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A metodologia, num estudo empírico, explica de forma clara os procedimentos, métodos e técnicas necessários ao desenvolvimento do estudo, cujo objetivo é chegar à veracidade dos factos (Gil, 1999). Assim, a metodologia pode entender-se como um conjunto de abordagens, técnicas e processos utilizados durante uma investigação. “Qualquer investigação é conduzida tendo em vista esclarecer uma dúvida, replicar um fenómeno, testar uma teoria ou buscar soluções para um dado problema” (Almeida & Freire, 2003, p.38).

A formulação do problema, os objetivos, e as hipóteses, orientam a opção pelo método de pesquisa quantitativo ou qualitativo. Gil (1999), refere que “o objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos” (p. 42).

Num estudo, qualquer que seja a escolha do método de pesquisa, este deve ser claramente definido e justificado, tendo em conta os instrumentos de recolha de dados e a forma de tratamento dos mesmos. Na opinião de Cohen e Manion (1990) “o método a utilizar na investigação, depende do conceito da realidade e do modo de a interpretar por parte do investigador” (p.31).

No presente estudo, optou-se pela metodologia de caráter exploratório e como instrumento de recolha de dados de informação, optou-se pelo questionário, por permitir obter informações a respeito de uma grande variedade de comportamentos como atitudes, opiniões, preferências e representações dos inquiridos, apesar da superficialidade das respostas poder ser uma limitação possível (Quivy & Campenhouldt, 2005). Um questionário permite ainda a comparação de respostas de todos os sujeitos do estudo (Gliglione & Matalon,

60 2007). Concretamente no presente trabalho, foram aplicados dois questionários, um a alunos do 7.º ano e outro a professores, num momento único.

Optou-se por uma recolha de dados numa determinada data e sem período de seguimento para os participantes.

As opções das respostas de alunos e professores foram codificadas, para facilitação do tratamento dos dados. Seguiu-se a sua análise estatística, beneficiando das vantagens de precisão, rigor e clareza dos dados que lhe estão associadas. Este processo possibilitou uma quantificação de um número alargado de dados, fator importante para a representatividade da amostra, e também a comparação das respostas e a análise das correlações entre as variáveis (Maroco, 2007) nos dois grupos estudados (alunos e professores).

Se, por um lado, o preenchimento de um questionário pelo próprio sujeito apresenta a vantagem de permitir aceder a informação que não é facilmente observável a partir do exterior, por outro lado pode ser mal interpretado, não totalmente preenchido ou apresentar respostas que não refletem a realidade mas sim o socialmente expectável (distorção de resposta por expetativa social). Neste estudo alunos e professores foram desde logo informados quanto aos objetivos específicos dos questionários (Tuckman, 2002). Espera-se que este último aspeto tenha sido minimizado com a salvaguarda do anonimato, contribuindo para uma maior fiabilidade das respostas dadas e, consequentemente, maior precisão nas interpretações realizadas.

Objetivos

O principal objetivo deste estudo, como referido anteriormente, é perceber qual a influência da parceria professor animador sociocultural no envolvimento dos alunos na escola. Partindo do problema em estudo, a metodologia adotada é de caracter exploratório, onde se procura responder à seguinte questão:

Como é que a parceria professor-animador sociocultural promove o envolvimento dos alunos na escola?

Com o objetivo de responder a esta questão, foram formuladas as seguintes questões de investigação:

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Participantes

Participaram no presente estudo 94 alunos do 7º ano de escolaridade e 63 professores de duas escolas do Ensino Público, geograficamente próximas, situadas na Margem Sul do Tejo, no distrito de Setúbal; duas turmas e 33 professores de uma escola onde trabalha um animador sociocultural e duas turmas e 30 professores de uma escola onde não trabalha este tipo de técnico.

A escola onde trabalha um animador sociocultural, daqui em diante denominada por E1, está inserida no Programa TEIP2 (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária) desde 2010, por ser reconhecida como um contexto socioeducativo particular. Segundo o seu projeto educativo, o agrupamento de que a E1 é sede reúne um total de nove estabelecimentos de ensino, com níveis de escolaridade que se estendem do pré-escolar, primeiro, segundo e terceiro ciclos Questão 1 – Como varia a perceção do aluno sobre o trabalho do animador

sociocultural (em escola com e sem animador sociocultural) em função do género e das retenções?

Questão 2 – Como varia em função do género/retenções/escola com ou sem animador sociocultural a identificação escolar dos alunos?

Questão 3 – Como varia a perceção dos professores sobre a função do animador sociocultural em relação à presença ou ausência deste técnico na escola?

Questão 4 – Como varia a perceção dos professores sobre a avaliação do trabalho do animador sociocultural em função do género/ciclo que leciona/tempo de serviço?

Questão 5 – Que relação existe entre as funções do animador sociocultural e os contributos da parceria professor - animador sociocultural?

Questão 6 – Para os professores, quais os objetivos das atividades extracurriculares que mais contribuem para o envolvimento dos alunos na escola?

62 do ensino básico, até ao ensino secundário e, ainda, percursos curriculares alternativos, cursos de educação e formação, cursos profissionais e cursos de educação e formação de adultos (nos últimos anos).

A E1 situa-se no concelho do Barreiro, que no ultimo quartel do século XX sofreu um forte impulso no seu crescimento demográfico devido à construção da urbanização onde a escola se insere, que na sua maioria funciona como dormitório de muitas famílias que trabalham em Lisboa e onde se concentram muitos emigrantes oriundos dos PALOP. Junto a esta urbanização está situado um dos bairros considerados críticos do concelho do Barreiro, onde se realojaram muitas famílias de etnia cigana. O desemprego afigura-se uma das grandes vulnerabilidades desta população, estando cerca de 75% dos habitantes abrangidos pelo Rendimento Social de Inserção (dados de 2009, Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro). O nível de escolarização da população residente na freguesia é bastante baixo, sendo de realçar que mais de 12% não possui nenhum nível de escolarização (valor que se encontra acima da média nacional – 10%) e que praticamente 30% concluiu o 1º ciclo do ensino básico.

Na E1, a multiculturalidade é uma das características da população escolar, existem alunos oriundos de várias nacionalidades (Angola, Brasil, Cabo-Verde, Espanha, Grã-Bretanha, Guiné Bissau, Moçambique, Roménia, São Tomé e Príncipe, Suiça, entre outros).

Segundo o seu projeto educativo, a E1 tem atualmente cerca de 874 alunos, 311 do segundo ciclo do ensino básico, 358 do terceiro ciclo do ensino básico e 250 do ensino secundário. Destes, 351 alunos são apoiados pela Ação Social Escolar, o que é um indicador relevante do nível socioeconómico da população escolar e indicia os casos de pobreza extrema que se têm detetado. O número de alunos sinalizados na Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco é também muito elevado e crescente, constituindo outro importante indicador do enquadramento socioeconómico e cultural das famílias, bem como da sua desestruturação. Estas crianças e jovens convivem com contextos familiares complexos, com comportamentos violentos e desajustados e com hábitos de vida pouco saudáveis. Muitas crianças e jovens revelam graves problemas de socialização, dificuldades de relacionamento, problemas ao nível do desenvolvimento psicológico, cognitivo e afetivo e uma responsabilidade social reduzida.

A população escolar que frequenta a E1 é heterogénea seja qual for a vertente considerada: social, cultural, económica, étnica, familiar, etc. Assim, existem diversos fatores que cumulativamente potenciam e contribuem de forma

63 objetiva, mas não generalizada, para a existência de casos problemáticos de indisciplina. Dada a caracterização da população escolar e observado o seu contexto social, segundo o projeto educativo da E1 a prevalência de problemas como o insucesso, o absentismo, a indisciplina e a interrupção precoce do percurso escolar são uma realidade.

A escola onde não trabalha um animador sociocultural, daqui em diante denominada por E2, situa-se no concelho da Moita, numa zona de fronteira com um bairro social considerado bastante problemático. Segundo o seu projeto educativo, o agrupamento de que a E2 é sede, é constituído por 4 escolas, com níveis de ensino do pré-escolar, primeiro, segundo e terceiro ciclos do ensino básico. A maioria dos alunos da E2 revela graves carências aos mais diversos níveis, mas sobretudo, no aspeto económico.

Segundo o projeto educativo da E2, a população escolar do Agrupamento inclui um número muito elevado de crianças e jovens de proveniência africana, alguns já nascidos em Portugal, oriundos de famílias africanas e, outros naturais dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa que aqui pretendem continuar os seus estudos, com particular relevância para os de Cabo Verde, Guiné Bissau e, ultimamente, São Tomé. Recentemente, a este tipo de alunos vieram juntar-se crianças e jovens dos Países de Leste, os quais, não sendo em número significativo, revelam ser alunos com hábitos de estudo bem organizados, bastante empenhados e com alguma facilidade em aprender e ultrapassar as dificuldades iniciais.O mesmo se passa com os alunos de nacionalidade chinesa que começam a chegar a esta escola. A falta de conhecimento da língua Portuguesa é uma barreira para este tipo de alunos da E2.

Para além desta especificidade, verifica-se que existem também alguns alunos de etnia cigana e que uma parte importante dos alunos da E2, são filhos de casais cujos membros se encontram ambos empregados fora da localidade, os quais quase só veem os filhos aos fins de semana, já que, durante o dia e até ao seu regresso a casa, estes ficam entregues a amas, a familiares, normalmente os avós, pessoas com idades consideráveis em muitos casos, ou aos cuidados de inúmeros ATLs.

Contudo, para além destes aspetos, segundo o projeto educativo da E2,é importante ter-se em linha de conta o número exageradamente elevado de alunos, filhos de casais com os mais variados problemas, desde a simples separação, na maioria das vezes sem reconhecimento oficial, até aos casos mais gritantes de toxicodependência, de alcoolismo e ainda, e sobretudo nestes últimos tempos, de prostituição. São igualmente vários os casos de crianças que não vivem com os

64 pais, estando normalmente entregues aos cuidados dos avós ou até de outros familiares ou mesmo de pessoas amigas.

Responderam aos questionários deste estudo 94 alunos da E1 e da E2, de ambos os sexos (43 rapazes e 51 raparigas) e com idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos. É de referir que foi pedido o consentimento aos Encarregados de Educação para participar no estudo.

Relativamente aos professores, foram inquiridos 63 em E1 e E2. O grupo foi constituído por indivíduos do sexo feminino (50) e do sexo masculino (13), com idades compreendidas entre os 20 e os 60 anos que lecionam nos 2º, 3º Ciclos ou Secundário, nas diferentes áreas disciplinares, com tempos de serviço que variam maioritariamente entre os 10 e os 30 anos.

Os participantes responderam aos questionários entre abril e maio de 2014.