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Origem das Comunidades de Quilombos, na Estrutura da Sociedade Escravagista de Irará

O SIGNIFICADO DOS NOMES:

1.1 Origem das Comunidades de Quilombos, na Estrutura da Sociedade Escravagista de Irará

Paralelamente ao projeto de aldeamentos jesuíticos, a exploração colonial se efetivou na região de Irará no fim do século XVII e início do XVIII, data básica, 1717, com as entradas dos capitães Antonio Homem da Afonseca Correia e Diogo Alves

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ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. 3. ed. Belo Horizonte : Itatiaia/Edusp, 1982. (Coleção Reconquista do Brasil).

lxix Campos130. Naquele período, Irará pertencia à vila de Cachoeira. Foram instalando fazendas e engenhos, na localidade, dentre os quais, o Engenho Buril era visto como o mais próspero, e localizava-se na região que hoje corresponde ao atual município de Pedrão131

Com a implantação do projeto da colonização em Irará, passou a existir uma sociedade baseada numa empresa do colono branco, de caráter mercantil, para produção de gêneros de grande valor comercial, a qual contava com o trabalho de indígenas ou negros africanos. Essa hierarquia configurava uma ordenação estamental da sociedade, com grupos fechados, definidos por direitos de sangue, ou seja, uma ordem senhorial, em que ainda predominam os valores da fé e da honra pela posse e domínio políticos, sem exploração do lucro

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Os senhores, donos da propriedade fundiária, eram os indivíduos brancos que recebiam da coroa um lote de terras para promoverem o desenvolvimento da colônia. Nessa sociedade estamental, quem possuía o maior status era o senhor dono de terras, o fazendeiro. Além de ter terras, os fazendeiros também tinham poder político e controlavam as Câmaras Municipais. Eles também eram responsáveis pelo ordenamento da hierarquia social arquitetou uma demarcação da propriedade privada, sobretudo por meio da obtenção de terras e de poderes que decorriam da influência da propriedade fundiária.

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No Arquivo Público de Irará há alguns documentos que expressam a estrutura social desse período. Essas fontes históricas são interessantes na análise da organização dessa sociedade. Existem alguns inventários, livros de notas de tabelião, registros de compra e venda e hipoteca de propriedades, e receitas e despesas das Igrejas. Os inventários e livros de notas de tabelião são ricos em dados sobre a importância da terra como fonte permanente de renda, assim como também os registros de compra e venda e hipoteca de propriedades, que informam sobre as várias formas de ocupação desse território. Por meio dessa documentação, também é possível perceber como a propriedade fundiária organizou a sociedade iraraense do período da colonização.133

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NOGUEIRA, Aristeu. Histórico do Município de Irará. Prefeitura Municipal de Irará, 1988. 131

Idem. 132

FAORO, Raimundo. Os donos do poder: Formação do patronato político brasileiro. 5. ed. Porto Alegre: Globo, 1979.

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Inventários dos moradores da vila de Nossa Senhora da Purificação dos Campos. Arquivo Público Municipal de Irará. Maço dos inventários(1790-1898).

lxx As inúmeras citações dos documentos (inventários, escrituras de compra e venda processos de demarcação de terras) anunciam como a estrutura fundiária da região foi montada134

Durante o século XVIII, os proprietários de terras iraraenses passaram a ter uma maior influência na vida político-administrativa local. Depois da instalação do arcebispado da Bahia, criaram-se freguesias no sertão, enormes, de oitenta, cem léguas ou mais. Ali era cobrado o imposto meio civil meio eclesiástico do dízimo. Os dizimeiros que o arrematavam, depois de ter feito a experiência, preferiam deixar para outros o trabalho da arrecadação: um dos fazendeiros ou qualquer pessoa capaz do interior em seu nome ia pelos vizinhos recolher os bezerros dizimados, pois a paga realizava-se em gênero. Depois de alguns anos, três ou quatro conforme a convenção, prestava contas e cabia-lhe pelo trabalho um quarto do gado, exatamente como aos vaqueiros. Essas medidas visavam à criação de núcleos de controle administrativo, como as vilas. Com esse controle maior, os espaços regionais prosperaram

. Assim, aparecem as roças, sítios e posses, os quais possibilitaram uma compreensão do campesinato naquela economia e a análise da dinâmica da pequena produção na região. Esses mesmos documentos podem mostrar a diversificação da economia nas fazendas de gado, quando se referem aos engenhos e às casas de farinha.

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Conforme os registros de monsenhor Renato Galvão, a biblioteca do Vaticano guarda os originais do relatório do arcebispo D. João Franco de 1694, incluindo São José como freguesia. O Centro de Estudos Feirenses, localizado no Museu Casa do Sertão, na Universidade Estadual de Feira de Santana, guarda informações sobre a capela de Água Fria, através de um livro de batizados e casamentos da freguesia de São José das Itapororocas, no período de 1685 a 1710. A freguesia unia as paróquias às comunidades vizinhas. Dentro do território que abrangiam as paróquias, as quais desenvolviam ações religiosas, como casamentos, batismos e registros de óbitos. Ou seja, essa estrutura vinculada à Igreja funcionava como um corpo administrativo. Durante todo o século XVIII e início do XIX, a Freguesia de São José pertenceu à vila de Cachoeira.

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Além desses, os livros de batismos, óbitos e também os inventários são fontes imprescindível para se conhecer a organização de família, branca, indígena, negra e mista entre índios e negros, brancos e índios, brancos e negros.

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CAPISTRANO DE ABREU, J. 1928. Capítulos de História Colonial (1500-1800). Edição da Sociedade Capistrano de Abreu. Typographia Leuzinger.

lxxi Essa região já era bastante povoada na época. Existia um número bem expressivo de propriedades. Assim, os senhores passaram a adquirir bens, como escravos. Os bens inventariados fornecem assim, uma fonte de respostas para indagações referentes ao peso de cada categoria de bens no total de ativos, especialmente o estoque de escravos, e à evolução desses pesos ao longo do tempo. Quase sempre os fazendeiros do Sertão eram senhores de muitas terras, que moravam nas fazendas e dirigiam seus vaqueiros e negros de lavoura, comandando-os nas vaquejadas, estimulando-os com sua presença nas limpas dos pastos ou nos plantios e colheitas de feijão, milho, da mandioca136

Através dos dados de inventários post mortem, é possível desenvolver uma análise da estrutura da riqueza dos fazendeiros, da região, incluído bens como escravos

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. Percebe-se que a escravidão no sertão se firmou através de relações diferentes das que foram estabelecidas na região açucareira. O poeta Eurico Alves já dizia que a aristocracia do Sertão era diferente da aristocracia do Recôncavo138

A típica fazenda pecuarista sertaneja era composta de uma casa senhorial, simples, de taipa, rodeada por currais, roçados e casebres de agregados e escravos. Teodoro Sampaio oferece, em seu relato de viagem ao Rio São Francisco, uma visão geral sobre a moradia dos fazendeiros sertanejos

. Ele descreve que a aristocracia sertaneja era suarenta, requeimada de sol, que, em vez de se deixar transportar pelos escravos nas padiolas, rasgava as roupas no cerrado, correndo atrás de boi bravo, nos seus cavalos de campo. O poeta ainda ilustra o perfil dos fidalgos que viviam de gibão e chapéu de couro. Às vezes, esses não viviam nas fazendas como parasitas, mas tinham um estilo de vida como autênticos vaqueiros. Esses fazendeiros experimentavam todos os riscos que os seus camaradas e agregados enfrentavam na faina campeira.

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As habitações constroem-se aqui pequenas e baixas, à falta de madeira, empregando-se por essa razão até mandacaru, cujo tronco mais grosso fornece um tabuado branco, aproveitando para portas e para o pobre mobiliamento que se usa [...] No interior das casas não havia mais que sala, quarto, corredor e cozinha; o chão duro, mas

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Idem. 137

Inventários dos moradores da vila de Nossa Senhora da Purificação dos Campos. Arquivo Público Municipal de Irará. Maço dos inventários(1790-1898).

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BOAVENTURA, Eurico Alves. Fidalgos e Vaqueiros, Salvador, EDUFBA, 1992 (Cap. IX). 139

SAMPAIO, Teodoro Fernandes. Rio de São Francisco: Trechos de um diário de viagem e a chapada diamantina: 1879-80. São Paulo: Esc Prof Salesianas, 1905. pg 98.

lxxii escavados pelo transitar e varrer; as paredes barreadas e enegrecidas pela fumaça; o teto de palha não tinha o menor aspecto.

Pelo fato de as principais atividades agrícolas do sertão, serem a pecuária e a agricultura de subsistência, essas atividades não produziam grandes fortunas. A produção de milho, fumo e feijão proporcionavam uma lucratividade esporádica. Com isso, os senhores de terras tinham hábitos modestos e poucos escravos. Portanto, a escravidão esteve presente no contexto da colonização do sertão de uma maneira bem diferente da do Recôncavo. Essa questão pode ser explicada pelo fato que, não se consolidou uma elevada produção agrícola, por parte dos proprietários de terras, os quais utilizavam poucos escravos em seus plantéis. Tudo indica que os fazendeiros sertanejos eram proprietários que trabalhavam juntamente com os seus escravos na produção. Os escravos eram utilizados principalmente em atividades relacionadas à agricultura. No entanto, também desenvolviam outras funções domésticas. Na relação com os senhores, muitos dividiam o mesmo teto, estabelecendo uma relação de escravidão do perfil de agregados.

Em Irará, a população de escravos era bem resumida, já que a estrutura das fazendas comportava poucos escravos.

Tabela 9: distribuição dos escravos em Irará de acordo com os plantéis.

Pequenos plantéis 1 a 3 escravos

Médios plantéis 4 a 10 escravos

Grandes plantéis 11 a 49 escravos

Nos pequenos plantéis, era possível encontrar de 1 a 3 escravos; nos médios plantéis; de 4 a 10; nos grandes, de 11 a 49140

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Idem.

. A posse de escravos na região de Irará foi caracterizada, como uma estrutura produtiva voltada essencialmente à produção agrícola alimentar (tanto para auto-consumo quanto para o comércio) e para a criação de gado. Poucos homens possuíam a quantidade superior a 50 escravos, muitos dos quais provinham da produção interna das fazendas. Essa característica demográfica repercutiu num escravismo em que existia uma relativa paridade entre a população escrava masculina e feminina, e uma considerável proporção de crianças no total da população cativa.

lxxiii Antônio Mendes Martins, casado com Maria Jesuína da Silva, era considerado um grande senhor de posses desse município. Viveu em Irará na segunda metade do século XIX, residindo na região da vila de Bento Simões141

No diário do Sr Antônio Mendes Martins é possível notar o registro de fugas de escravos

. Ele deixou um diário que trata das relações que mantinha com seus cativos. Essas informações encontradas indicam que a escravidão foi uma instituição presente no sertão. Na região de Irará, as fazendas mais ricas estavam localizadas próximas às vilas, onde alguns proprietários realizavam o papel de comerciantes.

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Os inventários post-mortem e os registros paroquiais de batismos e casamentos são fontes cruciais para a análise mais precisa de relacionamentos familiares entre escravos. Os dados demonstram que havia um considerável empenho na formação de famílias nucleares ou matrifocais

: “Comprei o escravo cabra no dia 11 de abril de 1851 por 400, 000 mil réis. Ele fugiu no dia 14 de abril de 1851. Fui atrás apegar, consegui apegar com a distância de 25 a 30 léguas, num lugar chamado Bomsuceço. O trazendo vendi por 600,000 mil réis...” Segundo as informações registradas nesse diário, os cativos recém- chegados quase sempre tentavam escapar, mas se perdiam na terra estranha e eram recapturados. Para um escravo, fugir de uma fazenda significava meter-se mata adentro, numa terra desconhecida, sob a perseguição constante dos capitães-do-mato, indivíduos contratados pelos senhores de escravos para recuperarem os cativos que escapavam. Fugas, feitores, capitães-do-mato e castigos sempre fizeram parte do cotidiano da sociedade escravagista. Aqui não aparecem as condições dos castigos aplicados para o escravo fujão; mas, com certeza ele fora capturado e punido pelo seu ato desafiador.

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. Para Robert W. Slenes, a constituição de família, nesse período era de grande importância para todos aqueles que se encontravam sob o jugo do cativeiro144

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A vila de Bento Simões fazia parte do Morgado de Bento Simões, um português originário de São Cosme do Vale de Portugal que se fixou no Brasil no início do século XVIII. Bento Simões faleceu e deixou como herdeiro padre José Simões, seu irmão. Mais tarde, essas propriedades passaram para o comando de Antonio da Costa Pinto. Na capela da atual vila de Bento Simões existem os seguintes túmulos: Bento Simões( institivador da capela); Maria Dilphia da Costa Pinto ( condessa de Sergimirim,falecida em 1846); Antônio dos Costa e Pinto(o conde de Sergimirim, falecido em 1880); Bento Simões da Costa Pinto ( filho do conde de Sergimirim,falecido em 1855)

. Pois, o casamento permitia ao escravo a possibilidade de

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Arquivo Particular, pertencente ao Sr. Deraldo Campos Portela. Memórias da família. Diário das relações entre senhor e escravos, de Antonio Mendes Martins. 10 de fevereiro de 1946 a 20 de fevereiro de 1925.

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LIVROS DA FREGUESIA DE SÃO JOSÉ DAS ITAPOROCAS: batizados e casamentos (1685- 1890) Óbito (1685-1721) - Diocese de Feira de Santana.

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lxxiv ganhar mais espaço na sociedade vigente, sobretudo do projeto de uma nova história de liberdade para os descendentes.

De acordo com o diário do Senhor Antonio Mendes Martins, ocorreram em sua fazendo alguns nascimentos e casamentos de escravos:

...Nasceu Luiz, filho da escrava Zeferina , no dia 22 de abril de 1855; Nasceu Prudência, filha da escrava Rita, no dia 28 de abril de 1856; Nasceu Praxedes, filho da escrava Rita, no dia 21 de julho de 1862; Nasceu Thereza, filha da escrava Maria, no dia 28 de junho de 1870; Nasceu Maria, filha da escrava Marcelina, no dia 17 de março de 1872; Nasceu Maria, filha da escrava Antônia, no dia 5 de setembro de 1870; Nasceu Cipriano, filho da escrava Rita, no dia 22 de abril de 1872.

As mulheres predominam na condição de escrava, na fazenda do senhor Antônio Martins. Isso presume que essas escravas possuíam uma relação de parentesco mais próxima com o cativeiro. Tudo leva a considerar que, entre as décadas de 1840 e 1850, a pressão quanto ao fim do tráfico atlântico de escravos bem como o fim do tráfico internacional de escravos poderiam estimular os casamentos e nascimentos de escravos na região de Irará. Já no momento seguinte, com a promulgação da lei de 1869 que proibiram a separação de famílias escravas, provavelmente inibiu ações nesse sentido, como também o intenso movimento do tráfico interno.

Por conta das conseqüências desencadeadas pela lei do ventre livre e da proibição do trafico de escravos, os senhores da região intensificaram a produção desses, por meio da formação de famílias. Nesse período da proibição do tráfico de escravos, o preço do escravo, no Brasil, ficou mais caro. No Arquivo Público de Irará, é possível encontrar alguns recibos de compra e venda de escravos, os quais denunciam essa questão da carestia referente ao preço de escravo, em meados do século XIX. Existe uma significativa incidência de inventários com escravos arrolados dentre os bens, através da reprodução natural, em razão do melhor padrão de vida dos cativos na economia agropastoril, e através da compra de escravos doentes, vendidos certamente por um preço inferior ao vigente no mercado mais compatível com a renda dos fazendeiros. A respeito de compras e vendas de escravos, existem informações como estas:

Comprei a escrava cabra de nome Marcelina com idade de nove anos no dia 14 de setembro de 1853, por 450 mil réis. Comprei Antonia, crioula, em mão de Ponciano da Silva Cardoso em julho de 1857 a preço de 800 mil réis. Comprei Maria cabra em mão de Antonio de Lopes Araújo, no dia 24 de março de 1865 e morreu em 1882. Comprei o escravo de nome Ciriaco no dia 14 de abril de 1846 pelo preço de quatro centros mil réis de 20 anos de idade. Comprei a

lxxv escrava Zeferina no dia 21 de abril de 1849 pelo preço de 38 mil réis, de idade de 26 anos.

Entre 1820 e 1840 parece ter-se registrado uma tendência ao crescimento dos preços de escravos, em contraste com as décadas anteriores, de preços relativamente estáveis. E, certamente, houve um substancial aumento de preços depois da extinção do tráfico, em 1850, especialmente até meados da década de 1860145

Nesse mesmo período, também ocorreu um volumoso índice de crianças escravas, consolidando-se uma característica marcante desta sociedade, o que implica a possibilidade da formação da família escrava. No arrolamento dos bens dos senhores aparece um número considerável de crianças. As crianças de ambos os sexos e independentemente das condições sociais eram, no século XIX, introduzidas precocemente na rotina árdua de diferentes atividades econômicas, como a agricultura. O uso de mão-de-obra escrava feminina era privilegiado no serviço da lavoura. Essa questão pode ajudar a perceber a progressão dos preços relativos de escravos dos dois sexos, após 1850; pois, o preço de escravos no sertão baiano teve variações observadas. Essa questão estava relacionada com o fim definitivo do tráfico trans-oceânico de escravos

. Em 1853, um escravo valia em média trezentos mil réis, um valor significativo para a época.

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O preço de um escravo na região correspondia a quinhentos mil réis, valor considerado alto para o período. Para quem tinha escravos, estes constituíam a parcela mais valiosa de sua riqueza. Todavia, o escravo era um componente elementar no desenvolvimento das atividades das fazendas, encontrado em quantidade razoável nos inventários. Eles eram símbolos de poder e de prestígio para os fazendeiros da região. O senhor que

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Isso contrasta com os dados de Kátia Mattoso relativos a inventários de Salvador, Bahia: aí foi comum a ocorrência de títulos ou depósitos, como forma de riqueza, especialmente a partir de 1840. Mattoso (1992:cap.31). Isso transparece também dos números de Fragoso (1992:255) para inventários da cidade do Rio de Janeiro.

possuía escravo consolidava status de grande produtor e, conseqüentemente, de coronel. Especialmente os coronéis possuíam escravos nessa região, estes comprados pelos fazendeiros nos mercados de Salvador e Cachoeira. Portanto, eram poucos os homens que possuíam escravos, pois esses custavam caro. No sertão, o valor dos escravos possuídos era, em média, o item individualmente mais importante da riqueza inventariada.

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NEVES, E. F. Sucessão Dominial e Escravidão na Pecuária do Rio das Rãs. Sitientibus. Revista da Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, v. 21, p. 117-142, 1999.

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lxxvi Nos dados referentes aos registros de casamento dos escravos referentes à freguesia de São José arquivados no Centro de Estudos Feirenses148

Por meio dos documentos consultados, é possível considerar que a população cativa de Irará formou uma estrutura de rede de sociabilidade voltada para a linhagem de parentesco. Os escravos formavam famílias nas fazendas dos senhores. Esses negros casavam e tinham filhos, os quais eram batizados e tinham padrinhos e madrinhas escolhidos entre os colegas de trabalho. Nos livros de casamento das Igrejas estão registrados os casamentos inter-raciais e, principalmente, entre os próprios cativos, o que sugere um comportamento dos proprietários mais favorável à constituição de família e do matrimônio entre seus escravos. Portanto, a formação da família escrava na região pesquisada fortaleceu as estratégias de resistência para com a escravidão. Conforme considera Robert Slenes

, é possível encontrar informações que falam sobre as características dos escravos casados na região pesquisada. Tais documentos fornecem diferentes informações quanto a essas características, entre elas: a data do registro de casamento, os nomes dos noivos, a cor do escravo, sua idade, a condição jurídica, o nome e a profissão de seu senhor, o nome de seus pais e, finalmente, o nome do senhor de seus pais. Quanto à origem dos escravos, o exame das fontes tem indicado que a população da micro-região de Feira de Santana é formada por escravos nascidos na colônia. A explicação para essa diferença em favor dos crioulos está no fato no fato de a capitania não ter tido vínculos diretos com o tráfico atlântico e por ter-se constituído por meio de uma economia basicamente voltada para o abastecimento interno.

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LIVROS DA FREGUESIA DE SÃO JOSÉ DAS ITAPOROCAS: batizados e casamentos (1685-