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CAPÍTULO III – FORMAÇÃO E HISTÓRIA DOS BAIRROS DO

3.4 Origens do bairro da Barra Funda

A Barra Funda teve origem da Chácara do Carvalho de propriedade do barão de Iguape que falecendo em 1875 deixou-a para seu neto, o conselheiro Antônio da Silva Prado, filho de Veridiana Valéria da Silva e de Martinho da Silva Prado. A família, tradicional e abastada, dedicou-se ao comércio e foi proprietária de tropas de mulas e de terras.

Antônio pertenceu à nova geração de proprietários rurais que não viviam no campo, mas que moravam na cidade, sobressaindo-se como figuras urbanas. Teve uma carreira política brilhante: em 1865 foi vereador e presidente da Câmara Municipal; de 1872 a 1884 foi deputado geral, ocupando três pastas do Ministério Imperial: Agricultura, Comércio e Obras Públicas; foi eleito prefeito de São Paulo por três turnos consecutivos, de 1899 a 1910. Monarquista, foi líder do Partido Conservador, tornando- se, sucessivamente, liberal-progressista.

Em volta do nome da chácara há certa polêmica. A hipótese mais difusa é de caráter fitotoponímico: a chácara tomaria seu nome da existência de um carvalho no lugar no qual a propriedade foi constituída. Há uma segunda versão referida pela tradição oral da família Carvalho Franco que faz derivar o topônimo de Francisco de Assis Carvalho, avô do historiador Francisco de Assis Carvalho Franco, que, por volta de 1840, foi proprietário daqueles terrenos (BRUNELLI et al., 2006: p. 46).

3.4.1 O NOME DO BAIRRO

A real origem do nome do bairro é ainda discutida. Uma hipótese relaciona o topônimo ao italiano Baraonda (sinônimo do português Barafunda), lugar de muita confusão, característica marcante da Barra Funda. O grupo de imigrantes italianos, moradores da parte de cima do bairro, teria transplantado o nome de um bairro existente em sua terra de origem, denominado Bara Fonda (BRANCO, 1982).

Bara Fonda, que ao pé da letra significa caixão de defunto, não nos parece um nome apropriado para um bairro, a menos que em dialeto vêneto Bara Fonda tenha significados outros que caixão de defunto.

A segunda teoria defende que barra significa ―lugar perto do rio ou mar‖. σo passado havia muitos portos fluviais no Tietê caracterizados pela presença de bancos de areia. τ piloto da embarcação utilizava a expressão vamos ―à barra baixa‖ ou ―à barra funda‖ (BRUσELLI et. al., 200θμ p. 19). σão descartamos esta possibilidade, mas não conseguimos identificar dados probatórios a sustento desta hipótese. Achamos preferível confiar na tradição que liga a denominação Barra Funda à retirada de areia das margens do Tietê, para emprego na construção civil no século XIX. Esta prática acabou por tornar mais profundas as margens do rio, originando o hidrotopônimo Barra Funda.

Figura 4 - Tietê em São Paulo, retratado em cartão-postal antigo. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Tiet%C3%AA>

3.4.2 O DESENVOLVIMENTO DO BAIRRO

A chácara do Carvalho estava situada ao lado do caminho de Jundiaí (o rio dos jundiás, do tupi Yundiá-y. Yu-ndi-á, a cabeça armada de barbatanas é um peixe de água doce, SAMPAIO, 1987: p. 217) que saía do Triângulo rumo ao interior do Estado e que, antes do advento da ferrovia, era o caminho seguido pelas tropas de burros.

A chácara que se estendia do caminho de Jundiaí até o Tietê nas proximidades da Casa Verde contribuiu para a formação dos bairros da Barra Funda e do Bom Retiro (BRUNO, 1984: p. 1029).

As terras valorizaram-se com a construção da ferrovia, mas Antônio Prado começou a se interessar por elas durante o Encilhamento (novembro de 1889 – janeiro de 1891) época de intensa especulação imobiliária e iniciou o loteamento da chácara em 1890 (BRUNELLI et al., 2006: p. 48-49).

Antônio Prado faleceu no Rio de Janeiro em 34.4.1929 aos 89 anos. A filha Hermínia herdou a chácara loteada pelos seus herdeiros na década de 1930. As plantas cadastrais deste loteamento estão custodiadas no Departamento do Patrimônio Histórico e, apesar de interessantes, datam de épocas não incluídas na periodização deste trabalho.

O palacete da chácara do Carvalho, atualmente sede do Instituto de Educação Boni Consilii, foi projetado e construído pelo italiano Luigi Pucci e surgiu na gleba em frente à al. Antônio Prado (atual Eduardo Prado) e flancos para as ruas Vitorino Carmilo, Lopes de Oliveira, Capistrano de Abreu e Conselheiro Nébias, perto dos trilhos as ferrovias Santos-Jundiaí e Sorocabana. Apesar da construção do palacete ter dado impulso ao bairro, a Barra Funda continuou sendo considerada apenas um apêndice do aristocrático bairro dos Campos Elíseos.

A história da Barra Funda está ligada ao aparecimento em São Paulo dos meios de transporte. A primeira linha de bondes elétricos, a ―Barra Funda 13‖, foi inaugurada pela Light em 7.5.1900 (JORGE, 2006: p. 91). Os paulistanos murmuravam que a escolha de Antônio Prado fora proposital visto que ele morava na chácara do Carvalho. A segunda linha de bondes destinava-se a servir o Bom Retiro. A inauguração da

terceira linha, vinte dias após a inauguração da primeira, provocou mais maledicências, pois parava na frente da Vila Maria, residência de Da. Veridiana, mãe do Antônio.

São Paulo transformou-se em metrópole entre 1915 e 1940, em coincidência com o boom da especulação imobiliária, a construção das rodovias, o surgir da indústria automobilística e a afirmação do ônibus (LANGENBUCH, 1971: p.131) que, entre 1935 e 1939, vai substituindo gradativamente o bonde.

O ônibus foi mais determinante que o bonde no desenvolvimento do bairro. Já em 1926 os passageiros faziam na Barra Funda a baldeação para o bonde, o trem ou outro ônibus, para chegar ao Centro ou aos bairros mais afastados. Todos estes terminais desapareceram do bairro sem deixar marcas (BRUNELLI et al., 2006: p. 24).

O traçado da Barra Funda é um retículo ortogonal de ruas convergindo para a estrada de ferro no fim da rua Brig. Galvão. Esta divisão do bairro pela ferrovia foi tão marcante que a Barra Funda, dividida em duas partes recebeu duas diferentes denominações:

 Barra Funda de Baixo ou várzea da Barra Funda (entre o Tietê e os trilhos da ferrovia, constituindo quase um corpo único com o bairro do Bom Retiro);

 Barra Funda de Cima (área incluída entre a estrada de ferro e a rua Gal. Olímpio da Silveira).

A Barra Funda de Baixo abrigou, à semelhança do Brás e do Bexiga/Bela Vista, imigrantes e afro-descendentes. Nesta parte do bairro, na qual havia somente as ruas do Bosque, Garibaldi, Lusitana e Bernardino de Campos, instalaram-se as indústrias.

No início do século XX o bairro fazia parte do Distrito de Santa Ifigênia, que, em 1893, concentrava a maior porcentagem de negros e mulatos da cidade [...] 14% – em um momento em que São Paulo se italianizava rapidamente com a grande imigração e que a população negra representava menos de 10% da população total (ROLNIK, 1999: p. 77).

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