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Organizações missionárias no brasil 1.6 Missões: breve histórico 1.6 Missões: breve histórico

A palavra “missão” advém do latim e significa “ação de enviar, remessa, missão” (Conceito.de, 2012). Na Bíblia Sagrada esse conceito foi usado pela primeira vez no livro de Gênese, capítulo 12, nos versículos de 1 a 3, onde se lê:

Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei.

E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome;

e tu serás uma bênção.

E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem;

e em ti serão benditas todas as famílias da terra. (GÊNESIS 12:1-3)

Essa passagem da bíblia indica que haveria um tempo em que todas as famílias da terra seriam abençoadas com as boas novas de Cristo por meio da vida do patriarca da fé, Abraão. Logo, a ideia de sair para além das fronteiras geográficas, emocionais, ou culturais, já estava presente desde a fundação do cristianismo, por meio do envio que o Senhor Deus projetou em Abraão. Sua importância para a continuidade do movimento missionário até a atualidade reside no fato de que “[...] o “Senhor” que escolheu e chamou Abraão é o mesmo que no começo criou os céus e a terra e atingiu o clímax de sua obra criadora trazendo à existência o homem e a mulher, criaturas únicas feitas à semelhança dele. ” (STOTT, John R. W., 2009, p. 34)

A Bíblia Sagrada, em toda a sua narrativa, tem centralidade em Jesus. Essa Boa Nova que seria anunciada por Ele é o fato de a humanidade ser pecadora em sua essência, mas Deus em Sua infinita graça e misericórdia, ter enviado Seu único Filho, Jesus, para morrer e ressuscitar, garantindo a salvação espiritual e a volta do relacionamento pessoal com Deus, o qual fora rompido pela presença do pecado na vida humana. Portanto o Evangelho é o próprio Salvador; Ele é a boa notícia que deveria ser anunciada.

Entende-se, portanto, que todas as famílias da terra seriam benditas por meio de Abraão, o qual propagou o conhecimento a respeito do Deus Criador, e iniciou uma geração que aguardava a revelação do Salvador para remissão dos pecados. A bendição das famílias viria, então, por meio do conhecimento de que Jesus é este salvador esperado, e que Sua obra redentora na cruz é suficiente para o perdão dos pecados e a restauração da relação com Deus. Como escreve o apóstolo João, no capítulo 3, versículo 16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

A narrativa bíblica é dividida em dois momentos gerais, o antigo e o novo testamento. Ao longo dos relatos bíblicos deste primeiro, é possível perceber a relação do povo de Israel com Deus à medida em que a Divindade moldava Seus preceitos religiosos, para diferenciação deste povo dos demais. Já no novo testamento, com a chegada do Salvador Jesus, as relações passam a ser mais pessoais com o Deus Supremo. Tanto o é, que Jesus escolhe para andar junto a Ele doze discípulos que O acompanharam em Seu ministério, ou seja, na Sua função de estar a serviço dos outros.

Ao final dos três anos de pregação da Palavra de Deus e ensinamentos práticos, Jesus incube Seus seguidores mais próximos, os discípulos, a continuarem o trabalho de levar o Evangelho à todas as pessoas, como se vê no livro de Mateus, capítulo 28, versos de 18 a 20:

Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo:

- Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Vão, portanto, façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês. E eis que estarei com vocês todos os dias até a consumação do século. (MATEUS, 28:18-20).

Por meio desta autoridade de Jesus, a qual foi conferida aos discípulos pela menção do nome do Salvador, estes entenderam a necessidade de espalhar a palavra de salvação para todos, não apenas para os israelitas, como era o entendimento da época. Como o apóstolo Pedro diz em Atos 2:39, na Bíblia Sagrada, ao dirigir-se a estrangeiros: “Porque a promessa [da salvação] é para vocês e para seus filhos, e para todos os que ainda estão longe; isto é, para todos aqueles que o Senhor, nosso Deus, chamar. “

A partir de então, deu-se início à chamada Igreja Primitiva, a qual se reunia em casas, e era notadamente missionária ao pregar o Evangelho nas proximidades, dada a perseguição romana que já apresentava sinais de agravamento, no século 33 d.C.

Ao se desenvolver e crescer em número, é claro nos relatos bíblicos o destaque para um novo apóstolo, Paulo de Tarso, o qual priorizou a evangelização dos chamados

‘gentios’, termo que se refere aqueles que não faziam parte da nação de Israel.

Durante séculos, a igreja, que ao longo do tempo se consolidou na Igreja Católica, lutou para propagar o Evangelho, e, ao mesmo tempo, corrompeu-se do objetivo espiritual ao unir-se ao Estado, seja esse imperial ou monárquico, com destaque para a junção entre a instituição religiosa e o império romano, com o imperador bizantino Teodósio 1º, em 380 d.C. (DW, 2009).

Dentre cruzadas evangelísticas que envolviam massacres e imposição da fé cristã a povos estrangeiros, seguido ainda da aversão a povos considerados pagãos, como os vikings e os ciganos, a igreja cristã perdeu o centro do Evangelho. O conceito simples de salvação e perdão dos pecados por meio da graça, o que significa que não há necessidade de esforço humano para estas conquistas já que se trata de uma obra Divina, foi substituído pelas indulgências e a soberania papal, como coloca Richardson:

Por uma interpretação equivocada da Grande Comissão, por orgulho pelo choque cultural ou pela simples incapacidade de compreender os valores dos outros, temos desnecessariamente combatido costumes que não entendemos. Alguns, se tivessem entendido, teriam servido como chaves para a comunicação do evangelho! (RICHARDSON, 2009, p. 484)

É neste cenário de desvirtuação do cristianismo puro e simples, que a família real portuguesa, juntamente com a Igreja Católica, já que havia essa simbiose entre

as instituições, chegam ao Brasil. As chamadas Missões Jesuítas, primeiros indícios de missões em território nacional, configuravam-se de padres que tinham o objetivo de levar o Evangelho de Jesus aos nativos, porém, com a visão de evangelismo arcaica, em que se entendia que além da Palavra de Deus, era necessário colocar a cultura do evangelizador junto com os costumes cristãos.

Por isso, por muito tempo a influência cultural especialmente europeia, de onde vinham a maioria dos evangelistas, confundiu-se com os preceitos do cristianismo verdadeiro até o ponto onde a ideia de os personagens bíblicos serem representadas por características do continente europeu. Essas características culturais, segundo o chamado missionário cristão, são irrelevantes para a salvação, a qual é objetivo principal da propagação do Evangelho.