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A iniciativa de arquivos abertos, ou Open Archives Initiative (OAI), teve início quando Paul Ginspard, Rick Luce e Herbert Van de Sompel fizeram uma chamada para participação em uma reunião para explorar a cooperação entre arquivos de e-prints. Essa iniciativa propôs aspectos técnicos e organizacionais de uma estrutura para publicação científica, na qual as camadas livres e comerciais podem ser estabelecidas. Isso foi possível devido aos ideais e conceitos estabelecidos pela OAI e sintetizados como “uso do software livre, também chamado open source, auto-arquivamento, criação de repositórios de livre acesso, tanto institucionais quanto temáticos, e uso de padrões de preservação de objetos digitais” (KURAMOTO, 2005, p. 148).

Weitzel (2006) busca diferenciar OAI e Movimento de Acesso Livre. Nesse sentido, ela explica que a OAI é uma iniciativa que surgiu com a convenção de Santa Fé, em 1999. O Movimento de Acesso Livre, por sua vez, surgiu com a convenção de Budapest, em 2001. Para a autora, é possível que a OAI tenha contribuído para a organização do Movimento de Acesso Livre. Mas, apesar de serem dois movimentos distintos, ambos desejam o acesso livre, e por isso estão inseridos no modelo OA de comunicação científica.

As origens da OAI residem no crescente interesse em propor alternativas para o paradigma da tradicional publicação científica. Inúmeros fatores motivaram essa mudança, dentre eles o aumento do número de disciplinas acadêmicas, principalmente aquelas conhecidas como “ciências duras” (ex.: Física, Ciências da Computação, Ciência da Vida), que tem produzido resultados em um ritmo cada vez mais rápido (LAGOZE, VAN DE SOMPEL, 2001).

A meta da OAI é contribuir de forma concentrada para a transformação da comunicação científica. Além disso, ela buscou definir os aspetos técnicos e de suporte organizacional de uma estrutura de publicações científicas aberta, de modo que a camada comercial e a livre pudessem se estabelecer (KURAMOTO, 2006a).

O nome Open Archives Initiative reflete a origem da OAI na comunidade de e-prints, na qual o termo “Archive” é geralmente aceito como sinônimo de repositório ou artigos científicos. A OAI usa esse termo em um sentido mais amplo, como um repositório para armazenar informação. Já o termo “Open” é utilizado na perspectiva da arquitetura, no sentido

de definir e promover interfaces de máquina para promover a disponibilidade de conteúdos (LAGOZE, VAN DE SOMPEL, 2001).

Em outubro de 1999, um encontro foi realizado em Santa Fé com o intuito de discutir os mecanismos a serem utilizados para incentivar o desenvolvimento de soluções para os repositórios de e-prints. O tão conhecido repositório de Física executado por Paul Ginsparg, no Laboratório Nacional de Los Alamos, tem mudado radicalmente o paradigma da publicação nessa respectiva área. Esforços similares foram planejados, ou já estão em curso, com a promessa de estender essas mudanças para outros domínios (LAGOZE, VAN DE SOMPEL, 2001).

As especificações técnicas e os princípios administrativos necessários para a interoperabilidade entre repositórios definidos pela convenção foram os seguintes: mecanismo de submissão, sistema de armazenamento a longo prazo, política de gestão e interface aberta. Essa última configura-se como elemento essencial para fornecer serviços com valor agregado (KURAMOTO, 2006a).

Além disso, a OAI estabeleceu o Open Archives Initiative Protocol for Metadata Harvesting (OAI-PMH), um protocolo de comunicação que possibilita a coleta de metadado a partir de determinados provedores de dados. O provedor de serviços deve utilizar o programa Harvester (mecanismo de colheita), que dialoga com a programação desse provedor que irá expor metadados para colheita (KURAMOTO, 2006a).

Esse protocolo, junto com um padrão de metadados, gera alto nível de interoperabilidade entre os repositórios. Os metadados também são apresentados em um padrão. Normalmente é utilizado o Dublin Core (DC). Porém, a OAI permite adotar outros padrões de metadados (KURAMOTO, 2006a).

Para Ferreira (2008, p. 114), os movimentos de OA e OAI

[...] perpetuam os três princípios clássicos referendados pela comunidade científica: a) o princípio da disseminação, referente à visibilidade dos resultados de modo que possam ser colocados em uso pela comunidade científica; b) o princípio da fidedignidade, alusivo à revisão pelos pares com o intuito de conferir validade e qualidade ao conteúdo; c) princípio da acessibilidade, concernente à organização, permanência e acesso ao conteúdo científico pela comunidade científica.

O foco original nos e-prints foi ampliado para abranger provedores de conteúdos em muitos domínios (com ênfase sobre o que poderia ser classificado como publicação acadêmica). Uma refinada e extensiva estrutura técnica tem sido desenvolvida e uma estrutura organizacional para apoiar a iniciativa OAI tem sido estabelecida (LAGOZE, VAN DE SOMPEL, 2001).

Conforme afirmado pelos autores, a OAI teve início com os repositórios de e-prints, mas se expandiu para outras comunidades. De acordo com Lagoze e Van de Sompel (2001), logo depois da disseminação da Convenção de Santa Fé, em fevereiro de 2000, tornou-se claro que havia interesse em estender a OAI para outras comunidades, que estavam intrigadas com a barreira da baixa interoperabilidade e visualizaram a coleta de metadados como um meio para esse fim. A figura 1 representa essa expansão.

Figura 1: Estrutura open archives para múltiplas comunidades Fonte: Lagoze, Van de Sompel (2001)

Como se pode observar na figura 1, os autores desenvolveram uma espécie de “guarda-chuva” como uma metáfora para mostrar a expansão dos e-prints para outras comunidades. Ou seja, a idéia inicial era criar repositórios de e-prints e iniciou-se com o primeiro repositório, o de Física (Arxiv, de Paul Ginsparg). No entanto, surgiu a necessidade de ampliar a iniciativa para outras comunidades, como a dos bibliotecários de referência e das editoras. Essa expansão inter-comunidades impulsionou a ampliação também para outros tipos de canais de comunicação, como os periódicos científicos, que são caracterizados como publicação primária e também aderiram ao movimento.

Nessa perspectiva, essa expansão atingiu também um dos princípios fundamentais da OA, o auto-arquivamento, que teve início com os e-prints e se expandiu para os periódicos científicos.

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