ORIENTAÇÃO

O quarto elemento que compõe a estrutura linguística do sinal das línguas de sinalizadas é o parâmetro Orientação, que, algumas vezes, também tratado como Direcionalidade, não deve ser confundido com a categoria direcionalidade presente nas situações de identificação e caracterização do parâmetro Movimento, conforme abordado anteriormente. Aqui, diz respeito à direcionalidade, especificamente, da palma da mão, ainda que essa aconteça em meio à direcionalidade da movimentação durante a realização de um sinal. Para Felipe e Monteiro (2006, p. 23), os sinais têm uma direcionalidade com relação aos demais parâmetros, ou seja, a mão, disposta em algum formato, tocando algum ponto de articulação ou se realizando no espaço neutro, com movimentos ou não, apresenta uma orientação da palma da mão específica.

Ferreira (2010, p. 41) conceitua esse parâmetro como sendo a direção da palma da mão durante o sinal. Essa perspectiva é adotada por igual por Quadros e Karnopp (2004, p. 59) quando diz que “orientação é a direção para qual a palma da mão aponta na produção do sinal”. A primeira autora coloca, além disso, a possibilidade de haver mudança nesse parâmetro durante a execução do parâmetro Movimento, isto é, um determinado sinal pode iniciar com a palma da mão orientada de uma forma e, a partir de uma movimentação específica e inerente ao sinal, terminar com a palma da mão de outra forma (cf. Figura 23 - Sinal NÃO QUERER, p. 68).

A categorização do parâmetro Orientação da palma da mão em Libras foi feita também por Ferreira (2010, p. 41) com base, ainda, nas orientações da palma da mão da Língua de Sinais Americana. Os tipos de orientações da palma da mão identificados foram:

palma para cima, palma para baixo, palma para o corpo, palma para a frente, palma para a esquerda e palma para a direita. Quadros e Karnopp (2004, p. 59-60), em uso dessa

categorização da palma da mão já delineada, organizam as seguintes representações da palma da mão da Libras:

Figura 22 - Orientações de palma da mão da Libras

Fonte: Quadros e Karnopp, 2004, p. 59-60.

Conforme percebido, algumas das classificações do parâmetro Orientação retratadas nas ilustrações acima apresentam denominações distintas em relação às orientações da palma da mão ressaltadas primariamente. Entretanto, se observado atentamente a direcionalidade da palma da mão propriamente dita em cada figura, é possível verificar propostas de orientações equivalentes àquelas nomeações particulares. As orientações para dentro e para fora correspondem, respectivamente, às direcionalidades palma para o corpo e palma para frente. E a orientação para o lado, ora subdividida em contralateral e ipsilateral, representada nas duas últimas imagens, equivale às direcionalidades palma para a esquerda e palma para a

direita.

Desse modo, constata-se que o inventário das direcionalidades da palma da mão atende a uma espécie de arranjo disposto em pares opostos, por se tratar de orientações visivelmente contrárias no que confere ao posicionamento da palma da mão. Isso não significa, de maneira alguma, que tais orientações são concorrentes e/ou que elas não possam ser empregadas ao mesmo tempo na formulação de um sinal, pelo contrario, há sinais que possuem mais de um tipo de direcionamento na sua estruturação, por exemplo, as orientações

a mão aberta com a palma para cima, e dedos separados e curvados, movendo-a para trás em direção ao corpo, e virando a palma para baixo, com o giro da cabeça para a esquerda e para a direita, carregada de expressão negativa (cf. CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURÍCIO, 2015, p. 1775) –, que é realizado, inicialmente, com a palma da mão disposta para cima, e, em seguida, na medida em que o sinal se desenvolve, com a palma da mão direcionada para baixo, conforme a figura abaixo.

Figura 23 - Sinal NÃO QUERER

Fonte: Capovilla; Raphael; Maurício, 2015, p. 1775.

A distinção entre os sinais na Libras também pode ser percebida a partir do parâmetro Orientação. O uso de direcionalidades da palma da mão específicas ocasiona a realização de sinais diferentes, como acontece com o sinal TELA, que é formado pela palma da mão direcionada para frente, estando lado a lado, em configuração de L e como movimentos alternados para cima e para baixo, e com o sinal TRABALHAR, que é composto pela palma da mão direcionada para baixo, na altura da cintura, estando lado a lado, em configuração de L e como movimentos alternados para frente e para trás.

Figura 24 - Sinal TELA

Fonte: Capovilla; Raphael; Maurício, 2015, p. 2341.

Figura 25 - Sinal TRABALHAR

Fonte: Capovilla; Raphael; Maurício, 2015, p. 2393.

Visivelmente, o que distingue essas duas sinalizações é a orientação da palma da mão executada em cada uma delas. Nesse sentido, tem-se, no primeiro sinal, a palma da mão

direcionada para frente ou, do mesmo modo, para fora, e, no segundo sinal, a palma da mão direcionada para baixo, o que significa dizer que essa mudança de direcionalidade da palma da mão, aparentemente simples, provoca um efeito representativo na mudança de significado entre esses sinais. Contexto semelhante acontece entre os sinais BATIMENTO e NÚMERO. Esse, com a palma da mão para baixo, forma-se com a mão em S, tocando o lado esquerdo do peito, com movimento para frente e para trás, e aquele, da mesma forma, mas com a palma da mão direcionada para cima (cf. CAPOVILLA; RAPHAEL; MAURÍCIO, 2015, p. 510 e p. 1919).

No geral, percebe-se que a presença desse parâmetro nos sinais faz toda diferença na constituição estrutural sinalizada da Libras, mostrando-se, por sua vez, tão importante quanto os demais parâmetros expostos até aqui. Nessa direção, verifica-se, ainda, que os autores citados comungam, em certa medida, da mesma perspectiva quanto à identificação e à caracterização das orientações da palma da mão as quais se mostram viáveis a fazerem parte da estrutura linguística dos sinais na Libras. Assim, esse pensamento harmônico evita que direcionamentos de toda natureza e até humanamente não realizáveis sejam considerados como elementos formadores dos sinais.