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Organização e Funcionamento dos Institutos Federais de Educação,

Os Institutos Federais surgiram em 2008 no contexto de expansão e valorização da educação profissional brasileira no país, por meio de um plano estruturante de expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, que propiciou um salto de aproximadamente 200 unidades de ensino para chegar aos 562 campi no final de 2014 (MEC, 2015).

Além de aumentar o número de campi, esse processo de expansão objetivou interiorizar e consolidar a rede, ampliando o acesso de vagas na educação profissional e tecnológica, com o intuito de fomentar o desenvolvimento regional por meio do estímulo à permanência de profissionais qualificados no interior do país, bem como potencializar a função social e o engajamento dos Institutos como expressão das políticas públicas, na tentativa de superação da miséria (MEC, 2013).

De acordo com Fernandez (2009), esse processo de expansão trouxe às instituições um enorme desafio, tendo em vista o aumento significativo de campi associado a cada Instituto Federal, mas, ao mesmo tempo, exigiu das novas unidades que se mantivessem com o mesmo padrão de estrutura e ensino que as antigas.

A Figura 5, a seguir, ilustra a multiplicação das unidades de ensino em função da expansão e sua capilaridade no território nacional.

Figura 5 – Mapa das unidades de ensino da Rede Federal antes e após a expansão

Fonte: TCU (2014).

Pode-se observar, por meio da figura acima, o aumento das unidades de ensino dos IFs em todo o território nacional e, consequentemente, o grande desafio que essas instituições têm enfrentado com esse plano de expansão.

Segundo o acórdão n. 506/2013, publicado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), os Institutos Federais precisam ser cautelosos nesse processo de expansão. Com base no relatório de auditoria realizado pelo referido órgão, foram verificados problemas de evasão e retenção de estudantes, carência de docentes, falta de infraestrutura e de apoio ao desenvolvimento de pesquisa e extensão. O acórdão sugere que sejam adotadas medidas que promovam a maior integração entre ensino,

REDE FEDERAL

Anterior 2003

pesquisa e extensão, principalmente nos campi situados em regiões de menor desenvolvimento econômico.

Um aspecto relevante que deve ser considerado nesse processo de desafios e mudanças dos IFs é quanto à gestão. Com a finalidade de se adequarem à nova realidade institucional, essas instituições tiveram transformadas as suas estruturas organizacionais, passando a serem organizadas com uma Reitoria constituída por um Reitor e cinco Pró-Reitores e vários campi, com gestão interdependente entre eles. A administração passou a ser praticada pelos órgãos superiores: o Colégio de Dirigentes – de caráter consultivo, composto pelo Reitor, pelos Pró-Reitores e pelo Diretor-Geral de cada um dos campi – e o Conselho Superior – de caráter consultivo e deliberativo, composto por representantes docentes, dos estudantes, dos servidores técnico- administrativos, dos egressos da instituição, da sociedade civil, do Ministério da Educação e do Colégio de Dirigentes (OTRANTO, 2010).

Outro importante aspecto de mudança refere-se à autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar dos Institutos Federais, nos limites de área de atuação territorial. Isso significa dizer que os IFs passaram a ter a prerrogativa de criação e extinção de cursos e emissão de diplomas dos cursos oferecidos. Tornaram-se equiparados com as universidades federais naquilo que diz respeito à incidência das disposições que regem a regulação, a avaliação e a supervisão das instituições e dos cursos da educação superior e abriram a possibilidade da autoestruturação pelo fato de a proposta orçamentária anual ser identificada para cada campus e a Reitoria (OTRANTO, 2010).

Em relação à proposta político-pedagógica, os Institutos Federais passaram a atuar em todos os níveis e modalidades da educação profissional, desde a educação básica à superior, conferindo aos IFs uma natureza singular, na medida em que não é comum no sistema educacional brasileiro atribuir a uma única instituição a atuação em mais de um nível de ensino. Esse arranjo educacional abriu novas perspectivas para o Ensino Médio técnico, por meio de uma combinação do ensino de ciências, humanidades e educação profissional tecnológica (SCHMIDT, 2010).

Além de atuarem no Ensino Médio técnico, que detém 50% das ofertas das vagas nessas instituições, também atuam nos cursos de licenciatura (20% das vagas), bacharelado, graduações tecnológicas, bem como nos programas de pós-graduação lato e stricto sensu. Essa diversidade de oferta educativa possibilita aos docentes atuarem em diferentes níveis de ensino e, aos discentes, compartilharem os espaços

de aprendizagem, incluindo os laboratórios, o que proporciona o esboço de trajetórias de formação que podem ir do curso técnico ao doutorado (MARTINS; BERNARDES, 2013).

Na perspectiva da educação profissional técnica de nível médio, é notório o crescimento de matrículas nesse nível escolar. Dados do Censo Escolar 2013 (INEP, 2014) revelam que 290 mil alunos estão inscritos no ensino técnico integrado – forma de articulação destinada a estudantes que tenham concluído o ensino fundamental e desejam cursar o Ensino Médio juntamente com um curso profissionalizante na mesma instituição – nas escolas da rede federal, enquanto que em 2010 esse número era de aproximadamente 90 mil alunos (INEP, 2014).

O ingresso desses alunos aos IFs ocorre mediante a aprovação no exame de seleção, procedimento padrão de seleção de alunos para os cursos técnicos de nível médio, entretanto, com provas não padronizadas entre os IFs. Ou seja, cada IF é responsável pela elaboração, aplicação e coordenação desse exame, aplicado nos respectivos campi, abrangendo os conhecimentos comuns às diversas formas de escolarização do ensino fundamental.

É pertinente ressaltar que metade do total das vagas ofertadas nos exames de seleção é destinada aos candidatos que cursaram integralmente o ensino fundamental em escolas públicas, em consonância com a Lei de Cotas n. 12.711/2012, sendo que dessa metade 50% são direcionadas aos alunos com renda familiar igual ou menor a 1,5 salário-mínimo; outro percentual é reservado aos alunos autodeclarados pretos, pardos e indígenas, calculado com base na soma da população de autodeclarados pretos, pardos e indígenas da região, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); e o restante designado aos alunos com renda familiar superior a 1,5 salário-mínimo.

Diante desse cenário, em termos de desempenho acadêmico, os Institutos Federais se destacam em relação aos sistemas convencionais municipais, estaduais e particulares. Conforme informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), no ano de 2011, a nota média dos alunos da Rede Federal foi de 615,9, superior ao registrado, inclusive, pela rede particular, que obteve 580,1. Em relação ao sistema estadual, a nota média foi de 486 pontos, enquanto a rede municipal alcançou 498 (ALMEIDA; ALMEIDA FILHO, 2013).

Entretanto, esse bom desempenho acadêmico dos Institutos Federais em comparação aos demais sistemas de ensino não é consolidado em toda a Rede

Federal. Para Thomaz (2013), o plano de expansão experimentado pelos Institutos Federais trouxe diferenças no plano de desenvolvimento dos campi. De acordo com a autora, essas diferenças não se restringem à infraestrutura das instituições, estendendo-se aos resultados acadêmicos.

Thomaz (2013) observou que as regiões com os piores desempenhos acadêmicos foram Norte e Nordeste, enquanto as regiões Sul e Sudeste se destacaram com os melhores resultados. Contudo, a autora expõe um resultado importante da pesquisa, particularmente, porque identifica um grupo de Institutos Federais com resultados de excelência nos indicadores avaliados, quais sejam: IFB, IFBaiano, IFRN, IFAP, IFTO, IFPA, IFMA, IFPR e IFSUL, grupo formado, também, por IFs das regiões Norte e Nordeste, na contramão do que foi observado nessas regiões. Assim sendo, as instituições supracitadas destacam-se em regiões que apresentaram resultados acadêmicos inferiores, trazendo uma contribuição relevante para esta pesquisa, a saber: a evidência de que as diferenças regionais não determinam o desempenho educacional nos Institutos Federais do país.

Diante desse contexto, coloca-se, mais uma vez, a importante necessidade de se investigar as discrepâncias de desempenho acadêmico entre os IFs, tomando por base os fatores institucionais, políticos e econômicos que estão por trás dessas diferenças para se buscar uma educação profissional e tecnológica de maior qualidade para o país.

4.3 Fatores Institucionais dos Institutos Federais de Educação, Ciência e