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4. RESULTADOS DA PESQUISA

4.1 A origem da accountability entre o IMPA e o MCTIC

O primeiro contrato de gestão celebrado entre o IMPA e a União, por intermédio do então Ministério da Ciência e Tecnologia (atual MCTIC), foi assinado em 23 de janeiro de 2001 com a finalidade de fomento e execução de atividades de pesquisa, difusão do conhecimento, capacitação científica, desenvolvimento tecnológico e melhoria do ensino na área de matemática, por meio do estabelecimento de parceria entre as partes contratantes (IMPA, 2001).

Um novo contrato com a mesma finalidade foi assinado em maio de 2010. O documento previu seis macroprocessos: (i) pesquisa; (ii) intercâmbio científico; (iii) ensino; (iv) desenvolvimento tecnológico; (v) informação científica; e (vi) desenvolvimento institucional. Para monitorar esses macroprocessos o contrato de gestão previu 17 indicadores e as respectivas metas, elaborados com base em critérios de eficiência, eficácia e efetividade (IMPA, 2010).

Esses contratos de gestão foram firmados com fundamento na Lei nº 9.637, de 15 de maio de 1998, que dispõe sobre o Programa Nacional de Publicização e a qualificação de entidades como organizações sociais, entre outras providências. Tanto a norma quanto o contrato preveem que a execução desses contratos será realizada sob a supervisão do MCTIC.

Art. 8o A execução do contrato de gestão celebrado por organização social será

fiscalizada pelo órgão ou entidade supervisora da área de atuação correspondente à atividade fomentada (BRASIL, 1998).

CLÁUSULA TERCEIRA: DAS OBRIGAÇÕES DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL. Além dos demais compromissos assumidos, o IMPA obriga-se a: (i) observar, na condução dos processos, trabalhos técnicos e de pesquisas, as diretrizes do ÓRGÃO SUPERVISOR expressas no anexo IV; (ii) cumprir as metas relacionadas no Anexo I, contribuindo para o alcance dos objetivos estratégicos enumerados na Cláusula Segunda deste instrumento contratual (IMPA, 2010, p.3).

A supervisão ministerial, prevista tanto no contrato de gestão quanto na Lei nº 9.637/1998, ocorre essencialmente por meio do controle de resultados, realizado periodicamente, por uma comissão específica, constituída para avaliar os resultados alcançados a partir da execução do contrato de gestão.

Art. 8o [...] § 1o A entidade qualificada apresentará ao órgão ou entidade do Poder

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momento, conforme recomende o interesse público, relatório pertinente à execução do contrato de gestão, contendo comparativo específico das metas propostas com os resultados alcançados, acompanhado da prestação de contas correspondente ao exercício financeiro (BRASIL, 1998).

Art. 8º [...] § 2o Os resultados atingidos com a execução do contrato de gestão devem

ser analisados, periodicamente, por comissão de avaliação, indicada pela autoridade supervisora da área correspondente, composta por especialistas de notória capacidade e adequada qualificação (BRASIL, 1998).

CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA: DA PRESTAÇÃO DE CONTAS. O IMPA elaborará e apresentará ao ÓRGÃO SUPERVISOR relatórios circunstanciados anuais de execução deste Contrato de Gestão, comparando os resultados com as metas previstas, acompanhado de demonstrativos da adequada utilização dos recursos provenientes do Poder Público, das análises gerenciais cabíveis e de parecer técnico conclusivo sobre o período em questão (IMPA, 2010, p.8).

Sob a perspectiva da teoria da agência (JENSEN; MECKLING, 1976), pode-se enxergar nesse contrato de gestão uma relação de agência em que o MCTIC exerce o papel de principal e o IMPA atua como agente, uma vez que existe uma delegação, do Ministério para o Instituto, da prestação de um serviço de interesse público por meio do contrato de gestão.

Nessa relação, o principal (MCTIC) não possui uma informação completa sobre o comportamento do agente (IMPA), pois a fiscalização do Ministério sobre a execução do objeto do contrato de gestão ocorre essencialmente mediante controle de resultados ao invés dos processos, uma vez que as organizações sociais têm autonomia financeira e administrativa, respeitadas as condições descritas em lei específica (BRASIL, 1995). Logo, essa relação principal-agente é caracterizada por uma assimetria de informação.

A existência dessa assimetria de informação pode ser corroborada pela quantidade de instrumentos previstos para atenuar essa lacuna informacional. O contrato de gestão, por exemplo, prevê a elaboração pelo IMPA de um Plano de Ação Anual, contendo os macroprocessos, a previsão de despesas detalhadas, bem como uma proposta de Quadro de Indicadores e Metas de Desempenho e de Cronograma de Desembolso dos recursos a serem repassados. Além disso, o contrato de gestão prevê a elaboração de relatórios gerenciais detalhando as atividades realizadas, bem como a publicação dos regulamentos próprios de pessoal e recursos humanos e de compras e contratações de bens e serviços (IMPA, 2010).

Figura 7 – Contrato de gestão MCTIC/IMPA sob a perspectiva da teoria da agência

65 Segundo a teoria da agência, existe a possibilidade de o agente adotar um comportamento oportunista ao buscar maximizar a utilidade do contrato para satisfazer seus próprios interesses em detrimento dos interesses do principal. Esse comportamento, conhecido como problema de agência, decorre sobretudo da assimetria de informação existente entre o principal e o agente. Sendo assim, faz-se necessário reduzir essa assimetria informacional por meio de mecanismos que permitam ao principal monitorar comportamento do agente, de modo que sua atuação esteja em consonância com os interesses do principal.

Nesse sentido, além da prestação de contas junto ao ministério supervisor, o contrato de gestão prevê outros instrumentos e mecanismos para reduzir essa assimetria de informação, tais como a possiblidade de solicitar informações complementares a qualquer tempo e os relatórios gerenciais e financeiros.

CLÁUSULA TERCEIRA: DAS OBRIGAÇÕES DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL. Além dos demais compromissos assumidos, o IMPA obriga-se a: [...] (v) Elaborar e encaminhar ao ÓRGÃO SUPERVISOR, após devidamente aprovados pelo Conselho de Administração, os relatórios gerenciais de atividades detalhados, na forma e no prazo por este definido; (IMPA, 2010, p.3).

CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA: DA PRESTAÇÃO DE CONTAS [...] Subcláusula Primeira - O ÓRGÃO SUPERVISOR poderá exigir do IMPA, a qualquer tempo, informações complementares e a apresentação de detalhamento de tópicos e informações constantes dos relatórios (IMPA, 2010, p.8).

CLÁUSULA DÉCIMA SEGUNDA: DA PRESTAÇÃO DE CONTAS [...] Subcláusula Terceira – Caberá ao IMPA promover, até quinze de março de cada ano, a publicação no Diário Oficial da União dos relatórios financeiros e de execução deste Contrato de Gestão, relativos ao exercício financeiro anterior e aprovados pelo Conselho de Administração, bem como em jornal de circulação nacional e por meio eletrônico de divulgação (IMPA, 2010, p.8).

Esses instrumentos e mecanismos, juntamente com a prestação de contas, integram o processo de accountability entre o IMPA (agente) e o MCTIC (principal). Também fazem parte desse processo os próprios resultados alcançados pelo Instituto, bem como os instrumentos utilizados para incentivar seu alcance, tais como recompensas e sanções.

Entretanto, a despeito divergência de interesses entre principal e agente prevista pela teoria da agência e da natureza contratual da relação entre o IMPA e MCTIC, observa-se que as finalidades institucionais são bastante semelhantes. A área de competência do MCTIC sobre políticas nacionais de pesquisa científica e tecnológica e de incentivo à inovação prevista no Decreto nº 8.877 (BRASIL, 2016) parece plenamente compatível com a missão do IMPA, prevista em seu estatuto social:

Art. 4º A ASSOCIAÇÃO [IMPA] tem por missão a realização de pesquisas em ciências matemáticas e afins, a formação de pesquisadores, a difusão do conhecimento matemático, e sua integração com outras áreas da ciência, cultura, educação e do setor produtivo (IMPA, 2013, p.2).

66 Nesse aspecto, a teoria do stewardship (DONALDSON; DAVIS, 1991) pode contribuir para a compreensão dessa relação decorrente do contrato de gestão entre o IMPA e o MCTIC. Segundo a teoria do stewardship, não há nenhum problema quanto à motivação dos gestores do Instituto, pois eles desejam administrar bem os recursos recebidos e realizar um bom trabalho, buscando o interesse coletivo. Logo, se não há problemas de motivação, a teoria do stewardship defende que a estrutura em que o IMPA está inserido será capaz de afetar seu desempenho.

De acordo com a teoria do stewardship, o comportamento do agente (IMPA) não é regido pelo seu próprio interesse, mas por uma postura colaborativa. Os gestores não são motivados apenas por fatores financeiros, mas pela satisfação interna oriunda da execução de um trabalho desafiador, da autoridade exercida e da responsabilidade recebida. Assim, o desempenho do IMPA será tão bom quanto sua estrutura de governança.

Nesse sentido, além da ausência de finalidade lucrativa do Instituto, o fato dos dirigentes serem pesquisadores integrantes de seu corpo científico, conforme Quadro 10, parece favorecer o entendimento de que os interesses dos agentes (gestores) estão alinhados com a missão institucional do IMPA e, portanto, compatíveis com os interesses do MCTIC.

Quadro 10 – Dirigentes do IMPA por vínculo e área de atuação

CARGO VÍNCULO ÁREA

Diretor-Geral Pesquisador titular

Doutor, IMPA

Sistemas Dinâmicos e Teoria Ergódica

Diretor-Adjunto Pesquisador titular

Doutor, Univ. Paris VII Probabilidade Coordenador de

Informação Científica

Pesquisador associado

Doutor, The University of Texas

Análise e Equações Diferenciais Parciais Coordenador de Atividades Científicas Pesquisador titular Doutor, IMPA Geometria Complexa e Folheações Holomorfas Coordenador de Ensino Pesquisador titular

Doutor, Univ. of California, Berkeley Geometria Simplética Coordenador de

Administração Não identificado -

Coordenador de

Informática Não identificado -

Coordenador de

Planejamento e Projetos

Pesquisador titular

Doutor, New York University Probabilidade Coordenador de

Projetos Especiais

Pesquisador titular

Doutor, Univ. Paris VII Probabilidade

Coordenador Financeiro Não identificado -

67 Portanto, diante da complexidade da relação entre o IMPA e o MCTIC, considerando a existência de uma relação de agência resultante do contrato de gestão, bem como a existência de uma afinidade de interesses entre o agente (IMPA) e o principal (MCTIC), utilizou-se uma abordagem integrada entre a teoria da agência e a teoria do stewardship para superar as limitações de cada teoria. Desse modo, buscou-se compreender e explicar, de forma satisfatória, o processo de accountability decorrente do contrato de gestão.

Diante do exposto, considerando que o processo de accountability objeto da presente pesquisa tem origem nessa relação contratual entre o IMPA e o MCTIC, faz-se necessário compreender como ocorre essa relação. Após a compreensão da relação entre o IMPA e o MCTIC, será possível explicar como ocorre o processo de accountability entre eles e averiguar sua influência sobre o alcance dos resultados pactuados.

Para compreender a relação de agência decorrente do contrato de gestão celebrado entre o IMPA e o MCTIC, buscou-se, no tópico a seguir, a partir da análise dos dados coletados, identificar seus principais elementos, ou seja, os produtos e resultados decorrentes dessa relação, bem como os principais insumos, sejam eles providos ou não pelo MCTIC.