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II. 2.3.1 “Gatekeeping inverso”: o jornalismo cultural ao serviço da agenda

III. 2. Opções metodológicas

Tendo em conta as questões acima descritas, o presente estudo pretende responder às seguintes perguntas de investigação:

1. Que áreas da cultura, ângulos de abordagem e âmbito geográfico são mais privilegiados no website da RTP Notícias?

2. Quais são as características editoriais das peças de cultura do website no que diz respeito à sua proveniência, formato, género e autoria?

3. Como é que as características digitais referentes à multimédia, hipertextualidade e interatividade são aplicadas às peças de cultura?

Por forma a responder a estas questões escolhemos utilizar uma metodologia mista, fazendo uma recolha de dados quantitativos e qualitativos. Primeiro procedemos a uma análise de conteúdo das notícias do website, utilizando o programa

SPSS Statistics. Posteriormente, construímos os gráficos em formato Excel, por uma

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detalhes nos subcapítulos “III. 2.1. Corpus da análise de conteúdo” e “III. 2.2. Variáveis da análise de conteúdo”.

Estes dados foram complementados com entrevistas semi-estruturadas em profundidade aos editores responsáveis pela cultura, nas seções de multimédia, televisão e rádio da RTP (apêndices de 1 a 7), nomeadamente: Alexandre Brito (subdiretor de informação e chefe de redação da secção de multimédia), Carlos Neves (chefe de redação da secção de multimédia), Teresa Nicolau (chefe da redação de cultura em televisão), Raquel Amado (jornalista na secção de cultura em televisão),

João Louçã Rodrigues (jornalista na secção de cultura em televisão), Sandy Gageiro e Cláudia Almeida (jornalistas encarregues pela cultura na redação da Antena 1).

Tabela 1: Tabela síntese das entrevistas realizadas

Nome do entrevistado Data e local da entrevista

Alexandre Brito

Subdiretor de informação e chefe de redação da secção de multimédia

12 de fevereiro nas instalações da RTP

Carlos Neves

Chefe de redação da secção de multimédia 13 de fevereiro nas instalações da RTP

Teresa Nicolau

Chefe da redação de cultura em televisão 12 de fevereiro na redação da editoria de cultura de televisão

Raquel Amado

Jornalista na secção de cultura em televisão 13 de fevereiro na redação da editoria de cultura de televisão

Diogo Rodrigues

Jornalista na secção de cultura em televisão 13 de fevereiro na redação da editoria de cultura de televisão

Sandy Gageiro

Jornalista encarregue pela cultura na redação da Antena 1 14 de fevereiro na redação da Antena 1

Cláudia Almeida

Jornalista encarregue pela cultura na redação da Antena 1 14 de fevereiro na redação da Antena 1

Fonte: autoria própria

A decisão de entrevistar um leque tão variado de jornalistas deveu-se ao facto de não existir ninguém responsável pela cultura na secção de multimédia – no website da RTP Notícias a secção de cultura inclui peças dos vários noticiários televisivos, da Antena 1 e de agências noticiosas, para além daquelas que são escritas pelos jornalistas da redação multimédia. Desta forma, não podíamos deixar de entrevistar os jornalistas que, ao fazerem peças para a rádio e televisão, também contribuem para os conteúdos de cultura que estão disponíveis no website.

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No apêndice 8 apresentamos um cronograma onde explicitamos não só o período da recolha de dados, como também o da construção dos capítulos de revisão de literatura e de resultados.

III. 2.1. Corpus da análise de conteúdo

No que diz respeito à análise de conteúdo, decidimos seguir o método da semana estruturada, uma vez que a análise por mês mostrava ser muito morosa (a secção de cultura da RTP Notícias apresenta cerca de 300 notícias por mês) e também porque, desta forma, conseguimos avaliar um período de tempo mais extenso.

Primeiro considerámos analisar duas semanas estruturadas, de abril a julho de 2018. No entanto, este período apenas permitia analisar 152 notícias, o que nos pareceu insuficiente. Decidimos então analisar metade do ano de 2018, acrescentando mais duas semanas estruturadas às que já tínhamos construído, considerando os meses de janeiro, fevereiro e março do mesmo ano. Desta forma obtivemos 252 peças. Começámos a análise no dia 3 de janeiro, numa quarta-feira, por forma a começar num dia útil e evitar os dias 1 e 2 de janeiro, muito presos à lógica do feriado de ano novo. No final, por faltar uma segunda-feira e terça-feira na semana estruturada, fizemos o ajuste, acrescentando os dias 16 e 24 de julho, como se pode verificar na tabela do apêndice 9. As notícias recolhidas encontram-se discriminadas no apêndice 10.

III. 2.2. Variáveis da análise de conteúdo

No que diz respeito ao conteúdo cultural das peças criámos categorias para averiguar os temas, o ângulo de abordagem, o género e ainda a localidade mencionada. Uma vez que a RTP Notícias agrega peças de várias redações da RTP, criámos ainda três categorias referentes ao formato da peça, à sua proveniência e à forma como está assinada. Por fim, para estudar como é que estas peças são colocadas no digital, verificámos se tinham aspetos multimédia inseridos no texto, hiperligações, possibilidade de partilha nas redes sociais, caixa de comentários e fotografia de destaque. Os indicadores de cada uma das categorias são discriminados no apêndice 11.

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Para a categoria dos temas baseámo-nos nos indicadores utilizados na tese de doutoramento de Santos Silva (2015); porém, após uma análise preliminar das notícias, acrescentámos três indicadores: “artes visuais” (onde incluímos peças sobre pintura, arte contemporânea, escultura e banda desenhada), “monumentos e museus” e “apoio às artes”. Este último indicador foi utilizado sempre que as notícias faziam referência à ausência de apoios estatais para artes em Portugal. Também nos baseámos no estudo de Santos Silva (2015) para os indicadores do ângulo de abordagem, com algumas alterações. Neste trabalho, o indicador das “questões culturais e infraestruturas” também contempla as indústrias culturais. Já o “performativo” inclui peças que fazem uma abordagem do ponto de vista do “entretenimento” e do “lifestyle”. Acrescentámos ainda o indicador “questões legais” para conseguir enquadrar as notícias referentes ao movimento #MeToo.

Na categoria de géneros tivemos em conta os estudos de Piza (2004) e Santos Silva (2012) para criar os indicadores “notícia”, “reportagem”, “perfil”, “obituário”, “crítica” e “guia/lista”. Uma análise preliminar tornou necessário a inclusão dos indicadores “género digital: imagem” e ainda “vídeo em direto”. Já na categoria da localidade, para além de colocarmos todos os distritos portugueses, tivemos em conta mais três indicadores: quando não é mencionado um distrito específico, quando a notícia é internacional e, ainda, quando o objeto da notícia, ao ser nacional, tem lugar no estrangeiro (um concerto da Aurea nos Estados Unidos, por exemplo).

Os indicadores das categorias “proveniência da peça”, “formato”, “elementos multimédia” e “assinatura” foram criados tendo em conta uma análise prévia das notícias do website. No que diz respeito às hiperligações, não só considerámos os estudos de Deuze (2003) e Canavilhas (2012) para averiguar se estas remetiam para páginas internas ou externas ao website, como também usámos os mesmos indicadores que Santos Silva (2015), referentes ao destino e função das hiperligações. Uma vez que quase todas as notícias incluíam uma hiperligação que remetia para assuntos do tópico “cultura”, criámos uma variável isolada para perceber quantas peças não incluíam essa hiperligação.

63 Capítulo IV: Apresentação de resultados

Neste capítulo apresentamos os resultados da nossa investigação, que se centram na identificação dos temas, ângulos de abordagem e regiões mais abordados nas peças analisadas, na proveniência destas peças – quantas foram feitas pela rádio, pela televisão e pela secção de multimédia – e nos elementos digitais que as compõem. Os resultados são fruto de uma análise de conteúdo a 252 peças de cultura e de sete entrevistas, realizadas a dois editores da secção multimédia (sendo um deles subdiretor de informação), uma editora de cultura de televisão, dois jornalistas da redação de cultura de televisão e duas jornalistas de cultura da Antena 1.