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No capítulo anterior, vimos a forma urbana de São Luís durante o século XVII, onde ficou clara a influência renascentista, percebida por meio da sua malha ortogonal, dos quarteirões predominantemente quadrados, das ruas retas e dos lotes e alinhamentos regulares. Agora, vamos estudar Belém, outra cidade brasileira também fundada no mesmo período que São Luís, ou seja, durante a Monarquia Dual e sob a vigência das Ordenações de Filipe III.

Os estudos sobre essas duas cidades foram realizados com o objetivo de responder qual o legado renascentista que foi transposto para essas cidades, identificado por meio das categorias analíticas escolhidas. Este capítulo está estruturado igual ao capítulo anterior, no qual estudamos inicialmente o contexto político-social de Belém, conhecendo os primeiros colonizadores, a formação social e econômica da cidade durante o século XVII. Depois, estudamos a organização urbana que está subdividida em: periodização da forma urbana, onde dividimos Belém em três momentos do século XVII escolhidos e datados por apresentarem mudanças significativas na forma da cidade; além da análise, produzimos mapas e tabelas mostrando essas modificações. O outro subitem intitulado, caracteríticas urbanísticas, foi produzido com o objetivo de compreendermos a forma de Belém por meio do sítio, edificações marcantes, praça, malha, rua, quadras, lotes, alinhamentos e usos, tendo com suporte a visão dos memorialistas e historiadores. Esse estudo resultou também em uma tabela que mostra a cidade segundo essas categorias.

Esse estudo permitiu entender como foi a forma urbana de Belém do século XVII e ver que a cidade também sofreu influências das idéias renascentistas, embora mais flexíveis que São Luís, percebida pela malha ortogonal, ruas retas, quadras com formatos quadrados e retangulares, lotes e alinhamentos regulares.

Belém, assim como São Luís, foi fundada durante o Governo Geral, criada em pontos especiais, pois seria uma das cabeças da rede urbana em suas regiões. Eram adotados modelos geometrizantes que, às vezes, não eram tão perfeitos, pois adaptavam-se às condições de defesa e da topografia, aproximando-se dos tipos ideais renascentistas mais flexíveis, com as Igrejas e Conventos ocupando pontos de evidência e as saídas marcando as posições principais; assim, como em outras cidades, as condições da topografia funcionaram em parte, como fatores de distorção do traçado urbano para um crescimento mais geométrico.

A cidade de Belém, que substituiu São Luís enquanto capital do Maranhão e Grão- Pará , embora não tenha tido, na sua gênese, um plano urbanístico traçado por um engenheiro, não tenha resultado na regularidade cartesiana de São Luís, também não foi um processo

94 aleatório e certamente seguiu as idéias dos tratados urbanísticos renascentistas, como coloca Renata Malcher Araújo, quando diz que:

“Belém não surge de um processo simplesmente cumulativo, mas norteado, senão por um plano formal pré-estabelecido, certamente por uma idéia do urbano nitidamente concebida”60

Percebemos em Belém duas malhas distintas sensivelmente ortogonais adaptando-se às particularidades do terreno, desenvolvidas também com início em um forte, o do Presépio. A cidade tem seus quarteirões predominantemente retangulares, resultando numa certa regularidade. É formada por dois setores separados pelo igarapé Piri: o núcleo da Cidade e o núcleo da Campina, onde um corresponde ao núcleo da fundação e o outro ao da expansão.

4.1 O Contexto Político-Social

Neste item do trabalho tivemos como objetivo conhecer o processo de urbanização de Belém, estudado mediante uma revisão bibliográfica de memorialistas e historiadores que narram sobre os primeiros colonizadores, a organização política e social da cidade durante o século XVII.

Belém está situada em plena zona equatorial, está localizada no braço sul da foz amazônica, denominada de rio Pará, que forma a baía do Marajó em sua parte mais larga junto ao oceano. A cidade fica próxima à confluência do rio Guamá, numa reentrância localizada no rio Amazonas, conhecido como baía de Guajará, ficando a mais de 100 quilômetros do oceano.(VerFig. 14)

Localizada na região próxima à de São Luís, no Norte do Brasil, foi em direção ao Pará que Alexandre Moura, após derrotar os franceses no Maranhão no século XVII, ordenou a Francisco Caldeira de Castelo Branco que estabelecesse um posto militar na foz do Amazonas. Através de uma expedição marítima pela costa do Maranhão seguem em direção ao Pará, onde, subindo o rio Pará, fundam o Forte do Presépio junto à baía de Guajará, próximo à embocadura do rio Guamá. Esse forte deu origem a Nossa Senhora de Belém (atual cidade de Belém), desenhada por rios, igarapés e canais, que será a nova Capitania, a do Grão Pará, fundada com o objetivo de demonstrar a posse portuguesa e base de defesa militar da Amazônia.

“Durante todo o século XVII, as autoridades reinoís, quer portugueses ou espanhóis deixaram a região Amazônica em completo esquecimento. Isto deu ocasião aos piratas franceses visitarem freqüentemente o litoral maranhense e paraense passando do Pará dentro de 250 léguas conforme declarações de Daniel de La Touche, quando foi preso pelos portugueses no Maranhão” 61

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– ARAÚJO, Renata Malcher.As cidades da Amazônia no século XVIII – Belém, Macapá e Mazagão. Porto, Faup publicações, 1998. p.83 61

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Figura 14 – Mapa da Província do Grão-Para. João Teixeira Albernaz, o velho (1602 – 1666)

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