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1.2 PARÂMETROS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

1.2.2 Organização da matéria e trabalho de campo

Esse trabalho trata de um estudo de caso de abordagem qualitativa, com base teórica no materialismo histórico-dialético. Destacamos que esse estudo aponta a realidade particular das transformações ocorridas na configuração do trabalho do professor universitário do programa associado de pós-graduação em Educação Física da UPE/UFPB; aponta também como os professores reagem a esse processo; e, ainda, os elementos para as transformações ocorridas no trabalho dos professores universitários de maneira geral, já que as determinações que incidem na configuração do trabalho docente são universais e, portanto, remetem à configuração do trabalho como um todo.

Iniciamos a organização da matéria com o domínio pleno do material da pesquisa. Essa parte refere-se ao levantamento teórico e reconhecimento de suas múltiplas determinações, ou seja, apontamos para os detalhes e determinações históricas disponíveis. Sendo assim, delimitamos nossa pesquisa a três momentos distintos, porém articulados, que foram desenvolvidos no período de março de 2012 a dezembro de 2013.

No primeiro momento, realizamos uma pesquisa bibliográfica, com a intenção de levantar os estudos e pesquisas sobre o objeto investigado a partir das seguintes temáticas: Trabalho docente e precarização; Trabalho docente e expansão do ensino superior; Trabalho docente e produtivismo acadêmico - disponíveis no banco de teses da CAPES – 2007-201222. Nesse período, encontramos quinze teses utilizando a busca pela “expressão exata”.

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Selecionamos, então, quatro dessas teses de doutorado para fichamento, as quais foram utilizadas como referência para o estudo: Lemos (2007) - “Alienação no trabalho docente? O professor no centro da contradição”; Santos (2008) - “A expansão da educação superior rumo à expansão do capital: interfaces com a educação a distância”; Léda (2009) - “Trabalho docente no ensino superior: análise das condições de saúde e de trabalho em instituições privadas do estado do Maranhão”; e Silva (2009) - “A metamorfose do trabalho docente no ensino superior: entre o público e o mercantil”. A escolha desses estudos foi realizada a partir de três eixos: 1) a afinidade teórica com o materialismo histórico-dialético; 2) a temática desenvolvida sobre o trabalho docente no ensino superior; 3) a constatação da possibilidade superadora, construída a partir da identificação dos dados da realidade e suas contradições. Também acessamos outras fontes bibliográficas - livros e artigos periódicos -, referentes ao objeto investigado e ao objetivo da pesquisa.

No segundo momento, partimos para uma pesquisa documental. Analisamos documentos que estão diretamente relacionados à política pública sobre a educação superior no Brasil e ao trabalho docente. Nesse momento, também fizemos um levantamento de dados estatísticos disponíveis no banco de dados do censo da educação superior, disponíveis no site do INEP/MEC, buscando entender a evolução da expansão da educação superior no Brasil e na região nordestina – evolução do número de instituições, cursos, matrículas, funções docentes (regime de trabalho) do período de 1995 a 2012; o que compreende os dois mandatos do governo de FHC, os dois mandatos do governo Lula e metade do primeiro governo de Dilma. Utilizamos ainda os relatórios de gestão23 da UFPB disponíveis, do período de 2010 a 2012.

O terceiro momento refere-se à fase do trabalho de campo. Após identificarmos os elementos chaves e os contornos do problema, aproximamos o objeto à particularidade da UFPB, mais especificamente, ao trabalho docente desenvolvido no Programa Associado de Pós-graduação em Educação Física da UFPB (PAPGEF). A opção pelo trabalho dos professores na UFPB, como campo empírico de estudo, justifica-se, primeiro, por ser também o local onde desenvolvo minhas atividades funcionais - e entender como se configuram no atual contexto essas atividades nos parece ser de fundamental importância para nossa prática profissional como trabalhador comprometido com uma educação que cumpra sua função social; segundo, pelo fato de o programa de pós-graduação ser o primeiro relacionado à área de Educação Física no nordeste, criado em 2008, e que se consolidou na região com a criação

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do doutorado, no ano de 2013, já na segunda avaliação da CAPES. Também se justifica o campo empírico por conta da escassez de estudos sobre as transformações que as políticas públicas na educação superior promovem no trabalho docente na Educação Física e na região nordestina.

Encontramos estudos significativos sobre o trabalho docente - Bosi (2007); Sguissardi e Silva Júnior (2009); Mancebo e Silva Júnior (2012) – em que se discute o impacto da produtividade no trabalho dos professores universitários das IFES, especificamente no âmbito da pós-graduação. E, ao fazermos um levantamento empírico das produções de artigos completos publicados com base na classificação Qualis, observamos que, nos últimos cinco anos, o programa associado de pós-graduação em Educação Física apresentou um aumento de sua produção em 254,5%, conforme demonstra o quadro abaixo; o que ratifica o quanto o programa se organizou para atender à política24 desenvolvida pela CAPES, uma vez que um dos critérios de maior importância desta, na avaliação da produção do conhecimento dos programas de pós-graduação, é a quantidade de artigos científicos produzidos dentro da classificação “de qualidade” - Qualis. Esses números reforçam, também para nós, a necessidade de entender como os professores se organizaram para atender a essa exigência, o quanto sua atividade funcional foi modificada durante esse período e por que assumiram para si essa demanda externa que vem modificando a prática docente nas universidades.

Nessa fase de campo, entrevistamos os sete professores da UFPB que estavam credenciados no programa associado de pós-graduação em Educação Física. No período da coleta, o PAPGEF possuía dezesseis professores permanentes e quatro professores colaboradores; porém, como nossa pesquisa se caracterizava como sendo um estudo de caso, optamos em selecionar os sujeitos da pesquisa de forma intencional, tendo como critério de escolha ser professor da UFPB e estar credenciado no PAPGEF.

A coleta das informações com base na entrevista semiestruturada ocorreu entre os meses de maio a julho de 2013, a partir do roteiro (apêndice 1) e do termo de compromisso (anexo 1) que foi assinado por todos os professores entrevistados. As entrevistas foram realizadas face a face, em ambiente reservado, nos dias e horários previamente marcados. Também foram gravadas em aparelho digital, com autorização dos entrevistados, e transcritas na íntegra, depois foram entregues aos professores participantes da pesquisa para

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O modelo definido pela CAPES para o sistema de Pós-graduação no Brasil foi a constituição do binômio avaliação-fomento e o estímulo à competição. Nesse sentido, fundamentou o modelo avaliativo em bases quantitativas.

confirmarem a validez das declarações. Só após essa confirmação, iniciamos o processo de sistematização das análises.

Quadro 2 - Produção anual de artigos completos dos programas de pós-graduação em EF no Brasil

Programas Anos

2008 2009 2010 2011 2012

Ciências da Atividade Física – UNIVERSO/RJ 27 23 43 60 47

Ciências da Atividade Física – USP/SP - - - - -

Ciências da Motricidade – UNESP/RC-SP 146 147 128 173 173

Ciências do Esporte – UFMG/MG 31 57 49 57 54

Ciências do Exercício e do Esporte – UGF/RJ 53 44 75 73 118

Ciências do Movimento Humano – UFRGS/RS 97 78 131 136 140

Ciências do Movimento Humano – UDESC/SC 71 59 98 120 134

Ciências do Movimento Humano – UNIMEP/SP - - - - -

Ciências do Movimento Humano – UNICSUL/SP 77 84 28 55 55

Educação Física – UNB/DF 13 33 54 84 60

Educação Física – UCB/DF 66 96 141 120 135

Educação Física – UFES/ES 10 27 44 104 64

Educação Física – UFV/MG 61 78 86 115 135

Educação Física – UFTM/MG - - - 45 77

Educação Física – UFMT/MT - - - - 32

Educação Física – FESP/UPE-PE 33 35 63 94 117

Educação Física – UFPR/PR 78 94 123 102 114

Educação Física – UEL/PR 200 107 146 145 137

Educação Física – UFRJ/RJ - 58 68 72 88

Educação Física – UFRN/RN - - - 33 30

Educação Física – UFSM/RS - - - - 65

Educação Física – UFPEL/RS 58 80 147 103 119

Educação Física – UFSC/SC 95 118 113 173 137

Educação Física – FUFSE/SE - - - - 74

Educação Física – USP/SP 176 177 246 327 345

Educação Física – UNICAMP/SP 112 118 112 149 153

Educação Física – UNIMEP/SP 37 45 38 38 63

Educação Física – USJT/SP 51 53 49 46 61

Exercício Físico na Promoção da Saúde – UNOPAR/PR - - - - 35

Fonoaudiologia – UNESP/MAR-SP - - - 33 37

Reabilitação e Desempenho Funcional – USP/RP-SP - - - - 55

Terapia Ocupacional – UFSCAR/SP - - 26 41 47

Fonte: CAPES – disponível em: http://www.capes.gov.br/avaliacao/cursos-recomendados-e-reconhecidos. Acesso em agosto de 2013. (organização do autor)

O quadro a seguir apresenta informações sobre a formação, tempo de serviço e regime de contratação disponíveis no currículo lattes dos professores envolvidos na pesquisa. Para resguardar a identidade dos professores entrevistados, utilizamos o código “PE” e um número correspondente à ordem da entrevista.

Quadro 3 – Sujeitos da Pesquisa

Nível de Formação Tempo de serviço na universidade

Regime de Contratação

PE1 Doutor 08 anos 40h – DE

PE2 Doutor 12 anos 40h – DE

PE3 Doutor 20 anos 40h – DE

PE4 Doutor 21 anos 40h – DE

PE5 Doutor 10 anos 40h – DE

PE6 Doutor 04 anos 40h – DE

PE7 Doutor 22 anos 40h – DE

Fonte: Organização do autor