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As orientações programáticas no ensino/aprendizagem das línguas estrangeiras no que diz respeito à competência

Perante a mobilidade crescente dos povos nos últimos anos, as Nações Unidas e a União Europeia têm vindo a tomar medidas que favorecem uma educação plurilingue e pluricultural para que nasça o tão desejado cidadão responsável que seria capaz de assumir um papel de mediador entre as diversas culturas.

 A nível europeu

 O Conselho da Europa

Com a abertura do espaço europeu, existe uma mobilidade constante dos cidadãos que obriga as instituições a fazerem um esforço de forma a reduzir as diferenças existentes nos diversos países relativamente ao ensino/aprendizagem das línguas estrangeiras.

Nesse sentido foi criado, em 2001, o QECR que permitiu definir níveis de posicionamento do domínio das línguas para todos os países da Europa. Além do mais, este

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documento refere as capacidades que o sujeito deve possuir. Nele, podemos encontrar uma clara referência à necessidade de desenvolver a consciência intercultural de forma a promover a harmonia entre os diversos povos que coabitam neste espaço.

“O aluno de uma segunda língua (ou língua estrangeira) e de uma segunda cultura (ou de cultura estrangeira) não perde a competência da sua língua e cultura maternas e a nova competência em curso de aquisição também não é totalmente independente da precedente. O aprendente não adquire duas maneiras estrangeiras de agir e de se comunicar. Ele torna-se plurilingue e aprende a interculturalidade. As competências linguísticas e culturais relativas a cada língua são modificadas pelo conhecimento da outra e contribuem para a conscienlização, para as habilidades e para as realizações interculturais. Elas permitem que o indivíduo desenvolva uma personalidade mais rica e mais complexa e aumenta a sua capacidade para aprender outras línguas estrangeiras e se abrir a novas experiências culturais” (Conselho da Europa, 2001: 40)

O aprendente aqui apresentado corresponde ao perfil do falante intercultural que já referimos no presente trabalho. Contudo, podemos acrescentar que o recurso aos conhecimentos anteriores irão permitir-lhe criar um repertório linguístico que irá aumentando à medida que ele aprenderá outras línguas.

Podemos também ver de que forma a interculturalidade está presente no quadro das competências gerais. Essas competências, apresentadas em 1994 por Byram e Zarate, são o saber, o saber-fazer, o saber-ser e o saber-aprender/fazer. Sendo Byram um dos coautores, é legítimo voltarmos a encontrar as competências referidas no perfil do falante intercultural.

Entre os outros projetos anteriores do Conselho da Europa, destacamos também a criação de programas que favorecem a educação intercultural. Um desses programas é o programa Comenius, orientado para o desenvolvimento de iniciativas internacionais e a formação de professores. Um outro é ainda o programa Erasmus, que favorece a mobilidade de estudantes universitários dentro de países da União Europeia. Destacamos também a criação, em 1995, do Centro Europeu para as Línguas Modernas que encoraja os projetos de pesquisa na área da educação e da didática das línguas para preservar a diversidade linguística e cultural existente na Europa.

Todos estes projetos visam o desenvolvimento de uma CCP. O QECR define esta competência da seguinte forma: “A capacidade para utilizar as línguas para comunicar na

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interação cultural, na qual o indivíduo, na sua qualidade de ator social, possui proficiência em várias línguas, em diferentes níveis, bem como experiência de várias culturas” (idem:231)

Uma vez mais voltamos ao falante intercultural que, mais do que possuir o domínio perfeito de várias línguas, tem um conhecimento diferente de cada uma delas, mas apresenta uma abertura ao outro que permite a construção de um espaço europeu onde, apesar da diversidade linguística, haja harmonia e intercompreensão.

 A nível nacional

 O programa de Espanhol do Ensino Secundário.

O programa de Espanhol do Ensino Secundário defende também que o ensino desta língua estrangeira deve ir muito além do simples desenvolvimento de uma competência linguística, tendo presente que o ensino da língua é indissociável do ensino da cultura.

“Subjaz a estes programas um conceito de língua como instrumento privilegiado de comunicação, como espaço de apropriação/expressão do eu e como instrumento para representar a realidade e apropriar-se dessa mesma realidade. Assim, ao aprender uma língua, não se adquire exclusivamente um sistema de signos mas, simultaneamente, os significados culturais que os signos comportam i.e., o modo de representar a realidade” (Programa de espanhol do ensino secundário: 3).

Além do mais, o ensino da língua estrangeira é encarado como um contributo para o desenvolvimento de competências do ser humano em várias dimensões. “O aluno que inicia a aprendizagem de uma língua estrangeira passa a dispor de um poderoso meio de desenvolvimento pessoal, de integração social, de aquisição cultural e de comunicação.” (ibidem)

Estando o programa desta disciplina norteado pelo QECR para as línguas, também ele visa o desenvolvimento de uma competência intercultural.

“A capacidade de comunicar numa língua estrangeira e o conhecimento da mesma proporcionam uma melhor compreensão da língua materna, pois promove-se a reflexão sobre o funcionamento de ambas. Simultaneamente o contacto com outras culturas, quer através da língua, quer de uma abordagem intercultural, favorece o respeito por outras formas de pensar e atuar e proporciona a construção de uma visão mais ampla e rica da realidade.” (ibidem)

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O próprio programa de espanhol refere que o conhecimento do sistema de uma outra língua vai permitir ao aluno desenvolver uma consciência metalinguística na sua própria língua, contribuindo, desta forma, a um melhor conhecimento da sua língua materna. Além do mais, o contacto com outras culturas permite-lhe abrir o seu modo de pensar, contactar com outras realidades que lhe proporcionam uma outra perspetiva o que lhe permitirá refletir sobre as suas práticas culturais e tomar consciência do relativismo que enquadra o seu modo de agir e de pensar.

Ao desenvolver a CCI propõe-se também contribuir para a educação para a cidadania. “É ainda de salientar que os objetivos desta disciplina, assim como muitos dos seus conteúdos, colaboram decisivamente na formação para a cidadania democrática, por se desenvolverem capacidades de comunicação e se fomentar o diálogo intra e intercultural, enfatizando, assim, a valorização do outro, o respeito e a cooperação” (ibidem)

A leitura deste documento permite-nos tomar consciência que quer as abordagens propostas pela didática das línguas atualmente, quer o programa de Espanhol caminham na mesma direção: desenvolver um espírito de aproximação ao outro e o respeito e a aceitação da sua diferença. Para além disso, o aluno do seculo XXI deve ser capaz de mobilizar todo seu repertório linguístico para comunicar com o outro e, com ele, trabalhar em conjunto. No entanto, se formos a ver as práticas efetivas dos docentes, na realidade que conhecemos, temos a sensação que a abordagem comunicativa é a abordagem que predomina. Cada professor limita-se a ensinar a sua disciplina, como se esta entrasse num determinado compartimento do cérebro do aluno e não se pudesse relacionar com os outros conhecimentos que este tenha adquirido anteriormente. Notamos ainda que as línguas presentes no currículo do aluno estão em constante rivalidade, porque, em vez de pensar na perspetiva do discente e na riqueza que todas estas lhe poderiam trazer, os professores estão preocupados em manter o seu posto de trabalho e pressionam os alunos para que estes continuem com a mesma língua. Seria necessário investir mais na formação contínua de professores para que estes princípios não se limitassem a simples teorias, mas que passassem efetivamente para a prática letiva.

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CAPÍTULO II

A abordagem das expressões idiomáticas em aula de Língua Estrangeira

numa perspetiva intercultural

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Acreditamos que uma das formas de contribuir para o desenvolvimento da CCI passa pelo estudo das expressões idiomáticas (E.I’s). De facto, nas E.I’s, cada cultura define a sua visão do mundo, pois “As expressões integram o melhor sistema de símbolos para representar uma identidade cultural” (Jorge, 2001:216) e, de acordo com Bizarro (2004), “Ao conhecermos outros modos de categorizar a realidade, ficamos a saber que a forma de categorização própria da nossa cultura não é universalmente válida, que ela é apenas a forma de o fazer na cultura em que estamos inseridos, pois há outras igualmente legítimas e operativas” (p 64). Antes de verificarmos de que forma se pode trabalhá-las em sala de aula, começaremos por definir o conceito de expressão idiomática (E.I).