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2 OPÇÕES METODOLÓGICAS

Todo e qualquer estudo científico é, em primeiro lugar, um processo rigoroso e sistemático que permite examinar fenómenos visando a obtenção de respostas para questões que merecem uma investigação. Defende Gauthier (cit. Fortin, 1999:18) que

"O rigor, do qual depende a exactidão científica, tem a capacidade de assegurar uma percepção fiável e correcta da realidade. Quanto à sistematização, ela resulta do método, isto é, de uma forma organizada e ordenada de alcançar um objectivo. ".

Daqui se depreende que escolher um método é traçar o caminho a percorrer; mas para que o método seleccionado seja efectivamente útil e garanta rapidez e, sobretudo, eficácia, adverte-nos Fragata (1980: 15) que "(...) não basta que indique qualquer caminho; é preciso que indique aquele que melhor e mais satisfatoriamente conduz ao fim que se tem em vista. ".

Quanto à metodologia, adoptando uma classificação ampla, podemos dizer que há essencialmente dois grandes métodos: o quantitativo e o qualitativo. A perspectiva quantitativa baseia-se na observação de factos objectivos, de acontecimentos e fenómenos que existem independentemente do investigador sendo os elementos fundamentais a obtenção de informações consideradas fiáveis e válidas e a quantificação, tendo em vista eliminar as influências do investigador. Deste modo, as escalas, testes e questionários são as técnicas e instrumentos privilegiados por forma a conduzirem a resultados que devem ter o menor enviesamento possível. A objectividade, a predição, o controle e a generalização são características inerentes a esta abordagem (Torres Santomé, 1988; Richardson, 1989; Poisson, 1991; Fortin, 1999). A perspectiva qualitativa assume-se como mais dinâmica, fenomenológica, associada à história individual e aos seus contextos. A par dos comportamentos observáveis, preocupa-se em conhecer os sistemas de crenças e de valores, os sistemas de comunicação e de relação, bem como as suas representações para os indivíduos ou grupos em causa, possibilitando, a um maior nível de profundidade, o

entendimento das particularidades do comportamento. O seu objectivo é descrever ou interpretar, mais do que avaliar, visando a compreensão absoluta e ampla do fenómeno. Para observar, descrever, interpretar e apreciar o meio e o fenómeno tal como se apresentam, sem procurar controlá-los, a observação directa e a realização de entrevistas surgem como instrumentos usados preferencialmente nesta abordagem. Em consequência, surgem associadas a esta perspectiva a subjectividade nas suas análises e conclusões bem como a pouca capacidade de as fundamentar, no sentido da sua generalização ou descrição ao longo do tempo e do espaço (Richardson, 1989; Almeida e Freire, 1997; Fortin, 1999). Apesar desta classificação abrangente outras classificações são possíveis, dependendo de autor para autor as próprias designações, no entanto todas elas acabam por dar mais atenção a um ou outro aspecto. Em termos da sua própria metodologia, as investigações podem ser 'mais quantitativas' ou 'mais qualitativas'. Referem Herbert e Boutin (1994) que metodologias e abordagens puramente quantitativas vieram, posteriormente, propor outras que tenham em conta os contextos do objecto e a dimensão interpretativa, existindo hoje diversos autores que defendem um 'continum" metodológico entre qualitativo e quantitativo. Em conformidade está Fortin (1999: 322) alegando que se "A abordagem quantitativa,

baseada na perspectiva teórica do positivismo, constitui um processo dedutivo pelo qual os dados numéricos fornecem conhecimentos objectivos (...) generalizáveis a outras populações. ", por sua vez "A abordagem qualitativa, baseada na perspectiva naturalista, concentra-se em demonstrar a relação que existe entre os conceitos, as explicações e as significações dadas ao fenómeno (...) e sobre a descrição semântica, de preferência às estatísticas probabilísticas". A este propósito afirma Golander

(1996: 33) que "Grande parte dos estudos exige a combinação dos dois paradigmas

para se ter óptimos resultados".

Tendo por base as considerações anteriores e como suporte Abric (2001), defensor de uma abordagem pluri-metodológica no estudo e análise de qualquer representação social, inserimos o nosso estudo neste contexto. Assim, a nossa investigação segue um modelo qualitativo sob o ponto de vista do fenómeno em análise - as representações sociais do cancro, e dos objectivos que procuramos atingir, mais direccionados para a compreensão e descrição do fenómeno globalmente do que para a sua explicação. Interessa-nos particularmente olhar para os significados que revestem o cancro e para as intenções das acções de prevenção, no seio de um

paradigma interpretativo, como sugerem Herbert e Boutin (1990) e Streubert e Carpenter (2002). Contudo, no desenvolvimento do estudo integramos componentes qualitativas e quantitativas, quer na recolha quer no tratamento de dados, o que segundo Bogdan e Biklen (1994) não é novidade e se encontra noutros estudos. Assim, para a obtenção de dados recorremos a uma técnica e instrumento de colheita característico da abordagem quantitativa - o questionário, atendendo a que Abric (2001) recomenda o recurso a técnicas que facilitem a expressão espontânea, em situações de máxima liberdade onde se possam expressar sem constrangimentos. Para a análise dos dados, tendo em conta que nos surgirão quer sob a forma de palavras, enunciados descritivos e números, privilegiámos a triangulação como estratégia metodológica. A triangulação define-se "como o emprego de uma combinação de métodos e perspectivas que permitem tirar conclusões válidas a propósito de um mesmo fenómeno" (Fortin, 1999: 322). Recorremos à triangulação de teorias e de métodos: a triangulação das teorias da representação social e dos comportamentos em saúde, além de servir de quadro de referência tem em vista aumentar a confiança da operacionalização dos conceitos e contribuir para uma análise mais profunda dos resultados; a triangulação de métodos surge como uma estratégia na qual reunimos métodos qualitativos e quantitativos no tratamento dos dados, no sentido de se aumentar a fiabilidade dos resultados bem como obter informações complementares às questões levantadas pelos dados quantitativos. A triangulação emerge como forma de aprofundar a análise, e não como caminho para chegar à objectividade, visando essencialmente a compreensão em profundidade e a maior segurança na análise interpretativa (Spink, 1999). Tivemos em conta as opiniões de Denzin, Kimchi et ai, Banik, Sohier, entre outros citados por Fortin (1999) que defendem a utilização da triangulação quando o objecto de estudo é percebido como unidade multidimensional, permitindo esta metodologia realçar os laços entre a teoria, a investigação e a prática, já que consiste em examinar as questões nos diversos contextos e através de múltiplas conceptualizações, fornecendo uma lógica contemporânea. De forma sintética, Fielding & Fielding (cit. Streubert e Carpenter, 2002) afirmam que a triangulação revela as várias dimensões de um fenómeno e ajuda a criar uma descrição mais rigorosa.

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