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1.2 TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NA LÍNGUA

1.2.1 Operadores argumentativos

A gramática de uma língua possui certos elementos que têm por função indicar ou mostrar a força argumentativa dos enunciados, a direção ou o sentido para o qual apontam. Podemos nomear esses elementos como operadores argumentativos ou conectores.

Para Koch (1998), os operadores argumentativos são elementos linguísticos que permitem orientar nossos enunciados para determinadas conclusões. São responsáveis pela orientação argumentativados enunciados que introduzem, o que vem a comprovar que a argumentatividade está inserida na própria língua.

Desta forma, conforme a autora,

Toda língua possui, em sua gramática, mecanismos que permitem indicar a orientação argumentativa dos enunciados: a argumentatividade, diz Ducrot, está inscrita na própria língua. É a

esses mecanismos que se costuma denominar marcas linguísticas da enunciação ou da argumentação. [...] Outras vezes, tais elementos são denominados modalizadores [...] já que têm a função de determinar o modo como aquilo que se diz é dito. (KOCH, 1998, p. 29)

Como algumas palavras da gramática da nossa língua são responsáveis por sinalizar a argumentação, ao produzir um enunciado ou um texto, devemos ter ciência do valor argumentativo das palavras utilizadas. A correta utilização dessas palavras auxilia na comunicação e no entendimento do texto. É importante também, além de saber escolher essas palavras, saber identificá-las em outros textos.

Os operadores argumentativos são responsáveis pelo encadeamento dos enunciados, estruturando-os em textos e determinando a orientação discursiva. Esses elementos configuram marcas linguísticas importantes para a enunciação, determinantes para o valor argumentativos do enunciado. Alguns operadores argumentativos estabelecem hierarquia, alguns evidenciam argumentos mais fortes, outros argumentos mais fracos. Koch (1998, p. 31-39) faz uma classificação do que seria, de forma geral, os principais tipos de operadores argumentativos. Vejamos:

a) Operadores que assinalam o argumento mais forte de uma escala orientada no sentido de determinada conclusão: até, mesmo, até mesmo, inclusive.

b) Operadores que somam argumentos a favor de uma mesma conclusão: e,

também, ainda, nem (= e não), não só...mas também, tanto...como, além de..., além disso..., a par de..., etc.

c) Operadores que introduzem uma conclusão relativamente a argumentos apresentados em enunciados anteriores: portanto, logo, por conseguinte, pois,

em decorrência, consequentemente, etc.

d) Operadores que introduzem argumentos alternativos que levam a conclusões diferentes ou opostas: ou, ou então, quer...quer, seja...seja, etc.

e) Operadores que estabelecem relações de comparação entre elementos, com vistas a uma dada conclusão: mais que, menos que, tão...como, etc.

f) Operadores que introduzem uma justificativa ou explicação relativamente ao enunciado anterior: porque, que, já que, pois, etc.

g) Operadores que contrapõem argumentos orientados para conclusões contrárias:

mas (porém, contudo, todavia, no entanto, etc.), embora (ainda que, posto que, apesar de (que) etc.).

h) Operadores que têm por função introduzir no enunciado conteúdos pressupostos: já, ainda, agora, etc.

i) Operadores que se distribuem em escalas opostas, afirmação total ou negação total: um pouco, tudo, todos (afirmação), pouco, nada, nenhum (negação) Podemos observar que os operadores argumentativos são elementos da própria língua. Por meio deles, é possível observar a argumentatividade da língua, pois indicam a orientação argumentativa dos enunciados. Essa classificação proposta por Koch (1998) corrobora com os estudos sobre conectores realizados por Ducrot. O autor analisou os conectores e passou a tê-los como elementos de ligação e orientação, ou seja, eles são responsáveis pela articulação das informações e argumentos presentes no texto. Ducrot (apud KOCH, 1998) propôs a noção de “classe argumentativa” e de “escala argumentativa”. Vejamos essa classificação com exemplos citados por Koch (1998).

 Classe argumentativa: Designa o conjunto de elementos que apontam ou

orientam para uma mesma conclusão. Possui o mesmo “peso”.

(2) João é o melhor candidato. (conclusão R) arg. 1 – tem boa formação em Economia

arg. 2 – tem experiência no cargo classe argumentativa arg. 3 – não se envolve em negociatas

Todos os argumentos possuem o mesmo peso para levar à conclusão R.

 Escala argumentativa: Apresenta uma gradação de força (crescente ou

(3) A apresentação foi coroada com sucesso. (conclusão R) arg. 1 – estiveram presentes personalidades do mundo artístico arg. 2 – estiveram presentes pessoas influentes nos meios políticos

arg. 3 – esteve presente o Presidente da República (argumento mais forte) Podemos representar a escala argumentativa da seguinte maneira:

R: A apresentação foi coroada com sucesso:

(arg. + forte) p” - esteve presente o Presidente da República

p’ - estiveram presentes pessoas influentes nos meios políticos p - estiveram presentes personalidades do mundo artístico

Na Classe argumentativa, todos os argumentos apresentados (tem boa formação, experiência no cargo e o fato de não se envolver em negociatas) se complementam e apontam para a mesma conclusão, que João é o melhor candidato.

No caso da Escala argumentativa, há uma hierarquia de sentido em relação aos argumentos. O sucesso da apresentação é marcado pelas pessoas presentes. Sendo o “Presidente da República”, a pessoa mais importante, representada pelo argumento mais forte, evidenciando o sucesso da apresentação. Em seguida, se fazem presentes “pessoas influentes nos meios políticos” e, por fim, “personalidades do mundo artístico”.

Essa escala demonstra a importância das informações dadas em um enunciado e dos argumentos apresentados no texto. Dessa forma, determinados argumentos podem se apresentar na forma de classe argumentativa (com o mesmo “peso”) ou de escala argumentativa (representados por uma hierarquia).

Empregada a classificação de Koch (1998) nos exemplos, temos:

Em (a) “operadores que assinalam o argumento mais forte de uma escala orientada no sentido de determinada conclusão”, podemos utilizar o operador para evidenciar o valor argumentativo do enunciado. No exemplo (3), poderíamos facilmente escrever: “A apresentação foi um sucesso: estiveram presentes personalidades do mundo artístico, pessoas influentes nos meios políticos e até (até mesmo, inclusive) o

Presidente da República”. Podemos dizer que o efeito de sentido provocado por até é o mesmo que inclusive.

Em (b) “Operadores que somam argumentos a favor de uma mesma conclusão”, podemos verificar no exemplo (2) seu emprego. Assim, temos: “João é o melhor candidato: não só tem boa formação, mas também tem experiência no cargo e não se envolve em negociatas”.

Além dessas, existem outras possibilidades de construção de frases com o uso desses operadores vinculados à proposta por Ducrot. A classe e a escala argumentativa fazem uso dos operadores argumentativos para evidenciar sua força argumentativa dos enunciados.

1.2.2 Modalizadores

O estudo das modalidades ou modalizadores, teoricamente, se apresenta de maneira variada sob a ótica de diversos autores. De acordo com Neves (2006), a modalidade apresenta diversidade quanto à conceituação, ao campo de estudo e orientações teóricas. Com o intuito de discorrer sobre as modalidades, apresentamos concepções teóricas variadas. Além de Neves (2006), abordamos perspectivas de autores como Bronckart (1999), Cabral (2011) e Koch (2011). Essas perspectivas ora se entrecruzam, ora se complementam. A união dessas concepções proporciona uma visão ampla de conceitos, agregando valor teórico e investigativo na pesquisa.

Observa-se que alguns autores entendem os conceitos de modalização e modalidade como sinônimos. O que torna complexo estabelecer um conceito único. (NEVES, 2006). Ainda assim, vemos os estudiosos buscando compreender o conceito e o sentido que eles carregam. Sua diferença se faz por meio do ponto de vista teórico e dos objetivos no qual olhamos os fatos da língua. A modalidade está ligada a uma visão lógica formal, enquanto a modalização se refere a aplicação de conceitos e usos na enunciação.

a palavra modalidade é utilizada na lógica clássica para a classificação das proposições, avaliando um predicado, ou seja, o conteúdo de uma proposição em termos de possibilidade/impossibilidade; necessidade/contingência. (CABRAL, 2011, p. 110)

Visando uma forma de especificação dessas proposições, a autora propõe uma classificação dessas modalidades. Consoante Cabral (2011, p. 110), os enunciados se encaixam em três tipos de modalidades:

 Modalidade epistêmica: diz respeito ao conhecimento e à crença e julga os predicados em termos de probabilidade/possibilidade e certeza;

 Modalidade deôntica: diz respeito a dever/obrigação e permissão;  Modalidade alética: refere-se à necessidade.

Conforme a autora, a necessidade e a possibilidade representam as noções fundamentais da lógica modal tradicional. É por essas duas noções que os enunciados são analisados pela Semântica.

A modalização define a marca dada ao enunciado. Isso possibilita avaliar o grau de adesão do locutor a seu enunciado. Ela se apresenta por meios linguísticos, e isso faz com que ela seja estudada também no âmbito da argumentação. Nesse sentido, podemos considerar que manifestar o grau de adesão é argumentar. Assim, ao conversar com amigos, já estamos produzindo enunciados com determinada intenção comunicativa, como no exemplo:

(4) O filme é ótimo!

Nesse enunciado, podemos perceber o grau de adesão do locutor. Visto que, ao proferir esse enunciado, a intenção argumentativa é dizer que gostou do filme, e assim, fazer com que o amigo também o assista. No exemplo (4), além de assumir uma posição mediante um fato ou acontecimento, o locutor também argumenta a favor de uma determinada conclusão, seja ela, convencer o amigo a assistir ao filme. Desta forma, ao produzir um discurso, o locutor manifesta suas intenções e atitudes por meio de atos ilocucionários. Segundo Cabral (2011),

O ato ilocucional associa uma força à enunciação, considerando a língua como um meio para se atingir um fim, é o ato por meio do qual não apenas se diz algo, mas também, se faz algo, e o ato que constitui o centro de atenção da Teoria dos Atos da Fala. (CABRAL, 2011, p. 24)

Para Austin (1962, 1970 apud CABRAL, 2011), criador da Teoria dos Atos de Fala, a noção de atos de fala diz respeito a três atos que acontecem simultaneamente na enunciação. São eles:

 ato locucional: corresponde ao ato de produzir a pergunta, é usado para dizer algo. Esse ato é centrado no nível fonético, sintático e de referência.

 ato ilocucional: são as perguntas em si, ela é um meio para se atingir um fim, consideramos nesse ato que não apenas dizemos algo, mas fazemos algo; está associado ao modo de dizer e sua força ou como também chamados de valor ilocucional.

 ato perlocucional: diz respeito à forma como recebemos o enunciado do outro, indica os efeitos que são causados ao outro, como influência, persuasão, constrangimento.

Dessa forma, ao elaborarmos um enunciado, não apenas declaramos algo: nós ordenamos, perguntamos, pedimos, lamentamos, julgamos, reclamamos. Essa teoria considera as frases da língua como ações sobre o real (MARTELOTTA, 2012).

Koch (2011, p. 84) considera as modalidades como parte da atividade ilocucionárias, já que revelam a atitude do falante perante o enunciado que produz. Em sua perspectiva, a autora afirma que a modalização se apresenta através de diversos modos de lexicalização que a língua oferece. Para a autora, a lexicalização das modalidades pode ser classificada em:

a) Performativos explícitos: eu ordeno, eu proíbo, eu permito etc.; b) Auxiliares modais: poder, dever, querer, precisar etc.;

c) Predicados cristalizados: é certo, é preciso, é necessário, é provável etc.; d) Advérbios modalizadores: provavelmente, certamente, necessariamente,

e) Formas verbais perifrásticas: dever, poder, querer etc. + infinitivo;

f) Modos e tempos verbais: imperativo; certos empregos de subjuntivo; uso do futuro do pretérito com valor de probabilidade, hipótese, notícia não confirmada, uso do imperfeito do indicativo com valor de irrealidade etc.; g) Verbos de atitude proposicional: eu creio, eu sei, eu duvido, eu acho etc.; h) Entonação: (que permite, por ex.: distinguir uma ordem de um pedido, na

linguagem oral);

i) Operadores argumentativos: pouco, um pouco, quase, apenas, mesmo etc. Tendo em vista o exposto, podemos afirmar que, por meio dos modalizadores, o locutor pode marcar a distância em que se coloca no enunciado, bem como seu grau de engajamento em relação ao que é dito. Além disso, os modalizadores podem oferecer “pistas” ao interlocutor em relação ao que é dito.

Buscando uma visão mais abrangente sobre modalizações, voltamo-nos para os estudos de Bronckart (1999). Para o autor, as modalizações contribuem na interpretação do conteúdo temático, pertencem à dimensão configuracional do texto, contribuindo para sua coerência; elas são realizadas por unidades ou conjuntos de unidades linguísticas chamadas de modalidades.

As modalizações têm como finalidade geral traduzir, a partir de qualquer voz enunciativa, os diversos comentários ou avaliações formulados a respeito de alguns elementos do conteúdo temático. (BRONCKART, 1999, p. 330)

Conforme Bronckart (1999, p. 333), a marcação das modalidades pode ser representada por:

a) Tempos verbais;

b) Auxiliares de modo: querer, dever, ser necessário e poder

c) Advérbios ou locuções adverbiais: certamente, provavelmente, evidentemente, talvez, verdadeiramente, sem dúvida, felizmente, infelizmente, obrigatoriamente, deliberadamente, etc.)

d) Orações impessoais: é provável que..., é lamentável que..., admite-se geralmente que..., etc.).

Além disso, o autor distribui as modalizações em quatro funções: modalizações lógicas, deônticas, apreciativas e pragmáticas. Conforme o autor, as modalizações lógicas podem ser também ser chamadas de aléticas – “se referem diretamente à verdade das proposições enunciadas” -, ou também podem ser chamadas de epistêmica – “se referem às condições de estabelecimento da verdade das proposições” -. (BRONCKART, 1999, p. 330)

(1) As modalizações lógicas consistem em uma avaliação de alguns elementos do conteúdo temático, apoiada em critérios (ou conhecimentos) elaborados e organizados no quadro das coordenadas formais que definem o mundo objetivo, e apresentam os elementos de seu conteúdo do ponto de vista de suas condições de verdade, como fatos atestados (ou certos), possíveis, prováveis, eventuais, necessários, etc.

(2) As modalidades deônticas consistem em uma avaliação de alguns elementos do conteúdo temático, apoiada nos valores, nas opiniões e nas regras constitutivas do mundo social, apresentando os elementos do conteúdo como sendo do domínio do direito, da obrigação social e/ou da conformidade com as normas em uso.

(3) As modalidades apreciativas consistem em uma avaliação de

alguns aspectos do conteúdo temático, procedente do mundo subjetivo da voz que é fonte desse julgamento, apresentando-os como benéficos, infelizes, estranhos etc., do ponto de vista da entidade avaliadora. (4) As modalidades pragmáticas contribuem para a explicação de alguns aspectos da responsabilidade de uma entidade constitutiva do conteúdo temático (personagem, grupo, instituição, etc.) em relação às ações de que é o agente, e atribuem a esse agente intenções, razões (causas, restrições, etc.), ou ainda, capacidades de ação.

As modalizações lógicas consistem em avaliação do conteúdo temático. Essa avaliação, que também pode ser denominada alértica ou epistêmica, é apoiada em conhecimentos e apresentam pontos de vista. Leva em consideração o mundo objetivo e suas condições de verdade. Considera o que é possível e o necessário. Nos exemplos a seguir, extraídos de Bronckart (1999), podemos verificar o uso dessa condição:

(5) É possível que Marcos tenha acertado todas as questões da prova.

Em (5), podemos verificar o uso da modalidade possível representando uma condição de verdade. No mundo objetivo, uma das características dessa modalidade, existe realmente a possibilidade de Marcos ter acertado todas as questões da prova.

As modalidades deônticas se apoiam no mundo social, levando em consideração as normas e regras em uso propostas ou impostas pela sociedade. Ela está relacionada às obrigações, proibições e permissões. No exemplo (6), podemos identificar a presença dessa modalidade:

(6) Você deve chegar cedo para o jantar.

No exemplo (6), a modalidade deôntica presente é o da obrigação. A obrigação social de chegar cedo no jantar, em alguns lugares, é uma regra de etiqueta, um construto social.

Entendemos como modalidade apreciativa aquela que ressalta aspectos afetivos. Está relacionada ao mundo subjetivo e se destaca como função emotiva da linguagem. Para verificar essa categoria, vejamos o exemplo (7):

(7) Infelizmente em nosso país a desigualdade social é uma dura realidade.

O modalizador em destaque, infelizmente, carrega um tom afetivo. Seu uso manifesta a reação/opinião do locutor no enunciado.

Conforme Bronckart (1999), as modalidades pragmáticas apresentam aspectos voltados à questão da responsabilidade de uma entidade em relação às ações realizadas; além disso, atribuem intenções e capacidade de ação. No enunciado abaixo, vemos um exemplo dessa modalidade:

(8) Você poderia abrir essa porta?

Em (8), destacamos o modalizador poderia para ressaltar a capacidade de ação atribuída à modalidade pragmática. Essa modalidade apresenta as intenções do locutor ao produzir o enunciado. O verbo poderia, no tempo verbal futuro do pretérito, na frase interrogativa, é um pedido, não uma especificamente uma ordem.

1.2.3 Pressupostos e Subentendidos

Ducrot é um dos teóricos que mais investigou os pressupostos e os subentendidos. Seus estudos passaram por diversas versões ou, como ele mesmo diz, reexames de algumas concepções teóricas. O autor buscava adequar os conceitos desses elementos às questões argumentativas da língua, porquanto, para o autor, a argumentação está na língua, e a função dela é argumentar.

Inicialmente, sua visão era de que os pressupostos estão determinados apenas pela frase da qual o enunciado é realizado. O autor subdivide essa tese em:

1. A significação da frase pode implicar a existência, no sentido de seus enunciados, deste ou daquele pressuposto.

2. Todos os pressupostos que aparecem no sentido do enunciado estão já previstos na própria significação da frase. (DUCROT, 1987, p. 32)

Conforme a antiga concepção, o presusposto se transmite sempre da significação para o sentido. Já o subentendido, sendo observável em certos enunciados da frase, não está marcado na frase. Conforme o autor:

A oposição pressuposto-subentendido reproduzia a distinção dos dois níveis semânticos, o da significação (frase) e o do sentido (enunciado): pressuposto e subentndido se opõem pelo fato de não terem sua origem no mesmo momento de interpretação. (DUCROT, 1987, p 33)

Assim, a significação corresponde ao valor semântico atribuído à frase e pode ser representada como “um conjunto de instruções dadas às pessoas que têm que interpretar os enunciados da frase” (DUCROT, 1987, p. 170). Já o sentido, é atribuído ao enunciado. É o “conjunto de atos de fala [...] que o locutor presente realizar através de sua enunciação” (DUCROT, 1987, p. 89-90).

Ducrot considera o pressuposto e o subentendido como efeitos de sentido e busca, então, distuiguí-los. Para isso, descreve-os a partir do que chama de “componente linguístico” e “componente retórico”.

O componente linguístico pode ser considerado como aquele que decodifica a frase, atribuindo a cada enunciado uma significação. Esse componente se enquadra no

ato de fala ilocutório, pois se encontra inscrito no enunciado. O componente retórico põe em funcionamento as leis do discurso, liga a significação às circustâncias, prevendo a significação na situação.

A pesquisa do pressuposto se enquadra no componente linguístico, pois trata do próprio enunciado, sem considerar suas condições de ocorrência; já os subentendidos se enquadram no componente retórico, pois levam em conta as circunstâncias da enunciação (DUCROT, 1987).

Segundo Ducrot (1987, p. 41), a pressuposição é “parte integrante do sentido (sentido como retrato da enunciação) dos enunciados”. Ela aparece como tática argumentativa dos interlocutores. O pressuposto pertence ao sentido literal dos enunciados. Inserido no pressuposto, encontramos o posto, que apresenta-se com contribuições próprias do enunciado. Seria o que está efetivamente colocado no enunciado.

O subentendido reivindica a possibilidade de estar ausente do próprio enunciado e de somente aparecer quando um ouvinte, num momento posterior, refletir sobre o referido enunciado. Ele “caracteriza a forma pela qual um elemento semântico é introduzido no sentido”. (DUCROT, 1987, p. 13). Esse elemento diz respeito à maneira pela qual esse sentido deve ser decifrado pelo destinatário. Dessa forma, ele designa “os efeitos de sentido que aparecem na interpretação quando refletimos sobre as razões de uma enunciação” (DUCROT, 1987, p. 87).

Conforme Ducrot (1987), o subentendido:

resulta de uma reflexão do destinatário sobre as circunstâncias de enunciação da mensagem e deve ser captado, através da descrição linguística, ao final de um processo totalmente diferente, que leva em conta, ao mesmo tempo, o sentido do enunciado e suas condições de ocorrência e lhes aplique leis lógicas e psicológicas gerais. (DUCROT, 1987, p. 25)

Assim, o subentendido permite dizer alguma coisa “sem dizê-la, ao mesmo tempo em que ela é dita”. Depende da reflexão sobre o que é dado no enunciado. Levando em consideração o exposto, podemos verificar em enunciados a presença do pressuposto, posto e do subentendido.

Consoante Ducrot (1987),

O posto se apresenta simultaneamente ao ato da comunicação, como se tivesse surgido pela primeira vez, no universo do discurso, no momento da realização desse ato. O subentendido, ao contrário, ocorre em momento posterior a esse ato, como se tivesse sido acrescentado através da interpretação do ouvinte; quanto ao pressuposto, mesmo que, de fato, nunca tenha sido introduzido anteriormente ao ato de enunciação, [...] ele procura sempre situar-se um passado do conhecimento, eventualmente fictício, ao qual o locutor parece referir- se. (DUCROT. 1987. p. 20)

Nesse sentido, temos o posto como aquilo que afirmo enquanto locutor; o subentendido, como o que deixo meu ouvinte concluir em relação ao que foi enunciado, e o pressuposto, como o que apresento como domínio comum das personagens do diálogo. O pressuposto é apresentado como evidência e tido como objeto do discurso. Desse modo, uma ideia de forma pressuposta não podemos deixar de aceitar a ideia

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