• Nenhum resultado encontrado

2.2 Estabelecendo o contexto teórico: os atores e processos da mudança de

2.2.1 Organizações da Sociedade Civil

Para situar o recorte proposto por esta pesquisa, torna-se também importante ter precisão conceitual e teórica sobre as organizações da sociedade civil. Neste passo, os apontamentos iniciais de Souza (2009), os esclarecimentos de Storto e Reicher (2014) e pesquisa realizada pela Associação Brasileira de ONGs em parceria com o Observatório da Sociedade Civil (2016) auxiliam a compreender as distinções entre os tipos de organizações da sociedade civil e suas formas de atuação ou relação com o Estado.

Cabe delimitar que, embora os termos Organização Não-Governamental (ONG) e Organização da Sociedade Civil (OSC) tenham significados equivalentes, a literatura privilegia o termo OSC. Isso porque, o termo ONG passou a ser usado pela ONU em referência a organizações internacionais com presença formal na ONU, mas sem representar governos, enquanto o termo OSC surge como representativo das organizações de defesa de direito (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ONGS; OBSERVATÓRIO DA SOCIEDADE CIVIL). Nestes termos, o objetivo das OSC’s consiste em desassociar a ação destas entidades da ação do Estado, o que aparece implícito na expressão organizações não-governamentais. De tal modo, as OSC’s configuram organizações autônomas, que surgem na sociedade com o propósito de promoção e defesa de direitos.

Para melhor distinguir a terminologia utilizada para referência às organizações do terceiro setor, elaborou-se o Quadro 2.

39

Quadro 2 - Tipologia das Organizações da Sociedade Civil

Tipologia Requisitos Característica principal

OSC Associação (reunião de pessoas) ou fundação (destinação de patrimônio) formal e livremente constituída para finalidade de interesse público.

Termo genérico e mais abrangente. Toda OSCIP, OS ou entidade filantrópica é uma OSC. Contempla toda a diversidade e heterogeneidade do segmento.

OSCIP Atendimento requisitos formais, existência há mais de três anos, inscrição em cadastros estaduais e municipais (Lei 9.7332/99).

Buscava segmentar as OSC’s mais consolidadas para celebração de parcerias. Ministério da Justiça monitora. Permitiu pela primeira vez a remuneração de dirigentes sem perda de isenção tributária sobre receitas. OS Estrutura de governança com conselho de

administração e diretoria, além de previsão de participação do poder público na gestão (Lei 9.637/98).

Qualificação para entidades privadas que viriam a executar serviços públicos delegados por meio de contrato de gestão.

Entidade Filantrópica OSC com CEBAS

Certificado de entidade beneficente de assistência social – fornece bolsas de estudo, leitos/atendimento ao SUS ou presta – com gratuidade, atividades de assistência indicadas pelo CNAS.

Isentos de benefício fiscal – não pagamento de contribuição previdenciária.

Fonte: elaboração própria, com base em Lopez (2018), Paes (2018) e Storto e Reicher (2014)

Dentre as pesquisas sobre o terceiro setor, especialmente sob a perspectiva jurídica, destacam-se os trabalhos de Modesto (1998) e Storto (2013) acerca da aplicação do direito público às entidades sem fins lucrativos; e, como obra de referência, a publicação de Paes (2018), que fixa os alicerces conceituais para um olhar mais acurado ao terceiro setor, distinguindo as categorias associação e fundação, bem como diferenciando os tipos de entidades entre organizações sociais, organizações sociais de interesse público e organizações filantrópicas. Tem-se, ainda, a tese de Doutorado de Souza (2009), que apresenta um panorama proficiente do terceiro setor e do fomento estatal antes de se debruçar sobre os controles exercidos pelo Estado.

Já sob o prisma interdisciplinar entre a ciência da administração e as ciências políticas, merece destaque o exposto por Paula (2005) sobre a administração pública societal. Segundo a autora, colocar em prática um projeto político deve compreender a ampliação da participação de diversos atores sociais na definição e consecução da agenda política; a criação de instrumentos que permitam o controle das ações estatais por parte da sociedade; e, mormente, a desmonopolização da formulação e da implementação de ações públicas.

Tal posicionamento é corroborado pelos trabalhos de Pinto (2006) e Reis (2009) no que tange à participação das OSC’s na política no Brasil, enquanto Medeiros (2009) traz à baila o dilema entre o engajamento crítico ou a cooperação das OSC’s com a administração. Trazendo

40 importante perspectiva para esta pesquisa, Lima Neto (2013) e Lopez e Abreu (2014) sublinham as percepções das ONG’s e dos gestores federais sobre as parcerias.

As pesquisas realizadas em parceria com entes oficiais caracterizando as OSC’s que firmam ajustes com a União e debatem os fatos estilizados sobre as parcerias, como o significativo aumento dos chamamentos públicos, refutam a ideia de que as parcerias constituiriam campo para possíveis favorecimentos (FGV PROJETOS, 2014, p. 43). A Figura 4 ilustra este cenário, revelando-se que já a partir de 2012, quase dois terços das parcerias observavam o chamamento público

Figura 4 – Evolução da participação do total das parcerias, excetuadas as realizadas no

âmbito do SUS, precedidos por chamamento público, 2008-2012.

Fonte: FGV Projetos (2014)

Junqueira e Figueiredo (2012), acerca da modernização do sistema de convênios da administração pública com a sociedade civil, identificaram os princípios norteadores e de diretrizes informadoras para a construção de uma nova política voltada ao futuro das relações de contratualização entre Estado e Sociedade Civil.

As pesquisas de Lopez e Bueno (2012) e Lopez e Barone (2013) trazem diagnóstico sobre as OSC´s, com dados estruturados sobre transferências federais a entidades privadas sem fins lucrativos, anotando o volume de recursos transferidos às entidades e delimitando um panorama sobre as características dos convênios e das OSC’s que firmaram parcerias com o governo federal. Em 2018, Lopez (2018) organizou ampla pesquisa do IPEA, com resultados

41 inovadores em relação aos levantamentos anteriores, com dados importantes para a compreensão atual do estágio de implementação do MROSC.

Por fim, tem-se ainda os artigos de Oliveira (2009), Faria (2010) e Costa (2017) que abordam os possíveis avanços na construção de uma agenda convergente entre organizações da sociedade e a administração pública, além de Mendonça e Falcão (2016), que se debruçam sobre os efeitos que poderão advir do MROSC.