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CAPÍTULO 2 – A VIDA EM COMUNIDADE E A ORGANIZAÇÃO SOCIAL

2.2 Organização Social: característica e definições

A organização social e a vida em comunidade tem sido conceitualmente compreendidas em uma área territorial contígua que obtém um determinado segmento populacional que estabelece um certo tipo de relação social, a qual configura os aspectos positivos do processo de associação humana (GOLDWASSER, 1974).

Dentre os conceitos clássicos no que concerne à organização social, Cardoso e Ianni (1965) a definem como uma atividade concreta, em que as pessoas buscam a obtenção de algo, o alcance de objetivos através de uma ação planejada. Esse tipo de organização remete a fins sociais, tais fins devem possuir significados comuns para as pessoas envolvidas na ação. A organização social provoca a unificação, a conjunção de vários elementos numa relação comum.

Para Blau e Scott (1970) a organização social está intrinsecamente interligada as maneiras da conduta humana organizada socialmente. O caráter social existente nessas condutas é muito mais proveniente às regularidades observadas no comportamento dos indivíduos do que as características fisiológica ou psicológica

dos sujeitos. A formação de redes relações sociais entre os sujeitos e grupos é a questão central da organização para os autores.

No que tange o âmbito jurídico, as organizações sociais constituem-se em uma espécie de propriedade pública não-estatal, compostas pelas associações civis sem fins lucrativos que não pertencem a nenhum sujeito ou coletivo e visam atender a interesse público (BRASIL, 1988). Essas organizações representam um modelo de colaboração entre o Estado e a sociedade. O Estado permanece exercendo seu papel com intuito de atender as políticas públicas diversas e as organizações, por sua vez, visam o controle social das ações do Estado, controle que é feito através a participação nos conselhos dos variados segmentos que representam a sociedade.

Como características, essas organizações possuem autonomia administrativa e seus representantes são incumbidos de uma maior responsabilidade em conjunto com a sociedade, na gestão e no aprimoramento da eficiência e da qualidade dos serviços públicos (BRASIL, 1988). A instituição, ao ser classificada como organização social estará apta a receber recursos financeiros e a gerir bens e equipamentos do Estado. Esta relação com o Estado se concretiza por meio de um contrato de gestão, no qual são enfatizadas metas que ratifiquem os atributos dos serviços prestados a sociedade.

Caracterizadas enquanto instituições públicas que atuam fora da Administração Pública, as organizações sociais não representam um negócio privado, mais sim, objetivam se aproximar dos cidadãos, aprimorando seus serviços, com responsabilidade e economicidade dos recursos públicos (BRASIL, 1988).Para evitar que essas organizações pertençam a apenas a um grupo seleto, os representantes têm um mandato submetido a regras que impõe limitações e obrigatoriedades, como a renovação periódica do conselho durante um prazo determinado (BRASIL, 1988).

Ao cumprirem com efetividade seu papel, as organizações sociais representam um avanço na gestão da prestação serviços na área social, uma vez que entre seus propósitos está a efetivação de políticas públicas com o objetivo de alcançar uma qualidade dos produtos ou serviços prestados aos cidadãos. Tais organizações têm por objetivo melhorar a qualidade de vida das pessoas através da organização e desenvolvimento de um trabalho social representativos, aonde os cidadãos se veem representados (BRASIL, 1998).

Conforme Di Pietro (2002, p.37):

As organizações sociais são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, instituídas por iniciativa de particulares, para desempenhar serviços sociais não exclusivos do Estado, com incentivo e fiscalização pelo Poder Público, mediante vínculo jurídico instituído por meio de um contrato de gestão.

Rocha (2003) compreende que as organizações sociais surgiram com intuito de auferir do Estado serviços públicos por ele prestados, serviços como: saúde, educação, cultura, além destes, atividades de relevância social não exclusivas do Estado, e por ele impulsionadas.

Retornando a definição clássica, de acordo com Cardoso e Ianni (1965), a organização socialmente constituída, representa uma atividade concreta em que as pessoas buscam a obtenção de algo ou o alcance de objetivos através de uma ação planejada. Esse tipo de organização remete a fins sociais, os quais estes devem possuir significados comuns para as pessoas envolvidas na ação. A organização social provoca a unificação, a conjunção de vários elementos numa relação comum. Elementos como a representação e a responsabilidade estão intrínsecos a organização.

E para que as intenções de um grupo possam ser concretizadas, deve existir a representação dos seus interesses pelos componentes individuais. As decisões estruturadas como decisões grupais devem ser de fato, decisões individuais. Deve haver algum modo implícito, por meio do qual o coletivo permite aos indivíduos o direito de tomar decisões em nome da totalidade (CARDOSO; IANNI, 1965). Esta ideia de organização está ligada ao processo social de mudança que compõe o comportamento dos sujeitos na construção da vida social.

Lakatos (1990) vem afirmar que as organizações sociais possuem identidade própria e pertencem a um sistema social total. A existência dessas organizações está fundamentada em sua eficácia para concretização de coisas e objetivos, ou seja, visam atender a determinadas finalidades.

Já Giddens (2001) percebe a organização social como um grupo extenso de pessoas, composto de linhas impessoais e constituído por atingir objetivos específicos. O pensador também alerta para o fato da influência que essas organizações possam exercer na vida das pessoas. Tal influência, nem sempre é positiva, pois as organizações constantemente têm o poder de tirar as decisões das

pessoas, colocando-as sob o controle de autoridades e especialistas ou de uma minoria específica, sobre os quais se tem pouca influência, ou seja, as organizações enquanto representantes do poder social podem subjugar as pessoas e influenciá- las a fazer coisas que elas não têm poder suficiente para resistir.

As organizações são detectadas na experiência cotidiana. Caracterizam - se por compor um sistema de atividades coordenadas conscientemente entre duas ou mais pessoas. Radcliffe – Brown (1973, apud LAKATOS, 1990) parte do princípio de que a organização social consistiria no planejamento, numa espécie de combinação das atividades especializadas dos sujeitos, ou seja, numa organização cada pessoa teria um papel, uma espécie de sistema de papéis desempenhados.

As organizações sociais estão ligadas aos sistemas de relações de obrigação que há entre os grupos que compõe uma determinada sociedade, conforme analisa Brown e Barnett (1970, apud LAKATOS,1990).Ainda em consonância com Lakatos (1990) as características de uma organização social podem ser percebidas sob dois aspectos: 1 – as partes da organização funcionam através de uma relação mútua e 2- a organização funciona como um todo para o desenvolvimento de determinada tarefa.

Para esta autora, todas as organizações sociais têm identidade própria e simultaneamente pertencem a um sistema social. A subsistência desse tipo de organizações tem por base a eficácia para a concretização de objetivos, no entanto, em determinado momento, numa dada sociedade, nem todas as organizações são eficientes, ressalta Lakatos (1990).

Segundo Cunha et al (2013), a organização social representa uma manifestação que legitima a cidadania e a participação social, pois atuam em prol da sociedade, principalmente nas comunidades mais necessitadas. Quanto à sua forma, podem organizar-se enquanto fundações públicas ou privadas, associações ou sociedades civis, cooperativas e cooperativas sociais. Entretanto, devem ter uma límpida atuação social e não visarem propósitos lucrativos.

Matos (2003), por sua vez, destaca que as formas institucionais de organização social que se encontram no Estado, sejam elas: empresas, partidos, sindicatos e associações em termos práticos, resultam da intermediação das contradições dialéticas que abrangem de um lado, o caráter instituído que se impõem pela força do direito, da tradição e da cultura e, do outro, o descontentamento com o status quo e a luta constante pelas mudanças sociais. Este

autor, também na mesma referência, cita que as organizações sociais realizam o exercício da democracia de forma indireta, pois as organizações hierarquizam a atuação por meio de representações que externam e decidem em nome das maiorias.

As organizações precisam ser compreendidas como um sistema dinâmico e para entender como elas se estruturam deve-se considerar o conhecimento de seus sujeitos, de sua cultura e as relações e interações estabelecidas. Com o intuito de alcançar objetivos comuns é que o associativismo se constrói (CARVALHO NETO, 2009).