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O método proposto, apresentado mais à frente no capítulo 4, tem como dados de input não só as fotografias e as respetivas orientações externas e interna, mas também um DSM e ortofoto georreferenciados da zona coberta pelas imagens. Recorreu-se ao software PhotoScan Agisoft para obter estes produtos.

A tecnologia aplicada vem da área de pesquisa de computer vision, que desenvolve técnicas para recuperar a forma tridimensional e a aparência dos objetos em imagens, e utiliza as técnicas SfM (Structure from Motion) e dense stereo-reconstruction. Apesar de o programa ser capaz de reconstruir diversos tipos de objeto, vários testes revelam que este software se distingue no processamento de imagens aéreas (Verhoeven, 2011).

Após a introdução das imagens e respetivas orientações no software e definição do sistema de coordenadas de trabalho (neste caso o ETRS89/PT-TM06), o processo para a criação do modelo 3D e ortofoto compreende as etapas ilustradas na figura 15.

Figura 15- Workflow do software Agisoft PhotoScan

Durante o alinhamento, o software recorre à técnica SfM, através da qual consegue identificar pontos conspícuos nas imagens onde existe sobreposição, permitindo encontrar ou otimizar a posição e orientação de cada câmara e calcular ou calibrar os parâmetros de orientação interna. Desta etapa resulta uma nuvem de pontos esparsa, as posições e orientações das câmaras e os parâmetros de orientação interna.

Antes ou depois do alinhamento é importante inserir os PFs e suas coordenadas no software, para efetuar a georreferenciação. O mesmo PF deve ser marcado em quantas fotografias puder ser identificado (figura 16). A vantagem de realizar esta etapa depois do alinhamento é que, após introdução das coordenadas dos PFs e medição destes numa só fotografia, o software reconhece as restantes imagens em que ele aparece e estima a posição do mesmo nessas imagens, tornando esta tarefa mais rápida. Desta forma torna-se necessário recalcular os parâmetros de orientação interna e externa, através da otimização do alinhamento após medição de PFs.

A operação de alinhamento corresponde à determinação automática de pontos conspícuos e das orientações relativas de todas as imagens do bloco.

Alinhamento Marcação de PFs Otimização do alinhamento Construção de uma nuvem densa Construção do modelo 3D Texturização Construção da ortofoto

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Figura 16- PF identificado em duas imagens diferentes

O próximo passo consiste na construção de uma nuvem de pontos densa, através do algoritmo MVS. O programa é capaz de produzir nuvens de pontos realmente muito densas, podendo mesmo ultrapassar a densidade de nuvens obtidas através do método LiDAR. A figura 17 apresenta a nuvem obtida com a qualidade máxima que o software permite (ultra high).

Figura 17- Parte Sudeste da nuvem de pontos densa com qualidade 'ultra high'

A partir da nuvem de pontos densa, o software é capaz de produzir o DSM em TIN e grid. Ambos foram obtidos a partir da nuvem de pontos densa. O primeiro por reconstrução de uma malha poligonal e o segundo através da rasterização da nuvem, com uma resolução espacial de 3 cm/pixel. A figura 18 apresenta os dois DSM.

23 É possível atribuir textura ao modelo 3D calculando uma média ponderada do valor dos pixels correspondentes a determinado ponto, através da média dos vários valores possíveis, da máxima intensidade, mínima intensidade, ou pode-se ainda escolher a imagem de onde queremos recolher as texturas.

A partir do DSM em formato grid é então possível produzir uma ortofoto (figura 19).

O DSM (grid) e a ortofoto produzidos neste trabalho têm ambos uma resolução espacial de 3 cm/pixel.

Figura 19- Ortofoto

4.2 Análise da qualidade dos produtos gerados

Para avaliar a qualidade dos produtos gerados, foram definidos e analisados alguns critérios relevantes para a qualidade do produto final deste trabalho:

1. Qualidade visual da ortofoto

a. Nitidez e contiguidade dos contornos dos edifícios; b. Geometria dos edifícios;

2. Qualidade da nuvem de pontos densa e DEM a. Densidade da nuvem;

b. Nitidez das arestas;

c. Qualidade posicional da nuvem/DEM.

Sendo o objetivo deste trabalho a deteção de fachadas de edifícios e, visto que se recorre ao DEM para encontrar a posição das mesmas (tal como se explica no capítulo seguinte), a sua qualidade é um fator muito importante para o sucesso do método proposto. Neste contexto, a ortofoto tem função meramente visual, para enquadramento geográfico, pelo que a sua qualidade não tem grande influência nos resultados finais. Porém, visto que esta é obtida a partir do DEM, que é calculado com base na nuvem de pontos, podemos analisar visualmente algumas características, tais como a nitidez e contiguidade dos contornos dos edifícios e a geometria dos edifícios, que poderão ser indicadores da qualidade do DEM.

É a partir da nuvem de pontos densa que o DEM é gerado, portanto importa que esta seja o mais densa possível, para que não haja falhas nas arestas dos objetos com elevação, que são geralmente as zonas críticas neste tipo de produto.

De um modo geral a ortofoto aparenta ter boa qualidade. Porém, quando se faz zoom é possível verificar algumas deformações, principalmente nas zonas de menor sobreposição. A figura 20 mostra dois

24 exemplos em que os edifícios aparecem com uma geometria deformada e com pedaços de fachada visíveis, o que não é de esperar numa projeção ortogonal.

Figura 20- Defeitos na ortofoto

A figura 21 apresenta extratos da nuvem de pontos densa. Verifica-se que a densidade é realmente bastante elevada. Porém, existem algumas falhas, que poderão ocorrer devido à inexistência de sobreposição nessas zonas, devido a oclusões por outros telhados ou objetos nas proximidades. Ainda assim, verifica-se que, de um modo geral, as arestas dos telhados aparecem bem definidas.

Figura 21- extratos da nuvem de pontos densa

A georreferenciação foi obtida com um erro médio quadrático (EMQ) de 3,517 cm em planimetria e 0,827 cm em altimetria. O EMQ total é de 3,613 centímetros. Este valor é um indicador global da precisão da triangulação.

Não foi possível efetuar o controlo posicional ou de qualidade através de comparação dos valores obtidos com outros pontos de coordenadas conhecidas, pois o número de PFs é bastante reduzido e, portanto, optou-se por usar todos na georreferenciação do bloco. Porém, em Serra (2014), os mesmos dados foram processados num outro software (Pix4D) que se baseia, também ele, na técnica SfM. Nesse trabalho, o conhecimento das coordenadas de pontos de controlo, permitiu uma análise quantitativa da qualidade do posicionamento, através do cálculo do EMQ. O erro médio quadrático obtido para a altimetria (EMQZ) foi de 68,9 cm e o erro médio quadrático obtido para a planimetria (EMQXY) foi de 38,0 cm.

25 A título de curiosidade, a figura 22 apresenta as elipses de erro para as posições das câmaras após a georreferenciação com PFs. Verifica-se que, de facto, a OE vinda do GPS/IMU instalado na aeronave não é suficiente para a georreferenciação das imagens, uma vez que algumas imagens chegam a ter erros na ordem do metro e meio.

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