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Origens do ensino técnico no Brasil e suas primeiras legislações

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Educação Profissional, Bifurcação no Ensino e Desenvolvimento

2.1.1 Origens do ensino técnico no Brasil e suas primeiras legislações

Os primórdios do ensino, no Brasil, ocorreram com a chegada do 1º Governador Geral, Tomé de Souza, em 1549, já que, junto com o governador, veio para cá a Companhia de Jesus, liderada pelo jesuíta Manuel da Nóbrega. “No mundo colonial foi graças à instalação de conventos jesuítas, que brotou o primeiro embrião da vida cultural. Vieram com as ordens religiosas os primeiros livros. Livros capazes de instruir e de ensinar a rezar”. (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2001, p 117).

Para Saviani (2006, p. 16), o ensino jesuíta, na colônia, pode ser visto tanto como ensino público quanto como ensino privado. Pois o ensino jesuíta então implantado contava com apoio e subsídios da Coroa Portuguesa, constituindo-se, assim, como a “primeira versão pública da educação”; entretanto, as condições materiais e pedagógicas, como infraestrutura, diretrizes pedagógicas, componentes curriculares encontravam-se sob o poder dos padres jesuítas, configurando-se, neste ponto, como ensino particular.

Por sua vez, os ensinamentos de catequese eram destinados principalmente aos índios, enquanto o ensino de gramática e demais ciências eram dirigidos aos filhos dos colonos.

Neste sentido, percebemos quão visível era a estruturação da educação. Enquanto o ensino propedêutico era voltado para os filhos dos colonos, que eram iniciados e preparados para continuar seus estudos, na Europa, com o objetivo de conservar o poder dos dominantes sobre os dominados, dando, assim, a ideia de continuidade metropolitana, já o aprendizado profissional era visto como trabalho braçal que ficaria limitado e associado à mão de obra escrava, uma vez que este trabalho manual era congregado a uma categoria de menos valor. Como destaca Soares (2003, p. 22; 23), tinha “um caráter segregacionista, que depois vai

assumir aspectos correcionais/assistencialistas”. No livro Ensino Médio e Ensino Técnico no

Brasil e em Portugal: raízes históricas e panorama atual, Franco (2004, p.55-56) nos mostra

que a formação profissional, desde suas origens, é atrelada à formação manual assim como ao padecimento.

O trabalho, freqüentemente associado ao esforço manual e físico, acabou agregando- se ainda a idéia de sofrimento. Aliás, etimologicamente o termo trabalho tem sua origem associada ao tripalium, instrumento usado para tortura. A concepção do trabalho associado a esforço físico e sofrimento inspira-se, ainda, na idéia mítica do “paraíso perdido”. Por exemplo, no Brasil, a escravidão, que pendurou por mais de três séculos, reforçou essa distinção e deixou marcas profundas e preconceituosas com relação à categoria de quem executava trabalho manual. [...]. A herança colonial escravista influenciou de maneira preconceituosa as relações sociais e a visão da sociedade sobre a educação e a formação profissional. O desenvolvimento intelectual, proporcionado pela educação escolar acadêmica, era visto como desnecessário para a maior parcela da população e para a formação de “mão-de- obra”.

Ainda na colonização, a chegada da família real ao Brasil, em 8 de março de 1808, fez surgir inquietações em relação aos estudos e inovações técnicas agrícolas realizadas na colônia, pois as necessidades da corte portuguesa na sua nova morada precisavam ser atendidas. Segundo Soares (2003, p.26), “esta necessidade dentro de uma versão utilitarista da ciência levou D. João VI a criar hortos reais em 1808 e na Carta Régia de 1812 o primeiro curso de Agricultura”.

Durante a estadia no Brasil, D. João incentivou o aumento das escolas equivalentes, ao que se denomina, hoje, ensino médio, assim como o ensino primário e as cadeiras de artes e ofícios. É o que nos mostra, resumidamente, a historiadora Del Priore (2001, p.195):

O príncipe regente criou o nosso primeiro estabelecimento de ensino superior, a Escola Médico-Cirúrgica, mandada organizar na Bahia, em 1808. No Rio, fundaram-se as Academias Militar da Marinha. [...]. Bibliotecas e tipografias entraram em atividade, sendo a Imprensa Régia, na capital, responsável pela impressão de livros entre 1808 e 1821. Com o rei, vieram igualmente diversos artistas portugueses de valor [...]. Em 1816, chegou a Missão Artistica Francesa [...]. Em 1810, é inaugurado o Jardim Botânico.

Ainda, neste processo, pode-se observar a primeira disposição do governo para direcionar o ensino em moldes profissionalizantes, a partir do Decreto de 23 de março de 1809, assinado pelo Príncipe Regente, ao instituir o Colégio das Fábricas. Entretanto, este decreto de 1809 aconteceu somente após a coroa permitir o estabelecimento de fábricas manufatureiras, no Brasil, pondo fim ao exclusivismo metropolitano, ao assinar o alvará de 12 de abril de 1808.

Com o Colégio das Fábricas, o ensino de ofícios ocupa lugar, neste contexto, e segundo Cunha (2000, apud PEREIRA, 2003, p.24), “o objetivo era abrigar os órfãos da Casa Pia de Lisboa, trazidos entre os que se deslocaram para o Brasil junto com a família real”. Percebe-se, então, uma associação entre os órfãos ou pobres e o ensino de ofícios. Um dos mais antigos estabelecimentos criados com esse objetivo de que se tem notícia é a Casa Pia de São José (1804), mais tarde, em 1877, denominada Casa Pia e Colégio dos Órfãos de São Joaquim (SOARES, 2003, p.25).

Com o advento do Império, surgem as primeiras legislações para os pobres e necessitados que, segundo Soares (2003), foram chamados de “desvalidos da sorte”. Durante este período, o Ensino Profissional continuou, assim como no período colonial, a ser visto como um ensino destinado aos pobres e também associado, pejorativamente, ao trabalho

braçal, logo realizado pela mão de obra escrava. Ainda seguindo este mesmo pensamento, várias foram as instituições criadas para ensinar a prática aos menos favorecidos, durante o Império brasileiro.

Com o fim da escravidão, em 1888, a preocupação tornou-se evidente com os 700 mil escravos libertos, outrora presos aos seus senhores. Livres, porém ser perspectivas de emprego, pois boa parte da elite via os negros como pessoas preguiçosas e indisciplinadas14. A partir da Lei Áurea, a preocupação da classe dominante com a ociosidade fez com que se elaborassem normas rígidas de repressão para aqueles considerados vagabundos, mendigos, e para os quais, dentro de uma visão correcional, a principal ocupação seria o trabalho agrícola (SOARES, 2003, p.28).

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