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ORIGENS SOCIAIS 1) OS BUROCRATAS

OS ESCRIVÃES DA CORTE PERANTE O CORREGEDOR

4.1. ORIGENS SOCIAIS 1) OS BUROCRATAS

A partir dos" case studies " da burocracia cortesã elaborados que nos fornecem vamos tentar neste capítulo, determinar, sobretudo as suas origens sociais e

procuraremos esboçar uma tentativa de resposta a duas questões para as quais certos documentos e leituras nos 'atiraram' e que passamos a citar "Será que os desembargadores do período considerado virão a constituir um grupo com o minímo de homogeneidade e com uma solidariedade conferida pelo serviço régio? "Poderá essa solidariedade levar a uma política de 'endogamia', que acabe por restringir o acesso ao Desembargo aos elementos 'internos'?

Passemos ao primeiro ponto . "Em que meio se recrutam os oficiais?".

Do 'meio' dos clérigos , 'surge' no início do Outono de 1464, Dom JOÃO GALVÃO bispo de Coimbra (e prior-mor de Santa Cruz) que a partir daí aparece no escatocolo das cartas régias como membro do Conselho e Escrivão da Puridade e Vedor-mor das Obras e dos Resíduos . O bispo tinha cerca de 31 anos de idade, e tinha sido temporariamente núncio em Portugal com poderes de legado a letere dados por Pio XII .

Filho primogénito de Rui Galvão um "creado na Câmara régia", o primeiro dos Secretários e Escrivão da Puridade interino e titular (DUARTE GALVÃO, o secundogéntio aparece como Secretário no mesmo ano)3. Parece um titular do cargo bastante 'plurifacetado' pela

sua carreira militar, ascensão social, 'participação' no 'acender' da "conjura" do duque de Bragança e 'sequazes'; eleição régia para arcebispo de Braga, nunca confirmada (um dos motivos alegados foi a posição pró-beneplácito régio do bispo-conde), para já não falar na sua "concubinagem pública com D. Guiomar de Sá". 4 Parece-nos um Escrivão da Puridade

clérigo 'laicizado' e guerreiro.

Mas os registos de chancelaria dão a conhecer outras presenças clericais', nomeadamente Frei Gil, Confessor e Frei João de S. Mamede, Esmoler do rei, ambos intervenientes na arrecadação de multas de cartas de perdão para a Piedade (entre outros destinos). Também certas cartas de provimento são endereçadas a João de Évora, "nosso capelão" e Provedor-mor da Rendição dos Cativos. Oficiais da Capela régia que será interessante biografar.

Quantos aos "nobres" a questão é complicada. Mas enumeremos aqueles que aqui consideramos, obedecendo a um hierarquia 'empírica' . Designados como Condes de diferente 'género'- o doutor RUI GOMES DE ALVARENGA, Chanceler-mor e conde "pelatino" e ÁLVARO DE CASTRO, Camareiro-mor e conde de Monsanto. Designados por "Dom"- FERNANDO DE CASTRO, Vedor da Fazenda e JOÃO GALVÃO, bispo de

Coimbra e Escrivão da Puridade. Quanto a fidalgos , o escatocolo dá-nos referência a duas casas de proveniência : da casa real- JOÃO LOPES DE ALMEIDA que em 1465 tem "carrego de Vedor da Fazenda por LOPO DE ALMEIDA ,seu pai" e LOPO VASQUES DE 1 Não teremos tempo para mostrar o 'peso' político de alguns destes oficiais nessa transição e gostaríamos de

saber se a grande ruptura na 'linhagística' da oficialidade , sucederá sim com D. Manuel.

2 (AV-1-36).

3 Sobre Rui Galvão veja-se H Baquero MORENO, o.c, pp. 814-817; Judite A. G. de FREITAS, A

Burocracia do "Eloquente"..., vol. II, pp. 212-215.

4 Jean AUBIN, "Duarte Galvão", pp. 44-45 (n. 4).

CASTELO BRANCO " Monteiro- mor em loguo de seu pai".Os fidalgos da casa do Infante D. Fernando são FERNÃO DA SILVEIRA, Coudel-mor e GONÇALO VASQUES DE CASTELO BRANCO com uma carreira 'fulgurante' em 1464 e que termina com a titularidade da Vedoria da Fazenda.

(...) o qual letigio e asi demanda dantre os ditos condes [D. Pedro de Meneses, conde de Vila Real, capitão de Ceuta e D. Duarte de Meneses, conde de Viana, capitão de Alcácer pertencia"] quesemos entendere saber sobre o certo a

qual deles pertencia de direito [a conquista e terra deBenaminir e Guadriz] sobre qualfecto e litigio mandamos tirar inquirição (...)". ..E todo esto asi passado com acordo dos nossos leterados a que este perante nos mandamos ver Acordamos que (...) por que assi he nossa mercê e direito visto como assi lhe prouvemos pelas razões sobreditas.(...)

Sete dos redactores no biénio em estudo têm formação universitária (em leis para uma maioria não certa deles), sem contar com os dois físicos, doutores mestres em Medicina. Os doutores são quatro: JOÃO FERNANDES DA SILVEIRA , RUI GOMES DE

ALVARENGA., NUNO GONÇALVES e PÊRO DA SELVA .

Desde o início dos anos cinquenta que os dois primeiros doutores em leis pertencem ao Conselho.6 e foram os únicos ostentando tal título que detectamos para o biénio em estudo .

Mas este número - e 'empiricamente falando'- parece ser diferente no início da década de oitenta. O terceiro já tinha ascendido a esta categoria em 1479 e como o primeiro manter- se-á ao serviço de D.João H, e o seu papel na da actuação "política" e na 'legitimação' poder e das acções do futuro monarca são por demais conhecidas . Os outros faleceram em campanha militar (não sabemos em que condições) na década de setenta. Os bacharéis em leis redactores são quatro : JOÃO DE ELVAS, PÊRO DA COSTA e PÊRO MACHADO, também eles oficiais de contunuidade dinástica e não só...

As designações que ostentam no escatocolo das cartas régias, e que lhe são

conferidas pelo estatuto social que tem são variegadas neste grupo de letrados ( e mesmo do conjunto dos oficiais de"Justiça". Vejamos : Os Cavaleiros (e/ou cavaleiros da casa real) são NUNO GONÇALVES , ÁLVARO MENDES GODINHO, JOÃO RODRIGUES MEALHEIRO e PÊRO GODINS, Ouvidores na Casa da Suplicação (e Corregedores)8. O

grupo dos Vassalos do rei é representado pelos outros oficiais da Justiça e aí englobando os membros do "nosso Desembargo e das Petições e Ouvidores . Quanto aos primeiros

ÁLVARO PIRES VIEIRA, que em 1464 deixa de ser designado no escatocolo dos documentos como vassalo régio e passa a ser designado como do Conselho régio, e o doutor PÊRO DA SELVA . Do grupo dos Ouvidores na Corte : BRÁS AFONSO e dois bacharéis em leis : PÊRO DA COSTA e o Procurador dos Feitos de el-Rei -JOÃO DE ELVAS.

A visível presença de dois ALMEIDAS, um ALVARENGA , dois SILVEIRAS, três CASTELOS BRANCOS e dois GALVÕES como redactores no biénio em estudo comprova o que foi mostrado em estudos precedentes.

CONCLUSÃO

5 Eivas, 1464-VI-13 (RÉGIA com Pêro de Alcáçova) (AV-8-127v).

6 Os registos relativos a 1464 fazem referência a 57 membros do Conselho do rei. Oito deles são burocratas

'da chancelaria' e são os seguintes : os Escrivães da Puridade; o Chanceler-mor, os Vedores da Fazenda, o Coudel mor, o Monteiro mor e um do do Desembargo e das Petições.

7 O primeiro escolar em leis no Estudo de Lisboa já em 1430, doutor passado 13 anos.O segundo escolar em

Bolonha em 1436 e doutor já em em 1441 .

8 Também Pai Rodrigues .Contador- mor dos Contos é assim designado até pertencer ao Conselho.

D.Afonso V e D. João II (11 oficiais) A destacar são certos oficiais da justiça régia que estiveram envolvidos no julgamento do duque de Bragança.

Eugenia MOTA-1480 -1483 -

BRÁS AFONSO, FERNÃO DA SILVEIRA, GONÇALO VASQUES DE CASTELO BRANCO, JOÃO LOPES DE ALMEIDA, JOÃO DE ELVAS, JOÃO FERNANDES DA SILVEIRA, NUNO GONÇALVES , PÊRO DA COSTA, PÊRO GODINS, PÊRO

MACHADO.

Em síntese , para além visível presença de certas famílias representadas por dois

ALMEIDAS, um ALVARENGA, dois SILVEIRAS, três CASTELOS BRANCOS e dois GALVÕES como redactores no biénio em estudo , comprovando o que foi mostrado em estudos precedentes, convém relembrar a continuidade da presença dentro da oficialidade de D. João U de pelo menos 11 oficiais dos oficiais burocratas :

JOÃO DE ELVAS, JOÃO FERNANDES DA SILVEIRA, NUNO GONÇALVES , BRÁS AFONSO, PÊRO DA COSTA, PÊRO GODINS, PÊRO MACHADO, FERNÃO DA

SILVEIRA, GONÇALO VASQUES DE CASTELO BRANCO, JOÃO LOPES DE ALMEIDA e outros mais.