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Opções para os participantes de consórcios

4 AVALIANDO OS PROJETOS DE TRANSMISSÃO

4.5 Opções para os participantes de consórcios

Nos leilões de concessão de transmissão de energia elétrica, muitas empresas participaram em consórcio com outras empresas. Como a transmissão de energia elétrica é um serviço bastante especifico, essas empresas podem ser caracterizadas de acordo com os tipos de serviço que realizam na transmissão:

 fornecedoras de equipamentos: comercializam, fornecem e montam os equipamentos elétricos (transformadores, cabos, disjuntores, pára-raios etc.). Também podem ser contratadas para realizar a manutenção dos equipamentos.

 construtoras: realizam estudos geológicos, fazem projetos das instalações, constroem e supervisionam as instalações físicas (torres de transmissão e subestações).

 engenharia: realizam os estudos sobre os sistemas, fazem os projetos de engenharia, instalam e supervisionam a instalação dos sistemas elétricos, além de poderem realizar serviços de manutenção e operação dos sistemas.

 operadoras: realizam todas as funções de engenharia e construção, também realizam análises ambientais, montam e supervisionam o andamento dos projetos ambientais (no projeto constam as medidas para amenizar os impactos ambientais) e projetos sociais (projetos para a integração social com a região atendida e, quando necessário, as formas de desapropriação), além de realizarem serviços de manutenção e operação dos sistemas.

O modo como os consórcios podem ser estruturados são diversos, dependendo dos interesses de cada empresa, pode haver consórcios com duas empresas operadoras, consórcios com mais

de cinco empresas, nesse caso, privilegiando a diversificação das empresas etc. A questão que interessa é, será que existem outros benefícios além da receita anual permitida, levando as empresas a terem um valor agregado ao consórcio maior do que meramente o valor líquido do investimento? Para responder a essa questão é necessário entender como se dá a participação de cada empresa no projeto para a linha de transmissão.

Considerando uma participação em um consórcio para a licitação de uma linha de transmissão, em que o consórcio seja formado por quatro empresas, uma fornecedora de equipamentos, uma construtora, uma empresa de engenharia e a última uma operadora.

É óbvio pensar que a empresa que fornece equipamentos teria como participação no projeto o fornecimento dos equipamentos. Mas, e após fornecer os equipamentos necessários no início do projeto, qual seria seu trabalho? Essa empresa tem a opção de abandonar o negócio por um preço que cubra o valor dos equipamentos ou, caso essa opção não seja exercida, poderia se encarregar da manutenção e substituição de equipamentos defeituosos, além de receber uma parte da RAP ao longo da concessão. Ou seja, além dos investimentos iniciais e da receita constante, ao ganhar a licitação essa empresa possui a opção de permanecer em um contrato de fornecimento, manutenção e substituição de equipamentos para o governo com duração de trinta anos, isso sem considerar a possibilidade de prorrogação desse prazo.

Para as construtoras, no início do projeto, a empresa realizaria o trabalho de construir as instalações, enquanto que, depois de terminado este trabalho, a opção seria deixar o consórcio por um determinado preço ou, caso não seja exercida, permanecer e receber uma quantia da RAP, como se tivesse investido em um ativo que paga dividendos constantes durante trinta anos.

Para as empresas de engenharia e as operadoras, essas duas empresas realizam trabalhos muito similares, as duas podem realizar os estudos, os projetos, podem também instalar e realizar a manutenção dos sistemas. Desconsiderando o fato dos estudos ambientais e sociais que as operadoras têm de realizar, é possível notar que a diferença mais sutil entre esses dois tipos de empresas está no fato da empresa de engenharia poder realizar todos esses serviços, caso seja contratada para isso, enquanto que as operadoras estão habituadas a realizarem esse tipo de serviço. As opções reais disponíveis, nesse caso, parecem estar relacionadas aos ganhos de escala presentes na transmissão (PÉREZ-ARRIAGA; RUDNICK; STADLIN, 1995).

A origem de um dos ganhos de escala está relacionada ao estudo necessário para a montagem do projeto. Nesses estudos, o novo sistema deve ser compatível com o sistema existente, assim, a empresa proprietária dos sistemas em funcionamento deve fornecer todas as informações necessárias à nova concessionária. Ao trocar informações (informações sobre os sistemas, a geologia da região, equipamentos etc.), a cada nova informação, o custo relacionado à obtenção de nova informação se reduz, tornando as empresas mais eficientes a cada nova linha adquirida. Além de haver a possibilidade das empresas estarem repassando entre si o conhecimento sobre novas tecnologias e sistemas mais eficientes. Outro fator importante são as economias relacionadas à construção de novas instalações, quando a linha leiloada deve ser conectada a uma instalação da própria empresa participante do consórcio. Como as linhas são próximas, não há a necessidade de pagar o ressarcimento por utilização ou a construção de novas instalações. Desses fatores, é possível perceber que, quanto maior a participação da empresa no mercado, maior serão as economias de escala que a empresa poderá usufruir.

Para essas empresas, além da opção de abandono do investimento, existe a opção derivada dos ganhos de escala futuros na realização do investimento, muito importantes quando considerado que, caso a empresa queria se manter no mercado, deve, para isso, continuar ganhando mais e mais concessões. Essas duas opções agregam valor positivo ao projeto, pois resultam em ganhos extras para as empresas participantes. Esses ganhos podem resultar em lances mais baixos nos leilões com o objetivo de garantir a vitória dependendo da forma como é estruturado o project finance. A empresa que primeiro se dispõe a ter o custo de montar o

project finance terá de arcar com os custos jurídicos e os custos iniciais para procurar

parceiros dispostos a participar do projeto. A opção real seria a escolha do tipo e de quem seriam os participantes dessa joint-venture, podendo ter empresas de construção, prestadoras de serviços de manutenção técnica, empresa de engenharia para o projeto, instalações e operação das instalações etc. ou a empresa poderia optar por realizar todos os serviços ou pagar por uma terceirização. O valor dessa opção, caso exista, pode refletir algum conhecimento extra de empresas especializadas em serviços específicos que gerem um custo menor de investimento ou manutenção. Após a análise de como os valores de cada participante pode ter sido gerado, na próxima seção será realizada a análise de como esses valores afetarão o resultado dos leilões.