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Parte 2: Monografia Opções terapêuticas em hemangiossarcoma canino

2.3. Etiopatogenia

2.3.1. Ontogenia

Os fatores hereditários são sugeridos para explicar a predisposição genética394 e, de facto,

consoante a expressão destes genes os fenótipos correspondente variam nas células de HSA de diferentes raças95. Contudo, estudos recentes mencionam que, apesar da contribuição de

caraterísticas hereditárias ser importante, não é a única explicação para esta afeção3.

Em humanos, um estudo sugere que o número de divisões de células estaminais de determinados tecidos pode explicar um maior risco tumoral96. Assim, como tem sido proposto, a

predisposição é diretamente proporcional às taxas de erro de polimerases de ADN, adicionando, deste modo, um componente aleatório que pode contribuir para os fatores hereditários97.

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Enquanto a etiologia de hemangiossarcoma permanece incerta, a origem celular começa a tornar-se mais clara3.

Foi inicialmente assumido que HSA tinha a sua origem a partir de células endoteliais com mutações, sendo que esta hipótese se baseia em grande parte na aparência histológica dos tumores3. Todavia, os dados dos últimos dez anos, direcionam-se mais para a teoria de estímulos

de crescimento angiogénico que recrutam células progenitoras endoteliais circulantes (EPCs) a partir da medula óssea. Tais células-tronco migram assim até ao órgão-alvo, desenvolvendo angiogénese e neovascularização que contribui para a formação neoplásica9899.

Também é sugerido que pode surgir não só a partir de células pluripotentes, células derivadas da medula óssea, ou células progenitoras endoteliais precoces, enquanto que as endoteliais tardias e endoteliais diferenciadas serão responsáveis por originar o hemangioma humano3.

Normalmente, a angiogénese, processo no qual ocorre formação de novos vasos sanguíneos, é fortemente regulada e equilibrada homeostaticamente, envolvendo tanto fatores pro-angiogénicos como anti-angiogénicos93.

A angiogénese produzida no hemangiossarcoma é regulada por vias moleculares e a respetiva desregulação apresenta relevância na patogénese do hemangiossarcoma1. A

realização de pesquisas in vitro revelou que as células de HSA são capazes de produzir uma variedade de fatores angiogénicos, como fator de crescimento vascular endotelial (VEGF) e fator básico de crescimento de fibroblastos (BFGF)93, assim como estudos realizados tanto em cães

como em humanos, revelaram a presença desses fatores como de angiopoietinas -1 e -2 (Ang- 1 e -2) e a expressão concomitante dos recetores celulares nas células de HSA1100101.

Os níveis de fator de crescimento vascular endotelial (VEGF), um dos mais potentes fatores angiogénicos, foram detetados em canídeos com HSA em concentrações superiores no plasma e efusões, quando comparando com animais saudáveis. Além disso, em Golden retrievers foi detetado o aumento da expressão do gene do recetor para VEGF 1 (VEGFR1)93.

Por outro lado, as metaloproteinases que desempenham um papel na degradação da matriz extracelular têm demonstrado ser ativas no HSA93.

As plataformas de avaliação genética permitem identificar genes envolvidos na angiogénese e inflamação1 102. Nesse sentido, a deteção de perfis de expressão genética

anormais poderão permitir distinguir quais os genes e vias desreguladas de HSA93.

Um estudo recente relatou que existem diferenças entre as células endoteliais e as células de HSA não malignas, no que diz respeito ao aumento de expressão de genes envolvidos na inflamação, angiogénese, adesão, invasão, metabolismo celular, ciclo celular, sinalização e padronização. É importante salientar que este grupo de genes não só reflete associação tumoral devido ao fenótipo angiogénico, mas pode distinguir de outros HSA não endoteliais, tumores derivados de medula óssea angiogénicos, tais como linfoma, leucemia e osteossarcoma95102.

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Com base em estudos em ratos e humanos, as mutações nos genes supressores de tumores como o p53, Ras e Tsc2 têm sido implicadas na patogénese de angiossarcoma. Outras alterações celulares intrínsecas que conduzem a HSA incluem mutações do PTEN103,

amplificação do gene MYC e ativação de vias de tirosina quinase104, entre alteração de outras

vias104 como CDKN2, NF-ĸB/IL-6, MAPK e PIK3CA/AKT/mTOR, contudo estudos recentes

sugerem que essas alterações são infrequentes em hemangiossarcoma canino102105106.

Adicionalmente, foi descoberto em peixes zebra que haploinsuficiência dos genes que codificam PTEN predispõe a hemangiossarcoma107.

Os níveis das proteínas reguladoras de crescimento e apoptose, como Prb, ciclina D1, BCL2 e survivina aparecem aumentados em HSA, quando comparados com hemangioma ou tecidos normais1. As investigações também têm evidenciado aumento dos níveis da

oncoproteína STAT3 (transdutor de sinal e ativador de transcrição 3) na presença de HSA canino93.

Mais recentemente foram realizados estudos, utilizando linhagens das células, que permitiram identificar uma imagem mais clara da biologia celular de HSA, incluindo características de expressão de antigénio da superfície da célula108, a inativação do gene

supressor de tumores e a geração de perfis de expressão de genes do genoma de células de tumor, sem interferência do tumor associado ao estroma90. Um aspeto importante obtido a partir

destes dados foi a observação de propriedades fenotípicas sugestivas de ontogenia da medula óssea, em células isoladas em culturas celulares e especificamente de células estaminais derivadas da medula óssea108.

Isoladamente, estes dados não permitem saber se os tumores surgiram a partir de uma célula da medula óssea que migrou para o plexo vascular ou se se originou a partir de uma verdadeira célula-tronco. Assim, é o perfil de expressão genético que oferece algumas pistas. No entanto, o perfil recorrente destes genes foi associado a abundância de genes pro inflamatórios e angiogénicos, sem nenhuma evidência de especificidade tecidular102. Dados mais

recentes confirmaram esses achados e também mostraram que HSA poderia estar estratificado de acordo com a expressão de genes pró-inflamatórios (sub-tipo inflamatório), genes de interação de células endoteliais de matriz (subtipo vasculares ou subtipo angiogénico) e pro- osteócito e do tecido conjuntivo e pro adipogénico (subtipo adipogénico)90. Estes genes refletiram

igualmente a composição do microambiente do tumor, e potencialmente o equilíbrio hipoxia e inflamação durante a formação do mesmo98109.

No documento Clínica de animais de companhia (páginas 69-71)

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