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Operacionalização do método fenomenológico descritivo

4. Método fenomenológico descritivo

4.1. Descrição do método

4.1.5. Operacionalização do método fenomenológico descritivo

A investigação começa a partir da descrição das experiências dos sujeitos, recolhidas na entrevista, as quais devem ser compreendidas numa perspectiva psicológica. Deste modo, o objectivo é que os sujeitos descrevam de forma tão fiel quanto possível, todos os pormenores de uma situação vivenciada em que ocorreu o fenómeno em estudo, pois importa saber o papel do participante na situação clínica. Após a fase da descrição que fornece os dados para a análise, entramos na análise propriamente dita, que Giorgi (2003) apresenta em quatro passos fundamentais.

1) O primeiro passo consiste na leitura integral da entrevista, procurando o sentido do todo, ou seja, a perspectiva fenomenológica é holística e os dados das descrições dos

participantes devem ser lidos na sua totalidade, antes de iniciar a análise propriamente dita e passar à etapa seguinte, para uma compreensão global das descrições.

2) No passo seguinte, importa à análise fenomenológica determinar o significado da experiência do sujeito em unidades limitadas da descrição, ou seja, sempre que surgir uma mudança de sentido na descrição do sujeito, esta é assinalada no texto. Assim, as partes estabelecidas pelo investigador, baseiam-se na discriminação dos significados, resultando em unidades de significado. Estas unidades de significado podem ser consideradas como constituintes, os quais são determinados em função do contexto (Gurwitsch 1913/1983, op. cit. Giorgi, 1985). Assim, tal como é ilustrado na Tabela 1, o investigador torna a ler a descrição numa atitude de redução fenomenológica parcial e sempre que detecta uma mudança de significado na leitura da descrição, assinala-a, prosseguindo até ao final do texto utilizando este mesmo procedimento, à medida que delimita as unidades de significado, de acordo com uma perspectiva psicológica. Surge então uma questão, que nos leva a ponderar se outro investigador chegaria a unidades de significado diferentes. A resposta prende-se com a importância do produto final deste procedimento e não com as suas fases intermédias, pelo que o estudo pode ser replicado e as divergências na divisão das unidades psicológicas não implicam necessariamente resultados finais diferentes.

3) Tendo como base a descrição das experiências dos participantes e, uma vez apreendidas as delimitações das unidades de significado psicológico, referentes ao fenómeno em questão, o terceiro passo consiste em transformar as expressões quotidianas dos sujeitos que pertencem ao senso comum, e clarificar o seu significado psicológico, através da variação livre imaginativa. A finalidade do método fenomenológico reside na descoberta e articulação dos significados psicológicos vivenciados pelos sujeitos. As descrições contêm sobretudo expressões idiossincráticas e intenções que devem tornar-se explícitas, relativamente ao fenómeno em análise. Como se pode observar no exemplo da Tabela 2, é apurado o significado psicológico essencial, relevante para o fenómeno em causa, podendo ser analisada a sua pertinência para explicar o contexto em que o fenómeno se expressa.

4) Uma vez apurado o significado das expressões dos sujeitos e a sua transformação em significado psicológico pertinente para o fenómeno em questão, mediante a sensibilidade do investigador, procede-se à análise eidética das unidades de significados transformados a fim de verificar aquilo que é essencial e permanece constante, para posteriormente serem apurados estes significados invariantes interligados e pertencentes à experiência. Deste modo, o quarto passo pretende alcançar psicologicamente um encadeamento holístico do fenómeno, através da inter-relação entre as diversas unidades de significado psicológico, numa rede

essencial das ligações entre as várias partes, fazendo sobressair o significado psicológico total.

O propósito de chegar à estrutura final da experiência dos sujeitos, visa outro passo no processo, mas este já corresponde a uma análise pós-estrutural (Giorgi, A. & Sousa, D. 2010), onde se pretende fazer uma compreensão dos dados empíricos de forma sistemática, destacando para esse efeito os constituintes principais (contextuais) da estrutura (generalizada) que estão ao serviço da compreensão das variações encontradas nos dados das descrições.

A partir destes pressupostos metodológicos decidiu-se abordar o conceito de momento

presente, tal como apresentado Stern (2004), tendo como objectivo contribuir para a

compreensão dos momentos chave que promovem a mudança na relação terapêutica. Para tal, é apreciado o ponto de vista do terapeuta, na relação terapêutica, através da descrição das suas vivências, na partilha com o paciente em contexto terapêutico, de modo a compreender-se os significados psicológicos das mesmas e, toda a envolvência invariável em que emerge o fenómeno do momento presente.

Tabela 1: Unidades delimitadas na descrição

I: “E depois na sessão seguinte, quando esteve com essa paciente, como é que foi?”

P1: “Na sessão seguinte o que acontece é que essa parte passa já, ganhou existência ali na

relação / e portanto já não é algo que eu só possa sugerir que pode estar presente ou não, é algo que ela (paciente) já viveu ali comigo e que portanto já pode ser trabalhado doravante,

/ já não sou eu a propor por fora e a tentar devolver esta parte, mas é algo que ela

(paciente) já trouxe e portanto já experimentou ali, já vivenciou ali comigo, passa a ser parte da relação e do espaço terapêutico partilhado”./

Unidades de significado Unidades de significado transformadas em significado

psicológico

21. I: E depois na sessão seguinte, quando esteve com essa paciente, como é que foi?

P1: Na sessão seguinte o que acontece é que essa parte passa já, ganhou existência ali na relação

21. P1

refere que na sessão seguinte a situação ganhou uma dimensão factual entre a terapeuta e a paciente, a serem abordadas entre ambas

22. e portanto já não é algo que eu só possa sugerir que pode estar presente ou não, é algo que ela já viveu ali comigo e que portanto já pode ser trabalhado doravante,

22. Para P1 a diferença é que a situação foi vivida em pesenças das duas, ganhando outra dimensão

23. já não sou eu a propor por fora e a tentar

devolver esta parte, mas é algo que ela já trouxe e portanto já experimentou ali, já vivenciou ali comigo, passa a ser parte da relação e do espaço terapêutico partilhado

23. P1

afirma que não se trata apenas de uma problemática que é sugerida mas sim de algo concreto que aconteceu na própria relação terapêutica e que também é vivida pela paciente. Houve uma implicação desta

21+22+23 as questões que a paciente não queria trazer para as sessões e que a levavam a faltar, a partir desse momento puderam ser debatidas e integradas no trabalho terapêutico

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