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Parte II: Estudo Empírico

Capítulo 3: Enquadramento Metodológico

1. Opções metodológicas

O presente estudo teve o seu ponto de partida na revisão de literatura, com a intenção de o situar num contexto e de o relacionar com o que já foi feito por outros investigadores e, posteriormente, contextualizar na problemática desta pesquisa. Coutinho (2011) considera que a revisão da literatura consiste em encontrar e criticar documentos com informação sobre o que já existe na área em que se pretende investigar e que podem ser trabalhos empíricos e sínteses de resultados obtidos por outros investigadores. Assim, procurou-se informação relacionada com as normas e princípios do ensino e aprendizagem da matemática na actualidade, com o papel da estatística e a cidadania bem como com os princípios de ensino da mesma, para além da utilização da folha de cálculo Excel e, por fim, com experiências de ensino de matemática e estatística em ambientes de ensino a distância no modelo online. Posto isso, clarificou-se e delineou-se o problema de investigação e o âmbito do estudo. Quando se pretende dar resposta a um problema de investigação na área de educação, existem vários paradigmas que podem ser utilizados, nomeadamente o positivista ou quantitativo, o interpretativo ou qualitativo e o sócio-crítico. O paradigma positivista,

“também denominado quantitativo, empírico-analítico, racionalista, empiricista, (…) procura adaptar o modelo das ciências naturais à investigação em ciências sociais e humanas, utilizando basicamente uma metodologia de cariz quantitativo (Shaw, 1999; Mertens, 1998; Anderson & Arsenault, 1999; Latorre et al., 1996; Bisquerra, Usher, 1996)” (Coutinho, 2011, p.10 & 11). O interpretativo, “também designado por hermenêutico, naturalista, qualitativo ou ainda, mais recentemente construtivista (Guba, 1990; Creswell, 1994; Crotty, 1998), adopta uma posição relativista - há múltiplas realidades que existem sob a forma de construções mentais social e experimentalmente localizadas -, inspira- se numa epistemologia subjectiva que valoriza o papel do investigador/ construtor do conhecimento, justificando-se por isso a adopção de um quadro metodológico incompatível com as propostas do positivismo e das novas versões do pós-positivismo” (id, p. 15 & 16).

Finalmente, o sócio-crítico, é conhecido como emancipatório, neomarxista ou pós- moderno e, segundo a mesma autora, “… este paradigma apresenta, a nível

metodológico algumas parecenças com o paradigma qualitativo mas a inclusão da componente ideológica confere-lhe um cariz muito mais interventivo…” (id, p. 20). O presente estudo baseou-se essencialmente no paradigma qualitativo ou interpretativo que se concentra na “compreensão, significado e acção” (Coutinho, 2011, p. 16).

Marconi & Lakatos (2007) consideram que o estudo qualitativo surgiu na altura em que os antropólogos se deram conta que os dados que recolhiam ao estudar indivíduos, tribos e pequenos grupos agráfos não podiam ser quantificados mas antes descritos, analisados, compreendidos e interpretados. O estudo qualitativo é aquele que se baseia, particularmente, na análise de dados de forma descritiva e profunda. Para Menga (1986), citado por Marconi & Lakatos (2007), o estudo qualitativo decorre numa situação natural, é rico em dados descritivos, tem plano flexível e focaliza a realidade de forma contextualizada.

Bogdan & Biklen (1994) apresentam as características da investigação qualitativa e referem que, neste tipo de investigação, o ambiente natural é a fonte directa de dados tendo o próprio investigador como instrumento principal. Acrescentam que a mesma é descritiva e que não só os resultados mas também os processos são muito importantes e os dados são analisados de forma indutiva com grande ênfase nos significados.

Por seu turno, autores como Miles & Huberman (1994) e Coutinho (2011) reforçam estas características e indicam que a investigação é qualitativa se o investigador é o principal instrumento de medida; se, com base nas observações, entrevista, questionários, documentos tais como testes e outros, os dados forem transformados em palavras e estas, por seu turno, interpretadas de forma a encontrar padrões.

Para além desta caracterização, Coutinho (2011) refere que o propósito da investigação qualitativa é ajudar a descrever e compreender situações concretas no contexto em que se encontram com o objectivo de aperfeiçoar práticas individuais baseando-se na teoria do tipo interpretativo. E corrobora Bogdan & Biklen (1994) quando referem que a construção dessa teoria se processa de forma indutiva e sistemática conforme os dados empíricos vão emergindo. A figura 5, adaptada de Coutinho (2011), mostra o processo de construção da teoria através de um estudo qualitativo. Nesta perspetiva, com base nos dados obtidos, questiona-se, de forma crítica, e categorizam-se tais dados em busca de padrões, tentando compreender os comportamentos e descobrir significados das ações e interações sociais e, com base nisso, constrói-se a teoria.

Figura 5: O desenrolar de uma investigação qualitativa

Numa outra abordagem, Marconi & Lakatos (2007) consideram que o método qualitativo incide em estudos de caso, estratégia adotada nesta investigação, pelo facto destes se focalizarem em questões relacionadas ou reconhecidas através de situações particulares. Os autores referem que a origem do estudo de caso está ligada a La Play quando estudava famílias operárias na Europa.

Na perspectiva de Yin (1994), um estudo de caso é uma pesquisa empírica que investiga aspetos contemporâneos da via real, com a vantagem de poder recorrer a múltiplas fontes de dados. O autor refere que o estudo de caso é a estratégia mais adequada quando se pretende perceber o como e porquê dos fenómenos. Caracterizando o estudo de caso, Coutinho (2011) indica que o mesmo decorre em

ambiente natural, tem um carácter holístico, depende muito do trabalho de campo, baseia-se em múltiplas e variadas fontes de dados, é limitado, referindo-se a determinado tempo, eventos e processos. Encontram-se como objetivos principais de um estudo de caso, descrever, compreender, explicar o evento em estudo. Por seu turno, Ludke e André (1986), citados por Marconi & Lakatos (2007), ao referirem-se a algumas características do estudo caso, indicam: que este tem como fim a descoberta de respostas, explicações e indagações; as diversas fontes de informações que se pode usar; a ênfase na interpretação de determinados contextos e o facto de retratar realidades.

Também o presente estudo se focaliza num curso concreto, que decorreu na modalidade a distância. E teve-se a possibilidade de observar quer a turma toda quer alguns alunos em particular. Assim, segundo Lessard-Hébert, Goyette, & Boutin (1994), partiu-se de um caso global e evoluiu-se para estudo de caso múltiplo.

Este estudo insere-se numa categoria de investigação cujo enfoque se encontra numa unidade que é investigada e cujos resultados não podem ser generalizados. Yin (1994) chama a atenção para o facto de, no geral, com o estudo de caso, não se pretender generalizar preposições sobre uma população com base numa amostra mas antes generalizar preposições teóricas, ou seja, modelos.

Visto que os estudantes participantes da investigação, na sua interação com o investigador, em alguns momentos, influenciaram o rumo da mesma de forma a tentar o sucesso na aprendizagem, o estudo foi conduzido num contexto próximo da lógica da investigação - ação que Koshy (2007) considera como sendo um processo que cria novos conhecimentos baseados em questionamentos que surgem no âmbito de contextos específicos e práticos.

Segundo Bogdan & Biklen (1994, p.292), “A investigação - acção consiste na recolha de informações sistemáticas com o objectivo de promover mudanças sociais” ou ainda numa intervenção na prática profissional com a intenção de proporcionar uma melhoria (Latorre, 2007; Coutinho, 2011).

A investigação - ação consiste num tipo de investigação aplicada que tem como fim encontrar resultados que podem ser utilizados para tomar decisões em relação a diversos aspetos do quotidiano, ou seja, com o fim de provocar alguma mudança na qual o investigador se envolve fortemente sendo, assim, um agente ativo da mudança.

Coutinho (2011) considera que a investigação - ação não é só uma metodologia de investigação, como também, um contexto de ensino e aprendizagem.

Neste sentido, de certa forma, o presente estudo também toca a investigação - ação pois também se pretende provocar mudanças no âmbito do ensino e aprendizagem da estatística descritiva online. De facto, está-se perante uma situação que apresenta novas exigências, pelas dificuldades que os estudantes têm estado a encontrar nesse processo. Por outro lado, é necessário introduzir melhorias na forma como a estatística tem estado a ser lecionada atualmente e avaliar tais medidas. Este método de investigação vai permitir avaliar, designadamente, as atitudes dos estudantes perante as tecnologias utilizadas neste estudo, nomeadamente a plataforma e o Excel, ajudando, deste modo, a decidir sobre os aspetos que devem ser encorajados ou desencorajados e como potenciar o seu uso.

Vários autores propõem diversos esquemas dos ciclos que devem ser seguidos num contexto de investigação - ação, mas todos eles se resumem à sucessiva planificação, acção e reflexão. Para o presente estudo, que não adopta a estratégia de investigação - ação na sua forma pura, mas que se desenvolveu num contexto próximo da lógica subjacente à mesma, poder-se-ia optar pelo esquema proposto por Kember (2000) que apresenta, em primeiro plano, a reflexão, com base na qual se identificou o problema, seguida de uma planificação que envolveu o plano de investigação e a preparação dos instrumentos de recolha de dados. Partiu para a ação, neste caso a implementação de um estudo exploratório, num estudo piloto, onde se observou todo o trabalho de campo e que se explica adiante na descrição do estudo. Por fim, retomou-se a reflexão, no caso deste estudo, sobre aspetos a alterar no estudo propriamente dito, com base no que aconteceu no estudo piloto exploratório. Com base nos resultados, fez-se uma replanificação e passou-se para o segundo “ciclo”. Deste modo, poder-se-ia considerar que a investigação foi feita em dois “ciclos”, ou melhor duas etapas, seguindo a sequência planificação, ação, observação e reflexão, segundo o modelo de (Kember, 2000) que se apresenta na figura 6.

Figura 6: Ciclo da investigação ação segundo Kember (2000) 2. 3. Reflexão Reflexão Reflexão Planificação Planificação Acção Acção Observação Observação

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