue quadro na ordem de maior concordância para a menor, em relação às afirmações apresentadas pelo questionário.

Quadro 9 – Relação das respostas dos bolsistas, em ordem decrescente, segundo a variabilidade média – 2016

(continua)

1. O ProUni contribui para a expansão do acesso à educação superior.

2. O ProUni contribui para que a expansão do acesso à educação superior alcance os segmentos da sociedade, mais desprovidos economicamente.

3. O Programa Universidade para Todos melhorou minha vida, ao criar condições para o ingresso em uma instituição de educação superior.

4. O ProUni contribui para que alunos de baixa renda possam frequentar cursos de alto custo, como medicina e engenharia civil.

5. O ProUni auxilia os estudantes a ter uma profissão.

6. O governo deveria ter avaliações mais sistemáticas do Programa Universidade para Todos 7. A expansão e democratização do acesso à educação superior não seria possível sem o setor

privado e políticas públicas como a do ProUni.

8. O ProUni contribui para o acesso e permanência de alunos cotistas (pretos, pardos, indígenas e portares de deficiência) tanto em cursos de alta concorrência, como medicina e engenharia civil, quanto em cursos menos concorridos, como administração e letras.

Quadro 9 – Relação das respostas dos bolsistas, em ordem decrescente, segundo a variabilidade média – 2016

(conclusão)

9. O ProUni é uma política pública que mais beneficia as instituições de educação superior privadas, do que o estudante de baixa renda.

10. Sem o ProUni, dificilmente, eu teria condições de ingressar em um curso de nível superior. 11. A bolsa permanência do ProUni atende às necessidades financeiras dos estudantes.

Fonte: Elaborado pela autora

Para exemplificar, pode-se dizer que os bolsistas concordam bastante que o ProUni contribui para a expansão do acesso à educação superior. Assim como acreditam, fortemente, que o programa alcança os mais desprovidos economicamente. Na sequência, observa-se que a maioria confia que, ao criar condições para cursar uma graduação, a política melhorou sua vida. Concentrando-se que nas últimas três afirmações, pode-se dizer que houve bastante variabilidade nas respostas referente à questão de o programa beneficiar mais as instituições privadas que o próprio bolsista, o que sugere não haver uma posição muito definida em relação a essa questão. Sobre o fato de que sem o ProUni, dificilmente o aluno teria condições de ingressar em um curso de nível superior, também não há unanimidade, nem mesmo muita consistência nas respostas. O pensamento dos bolsistas sobre o assunto é bastante disperso. Por último, a afirmação relativa à função da bolsa permanência e sua capacidade em atender às necessidades financeiras dos estudantes é a que mais apresentou variabilidade, indicando diferentes entendimentos acerca do assunto.

A partir dessa análise, pode-se inferi que, ao analisar o coeficiente de variação das respostas, os bolsistas, em geral, consideram que o ProUni contribui para que estudantes de baixa renda possam frequentar cursos de alto custo, como medicina e engenharia, além de concordarem, em sua maioria, que o programa auxilia os mesmos a terem uma profissão. Paradoxalmente, apesar dos bolsistas considerarem que o ProUni contribuiu para melhorar sua vida, por possibilitar ingressar num curso de graduação, eles não consideram, por unanimidade, que sem essa política, seu acesso à educação superior estaria inviabilizada. Outra constatação diz respeito ao ingresso de bolsistas em cursos de alta concorrência, como medicina e engenharia. Apesar de eles concordarem que o programa contribuiu para isso, houve muita variabilidade nas respostas referente ao ingresso de cotistas (negros, indígenas e pessoas com deficiência), no que tange a esses mesmos cursos. Depreende-se daí que a democratização do acesso à educação superior, entendida como inclusão de minorias em espaços tradicionalmente ocupados pela elite, não é uma evidência consistente.

No que diz respeito às outras duas questões, que fizeram referência à relação entre o programa e o setor privado, evidenciou-se uma variabilidade relativa nas respostas, talvez, pelos bolsistas terem pouca clareza acerca do tema. Afinal, conhecer a lógica da política educacional do país não é tarefa do estudante. Este tende apenas a observar o que o Estado está fazendo para beneficiá-lo por meio das políticas públicas. Para opinar acerca do caráter e da essência dos programas governamentais, faz-se necessário compreender a opção do modelo de Estado feita pelos governos. Isso não é uma tarefa comumente assumida pela sociedade, de maneira geral.