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Orchidaceae da região central do estado de São Paulo, Brasil

C ONSIDERAÇÕES F INAIS

Confirmou-se a hipótese de trabalho de que existiriam na região central do estado de São Paulo espécies de orquídeas pertencentes ao mesmo tempo ao bioma Cerrado e ao bioma Floresta Atlântica. O elevado número de espécies catalogadas (219 spp.) provavelmente está relacionado a esse fato.

Esse número de espécies encontradas, apesar de elevado, mascara a condição alarmante em que se encontram as suas populações. Quase metade delas, está praticamente extinta localmente, mais de 40% estão emeaçadas e pouco mais de 10% são consideradas comuns. Porém, se o ritmo de coletas predatórias continuarem, pode- se prever que entre 20 e 30 anos, praticamente não existirão mais orquídeas nativas na região central do estado de São Paulo. Nas Estações Ecológicas a situação também é semelhante (observações pessoais).

Nos cerca de doze anos de trabalho em campo, foram obtidas cerca de 4.500 imagens detalhadas das partes vegetativas da maioria das espécies de orquídeas da região central de São Paulo e de seus hábitats. Essas imagens ajudaram na identificação das espécies e na descrição de quatro táxons que parecem ser novos (dois deles foram capítulos dessa tese).

Também, com base em observações pessoais, foi possível verificar o declínio populacional das espécies mais vistosas, como Cattleya loddigesii Lindl., Cattleya

walkeriana Gardner, Oncidium varicosum Lindl. e Schomburgkia gloriosa Rchb. f. Elas

foram praticamente exterminadas. Na Estação Ecológica de Jataí, só restaram cerca de 100 indivíduos de Oncidium varicosum Lindl. nas proximidades da base de pesquisa da UFSCar, em que agentes da Polícia Florestal passam regularmente. Isso mostra que é necessário intensificar a fiscalização e também, procurar conscientizar através da Educação Ambiental, tanto as comunidades do entorno dessas áreas de proteção

ambiental, como os demais moradores. Dessa forma, espera-se que quando forem pescar ou visitar os fragmentos florestais, evitem coletar essas e outras espécies de plantas e animais.

Sugere-se que haja produção das mais vistosas e que se faça a distribuição de mudas aos visitantes, ensinando os cuidados básicos e conscientizando do dano que as coletas predatórias causam nas populações naturais. Nas últimas três décadas, com base nessa pesquisa e no relato de mateiros e moradores mais antigos, constatamos que houve uma redução de aproximadamente 80% no número de indivíduos nas populações naturais de orquídeas. É lamentável constatar que muitas vezes, os maiores depredadores das orquídeas são aqueles que deveriam ser os seus defensores, os orquidófilos.

Pode-se citar ao menos um caso em que uma dessas espécies tenha sido completamente extinta localmente pelas coletas predatórias: Scuticaria itirapinensis Pabst, que segundo a descrição científica, era originária da região de Itirapina.

Pode-se estimar também que pelo menos mais 20 espécies de Orchidaceae podem ser encontradas em estudos mais detalhados nessa mesma área de estudo e que pelo menos 10 espécies de orquídeas possam ter desaparecido antes mesmo de serem estudadas nessa região. As áreas originais de cerrado foram muito utilizadas pela agricultura e agropecuária e muitas orquídeas terrestres devem ter sido extintas localmente.

Curioso foi o fato de não ter sido encontrado o gênero Bifrenaria, que costuma ser comum em levantamentos de Orchidaceae, especialmente em áreas que possuem afloramentos rochosos, como na região central do estado de São Paulo.

O fato de quatro espécies poderem ser novas para a ciência reforça a necessidade de estudos florísticos mais detalhados, especialmente quando se sabe que há espécies

pouco visíveis e de floração curta, como foi o caso de Triphora sp., que segundo a literatura especializada, é gênero registrado pela primeira vez no estado de São Paulo. Em áreas ecotonais, com suas características transicionais, podem surgir até endemismos. Anathallis sp. e Pelexia sp., podem ser endêmicas dessa região.

Na interação das orquídeas com os forófitos, visando verificar os fatores que contribuem para a interação aninhada, ainda podem ser testados: rugosidade da casca dos forófitos, grau de inclinação do caule e ramos, dinâmica da copa, substâncias liberadas pela copa, influência do tipo de ambiente (seco e úmido) no estabelecimento das plântulas de orquídeas nos forófitos, entre outros testes.

Interessante o fato de que o tempo de contato evolutivo entre as orquídeas e os forófitos não tenha contribuído para a interação aninhada. Os testes filogenéticos entre as orquídeas e os forófitos com os quais elas interagem na região de estudo, demonstraram que o fator filogenético não contribuiu para o padrão de interação aninhado observado. Talvez, por essa interação ser comensal, diminua a chance de eventos coevolutivos serem intensificados. Em relações mutualísticas, fatores coevolutivos podem ser mais favorecidos, já que em maior ou menor grau, as espécies envolvidas acabam sendo beneficiadas.

Na propagação in vitro, verificamos que podem ser semeadas mais espécies

visando não apenas testar a eficiência do método proposto, mas também, com o intuito de reintroduzir espécies ameaçadas de extinção em áreas efetivamente fiscalizadas.

Houve tentativa de reintrodução, mas, infrutífera devido às coletas predatórias e talvez, à necessidade de aplicar uma solução contendo os fungos micorrízicos pertinentes a cada espécie. Parece que embora as orquídeas realizem fotossíntese e possam viver independentemente dos fungos em sua fase autotrófica, há relações ainda

não totalmente entendidas que podem auxiliar as plântulas de orquídeas a sobreviverem com mais sucesso na natureza.

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