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Documento 15 Formação científica para o desenvolvimento.

1.5. Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas OBMEP

A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) é um projeto implantado desde 2005 que tem como objetivo proclamado estimular o estudo da matemática e revelar talentos na área. Esta olimpíada teve sua primeira edição realizada em 2005 e é fruto de parcerias entre diversos setores:

é fruto de uma parceria entre MCT, MEC, ME e Petrobrás, e terá como executores a Sociedade Brasileira de Matemática (SBM) e o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). Além disso, a OBMEP conta com a colaboração da Secretaria de Comunicação (SECOM), Casa Civil e Secretaria de Articulação Política do Governo Federal. (Documento 1 – Projeto Piloto da OBMEP, p.4).

Participam alunos do Ensino Fundamental, de 6º a 9º ano, e alunos do Ensino Médio e, desde sua criação, a OBMEP tem alcance nacional e vem abrangendo cada vez mais alunos.

22 Em 2009, foram inscritos mais de 19 milhões de alunos na competição e cerca de 99% dos municípios brasileiros foram representados. Com os sucessivos recordes de participação a OBMEP tornou-se a maior olimpíada de matemática do mundo.

O objetivo proclamado da OBMEP é estimular o estudo da Matemática por meio da resolução de problemas que despertem o interesse e a curiosidade de professores e estudantes (Documento 2). Além disso, há a preocupação em incentivar o ingresso dos estudantes nas áreas científicas e tecnológicas e, assim, contribuir para a valorização profissional e supostamente promover a inclusão social por meio da difusão do conhecimento.

No Projeto Piloto (Documento 1) são declarados os seguintes objetivos que sustentaram a criação desta olimpíada e que podem ser compreendidos como manifestação de interesses em disputas concorrenciais entre os campos.

i) Estimular e promover o estudo da Matemática entre alunos de escolas públicas;

ii) Identificar jovens talentos e fornecer oportunidades para seu ingresso nas áreas científicas e tecnológicas;

iii) Incentivar o aperfeiçoamento dos professores das escolas públicas, contribuindo assim para a sua valorização profissional;

iv) Contribuir para a melhoria do ensino da Matemática na rede pública;

v) Contribuir para a integração entre as escolas públicas, as universidades federais, os institutos de pesquisa e as sociedades científicas.

Na página do site oficial (Documento 2), encontramos um sexto objetivo da OBMEP, que é o de:

vi) Promover a inclusão social por meio da difusão do conhecimento.

Tais objetivos podem ser compreendidos como uma manifestação dos interesses em disputa seja no campo da matemática (entre a matemática acadêmica, como fração dominante, ou a educação matemática, como fração dominada), seja nas disputas e alianças intercampos (científico, político, econômico etc.).

Particularmente, o primeiro e segundo objetivos parecem contribuir com nossa compreensão de que a OBMEP seja um mecanismo de consagração da matemática e de seleção de talentos, os potenciais agentes para o campo. Esses objetivos parecem estar mais ligados a interesses e políticas de desenvolvimento do setor econômico do que propriamente com a melhoria do ensino.

23 Além disso, destacamos que o sexto objetivo cumpre um papel de dissimular os interesses econômicos ligados tanto com a consagração do campo científico e do campo da matemática, quanto com os processos do campo econômico, próprios da sociedade capitalista.

A OBMEP é dividida em duas fases, consistindo em uma prova objetiva na primeira fase, para todos os alunos inscritos e, na segunda fase, a aplicação de uma prova discursiva apenas aos 5% dos alunos com melhor desempenho na primeira fase (Documento 5).

Alunos, professores, escolas e secretarias de educação são premiados, com base nos resultados da segunda fase. Incialmente eram distribuídas 300 medalhas de ouro, 405 de prata e 405 de bronze, além de até 30.000 menções honrosas. Com o crescimento do número de participantes elevou-se o número das premiações sendo concedidas, atualmente, 500 medalhas de ouro, 900 medalhas de prata, 3100 medalhas de bronze e até 46.200 certificados de Menção Honrosa. Além das medalhas, são concedidas bolsas de iniciação científica: no ano de 2005 foram 2.001 bolsas e no ano de 2012 serão 4.500 bolsas (Documento 4).

Nas quatro primeiras edições (de 2005 a 2008), os professores também recebiam cursos de capacitação oferecidos pelo IMPA. A partir da edição de 2009, os cursos foram substituídos por outros tipos de premiações como placas de homenagens e coleção de livros (em 2009 e em 2010); computador com programas para o ensino de matemática (em 2011); tablet, placa de homenagem e assinatura anual da Revista do Professor de Matemática (em 2012).

Além das medalhas e menções honrosas oferecidas aos alunos existe também o PIC – Programa de Iniciação Científica Jr. – que é um programa com duração de um ano e que visa o estudo de “tópicos interessantes” de Matemática (Documento 1). Os participantes desse programa recebem uma bolsa de estudos concedida pelo CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. As atividades envolvem tanto encontros presenciais como a participação em um Fórum Virtual que possibilita o contato, via internet, com estudantes de todo o país que se interessam por Matemática.

Os objetivos do PIC (Documento 1) também caracterizam interesses específicos dos diversos campos ligados à OBMEP:

i) Despertar nos alunos o gosto pela matemática e pela ciência em geral;

ii) Motivar os alunos na escolha profissional pelas carreiras científicas e tecnológicas; iii) Aprofundar o conhecimento matemático dos alunos, através de: resolução e redação de

soluções de problemas; leitura e interpretação de textos matemáticos e estudo de temas de modo mais aprofundado e com maior rigor matemático;

24 iv) Desenvolver nos alunos algumas habilidades tais como: sistematização, generalização, analogia e capacidade de aprender por conta própria ou em colaboração com os demais colegas;

v) Incentivar o aprimoramento matemático dos professores, em especial dos professores dos alunos bolsistas;

vi) Estimular uma articulação entre as escolas e as universidades.

Pode-se entender que há uma preocupação em promover o campo da matemática de modo a consagrar este campo e possibilitar sua manutenção, isto é, reproduzir sua estrutura seja ela objetiva traduzida pela aquisição de recursos materiais, seleção de novos agentes etc. ou simbólica, enquanto inculcação de um arbitrário cultural, e consagração ou acúmulo de capital simbólico, próprio do campo científico.

Essa preocupação em consagrar o campo científico e, em particular, o campo da matemática, segundo nossa percepção, está relacionada também a questões políticas de desenvolvimento do campo econômico, configurando o que entendemos como aliança entre o campo da matemática e o campo político que se subsumam aos interesses do campo econômico, como discutiremos em nossas análises.

25 CAPÍTULO 2

O campo da matemática: tensões em torno da legitimação do capital.