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P ORCENTAGEM DA QUANTIA ARRECADADA COM O ALGODAO SOBRE AS EXPORTAÇOES ESTADUAIS

A economia algodoeira na Parahyba do Norte (1850-1924)

P ORCENTAGEM DA QUANTIA ARRECADADA COM O ALGODAO SOBRE AS EXPORTAÇOES ESTADUAIS

1915 3.343:000$000 1.114:612$000 33,34% 1916 4.802:000$000 2.113:942$000 44,02% 1917 6.973:000$000 3.450:618$000 49,48% 1918 6.562:000$000 3.014:276$535 45,93% 1919 5.221:000$000 1.908:000$000 36,54% 1920 6.133:000$000 2.390:000$000 38,97% 1921 5.521:000$000 2.363:562$312 42,81% 1922 7.729:000$000 4.179:000$000 54,06% 1923 14.268:000$000 9.823:000$000 68,84% 1924 11.679:000$000 6.024:000$000 51,58%

* Quadro com adaptações da autora da pesquisa.

** (não inclusos os impostos cobrados sobre embarque por mar, saída por terra e os 20% cobrados sobre a exportação). Fonte: MARIZ, Celso. Evolução Econômica da Paraíba. João Pessoa: A União, 1939. p.53-54.

LEWIN, Linda. Política e Parentela na Paraíba: um estudo de caso da oligarquia de base familiar. Rio de Janeiro: Record, p.378.

No ano de 1914, quando ocorreu a irrupção da guerra que provocou a imediata retração das importações, a indústria têxtil nacional absorveu grande parte da produção nordestina. Antes que se colhessem as fibras no sudeste do país, a região Nordeste manteve a posição de maior supridor de fibras para aquela região reforçando um antigo vínculo de dependência entre os setores de produção e industrialização. O período que marcou o sobressalto da produção do algodão no centro-sul coincidiu com a grande procura do mercado externo e, nesse momento, os efeitos da drástica diminuição da exportação para o mercado interno não foram tão perceptíveis no quadro das arrecadações parahybanas.

Em 191724, segundo ano do exercício da administração de Camillo de Hollanda (1916-1920), o

Estado adotou uma política tributária mais forte e suas arrecadações quase dobraram em relação ao ano anterior, atingindo uma cifra aproximada de 6.973:000$000 (ver QUADRO 07). No mesmo ano, dispondo de um saldo líquido no valor de 800:000$000, Camillo de Hollanda colocava que:

“A Parahyba não deve e sobtrahindo-se do saldo existente na Agencia da Banco do Brazil, a quantia de 223:700$000 das apólices em questão, ainda lhe fica o saldo de 576:300$000, que com a addição dos da caixa de Montepio e da de Depósito sobe á somma de 849:598$491 (...) A Parahyba pode affirmar que não tem credores, seja de que natureza for, ao contrário é credora até de uma dívida activa na importância de 454:628$459 [proveniente de impostos não pagos pelos contribuintes]” (Mensagem (...) 1917: 56-57).

Entre os anos de 1918 e 1919, outra vez, a região Nordeste foi atingida por uma grande seca e suas conseqüências foram experimentadas pela economia parahybana, cujas arrecadações reduziram-se, quebrando um ritmo crescente que desempenhava desde 1916, como pode ser observado também no QUADRO 07. Além da seca, a produção estadual foi comprometida com o aumento da propagação da praga da lagarta rosada, de modo que, ainda durante a administração de Camillo de Hollanda, lançou-se uma campanha de combate a essa praga que insistia em destruir os algodoais parahybanos. Na administração seguinte, já se comemorava o êxito dessa iniciativa quando Solon de Lucena afirmava: “Folgo em poder dizer-vos que essa praga dos nossos algodoaes vae em franco declínio. Della se não descuidaram os meus antecessores, chegando o serviço a ter plena efficiencia na administração Camillo de Hollanda” (Mensagem (...) 1921:42).

O ritmo crescente de arrecadações estaduais só seria então retomado a partir de 1922, quando foram minorados os efeitos da seca e se conteve a lagarta rosada. Desde então, as receitas aumentaram e as administrações diminuíram o discurso a respeito da crise financeira que se enfrentava na Parahyba do Norte. Segundo Celso MARIZ (1939: 54), em 1924, o preço do algodão em pluma atingiu valores nunca vistos até então no país - nem registrados durante toda a Primeira República – de 90$000 e 100$000 por arroba. Esses altos valores foram obtidos mesmo após a relativa normalização dos preços de cotação do algodão e passadas as turbulências do mercado no pós-guerra.

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Nesse mesmo ano, teve início a construção da Fábrica de Tecidos Rio Tinto, em Mamanguape, pela família alemã dos Lundgren. Em 1924, a fábrica foi inaugurada e, durante um bom tempo, foi considerada como o complexo fabril mais importante do estado da Parahyba, pois contava com seções de tecidos e de estamparias, “usina de força, olarias e caieiras, serralharias, fundições, vilas operárias, campo de aviação, porto e até pequena ferrovia, bem como cinema, clubes, campos de futebol e para produção de palma forrageira para o gado, orquidário, posto médico e quadras de tênis” (MELLO, 2002: 167).

A partir da administração de Camillo de Hollanda (1916-1920) e diante de fatores como a alta cotação do algodão no mercado externo, os imprevistos períodos de grande seca e a intensificação da concorrência interna, passaram a ser empregadas algumas tecnologias para a valorização e o aumento da produção parahybana. Preocupado com a seca ocorrida em 1919, e suas conseqüências para a economia do Estado, Camillo de Hollanda afirmava em seu relatório de governo de 1920 que:

“A primeira victima do grande mal é o próprio Thesouro do Estado que se vê de uma maneira geral sacrificado nas suas fontes de receita. Vivendo quasi exclusivamente do algodão, com a falta de chuva, vê-se o Thesouro prejudicado nos recursos necessários para a manutenção do apparelho administrativo do Estado [grifo nosso]. Foi tão forte a crise, que a safra do sertão, onde floresce o chamado algodão do Seridó, reduziu-se a uma insignificância de fardos, não orçada na sexta parte da do anno anterior, já de si mal fadada por ter ficado longe da notável safra de 1917 (...) Aos escassos recursos do Estado juntaram-se o auxílio directo de 440:000$000 prestado pelo honrado Dr. Delphim Moreira, então no exercício do cargo de presidente da República, e a verba de 396:400$000 a que, por força de lei, estava o governo federal obrigado a entrar para o Serviço de Defesa do Algodão” (Mensagem (...) 1920: 21-22).

Diante dessas preocupações e instabilidades, no ano de 1917, foi criado o Serviço de Defesa do Algodão (lei estadual no 464), um programa de auxílio financeiro estadual e, posteriormente, federal para investimentos e aplicação de tecnologias na cultura algodoeira. Esse serviço foi reorganizado em 1921 pelo decreto no 1117. Nos anos de 1917 e 1918, foi criado e ampliado, respectivamente, o Serviço de Combate à Lagarta Rosada na Parahyba25, sob a direção de

Diógenes Caldas.

Em 1921, o inglês Arno Pearse, representante da ICF, novamente percorreu grande parte da zona algodoeira parahybana. Também anteviu excelentes resultados de sua cultura, caso fosse realizada racional e cuidadosamente. No ano de 192326 foi construído o Patronato Vidal

de Negreiros – uma escola de trabalho agrícola - em Bananeiras; foram construídos os primeiros silos do Estado e fundados três Campos de Demonstração de Algodão27

, cada um na

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Esse serviço rendeu excelentes resultados na Parahyba quando, “da fantástica percentagem a que attingiram os estragos da Gelechia [lagarta rosada] (90%, em 1915, 1916 e 1917), baixaram de 1917, até hoje, a 20 e 15% sobre o total da producção algodoeira do Estado, merecendo esse resultado a classificação de notável no relatório em que o sr.Dr. William Wilson de Souza presta informações ao governo federal da marcha dos serviços de defesa do algodão em quase todo o Brasil” (Mensagem (...) 1922: 37-38).

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Em 1923, o Estado da Parahyba contava com sete usinas de beneficiamento de algodão em funcionamento e possuía, disseminadas por todo o estado, 560 bolandeiras (Mensagem (...) 1923: 29-30).

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Ainda a esse respeito Solon de Lucena acrescenta que: “Assim, fundou o meu governo três campos de cultura algodoeira nas três principais zonas em que, comumente, dividimos o Estado, - Mata, Cariri e Sertão destinados ao cultivo das variedades herbáceo, quebradinho e mocó, respectivamente (...) Além da fundação desses Campos, como incentivo ao trabalho fecundo das populações pobres do interior, fiz distribuir, de graça, sementes de algodão

zona própria, conforme a fibra mais cultivada. Também nesse ano, o inspetor Diógenes Caldas iniciou a fundação de Caixas Rurais, sendo a primeira, tipo Raiffaisen, a de Bananeiras.

Como dito anteriormente, a partir da administração de Camillo de Hollanda (1916-1920), foi concedida pela imprensa e pelas administrações estaduais uma atenção à cultura algodoeira jamais observada até então. O cuidado atribuído ao principal produto agrícola e industrial do Estado foi redobrado em virtude da possibilidade de enriquecimento, público e particular, que se deslumbrava diante da escassez mundial de matéria prima para a indústria têxtil. Apesar da intensa seca de 1919 e da propagação da lagarta rosada pelos algodoais do território parahybano, a exportação de algodão atingiu 12.351.839 quilos, em 1918; 8.227.276 quilos, no ano seguinte; e chegou a 15.541.398 quilos, em 1921. As safras desses anos imediatamente posteriores à instauração da guerra mundial atingiram altas cotações no mercado internacional e entusiasmaram o produtor e a administração pública local, que obtinha maior lucro com a saída do produto pela alfândega.

Contudo, o ainda freqüente desvio dos gêneros produzidos no Estado pelas barreiras – em especial o algodão -, em detrimento da praça da capital e da economia parahybana, continuava a ser uma preocupação da administração local, que assumia o caráter meramente paliativo das providências tomadas até então, ao mesmo tempo em que justificava as inúmeras dificuldades de solucioná-lo radicalmente, por razões já colocadas.

Diante desse fato, apelava-se à União, ao Estado, aos Municípios, aos produtores e às casas comercializadoras de algodão a compreensão e o auxílio na solução do problema que tanto defasava as arrecadações parahybanas. Para minorar tais prejuízos, investia-se na intensificação da cultura, na seleção de sementes, por variedade e zonas de cultivo, e na classificação comercial do produto a fim de, com essas medidas, conquistar novos mercados e concorrer com as requisitadas variedades do Egito e da América do Norte. Solon de Lucena assim ratificava, em 1922:

“O algodão continua a ser e será, por muitos annos, o principal elemento básico de nossa fortuna pública, a fonte principal da riqueza privada e o producto para o qual nos devemos voltar, com todo o senso commercial de que somos capazes [grifo nosso], para promover-lhe o desenvolvimento que nossas terras comportam e, por uma rigorosa classificação de typos, eleval-o no conceito dos consumidores americanos e europeus. É este, no actual momento de nossa vida

por cerca de 2500 lavradores desvalidos (...) esta medida concorreu, principalmente, para animar os trabalhadores das caatingas e leva-los a fundar uma safra, que, pelas proporções dos terrenos plantados, promette exceder a todas alcançadas em annos anteriores” (Mensagem (...) 1923: 27).

econômica, o principal problema do mercado algodoeiro dos Estados do Nordeste” (Mensagem (...) 1922: 33).

Solon de Lucena afirmava ainda que era a falta desses cuidados especiais na produção, beneficiamento e comercialização do algodão parahybano que elevava os prejuízos “de 20 a 50%, entre o preço do algodão limpo seleccionado e o do sujo, colhido geralmente ao léo”. Afirmava ainda que a cultura algodoeira na Parahyba do Norte ainda estava muito aquém de suas possibilidades produtoras e que se precisava desenvolver métodos e técnicas adequadas de plantio e colheita, haja vista outros estados do país, com produção recente e condições climáticas desfavoráveis já estarem ocupando espaço privilegiado entre os maiores produtores do país. Nesse momento o presidente se referia aos estados de São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco, que vinham intensificando sua produção e começavam a representar concorrência ao produto parahybano (ver QUADRO 08, p. 49). Infelizmente, na maioria das culturas espalhadas por toda a extensão do estado, ainda era comum a falta de seleção de fibras e sementes; o descuido na colheita, que era feita sem método e técnicas apropriadas, e no descaroçamento que era realizado em máquinas de serras antigas e descuidadas; enfim, esses eram fatores que depreciavam o produto parahybano, já reconhecido como um dos melhores do mundo e o único que podia gerar concorrência ao algodão “egypcio e avantajar-se aos melhores americanos” (Mensagem (...) 1922: 33-34).

QUADRO 08: PARTICIPAÇÃO DE VÁRIOS PORTOS BRASILEIROS NA EXPORTAÇÃO DE