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Organizações da sociedade civil articuladas contra os agrotóxicos

No documento Direito à informação sobre agrotóxicos (páginas 121-124)

CAPÍTULO 3 – Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA)

3.1 Organizações da sociedade civil articuladas contra os agrotóxicos

Entre organizações, movimentos e redes da sociedade civil que se posicionam publicamente sobre a temática dos agrotóxicos, selecionamos, considerando os critérios expostos acima, os posicionamentos e ações da Associação Brasileira de Saúde Coletiva

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(Abrasco), da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida e do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec).

A Abrasco132 foi criada em 1979 como uma associação que congregava cursos de pós-

graduação em medicina social e saúde pública. A incorporação de cursos de graduação em saúde coletiva levou à adoção do atual nome133 e sigla – Abrasco –, definidos em 2011, em assembleia

geral. Em sua composição, a Abrasco conta com grupos de trabalhos (GT) temáticos, sendo o GT Saúde e Ambiente134 o que mais discute o tema dos agrotóxicos. São várias as instituições

de ensino e pesquisa que integram a Abrasco, entre elas a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que atuou ativamente na formulação do Dossiê Abrasco – um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde (CARNEIRO et al., 2015), e a Universidade de Brasília, por meio do Núcleo de Estudos em Saúde Pública e do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.

A Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida135 se define como “um

esforço coletivo” de pessoas e organizações com o objetivo de “combater a utilização de agrotóxicos e a ação de suas empresas”, explicitar “as contradições geradas pelo modelo de produção imposto pelo agronegócio” e “sensibilizar a população brasileira para os riscos que os agrotóxicos representam”. Desde que foi criada, em 2011 (TYGEL et al., 2014), passaram a integrar136 a campanha organizações, redes e movimentos da sociedade civil, como o Fórum

Brasileiro de Segurança e Soberania Alimentar (FBSSAN)137 e a Abrasco, e instituições de

ensino e/ou pesquisa, como a Fiocruz e o Instituto Nacional de Câncer (Inca).138

A Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, em parceria com outras 15 organizações, entre elas o Greenpeace,139 o Fórum Nacional de Combate ao Uso de

Agrotóxicos140 e o Idec, desenvolveu, em 2017, uma campanha chamada “Chega de

Agrotóxicos”, que, além de ofertar informações para a população, visou coletar assinaturas

132 Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/sobreaabrasco/. Acesso em: 4 jan. 2020. 133 O primeiro nome era Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – Abrasco 134 Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/gtsaudeeambiente/. Acesso em: 4 jan. 2020. 135 Disponível em: https://contraosagrotoxicos.org/campanha-permanente-contra-os-agrotoxicos-e-pela-

vida/.Acesso em: 4 jan. 2020.

136 Disponível em: https://contraosagrotoxicos.org/quem-somos/. Acesso em: 4 jan. 2020. 137 Disponível em: https://fbssan.org.br. Acesso em: 4 jan. 2020.

138 Disponível em: https://www.inca.gov.br. Acesso em: 4 jan. 2020.

139 Disponível em: https://www.greenpeace.org/brasil/. Acesso em: 4 jan. 2020.

140 Disponível em: https://www.facebook.com/forumnacionaldecombateaosimpactosdosagrotoxicos/. Acesso em:

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contra o Projeto de Lei n° 6.299/2002, o PL dos Venenos, e a favor do PL n° 6.670/2016, que institui a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA). As assinaturas são coletadas por meio de uma plataforma on-line onde já constam mais de 1,7 milhão de assinaturas.141 A

meta é chegar a 2 milhões.

O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec)142 foi fundado em 1987 por um grupo de

voluntários como uma “associação independente, sem vínculos com governos, empresas e partidos políticos, que lutasse pelo direito dos consumidores-cidadãos”. Em 1989, fez o primeiro teste em produtos e brinquedos, tornando-se a primeira associação civil brasileira de defesa do consumidor a testar produtos.143 Ajudou a construir o Código de Defesa do Consumidor, em

vigor desde, 1990.144

Na área da alimentação, destaque para a atuação do Idec na obtenção de liminar concedida pelo Judiciário, em 1998, impedindo o governo brasileiro de autorizar a comercialização no país da soja transgênica da Monsanto. De acordo com o Idec,145 a liminar

postergou até 2003 a liberação da soja, quando foi liberada por meio de medida provisória, a MP nº 131 de 25 de setembro de 2003146, convertida no mesmo ano na Lei nº 10.814/2003147.

A partir desse momento, o Instituto passou a desenvolver várias ações sobre alimentos transgênicos no Brasil para exigir das empresas e do governo mais informações à disposição do consumidor.

Em 2012, o Idec passou a integrar o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).148 No mesmo ano, lançou o Mapa das Feiras Orgânicas,149 plataforma

virtual que apresenta informações, receitas e uma ferramenta de busca que permite encontrar,

141 Informação coletada em 4 de janeiro de 2020.

142 Disponível em: https://idec.org.br/http%3A//www.idec.org.br/o-idec/vitorias%3Fid%3D36. Acesso em: 4 jan.

2020.

143 Disponível em: https://idec.org.br/conquista/primeiro-teste-em-produtos. Acesso em: 4 jan. 2020.

144 Disponível em: https://idec.org.br/http%3A//www.idec.org.br/o-idec/vitorias%3Fid%3D10. Acesso em: 4 jan.

2020.

145 Disponível em: https://idec.org.br/conquista/soja-transgenica-da-monsanto-proibida. Acesso em: 4 jan. 2020. 146 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/mpv/antigas_2003/131.htm Acesso em: 28 jan. 2020. 147 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2003/L10.814.htm Acesso em: 28 jan. 2020 148 Disponível em: https://idec.org.br/http%3A//www.idec.org.br/o-idec/vitorias%3Fid%3D66. Acesso em: 4 jan.

2020.

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por região, a localização e a quantidade das feiras orgânicas e grupos de consumo consciente existentes em todas as unidades da Federação.

Para promover o consumo de alimentos sem agrotóxicos, o Idec lançou, em 2016, a campanha “Mais Orgânicos”,150 fundamentada em três eixos: mais informação, mais

participação das mulheres e mais merenda escolar saudável.

Justificando a importância do eixo informação, o Idec defende que “o acesso à informação é uma importante ferramenta para a mudança de atitudes individuais e coletivas”.151

Para testar o conhecimento e ofertar informações sobre alimentos orgânicos e uso de agrotóxicos nos alimentos, o Idec realizou um quiz, aberto de outubro a novembro de 2016, com a participação de 1.817 internautas. Entre os resultados apresentados, 79% dos consumidores que participaram da enquete eletrônica estavam cientes “de que não é possível garantir a eliminação dos agrotóxicos dos alimentos”.152 O Idec defende o direito do consumidor de saber o que come

e, nesse assunto, se posiciona pela “restrição do uso de agrotóxicos”.153

Como é possível perceber pela trajetória das instituições, a Abrasco e o Idec, além do coletivo Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, desenvolvem ações conjuntamente sobre o tema agrotóxicos. A seguir, veremos como cada um deles se posicionou quando da divulgação das edições 2013-2015 e 2017-2018 do PARA.

No documento Direito à informação sobre agrotóxicos (páginas 121-124)