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OPORTUNIDADES TRAZIDAS PELA GLOBALIZAÇÃO

3 SISTEMA AGROALIMENTAR GLOBLAIZADO

3.5 OPORTUNIDADES TRAZIDAS PELA GLOBALIZAÇÃO

A abertura e mudança das fronteiras reproduzidas pelos impérios (Colás, 2007) com a redefinição da ideia de alimento (PLOEG, 2008) e a criação de novas necessidades nutricionais, ocorre desde o primeiro regime alimentar caracterizado por (FRIEDMAN, 1990), onde as dietas alimentares altamente diversificadas foram reduzidas a uma alimentação centrada em proteínas e amidos, no segundo regime, gorduras e adoçantes passaram a compor a pirâmide alimentar para suprir necessidade ditas essenciais para sobrevivência, e agora “o regime alimentar

imperial, por seu turno, é centrado na artificialização dos alimentos.” (PLOEG, 2008, p. 281).

A artificialização da alimentação altera a natureza dos alimentos e as relações de consumo através do domínio e apropriação dos territórios, exercendo controle da produção até a circulação de alimentos, o que implica em impactos na área da saúde até os setores econômicos. Tal como dito por FOLADORI (1992), a homogeneização se operacionaliza com a conquista da natureza e da identidade dos consumidores. “A conquista dá Aspartame a pessoas que apenas querem tomar refrigerantes, dá demasiadas gorduras digestíveis (através da homogeneização do leite) àqueles que querem simplesmente algo saudável” (PLOEG, 2008, p. 260).

Desta maneira é criada uma nova noção de alimento e redefinidos novos conceitos para saúde, agricultura, frescor, sabor, tangíveis apenas àqueles que são susceptíveis às novas diretrizes impostas pelo Império, para o restante, sobra o desejo insatisfeito das necessidades criadas.

Atrelado a isso, existem muitos outros aspectos controversos ao Império. A crescente dependência dos consumidores de redes de abastecimento de varejo, os supermercados e da indústria alimentar com soluções práticas para o dia a dia, vem acompanhada da dependência dos produtores, que cada vez mais precisam comprar sua matéria prima e comprar ainda a possibilidade do escoamento, nos diferentes pontos de saída da rede, da matéria prima processada.

As consequências do Império não se manifestam apenas nos muitos bairros degradados da América Latina e nos padrões de má nutrição associados. Elas também estão presentes na reestruturação da agricultura europeia, nas taxas de obesidade ou nos riscos desconhecidos associados à engenharia genética e à inclusão generalizada de OGMs na alimentação (Hansen et al, 2001 apud PLOEG, 2008, p. 264).

Assim, a globalização do sistema agroalimentar propiciando a emergência dos impérios alimentares com todas as suas normas pradronizantes para a produção de alimentos artificializados, se depara com ondas de negação por parte, principalmente, dos consumidores que a cada novo episódio de crise, dependência e escândalos alimentares, que ilustram a falta de segurança revelada pelo caráter dicotômico do Império, que intensifica a pobreza local, poda hábitos culturais

alimentares e provoca a homogeneização em massa da alimentação, se fortalecem e crescem enquanto movimentos contrários à expansão e aos processos de mercantilização.

Dessa forma, diversos sujeitos que compõem a cadeia agroalimentar, mas não se integram à rede, seja por resistência ou por insuficiência, incluindo os agricultores familiares, ao se depararem com esse quadro de insegurança criada pelos impérios alimentares, encontram uma brecha neste sistema altamente controlado e oferecem uma saída para a reconexão das relações entre produção e consumo. A principal demanda era como vender os produtos fora dos mercados convencionais, onde predominam grandes empresas, uma saída comumente encontrada foram às vendas diretas através das CCC - cadeias curtas de comercialização.

As vendas diretas ao consumidor têm sido referidas na literatura como circuitos curtos de comercialização (COMUNELLO, 2010) ou mercados de proximidade social (WILKISON, 2008) ou ainda cadeias curtas de produção- comercialização (RENTING; MARSDEN; BANKS, 2003), os circuitos envolvem proximidade geográfica, que implica em facilidades de distribuição, transporte e gestão das vendas (COMUNELLO, 2010) e a noção engloba as vendas coletivas em redes, comércio em eventos, feiras, diretamente a restaurantes, entregas de cestas em domicílio, pontos de vendas familiares (GAZOLLA, 2012).

Observamos que os agricultores sempre interagiram com o mercado, em épocas se submetendo a preços por eles não estabelecidos e em outras praticando preços ainda mais baixos do que nas redes varejistas para garantir a venda, mesmo que apenas para pagar os custos de produção. No entanto, vários são os que estão incorporando valores trazidos pelos movimentos contrários à globalização e acessando mercados que priorizam o resgate dos significados do ato de alimentar- se, reconectando “a produção do consumo, a atividade agrícola do ecossistema local e os alimentos produzidos da comida” (NIERDELE, 2008).

A emergência de movimentos “contra imperiais” em escala global, como é o caso da via campesina e de um conjunto crescente de movimentos em que os consumidores têm assumido um papel de destaque (slow food, fair trade) revelam algumas formas de resistência. [...] ao mesmo tempo em que o

Império aumenta seu controle sobre determinados domínios, assistimos à criação de novas formas de resistência. (NIERDELE, 2008)

Assim, buscam maneiras de reestabelecer os mecanismos de confiança derivados do contato direto entre consumidores e produtores através do apelo por alimentos localizados com qualidades específicas da origem e a valorização do modo de produção tradicional. Dentre elas, as feiras livres assumem um importante papel ao responder positivamente como meio acessível de recuperação das relações perdidas entre as origens dos produtos e seu consumo localizado. A partir dessa perspectiva, podemos perceber que “o agricultor familiar que comercializa na feira e está inserido no mercado é um sujeito movido por diversos elementos sociais e não apenas pela lógica econômica do lucro” (OLIVEIRA, 2015, p. 59). “Tal processo, que implicou no deslocamento das lutas dos movimentos para ser desempenhada também nos mercados, é parte da institucionalização econômica dos movimentos sociais no quadro dos “novos movimentos sociais econômicos” (GENDRON; BISAILLON; OTERO, 2009; WILKINSON, 2008).

Diante deste contexto é que o surgimento de vias alternativas de produção, venda e consumo de alimentos tem ganhando força e adeptos. No entanto, nem sempre estas alternativas são viáveis para os agricultores na medida em que exige que os mesmos sejam também comerciantes e não raro cozinheiro e transformador do alimento para garantir a sua venda.