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A fase final do procedimento de regularização fundiária dá-se no Cartório de

Registro de Imóveis com o registro da Certidão de Regularização Fundiária (CRF) e

do projeto de regularização fundiária aprovado perante o oficial do cartório em que se

situe a unidade imobiliária.30 No entanto, a atuação preventiva e proativa do

registrador de imóveis deve ser prestada desde o início da tramitação. Dessa forma,

os oficiais dos cartórios de registros de imóveis devem, por exemplo, compor

conselhos técnicos municipais no âmbito de sua atuação e, a ao lado dos

beneficiários, agentes municipais, membros do Ministério Público e da Defensoria

Pública, desempenhar papel fundamental por conhecerem a situação registral dos

imóveis da sua circunscrição cartorária.

Essa participação do Oficial de Registro é relevante sob dois aspectos: facilita o

ingresso do título no fólio real quando colaboram na instrumentalização do

procedimento; e dada a sua atuação como mediador31 dos conflitos fundiários.

Em que pese os cartórios estarem sob a responsabilidade de particulares, a

sua privatização não retira a natureza pública do serviço notarial e registral. Nos

termos do que preceitua o artigo 236, § 3º, da Constituição Federal de 1988, os

serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do

Poder Público, e o ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso

público de provas e títulos. Dessa forma, esses agentes são equiparados a servidores

públicos para fins civis, penais e administrativos e estão submetidos à fiscalização do

Tribunal de Justiça na prática dos seus atos. O órgão fiscalizador das atuações dos

30

Art. 28 da Lei 13.465/2017: “A Reurb obedecerá às seguintes fases: I – requerimento dos legitimados;

II – processamento administrativo do requerimento, no qual será conferido prazo para manifestação dos

titulares de direitos reais sobre o imóvel e dos confrontantes; III – elaboração do projeto de

regularização fundiária; IV – saneamento do processo administrativo; V – decisão da autoridade

competente, mediante ato formal, ao qual se dará publicidade; VI – expedição da CRF pelo Município; e

VII – registro da CRF e do projeto de regularização fundiária aprovado perante o oficial do cartório de

registro de imóveis em que se situe a unidade imobiliária com destinação urbana regularizada.

Parágrafo único. Não impedirá a Reurb, na forma estabelecida nesta Lei, a inexistência de lei municipal

específica que trate de medidas ou posturas de interesse local aplicáveis a projetos de regularização

fundiária urbana”.

31

Provimento nº 67/2018 do CNJ disciplina conciliação e mediação em cartórios. PROVIMENTO

CONJUNTO Nº CGJ/CCI-22/2019. Dispõe sobre os procedimentos de conciliação e mediação nos

serviços notariais e de registro no Estado da Bahia.

delegatários, ou seja, dos oficiais de registros públicos é a Corregedoria do Tribunal

de Justiça do seu respectivo Estado.

A atuação deste órgão correicional, entretanto, não se resume à atividade

fiscalizatória e punitiva, sendo também competente para uniformizar os procedimentos

no âmbito das serventias notariais e de registros, motivo que ensejou a atuação na

orientação dos responsáveis pelas serventias extrajudiciais da Bahia no trâmite

cartorário dos processos de regularização fundiária do Estado,

Como consequência dessa competência uniformizadora, a Corregedoria das

Comarcas do Interior do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia – CCI, durante a 2ª

Reunião do Fórum Fundiário dos Corregedores Gerais da Justiça do MATOPIBA32,

lançou o Projeto denominado “Área Legal”, cuja proposta é aclarar os desígnios da

novel legislação – Lei nº 13.465/2017 - a todos os envolvidos no procedimento formal

de regularização, nos seguintes termos:

O projeto visa a qualificação teórico-prática de delegatários (Tabeliães e

Registradores de Imóveis) das serventias extrajudiciais das comarcas de

entrâncias inicial e intermediária, do Estado da Bahia; prefeitos; vereadores;

servidores públicos municipais; e demais agentes políticos e/ou

administrativos a quem compete a aprovação, concepção, formulação do

modelo e execução, além do trâmite do procedimento administrativo, com

vistas à expedição do Certificado de Regularização Fundiária (CRF), e

consequente registro do título de domínio no Cartório de Registro de Imóveis;

advogados e demais cidadãos interessados”

33

(TJ/BA, 2019).

32

Segundo definição da Embrapa: “A expressão MATOPIBA resulta de um acrônimo criado com as

iniciais dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Essa expressão designa uma realidade

geográfica que recobre parcialmente os quatro estados mencionados, caracterizada pela expansão de

uma fronteira agrícola baseada em tecnologias modernas de alta produtividade.” Disponível em:

https://www.embrapa.br/gite/. Acesso em: 11 set. 2019.

33

Disponível em:

<http://www5.tjba.jus.br/corregedoria/projeto-area-legal-promove-debates-sobre-regularizacao-fundiaria-em-mais-seis-comarcas-e-lanca-cartilha-sobre-o-tema/>. Acesso em 11 de

setembro de 2019

Figura 1: Layout do Projeto “Área Legal”, desenvolvido pela CCI – TJ/BA.

Fonte: site do TJ/BA.

Os contornos do projeto foram estabelecidos no Termo de Cooperação Técnica

firmado entre a CCI e o município baiano de Conceição do Coité. O instrumento se

fundamentou no art. 6° da CF/88 (que assegura a moradia como direito social), e no

art. 182, caput, também da Carta Política, notadamente no que diz respeito à

execução da política de desenvolvimento urbano a cargo do Poder Público Municipal

na ordenação das cidades e regular ocupação do solo.

O Termo de Cooperação trouxe como premissas: a) o artigo 6º da Constituição

Federal de 1988, segundo o qual o direito à moradia constitui direito social humano

fundamental e deverá ser assegurado pelos poderes constituídos, em respeito ao

princípio da valorização da dignidade da pessoa, considerado um dos pilares que

justificam a própria República Federativa do Brasil, de acordo com o art.1.º, inciso III,

da CF/88; b) o regramento estabelecido pela Lei nº 13.465, de 11 de julho de 2017, no

que diz respeito à regularização fundiária, sobretudo na construção da correta

execução da política urbana de ocupação do solo e ordenação das cidades (art.182,

CF/88); e c) o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU n.°1134,

estabelecido pela Organização das Nações Unidas, em Conferência ocorrida no dia

15 de setembro de 2015, na Cidade de Nova Iorque (EUA).

Nos termos do Acordo Cooperativo, coube à Corregedoria do Tribunal de

Justiça da Bahia a normatização procedimental da Regularização Fundiária no

Estado, visando conferir uniformidade operacional aos procedimentos de

regularização nos cartórios. A CCI buscou, portanto, expedir orientações no que tange

à aplicabilidade da Lei Federal nº 13.465/2017.

Sendo a Corregedoria órgão fiscalizatório, de controle e de orientação das

serventias extrajudiciais – de abrangência estadual, restou legitimada a formalização

do Termo de Cooperação, visando o estreitamento das relações entre os Municípios,

os Cartórios extrajudiciais, as entidades, associações e organizações da sociedade

civil de interesse público que tenham por objetivo atividades nas áreas de habitação

social. Ademais, a Corregedoria das Comarcas do Interior propôs, nessa iniciativa, a

redução das ações judiciais decorrente de conflitos fundiários urbanos.

No dia 03 de maio de 2019 foi publicado no Diário de Justiça Eletrônico do

Estado da Bahia nº 2.370, Cad. 1/Página 182, o Termo de Cooperação Técnica

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Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU 11: “Tornar as cidades e os assentamentos

humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. 11.1 Até 2030, garantir o acesso de todos à

habitação segura, adequada e a preço acessível, e aos serviços básicos e urbanizar as favelas;

11.2 Até 2030, proporcionar o acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis, sustentáveis e a

preço acessível para todos, melhorando a segurança rodoviária por meio da expansão dos transportes

públicos, com especial atenção para as necessidades das pessoas em situação de vulnerabilidade,

mulheres, crianças, pessoas com deficiência e idosos; 11.3 Até 2030, aumentar a urbanização inclusiva

e sustentável, e as capacidades para o planejamento e gestão de assentamentos humanos

participativos, integrados e sustentáveis, em todos os países; 11.4 Fortalecer esforços para proteger e

salvaguardar o patrimônio cultural e natural do mundo; 11.5 Até 2030, reduzir significativamente o

número de mortes e o número de pessoas afetadas por catástrofes e substancialmente diminuir as

perdas econômicas diretas causadas por elas em relação ao produto interno bruto global, incluindo os

desastres relacionados à água, com o foco em proteger os pobres e as pessoas em situação de

vulnerabilidade; 11.6 Até 2030, reduzir o impacto ambiental negativo per capita das cidades, inclusive

prestando especial atenção à qualidade do ar, gestão de resíduos municipais e outros; 11.7 Até 2030,

proporcionar o acesso universal a espaços públicos seguros, inclusivos, acessíveis e verdes,

particularmente para as mulheres e crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência; 11.a Apoiar

relações econômicas, sociais e ambientais positivas entre áreas urbanas, periurbanas e rurais,

reforçando o planejamento nacional e regional de desenvolvimento; 11.b Até 2020, aumentar

substancialmente o número de cidades e assentamentos humanos adotando e implementando políticas

e planos integrados para a inclusão, a eficiência dos recursos, mitigação e adaptação às mudanças

climáticas, a resiliência a desastres; e desenvolver e implementar, de acordo com o Marco de Sendai

para a Redução do Risco de Desastres 2015-2030, o gerenciamento holístico do risco de desastres em

todos os níveis e 11.c Apoiar os países menos desenvolvidos, inclusive por meio de assistência técnica

e financeira, para construções sustentáveis e resilientes, utilizando materiais locais.” (ONU, 2020)

firmado entre a Corregedoria da Comarca do Interior do Tribunal de Justiça da Bahia

(CCI) e o Município de Conceição do Coité (vide Anexo B), marcando oficialmente a

formalização que daria os primeiros contornos do Projeto denominado Área Legal.

Para dar maior visibilidade e explicações acerca do Projeto “Área Legal” e

orientar os futuros eventos, o TJ/BA, no dia 5 de junho 2019, publicou no sítio

eletrônico do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia uma cartilha35 sobre o tema

atinente à regularização fundiária, as atribuições dos municípios, as modalidades de

Reurb, benefícios da regularização e principais regulamentações.

4.2 O PROCESSO DE DIFUSÃO DO PROJETO “ÁREA LEGAL” NO INTERIOR DO