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O objectivo desta investigação é o estudo do exercício da liderança tomando como sujeitos de investigação professores que desempenham funções como presidentes de conselhos executivos em escolas estatais portuguesas.

Partindo dos indivíduos, deixá-los expressarem-se em discurso directo, peneirar o material recolhido e reconstituir um pedaço de uma totalidade. Primeiro os presidentes, depois os outros actores com os quais interagem directamente - colegas de direcção, coordenadores de departamentos, representantes dos alunos, do pessoal não docente, das famílias, das autarquias e de outras forças locais com assento em órgãos da escola – contrastando a forma como os primeiros exercem os cargos com as opiniões dos outros actores, aprofundando o conhecimento sobre o exercício da liderança nas respectivas escolas e os impactos daí decorrentes.

Interessava ir verdadeiramente ao fundo do conhecimento possível dos actores, ouvi-los, fazê-los falar das suas vidas, das suas experiências profissionais, tentar captar os sinais que ajudassem a construir a totalidade, de como se vai construindo um líder e uma liderança e que impactos daí resultam.

A opção pelo método biográfico foi natural, “Entre a dissolução do sujeito pelo império do objecto e a proclamação do indivíduo acima de qualquer contexto e estrutura social, seria prudente explorar os espaços intersticiais que medeiam os dois extremos” (Casal, 199, p. 87), pretendendo-se também um “conhecimento mais próximo das realidades educativas e do quotidiano dos professores” (Nóvoa, 1992, p. 19).

Não se está a partir de hipóteses, não se visam generalizações, persegue-se, sim, a singularidade a que só se pode ter acesso pela via da escuta activa dos sujeitos.

Como um fotógrafo recorre ao zoom quando pretende fixar detalhes marcantes de uma paisagem impossível de abarcar no seu todo, também nesta investigação se estuda o pormenor para melhor chegar à totalidade da organização.

A pretendida aproximação macro aos sujeitos, só poderia ser alcançada através de uma metodologia susceptível de permitir aprofundar a proximidade pessoal aos mesmos, captar o essencial das suas histórias de vida, tentar descodificar emoções e convicções.

A metodologia qualitativa é a que melhor se ajusta aos objectivos de um estudo que só pode ser descritivo e se afasta de qualquer preocupação de natureza quantitativa.

Não que se desvalorizem as virtualidades da quantidade, apenas por esta não se ajustar às preocupações em presença ou, como afirmam Bogdan e Biklen (1994, p 16),

Ainda que os indivíduos que fazem investigação qualitativa possam vir a seleccionar questões específicas à medida que recolhem os dados, a abordagem à investigação não é feita com o objectivo de responder a questões prévias ou de testar hipóteses. Privilegiam, essencialmente, a compreensão dos comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação. As causas exteriores são consideradas de importância secundária. Recolhem normalmente os dados em função de um contacto aprofundado com os indivíduos, nos seus contextos ecológicos naturais.

A entrevista em profundidade, semi-estruturada baseada num guião, mais flexível no primeiro caso, menos aberto no segundo, espécie de itinerário tentativo base de uma conversa fluida, aberta à possibilidade de inflectir a direcção quando justificado, foi o instrumento eleito.

Banister et al (1994), citado por Szymanski, Almeida e Brandini (2004, p. 10) sustenta que “Esse instrumento tem sido empregado em pesquisas qualitativas como solução para o estudo de significados subjectivos e de tópicos complexos demais para serem investigados por instrumentos fechados num formato padronizado” e Kaufmann (2004, p. 10) sublinha, “A entrevista compreensiva é precisamente o contrário de um método improvisado”.

O estudo de caso, mais propriamente de dois casos, de duas histórias de vida, mas com um vasto conjunto de trinta e nove entrevistas complementares, foi a opção que pareceu mais ajustada aos objectivos visados.

Não estava em causa qualquer preocupação de generalizar conclusões, antes procurar singularidades susceptíveis de fazerem alguma luz sobre actores privilegiados, sobre os seus trajectos de vida, as suas convicções, as suas formas de exercício da liderança, os impactos daí resultantes e a padronização relativa a comportamentos de liderança passíveis de utilização como elementos de referência acrescidos na gestão escolar.

Como afirma Guerra (2006, p. 20), “A questão central que se coloca na análise compreensiva não é a definição de uma imensidade de sujeitos estatisticamente “representativos”, mas sim de uma pequena dimensão de sujeitos “socialmente significativos”.

Competindo ao investigador escolher os sujeitos da investigação e estando em causa os marcos conceptuais que balizam o essencial das suas preocupações – a direcção e a liderança escolares – seleccionaram-se de forma deliberada dois presidentes de conselhos executivos considerados como gestores escolares de referência e reconhecidos publicamente como verdadeiros líderes educativos, com o objectivo de poder analisar as suas histórias de vida e concepções sobre o exercício dos cargos, contrastando-as com as opiniões dos liderados e extraindo daí conclusões também em termos organizacionais.

Na selecção consideraram-se o conhecimento pessoal do investigador e as conclusões dos relatórios do Grupo de Trabalho para a Avaliação das Escolas7, criado pelo Ministério da Educação (ME) (Despacho conjunto nº. 370/2006 e Despacho nº. 5/ME/2006) nomeadamente o desempenho global das escolas que cada um dos sujeitos dirigem e, em particular, o item “liderança”.

7 Criado por despacho conjunto do Ministro de Estado e das Finanças e da Ministra da

Educação, o Grupo de Trabalho para a Avaliação das Escolas tinha como objectivos estudar e propor os modelos de auto-avaliação e de avaliação externa dos estabelecimentos de educação pré-escolar e dos ensinos básico e secundário, e definir os procedimentos e condições necessários à sua generalização, tendo em vista a melhoria da qualidade da educação e a criação de condições para o aprofundamento da autonomia das escolas.

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