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Nos últimos 400 anos, os cientistas adotaram o pensamento de que a ciência só poderia ser construída sobre a idéia de que tudo é feito de matéria – os denominados átomos, em um espaço vazio. Este velho paradigma “materialista” influenciou a humanidade a mergulhar na “era do consumo” desenfreado, afastando-se do real significado da vida. Segmentou-se o Ser uno, consubstancial, e questões espirituais e morais, foram postas de lado. A visão separatista da matéria e do Ser, afastava os cientistas para uma crença de que a consciência era um fenômeno secundário na ‘dança dos átomos’.

A população ocidental adentrou neste perfil de pensamento sem questionamentos, seduzidos pelas belezas e benefícios circunstanciais da matéria. Porém, uma nova ciência veio romper com o velho e propor um novo paradigma, responsável por uma visão unificadora do mundo, integrando mente e espírito na ciência.

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Nesta nova abordagem, que é denominada de filosofia monística, matéria e mente são partes integrais da mesma realidade. Esta filosofia, postula que tudo (incluindo a matéria) existe na consciência e é por ela manipulado. A nova física também é conhecida como Física Quântica.

O pensamento quântico e o pensamento Taoísta aparecem nesta pesquisa correlacionando-se ao processo de criação artística. A arte e seu processo criativo não podem ser ‘rotulados’ nem analisados pela física clássica, pois apresentam inúmeras possibilidades de se expressar e não uma única forma.

Segundo a teoria quântica, o mundo manifesto surge da observação de um mundo de possibilidades; na linguagem taoísta de uma realidade não-manifesta, invisível. Possibilidade, segundo observação de Wollner (2000), é algo invisível (não material), pertencente à 3ª realidade; algo entre a abstração e a realidade concreta. A existência desta realidade intermediária ou 3ª realidade, é o que possibilita o mundo não ser tão maquinário, sempre igual.

Ainda segundo a autora, a arte também se encontra na 3ª realidade e a criatividade se apresenta como uma possibilidade para darmos um ‘salto’ para o rompimento da mecânica do cotidiano para algo novo, inusitado. Quando observamos ou damos atenção a uma possibilidade, esta torna-se manifesta. Muitas vezes, o emergir desta possibilidade pode ser um ‘salto quântico criativo’.

O mundo em potencial das possibilidades é o que vai levar ao salto quântico ou criativo. Dentre várias possibilidades, somente uma se consolida, se concretiza; este é o

colapso (descontínuo) anulando as demais possibilidades e concretizando apenas uma.

Todo este processo, representa o que é o salto quântico.

Antes do colapso das possibilidades e do salto criativo, há um preparo, uma necessidade do conhecimento, da consciência que acaba por ‘afunilar’ as possibilidades, até a criação. É necessário também um mínimo de energia.

O mundo das possibilidades não pode ser “visto”, pois ele nos enlaça interior e exteriormente. É como um peixinho que vive no mar e não sabe o que é a água, pois ele nunca a viu. O salto é que fará o peixinho ver a água, saindo do seu contexto. Assim,

acontece conosco quando damos um salto quântico: temos a visão do todo e nos deparamos com o mundo das possibilidades com consciência.

O pensamento Tao, defende que as “coisas” não são estáticas; há uma dinâmica que faz com que as ‘coisas’ tenham sempre uma nova possibilidade. O Taoísmo é baseado no I Ching, filosofia milenar chinesa, e segundo suas palavras “os fenômenos surgem no

céu, as formas surgem na terra. Assim a mutação e a transformação se manifestam”

(WOLLNER, 2000, p. 45). A criatividade está intrinsecamente ligada à mente (do invisível) e se manifesta pelas formas (visível). Entre o céu e a terra está o homem: entre o visível e o invisível estamos nós com a nossa observação26.

Um dos princípios da Física Quântica é o Princípio da Complementaridade. Tal princípio foi defendido pelo físico Bohr, quando a discussão sobre a natureza do elétron ser onda ou partícula estava em seu auge no mundo dos cientistas clássicos e quânticos.

A dualidade onda-partícula foi descrita pelo físico Bohr como uma nova maneira de se estudar este paradoxo. Segundo Bohr, as naturezas de onda e partícula do elétron não são dualísticas, nem simplesmente polaridades opostas. São propriedades complementares, que nos são reveladas em experimentos complementares. Os elétrons não são ondas nem partículas. Ora se apresentam como ondas, ora tem o comportamento de partículas. Portanto, Bohr concluiu que sua verdadeira natureza transcendia ambas as descrições. Este é o princípio da complementaridade.

O princípio da complementaridade de Bohr,

“considera a representação tanto como partícula quanto como onda (dois "opostos"), duas descrições complementares da mesma realidade, sendo cada uma delas parcialmente correta e ambas necessárias para se obter uma descrição integral da realidade atômica.”

(FILHO, 2003)

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Segundo Wollner (2000), na Nova Física, o observador tem papel de relevante importância, uma vez que sem a observação não ocorre o colapso e a manifestação da possibilidade.

Nos exemplos dos desenhos de percepção ambígua, como as figuras do Músico/Perfil de Mulher ou da Jovem/Anciã (Figura 18), a percepção consciente ou inconsciente do todo, depende do ‘olhar’ do observador. Dependendo da sua percepção, o observador verá uma ou outra imagem, conscientemente; já inconscientemente, há captação de detalhes, como textura, etc.

É possível ver as duas figuras, para tanto é preciso haver o salto da consciência (da realidade para a inconsciência e mundo das possibilidades) para o processamento inconsciente.

Partindo da relação entre o princípio da complementaridade com os desenhos de percepção ambígua, discorreremos a seguir uma reflexão sobre alguns temas pertinentes a esta pesquisa.

Conceitos como belo/bizarro; técnica/expressão; corpo/energia e Yin/Yang, aparentemente opostos, mostram-se complementares sob a luz quântica... Para nós, artistas cênicos e estudiosos do corpo e do movimento, esta reflexão tem a aspiração de auxiliar no encontro com o Sagrado, na vida e na arte.

Figura 18 – Percepção Ambígua – Músico/Perfil de Mulher; Jovem/Anciã