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2 GESTÃO DEMOCRÁTICA, ESTRATÉGICA E PARTICIPATIVA

2.2 Apresentação e análise dos dados

2.2.1 Opinião do Assessor Pedagógico do Município de Querência – MT

A entrevista realizada com o assessor pedagógico do município, professor efetivo da rede estadual de ensino, com formação superior e pós-graduação, demonstrou que esse profissional conhece a realidade das escolas sob a sua jurisdição.Suas respostas evidenciaram concepções coerentes acerca da gestão democrática participativa, como se pode observar no trecho a seguir:

Gestão democrática é o ato de gerir e/ou administrar uma entidade com o apoio e a participação de todos os envolvidos que estão ligados direta e indiretamente à essa entidade. Vale ressaltar que essa forma de gerir a entidade traz a necessidade de garantir uma gestão participativa, na qual todas as ações planejadas e executadas são de responsabilidade de todos os envolvidos[...],autonomia para os demais setores da entidade e também promovendo que a gestão participativa aconteça, e assim não fiquem submissosa determinadas políticas centralizadoras, rígidas e excludentes de uma minoria dominante que muitas vezes está distante da realidade da entidade. (Assessor Pedagógico de Querência – MT)

Interessante observar, em sua resposta, a referência à autonomia, elemento constitutivo da gestão democrática participativa, lembrando a articulação com o sistema sem, contudo, que este submeta os setores à sua decisão pré-estabelecida, lembrando que a autonomia da escola não se fará de forma isolada, sem que o Órgão Central também trabalhe nesse sentido. Acrescentamos que a autonomia da escola não se fará sem que as pessoas gozem de autonomia.

Em relação à participação da comunidade escolar, destacou o assessor:

[...] precisamos reconhecer que a escola, além de subsidiar as pessoas com conhecimentos específicos das diferentes áreas, também é um espaço social, onde as pessoas se relacionam, cultivam entre si os valores morais e éticos, aprendem a conviver em grupo e reconhecem como a sociedade em si está organizada, observando as potencialidades e fragilidades que a mesma apresenta devido à um sistema político, econômico e administrativo que nos está posto. Dessa forma, compreendo que é nesse espaço social que devemos promover uma gestão participativa, a fim de que todos os envolvidos (pais, alunos, funcionários e professores) atuem de forma efetiva nas escolhas de diretores escolares, bem como na constituição de órgão e/ou colegiados para o fortalecimento da participação dos segmentos nas ações diretas da área pedagógica e administrativa. (Assessor Pedagógico de Querência – MT)

Observa-se, nas colocações acima, uma visão ampla do espaço escolar e sua relação com o contexto maior quando o entrevistado completa dizendo que “[...] se almejamos que o Brasil, o Estado, e o Município sejam melhores, precisamos começar a agir em nosso espaço local, a fim de que possamos em um esforço conjunto melhorar o todo”.

Com relação aos CDCEs, o assessor assegura que estão legalmente constituídos segundo o que preceitua a Lei de Gestão n.° 7040/98, mas tem a clareza de que os Conselhos ainda não atuam da maneira como se espera. Em sua opinião, os conselheiros não têm a devida compreensão da importância desse órgão no fomento de discussões pedagógicas e da participação da comunidade na escola. Acrescentou ainda que:

[...] Verifica-se que o referido conselho é compreendido como um órgão para resolver ações de cunho somente administrativo e financeiro, e que muitas vezes apresenta dificuldades de entrosar

todos os segmentos para as ações citadas. (Assessor pedagógico de Querência – MT)

Na resposta dada sobre sua forma de ser democrático, pontuou várias que confirmam sua contribuição com o processo de democratização das relações de gestão escolar. Lembrou-se, inclusive, de sua responsabilidade no apoio às escolas para resolver conflitos,assim como do fortalecimento da Gestão Compartilhada entre as redes estadual e municipal de ensino.

Em relação à autonomia pedagógica das escolas, o assessor afirmou que, a seu ver, tem sido responsabilidade dos coordenadores pedagógicos, havendo pouco ou nenhuma participação dos Conselhos. Apontou com propriedade uma das fragilidades das escolas em relação à dimensão pedagógica: “[...] Percebem-se muitas vezes que estamos somente pautados, de forma frágil e descontextualizada, nas diretrizes e orientações curriculares, sem que se faça a devida correlação com as necessidades apresentadas pela comunidade local”.Já com relação à autonomia administrativa e financeira, asseverou ser exercida pelo diretor e pelo CDCE, dimensões estas em que há maior participação inclusive da comunidade escolar.

Ficou evidente, nas colocações do assessor acerca da responsabilidade para com as aprendizagens dos alunos, uma visão bastante coerente, como se pode constatar nas suas palavras:

Quando falamos em aprendizagem, necessitamos salientar que há vários atores nesse processo até que possamos chegar ao produto final que é a aprendizagem do aluno. Esses atores necessários para que aprendizagem aconteça de forma efetiva, são: pais, professores, funcionários, alunos, coordenadores pedagógicos e diretores escolares. Pois não há como garantir a aprendizagem sem que haja ensino, o qual é uma ação tanto do professor quanto do pai e/ou mãe [...].Devo ressaltar que a coordenação pedagógica é uma das funções primordiais no acompanhamento da aprendizagem dos alunos, mas não isenta o diretor escolar, visto que a Gestão Escolar não é somente administrar uma escola na dimensão administrativa e financeira, mas sim gerenciar o pedagógico, pois todas as ações administrativas e financeiras devem estar direcionadas para a eficiência do processo pedagógico (Assessor Pedagógico de Querência – MT)

Esse modo de ver do assessor pedagógico condiz com assertiva de Lück (2009, p. 95) de que a gestão pedagógica é, dentre todas as dimensões da gestão

escolar, a mais importante, por estar mais diretamente envolvida com o foco da escola: promover aprendizagem e formação dos alunos de forma sistemática e intencional. Conforme assegura a referida autora, para a dimensão pedagógica, as demais dimensões devem convergir.

Ficou evidente que, na visão do assessor, muitas das ações administrativas e financeiras realizadas nas escolas não têm vínculo e não contribuem para sanar as necessidades pedagógicas dos alunos, as aquisições estão mais afetas ao incremento da escola. Contudo não deixou transparecer as suas intervenções para a mudança dessa postura por parte da direção das escolas.

Por fim, sua percepção do que seja uma escola eficaz foi manifestada na seguinte resposta:

Escola eficaz é quando a mesma atinge o seu propósito essencial, ou seja, realmente desenvolve a sua função social que é garantir o acesso, a permanência e a formação do aluno nas multidimensões que o mesmo apresenta, promovendo ao aluno: 1-Que se aproprie dos conhecimentos sistematizados pela sociedade ao longo dos anos. 2-Que tenha a formação mínima para que exerça a cidadania de forma critica e reflexiva e 3-Que se forme para o trabalho, pois a sociedade em que estamos inseridos almeja mão de obra nas diferentes áreas e atividades, pois, como cidadãos, precisamos colaborar no crescimento econômico de nossa cidade e de nosso país. (Assessor Pedagógico de Querência – MT)

Pelo que se pôde observar ao longo desta entrevista, o assessor tem conhecimento das suas atribuições e concebe a educação escolar, assim como os processos correlatos, de forma clara e dentro do que preceituam as legislações atinentes à gestão democrática e participativa. As concepções são coerentes ao modelo de gestão adotado pelo Estado, contudo deixou de mencionar o aspecto da liderança como componente fundamental nesse processo,uma vez que tanto o trabalho dos gestores escolares como o do assessor pedagógico se assenta, como diz Lück (2009, p. 75), sobre sua competência de liderança, que se expressa na capacidade de influenciar a atuação de pessoas, para a efetivação dos objetivos educacionais.

Importante reafirmar que a eficácia da escola está atrelada à eficiência com que se dão os processos constitutivos das dimensões da gestão escolar. Essas dimensões, portanto, ainda que atendendo a aspectos diversos do cotidiano escolar,

por diferentes atores cujas responsabilidades devem estar claramente discutidas e assumidas, estão imbricadas, correlacionadas em função do projeto educativo da escola, que deve dar unidade às ações.

2.2.2 Opinião dos Diretores Escolares

A entrevista realizada com os dois diretores revelou posições contraditórias quanto a concepção de gestão democrática e participativa. Os diretores 1 e 2, como serão identificados doravante, são os gestores das escolas A e da escola B, respectivamente. Ambos foram eleitos pela comunidade escolar e possuem formação em nível superior com especialização. Tanto o diretor da Escola “A” quanto o da Escola “B” estão no segundo mandato (por reeleição). A diferença é que o Diretor 1, há 21 anos, trabalha na mesma escola e já foi gestor desta em dois outros mandatos anteriores ao atual, enquanto o Diretor 2 está pela primeira vez em seu segundo mandato como gestor.

O quadro 7 a seguir, apresenta as opiniões dos diretores 1 e 2 das respectivas escolas pesquisadas, segundo questionário aplicado em entrevista semiestruturada.

Quadro 7 - Opinião dos diretores 1 e 2 das escolas pesquisadas “A” e “B” PERGUNTAS Diretor 1- Escola ‘A’ Diretor 2 - Escola ‘B’

1 - Para você o que é gestão democrática?

Quando existe a participação da comunidade

escolar (professores, funcionários, pais e alunos) na tomada de decisões, pois

a participação e a colaboração de todos com ideias e sugestões trazem soluções e melhorias à escola e ao processo de

ensino aprendizagem.

Gestão democrática é organização de um espaço que se quer ser gerido para que atinja a

um objetivo. Democrático, pois tem a

faculdade de buscar na participação dos indivíduos envolvidos os

meios e ação de organização e/ou planejamento numa meta