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3. A pesquisa em Metodologia “Q”

4.5 Opiniões compartilhadas por todos os perfis (consenso)

As afirmativas elencadas na Tabela 1 representam um consenso em termo de opinião entre os participantes dos quatro perfis.

Tabela 1: Afirmativas que representam consenso entre os perfis. O asterisco indica que a afirmativa é altamente compartilhada (p.>0,05). Perfil 1 Perfil 2 Perfil 3 Perfil 4 Afirmativas

22. Saber a gramática é importante para escrever

corretamente. 1 2 3 2

23. A gente escuta o CD de inglês em casa porque a repetição

ajuda a gravar a língua na cabeça. 0 -1 -2 1

24*. Acho que não preciso falar inglês; os estrangeiros que

vêm é que tem que aprender português. -5 -5 -5 -5

Como podemos observar, analisando a Tabela 1, todos os participantes da Distribuição “Q” demonstram perceber uma relação de importância entre o conhecimento gramatical e a capacidade de escrita, (entendendo a escrita dentro dos padrões da norma culta). Mas isso não quer dizer que estes alunos expressem interesse em ter aulas com maior foco nas estruturas gramaticais, o que se percebe pelos escores aplicados à afirmativa 33, de acordo com a Tabela 2:

Tabela 2:Percepção dos quatro perfis sobre a afirmativa 33

Afirmativa Perfil 1 Perfil 2 Perfil 3 Perfil 4

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33. Não entendo porque não tem mais gramática na aula, a gente ia

aprender muito melhor. 1 -3 -1 -5

É interessante notar como até mesmo os integrantes do Perfil 2 (Os Escritores), que demonstram um interesse maior em focar sua aprendizagem da LI na capacidade escrita, e que percebem na produção escrita um parâmetro indicador do progresso de sua aprendizagem , não concordam com a ideia de que aumentar o foco no ensino da gramática maximizaria sua aprendizagem da língua

Em relação a esse aspecto da aprendizagem, partilhamos da opinião que

(...) já que é mais importante que os aprendizes aprendam não somente a produzir estruturas gramaticais com precisão, mas que também saibam usá-las significativa e apropriadamente, é melhor conceber-se um definição de gramática que englobe três dimensões: forma, significado e uso. (LARSEN-FREEMAN, 2010 [2001], p. 40)

Outra opinião que se constitui como consenso entre os alunos participantes é a questão do uso do CD para a prática e “fixação” (memorização) da língua-alvo. Como observamos na Tabela 8 os escores decorrentes da Distribuição Q revelam a neutralidade desses aprendizes quanto à relação entre ouvir, reproduzir e memorizar estruturas linguísticas (afirmativa 23 “A gente escuta o CD de inglês em casa porque a repetição ajuda a gravar a língua na cabeça”, escores 0; -1; -2; 1). Talvez para estes aprendizes usar o CD não esteja associado com seu conceito de comunicação.

Podemos pensar que essa percepção deriva do fato (conforme apontamos em 4.4, ao discutir o perfil dos Ouvintes) de que o CD com textos orais gravados que acompanha o livro didático para as aulas de inglês passou a ser distribuído a partir da inclusão do currículo de LEM no PNLD a partir de 2011. É possível imaginar que tanto alunos quanto professores estejam ainda em fase de familiarização com as possibilidades de uso desse material. Além disso, sabemos que muitas escolas públicas não dispõem de CD players ou outros equipamentos que possam ser facilmente usado em sala de aula, e os professores de LI, que geralmente lecionam em duas ou mais escolas a fim de completar

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sua carga horária de trabalho, nem sempre podem carregar seus próprios reprodutores de som de sala em sala de aula. Também os alunos nem sempre possuem esses equipamentos disponíveis (embora um sem numero deles tenha um celular que pode gravar e reproduzir sons em MP3).

Dessa forma, entendemos que a questão do uso do CD como ferramenta de aprendizagem poderá ainda ser investigada por futuras pesquisas na área do ensino da língua inglesa e uso de materiais didáticos dentro e fora da escola.

Finalmente, terminamos esta parte da análise com o consenso expresso com a forte rejeição (escore -5, por todos os perfis), da afirmativa 24 “Acho que não preciso falar inglês; os estrangeiros que vêm é que tem que aprender português”.

Sobre a discordância com a afirmativa 24, uma participante comentou

eu discordei porque também tenho que aprender ingles porque eu vou ter que viajar e falar linguas diferentes.e quando vir estrangeiros para onde eu moro tenho q esta siente [sic] do que eles tao [sic] falando (menina, 15 anos).

Dois fatos chamam nossa atenção na rejeição à essa ideia: o primeiro é que tal rejeição demonstra que, para os jovens alunos participantes desta investigação, o inglês é de fato percebido como uma língua-franca (ou língua mundial como sugerem Cope e Kalantzis, (2005[2000], p.23) e por tanto, pensam que visitantes de outros países que venham ao Brasil esperam que os brasileiros possam se comunicar com eles mediados pela LI. Destacamos o fato de que a afirmativa 24 não se refere à “ingleses” ou “norte- americanos”, mas sim “estrangeiros”, marcando a ideia de visitantes de quaisquer outros países. Ficamos assim com a nítida impressão de que, para estes alunos, saber falar inglês é um “fato dado”, que se espera que “normalmente todos façam” se quiserem falar com pessoas de diferentes partes do mundo (o que denota a visão de inglês como língua franca).

Mas vale questionar, retomando a discussão que estabelecemos no capítulo 2.1.1: que inglês é esse, que os alunos esperam falar? Por que, como bem apontam Cope e Kalantzis

(...) o Inglês está sendo afetado de uma forma paradoxal. Ao mesmo tempo em que está se transformando em uma língua mundi , língua

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franca , uma linguagem comum no comércio global, media e política, também está se fragmentando em múltiplos e crescentes “Ingleses” diferenciados, marcados por sotaques, pais de origem, estilos subculturais e comunidades técnicas e profissionais (2005[2000], p.23).

Em segundo lugar, rejeitar fortemente a ideia de que pessoas de outros países tenham que aprender o Português para se comunicar quando em estadia no Brasil, revela o quanto estes jovens estudantes desconhecem a presença, força e expansão da língua portuguesa hoje, no mundo. Expansão essa que se faz graças à economia globalizada em que vivemos atualmente, boa parte em razão da força do Brasil enquanto economia emergente em âmbito mundial. Esse fato é reforçado por ações políticas praticadas por países cuja língua materna é o inglês, como a Inglaterra, que vê o Brasil de hoje como um importante parceiro econômico57 e tem tomado medidas para reforçar os laços comerciais e também os Estados-Unidos, que têm incentivado a ida de professores brasileiros para suas universidades para ensinar o português como língua estrangeira, através de programas de bolsas como o oferecido pelo Fulbright58.

Passaremos, a seguir, à comparação dos perfis e a retomada das perguntas de