• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III ABORDAGEM EMPÍRICA

3.1. Orientações Metodológicas

Como o objetivo desta pesquisa não é categorizar, mas investigar e questionar as atividades, opiniões e percepções femininas em relação à beleza, considera-se que as técnicas de pesquisa qualitativas - entrevistas em profundidade – sejam mais apropriadas que as técnicas quantitativas.

De acordo com Moreira (2002), o foco da pesquisa qualitativa é a interpretação. Há um interesse em interpretar a situação em estudo sob o olhar dos próprios participantes; as perspectivas e percepções do entrevistado são valorizadas, a subjetividade é enfatizada. O autor aponta que a pesquisa qualitativa possui um caráter mais flexível que a pesquisa quantitativa. O processo de pesquisa é mais interessante, para o pesquisador, que o resultado

em si. O foco está em compreender a situação em análise, mais do que em encontrar respostas. Parte-se da premissa de que o contexto influencia diretamente o comportamento das pessoas e a formação de suas experiências.

Tendo como objetivo investigar a percepção que cada uma das entrevistadas tinha de sua posição social, assim como a forma que elas reagiam aos padrões de opressão, optou-se justamente por métodos mais flexíveis, que fossem capazes de abarcar a subjetividade de cada mulher. Com isso em mente, o tipo de entrevista utilizada na pesquisa foi a semi-estruturada.

Moreira (2002) posiciona as entrevistas semi-estruturadas no meio termo entre as estruturadas e as completamente abertas. A característica que levou à escolha desse tipo de entrevista foi que, diferente da entrevista estruturada, não há obrigatoriedade de que todas as perguntas sigam uma mesma ordem e sejam apresentadas com as mesmas palavras. A possibilidade de flexibilização do vocabulário foi fundamental para a pesquisa, posto que ela se propôs a entrevistar mulheres com trajetórias e posições sociais distintas.

É importante assinalar que, como estudante universitária, a pesquisadora tem entendimento sobre certos conceitos que não são compreendidos igualmente por todas. Ainda que tenha havido a preocupação de elaborar perguntas simples, por vezes, foi considerado necessário, no momento da entrevista, adaptar algumas sentenças para a melhor compreensão da entrevistada. A flexibilidade na sequência de perguntas também foi importante para que as entrevistas ocorressem de forma espontânea, como uma conversa em que a entrevistada é possibilitada a refletir sobre as questões e adequá-las à sua realidade.

A escolha por entrevistas semi-estruturadas também se deu pela possibilidade de, além das perguntas previamente determinadas, incluir questões não previstas, dependendo das respostas das entrevistadas. A possibilidade de relativização e de inclusão de perguntas é capaz de fornecer às entrevistas semi-estruturadas um maior entendimento das questões

estudadas, por tornar possível uma reconfiguração das entrevistas durante as suas execuções. Metodologicamente, pretendeu-se verificar como as mulheres compreendem o

impacto dos dispositivos da beleza nas suas vidas, como eles atravessam suas vivências, organizam práticas e as constituem como sujeitos. Para tanto, optou-se por uma amostra de dez entrevistadas, residentes de diferentes bairros do Distrito Federal.

Segundo Gil (1999), uma amostra deve ser representativa da população que se pretende estudar. Por se tratar de uma monografia, portanto, um estudo de tamanho limitado, e de uma pesquisa qualitativa, o número de entrevistadas (dez) foi estimado como suficiente

para abarcar uma variedade de opiniões e vivências considerável. Representando a multiplicidade que compõe a “categoria mulher”, sem tornar o trabalho excessivamente extenso. Como já mencionado, o objetivo do trabalho não é encontrar respostas, mas apresentar um recorte da realidade da desigualdade de gênero nas sociedades contemporâneas.

O tipo de seleção de amostragem escolhido foi o que Gil (1999) denomina de “amostragem por acessibilidade ou por conveniência”. O pesquisador seleciona os elementos que tem acesso, assumindo que esses possam representar o universo estudado. No caso desta pesquisa, as mulheres foram selecionadas através de conhecidos da pesquisadora. Foram contatadas colegas de trabalho, familiares ou funcionárias dos mesmos. Dessa forma, o contato entre a entrevistadora e as entrevistadas foi facilitado, assim como seleção de um grupo diversificado.

Segundo Gil (1999), esse é o tipo de amostragem mais usado em estudos qualitativos, por não exigir alto grau de precisão. A intenção deste estudo é promover a reflexão e discussão sobre o tema, procurando identificar padrões que podem complementar o debate teórico com análises empíricas.

Utilizou-se um roteiro básico de questões que foram exploradas no decorrer de cada entrevista, com base nas respostas obtidas. As entrevistas foram divididas em dois blocos de questões. O primeiro bloco, contendo 16 questões abertas, tinha como objetivo conhecer a relação da entrevistada com a sua aparência. A partir dessas respostas seria analisado como está internalizado o controle feminino por meio dos dispositivos de beleza. O segundo bloco, com 13 questões abertas, visava observar a reflexão das entrevistadas a respeito da cobrança da beleza feminina, pessoalmente, mas, principalmente, socialmente. Ou seja, como elas entendiam a pressão imposta às mulheres, enquanto grupo. O Roteiro de Entrevista está disponível para consulta no Anexo 1, ao final desta monografia.

O número de perguntas foi pensado de forma a explorar o tema de forma satisfatória, ensejar a reflexão das entrevistadas na elaboração das respostas, sem tornar a entrevista cansativa ou inconveniente. Foi levado em consideração que algumas entrevistas seriam feitas no local de trabalho das entrevistadas, ou entre outros compromissos. Considerou-se importante que as entrevistadas não tivessem que se apressar nas respostas. Por isso, calculou- se um número de perguntas que, respondidas satisfatoriamente, tomariam, em média, vinte minutos das entrevistadas, dispêndio de tempo considerado apropriado.

O roteiro e a técnica de construção de dados foram testados, por meio de um piloto, com três mulheres. Durante o teste, como foi durante toda a pesquisa, teve-se o cuidado de escolher entrevistadas com vivências diferenciadas. A partir do teste do questionário foram eliminadas questões que não tiveram o retorno esperado pela pesquisadora, modificado o vocabulário de algumas perguntas para compreender uma variedade maior de experiências pessoais e adicionadas novas questões que surgiram durante o processo de teste. O piloto foi responsável por mostrar a viabilidade da execução do trabalho como previsto.

Documentos relacionados