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P OPULAÇÃO ALVO E U NIVERSO DE ANÁLISE

“Para poder fazer deduções correctas acerca duma população temos de definir qual o grupo de interesse e estudar, ou a totalidade do grupo, ou uma amostra representativa.”

(Mausner e Kramer, 2004).

A escolha da população a estudar é um passo fundamental para garantir a correspondência entre o problema de estudo, identificado na fase inicial de discussão, e os resultados da observação. É necessário fazer escolhas, estabelecer limites, de forma a ficar bem claro sobre o que se entende e espera de cada grupo seleccionado para inquirir. Deve pois, ficar claro, perante qualquer indivíduo, quem faz parte, e quem não faz, da população visada no estudo (Ghiglione e Matalon, 1997).

Atendendo que é objecto de estudo desta investigação a detecção precoce de alterações oftalmológicas e a vigilância da saúde visual das crianças, é importante compreender que a sua caracterização é conseguida não apenas através do contacto directo com as crianças – expectavelmente a população alvo. Como Ghiglione e Matalon (1997) discutem, “muito frequentemente, o investigador que se interessa por

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adquirir uma percepção global acerca da importância do rastreio visual precoce nas crianças, optou-se por se restringir a investigação a um universo bem definido.

Considerou-se, assim, fundamental inquirir os profissionais de saúde dos cuidados de saúde primários que implementam a forma/procedimento como é feita a vigilância e a detecção precoce de alterações oftalmológicas nas crianças e a sua respectiva referenciação para os cuidados de saúde secundários.

Reconhecendo, pois, a importância de ter uma caracterização das opções de rastreio visual de crianças no nível primário, foram inquiridos todos os directores dos centros de saúde do concelho de Setúbal (7 no total). Muito embora, não seja evidente a associação deste universo (directores de centros de saúde) à população alvo deste estudo (crianças rastreadas), define-se como um importante grupo de análise e caracterização da forma como é realizado o rastreio visual das crianças e sua referenciação nos cuidados de saúde primários, questão fundamental para este estudo.

Para caracterizar o universo de crianças propriamente dito neste estudo foram recolhidos dados relativos às crianças que realizaram o rastreio visual na Consulta de Oftalmologia pediátrica2 do Centro Hospitalar de Setúbal - Hospital de São Bernardo E.P.E.3, entre o dia 5 de Setembro de 2005 e o dia 31 de Dezembro de 2006, obtendo-se um universo de análise de 845 crianças. O Universo inclui crianças com idades compreendidas entre os zero (0) e os catorze (14)4 anos de idade.

2 O Rastreio visual é realizado pelos 4 Ortoptistas do Serviço.

3 Constituído pelo Hospital de São Bernardo e pelo Hospital Ortopédico do Outão. O serviço de

Oftalmologia funciona no Hospital de São Bernardo – Setúbal. Este hospital é de nível distrital, tendo sido inaugurado em 9 de Maio de 1959.

4 A consulta de oftalmologia pediátrica acolhe crianças com idades compreendidas entre os 0-14 anos de

idade, no entanto, devido ao tempo que medeia entre o pedido do médico de família, para consulta de especialidade, e a marcação da consulta no Hospital, a criança poderá chegar para o rastreio com idade que ultrapassa a idade considerada como limite.

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teórico) que o rastreio visual precoce deve ser aplicado o mais cedo possível - idealmente em idade pré-escolar -, optou-se por se alargar nesta investigação o espectro de análise (até aos 14 anos), uma vez que estamos a estudar as referenciações de alterações oftalmológicas identificadas nos cuidados de saúde primários (centros de saúde do concelho de Setúbal), e o rastreio desenvolvido nos cuidados de saúde secundários (Hospital distrital de Setúbal).

Por outras palavras, esta opção de estudo resulta também do próprio horizonte temporal do processo de referenciação para os cuidados de saúde secundários. Admite- se, pois, que entre os momentos de detecção, de referenciação e de acolhimento nos cuidados de saúde secundários se define um intervalo de tempo.

É importante atender que se irá estudar e realçar a importância dos cuidados de saúde primários no rastreio visual infantil e no processo de referenciação atempado para confirmação de diagnóstico e eventual tratamento. Ora, conforme é recomendado no

Programa Nacional para a Saúde da Visão, e em vários artigos e estudos científicos, quando mais cedo for realizado o rastreio visual e/ou detectadas as anomalias visuais maior será a probabilidade de efectivamente debelar a alteração. Assim, a validade do processo de avaliação visual das crianças e de uma rede de referenciação em oftalmologia é, pois, determinante para que após o diagnóstico precoce sejam atempada e adequadamente encaminhadas as situações detectadas para a observação na consulta de especialidade na rede hospitalar.

No rastreio visual hospitalar são observadas as crianças que recorrem pela primeira vez à Consulta de especialidade de Oftalmologia5 Pediátrica, ou com

5 O Serviço de Oftalmologia é constituído por 11 Oftalmologistas e 4 Ortoptistas. Na Consulta de

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acompanhamento subsequente. As referências tem proveniência nos 7 Centros de Saúde do Concelho, maioritariamente, mas também, em qualquer Serviço do HSB ou de outro Hospital que em virtude de não ter esta valência solicite a observação oftalmológica, nomeadamente o Hospital de Litoral Alentejano – Santiago do Cacém.

A opção de analisar o universo de crianças que realiza o rastreio visual no HSB (e não nos centros de saúde do concelho) prende-se com o facto de ser objecto deste estudo avaliar as implicações que as referenciações dos cuidados de saúde primários têm nos cuidados de saúde de nível secundário.

Por outras palavras, é a análise deste universo que permite ter uma percepção comparada de dois diagnósticos: o do nível primário e o do nível secundário. É exactamente a partir desta comparação que é possível inferir a importância de uma adequada implementação do rastreio visual precoce nas crianças que recorrem aos cuidados de saúde primários. De outra forma, não seria possível também validar os impactos que as opções de diagnóstico e de referenciação de nível primário têm no funcionamento dos serviços de nível secundário.

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4.2.