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Os Açores e a 1.ª Guerra Mundial: algumas reflexões

No documento A Grande Guerra e os Açores. (páginas 119-131)

LUÍS M. VIEIRA DE ANDRADE

O tema que me propus tratar reveste ‑se de uma importância simbólica muito relevante, na medida em que ainda não foi muito estudado, designadamente no que se refere ao arquipélago açoriano. Como é sabido, comemorou ‑se no passado mês de novembro, mais precisamente a 11 de novembro de 2018, o centenário do Armistício que colocou um ponto final na Primeira Guerra Mundial.

Muito embora já haja um número considerável de publicações acerca da participação de Portugal nesse conflito, não existe, no que diz concretamente respeito aos Açores, muita bibliografia sobre o assunto, o que ajuda a explicar a escolha da temática em apreço.

Esta é uma oportunidade de tecer algumas considerações relativamente a esta matéria, tentando contribuir, de alguma forma, para a análise das Relações Internacionais da República Portuguesa nessa altura e, obviamente, do papel que o arquipélago dos Açores desempenhou nesse contexto, que não foi, como veremos mais adiante, de forma alguma despiciendo.

Como nota introdutória, diríamos que a problemática relacionada com a importância estratégica do arquipélago dos Açores aumenta, de forma inequívoca, entre a Guerra Hispano ‑Americana de 1898, a construção do Canal do Panamá e o decurso da Primeira Guerra Mundial.

A fim de compreendermos este assunto, é importante termos em consideração que durante o primeiro conflito mundial, Portugal tinha como um dos principais corolários, senão mesmo o principal, no que diz respeito à sua política externa, a manutenção do império colonial, designadamente em África. Podemos, consequentemente, afirmar que a defesa dos seus territórios africanos constituía, pois, o centro de toda essa política externa.

Por outro lado, a localização das ilhas, a capacidade de reabastecimento de navios em Ponta Delgada, a localização de centrais de comunicação por cabo submarino e TSF na Horta e ainda a localização de um depósito de internados alemães e austro ‑húngaros em Angra do Heroísmo, eram fatores estratégicos que as tornavam alvo dos submarinos alemães. Para além disso,

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urge referir o grande número de comboios navais que transportavam tropas entre os EUA e a França sobretudo a partir de 1917.

No início do século XX, podemos verificar que a embrionária política externa de D. Manuel II se propunha manter as grandes coordenadas do reinado anterior, isto é, a conservação das posições ultramarinas com base nas potências que para tanto pudessem prestar ‑nos apoio válido e paz com a Espanha em situações de neutralidade comum ou de beligerância também comum. Neste contexto, a Primeira Guerra Mundial colocou, de novo, em evidência, a dependência da política externa portuguesa da Grã ‑Bretanha.

Portugal, de uma maneira geral, sempre foi importante para a Inglaterra na medida em que, como escreveu, por exemplo, Lord Rotermere no Daily

Mail, tem posições estratégicas que o tornam chave das suas comunicações

marítimas. Segundo ele, os Açores são mais importantes do que Gibraltar, Cabo e Singapura juntos. Descreve ainda a posição do arquipélago açoriano, dominando a linha marítima inglesa e afirma que a teoria de que os Açores podiam ser ocupados por simples ação naval era errada. Uma defesa adequada deste arquipélago podia destruir uma expedição naval e impedir as comunicações com a Inglaterra189.

Nesse mesmo artigo, solicita às autoridades britânicas para terem presente que a Inglaterra, mais do que nunca, necessitava da amizade de Portugal que “…é o guarda da porta através da qual passa tudo o que é essencial para a Inglaterra190.

Neste contexto, como refere, por exemplo, Medeiros Ferreira, o conceito de facilidades foi elaborado aquando das conversações entre o rei Dom Carlos e o rei Eduardo VII de Inglaterra, no ano de 1903191. Entre este ano e o início da Primeira Guerra Mundial, é evidente por parte das autoridades britânicas a necessidade de os responsáveis portugueses não concederem facilidades nos portos insulares, designadamente no arquipélago dos Açores, a terceiros países, em particular à Alemanha. Essas facilidades assentavam designadamente no seguinte: depósitos de carvão nos principais portos atlânticos; óleos combustíveis, fornecimento de bens alimentares e outros.

Após o início do conflito, e durante o período em que Portugal mantem a sua neutralidade, até março de 1916, é notória a utilização desigual dos vários portos do arquipélago por navios britânicos e alemães. De facto, a Alemanha manifestou, por várias vezes, junto do Governo Português, o seu desagrado 189 Dez Anos de Política Externa, vol. IV, Doc. Nº 749, p. 25.

190 Luís M. Vieira de Andrade, Neutralidade Colaborante – o caso de Portugal na Segunda Guerra

Mundial, Coingra, Ponta Delgada, 1993, pp. 129 ‑130.

191 José Medeiros Ferreira, Revisão Histórica da Participação de Portugal na Primeira Guerra

Mundial – a dimensão histórica, Instituto Histórico da Ilha Terceira, Angra do Heroísmo, 1987, p. 4.

relativamente à forma como interpretavam o estatuto de neutralidade nos seus portos atlânticos, designadamente no arquipélago dos Açores.

De facto, é importante fazer notar que Portugal era muito mais benévolo com a Inglaterra do que com a Alemanha no que diz respeito a esta matéria. E isto resultava, sobretudo, da Aliança Luso ‑Britânica do final do século XIV, mais precisamente de 1373.

Se analisarmos, em detalhe, as relações anglo ‑lusas ao longo dos séculos, verificamos que elas beneficiaram sobretudo o Reino Unido. Neste contexto, não há amigos permanentes nem inimigos permanentes, o que há, de facto, são interesses permanentes.

Convém referir, no entanto, que se tivermos em consideração as Convenções de Haia de 1907, verificamos que, como é evidente, nenhum país pode conceder facilidades, designadamente de natureza militar, a qualquer Estado beligerante durante um conflito.

Por outro lado, no que diz respeito ao interesse dos EUA pelo oceano Atlântico, Walter Lippman escreveu o seguinte na New Republic:” The safety of the Atlantic highway is something for which America should fight. Why? Because on the shores of the Atlantic Ocean there has grown up a profound web of interest which joins together the western world (…) If that community were destroyed we should then know what we had lost”. Mais tarde, já durante a Segunda Guerra Mundial, Lippman acrescentou o seguinte:” The Atlantic Ocean is not the frontier between Europe and the Americas. It is the inland sea of a community of nations allied with one another by geography, history and vital necessity”192.

Neste contexto, gostaríamos de realçar, de igual modo, que uma das razões mais importantes, senão mesmo a mais relevante, segundo alguns analistas, da entrada dos Estados Unidos da América na Primeira Guerra Mundial, prendeu ‑se com a liberdade de circulação nos mares, como defendia, por exemplo, Alfred Thayer Mahan, talvez um dos maiores teóricos do poder marítimo a nível mundial. A Geopolítica não pode nem deve ser esquecida por forma a melhor entendermos toda esta complexa problemática.

O trabalho desenvolvido por Mahan reveste ‑se de uma importância vital para o mundo ocidental, particularmente para os Estados Unidos da América. Ele escreveu durante o apogeu do expansionismo europeu, designadamente o britânico, e o surgimento dos EUA como potência mundial. A sua análise da história marítima, designadamente do crescimento da influência global do Reino Unido, levou ‑o a concluir que o controlo dos mares, e especialmente de pontos de passagem estrategicamente importantes, era crucial a fim de que um país conseguisse, em primeiro lugar, defender os seus interesses, 192 Citado por James Robert Huntley, The NATO Story, Manhattan Printing Company, New York,

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designadamente comerciais e económicos, e em segundo lugar, obter o estatuto de grande potência e, consequentemente, desempenhar um papel de relevo no âmbito das Relações Internacionais.

Neste contexto, escreveu ainda, que um país, com as especificidades dos EUA, necessitaria, de igual modo, de um poder naval apoiado “em bases militares e estratégicas ultramarinas”. Este aspeto é, de facto, essencial por forma a entendermos a política externa dos EUA desde essa altura até aos dias de hoje. O objetivo essencial da nação norte ‑americana era, de facto, obter facilidades nos Açores a fim de que a campanha contra os submarinos alemães fosse o mais eficiente possível.

Aliás, o mesmo se passou, durante a Segunda Guerra Mundial, no que se refere à base das Lajes, que constitui, sem dúvida, um exemplo paradigmático da necessidade de os EUA contarem com pontos estratégicos, neste caso no Atlântico Norte, quase a meio caminho entre a América do Norte e a Europa, por forma a poderem conter a potência continental expansionista.

No início do século XX, mais precisamente a partir de 1906, os ingleses alertavam os governantes portugueses para que não atribuíssem a qualquer potência concessões para depósitos de carvão ou de quaisquer outras facilidades nos seus portos do Atlântico193.

Já durante a Primeira Guerra Mundial, o Governo Português é informado pelo Governo Britânico que este tinha assegurado unilateralmente a defesa dos portos portugueses não continentais, uma vez que Portugal não dispunha dos meios, quer humanos quer materiais, para o fazer.

Pouco tempo depois, é a vez dos EUA solicitarem facilidades no arquipélago, nomeadamente em Ponta Delgada, com o intuito de evitar que os submarinos alemães utilizassem os Açores como base para as suas operações navais. Assistiu ‑se, portanto, nessa altura, à necessidade premente por parte das potências marítimas de beneficiarem de bases de apoio a meio do Atlântico Norte para mais facilmente poderem conter a potência continental expansionista. Como é sabido, o mesmo se passou após o fim da Segunda Guerra Mundial no que diz respeito à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, com a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a 4 de abril de 1949 (mesmo não sendo Portugal uma democracia) e do Acordo de Defesa entre Portugal e os EUA em setembro de 1951. Assinale ‑se que a NATO fará 70 anos em abril de 2019.

Porém, foi a 15 de abril de 1917 que o Conde de Alte, ministro de Portugal em Washington, envia um telegrama para Lisboa em que se faz uma primeira referência ao estabelecimento de uma base naval americana nos Açores194. Aliás, já em Ponta Delgada, Franklin Delano Roosevelt, então 193 José Medeiros Ferreira, Ibid.,p. 4.

Subsecretário da Marinha, havia referido a importância deste arquipélago a ponto de considerar o apoio concedido pela base naval de Ponta Delgada às forças aliadas, mais relevante do que a própria participação militar portuguesa no teatro europeu. Ainda em declarações prestadas ao jornal micaelense República, Roosevelt tinha afirmado que era motivado pela sua situação geoestratégica que os Açores tinham prestado uma contribuição especial no transporte de tropas para o velho continente, possibilitando, desta forma, evitar que o desfecho da guerra se prolongasse. Adiantou ainda que “… à medida que a guerra continuar, a importância destas ilhas, que tem sido grande, irá sempre aumentando, será cada vez maior”195.

No que concerne à Península Ibérica, é importante referir que, durante a Primeira Guerra Mundial, Portugal participou naquele conflito, o mesmo não acontecendo com a Espanha, que permaneceu neutral. Portugal, por conseguinte, ao combater ao lado das potências marítimas, deu provas de que a sua política externa se caracterizava por ser pró ‑ocidental, isto é o nosso país estava ao lado dos Aliados na sua luta contra a Alemanha.

No âmbito das facilidades concedidas aos países aliados durante aquele período, destacamos as seguintes: 1 ‑ fornecer dados meteorológicos à Inglaterra e aos Estados Unidos da América, apenas negando essas informações aos alemães; 2 ‑ fornecer carvão e abastecimentos assim como outros combustíveis e reparar pequenas avarias dos navios Aliados; 3 ‑ ceder aos ingleses o controlo dos cabos submarinos alemães que amarravam na Horta; 4 – permitir aos ingleses o estabelecimento de uma estação de telegrafia sem fios no lugar das Feteiras; 5 ‑ autorizar o estabelecimento de uma base naval norte ‑americana em Ponta Delgada, no segundo semestre de 1917196.

Como podemos facilmente constatar, foi essencialmente o apoio de natureza logístico que foi prestado aos Aliados ao longo do primeiro conflito mundial. O que interessava sobretudo era preservar a liberdade de navegação nos mares, e nesse caso específico no Atlântico Norte, área onde o perigo proveniente dos submarinos alemães se tornou preocupante principalmente durante o ano de 1917, tendo inclusivamente os arredores de Ponta Delgada sido bombardeados por um submarino alemão.

No entanto, o processo relativamente à concessão pelo Governo Português de uma base naval nos Açores aos EUA, foi muito complexo, na medida em que já existia um entendimento entre Londres e Lisboa que assentava no facto de a defesa dos portos insulares portugueses ser da responsabilidade da marinha britânica. Porém, os bombardeamentos alemães

195 “Franklin D. Roosevelt nos Açores durante a Primeira Guerra Mundial” in Diário de Notícias,

15 de dezembro de 1982, p. 4.

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à cidade do Funchal em dezembro de 1916 e a Ponta Delgada a 4 de julho de 1917, contribuíram para demonstrar claramente que o Reino Unido tinha descurado, quase por completo, a defesa das ilhas atlânticas portuguesas.

O facto de terem chegado a Ponta Delgada, no dia 25 de julho de 1917, cinco destroyers norte ‑americanos contribuiu para alterar as relações anglo ‑norte ‑americanas no que diz respeito ao patrulhamento dessa área do Atlântico Norte. Tornou ‑se evidente que a administração norte ‑americana se preocupava seriamente com a segurança do Atlântico, particularmente com os Açores.

No que diz concretamente respeito à sua defesa, as ilhas açorianas necessitavam sobretudo de material de artilharia. Contudo, a estratégia militar portuguesa dessa altura não encarava o arquipélago dos Açores como uma zona prioritária. Registe ‑se, neste contexto, o quase abandono a que foram votados os Açores por parte das autoridades nacionais. Note‑ ‑se que este “esquecimento” esteve na base de sérias divergências entre as autoridades açorianas e o poder central.

Como também é sabido, foi a apreensão dos navios alemães surtos em portos portugueses, incluindo nos Açores, que esteve na base da declaração de guerra da Alemanha a Portugal.

No entanto, em todo este contexto, é através do estabelecimento de uma base naval norte ‑americana em Ponta Delgada, que se inicia uma relação mais forte entre Portugal e os EUA, que se traduzirá, mais tarde, no acesso a uma base na ilha Terceira, que será, de facto, uma das mais importantes no âmbito da política externa portuguesa ao longo do século XX. Referimo ‑nos, concretamente, à Base das Lajes, onde ainda se encontra um destacamento da Força Aérea Norte ‑Americana, muito embora com um número muito reduzido de militares, comparativamente com o que sucedia não há muitos anos a esta parte.

Como podemos constatar, os Açores desempenharam um papel muito relevante, não apenas no âmbito da política externa portuguesa, mas também no controlo que as principais potências mundiais procuraram exercer no Atlântico Norte. Por outro lado, a presença norte ‑americana em Ponta Delgada foi bem aceite pela população micaelense, tendo contribuído, de igual modo, para fomentar focos de autonomismo, e até mesmo de independentismo, nas ilhas, particularmente em São Miguel.

Neste contexto, as relações entre os Açores e a República vinham ‑se a degradar há já algum tempo e o ataque do submarino alemão contribuiu ainda mais para esta degradação. O facto é que a maioria da população açoriana se sentia abandonada pelo poder central e, consequentemente, sente uma enorme admiração pelos norte ‑americanos que ajudaram, com a utilização do navio ORION, que se encontrava em reparações no porto de Ponta Delgada, a repelir o ataque do submarino alemão à cidade de Ponta Delgada.

A tal ponto que o nome ORION passou a ser utilizado por várias marcas comerciais e estabelecimentos na ilha de São Miguel, mais especificamente em Ponta Delgada.

Por outro lado, a presença norte ‑americana voltou a ser decisiva quando, em 1918, surge a gripe espanhola ou influenza, a que se associou uma assinalável falta de alimentos, tendo o apoio norte ‑americano sido decisivo na ajuda às populações.

De facto, os meses de outubro e novembro de 1918 foram particularmente difíceis, na medida em que, para além do flagelo da gripe espanhola, a economia local se encontrava num estado absolutamente lastimável, como o demonstra, por exemplo, a estagnação das exportações, encontrando ‑se as importações totalmente dependentes de um eventual apoio estrangeiro, contribuindo tudo isto para um grande agravamento social em todas as ilhas dos Açores, particularmente em São Miguel. Como é sabido, nessa altura, a fome foi um flagelo que afetou um número considerável de açorianos em geral e de micaelenses em particular.

Tendo em consideração o que foi referido anteriormente, Medeiros Ferreira escreveu o seguinte: “Todavia, uma das lacunas da política externa da 1ª República será, depois, a ausência, repetida, de uma estratégia para estabelecer especiais relações com os EUA, mau grado as oportunidades oferecidas pelo processo de reconhecimento em 1911, pela autorização de uma base naval norte ‑americana em Ponta Delgada em 1917 e pelo decorrer da Conferência de Paz em Paris em 1919.”197.

É, portanto, compreensível, que uma das primeiras preocupações do regime saído de 1910, no âmbito da política externa, tenha sido uma maior diversificação das relações internacionais de Portugal, quer no campo diplomático, quer nos campos comercial, económico e financeiro.

No entanto, foi, de facto, o pedido de Londres para Portugal requisitar os navios alemães surtos em portos nacionais, em fevereiro de 1916, que está na base da declaração de guerra da Alemanha a Portugal a 9 de março daquele ano. Mais uma vez, podemos, de facto, constatar que a política externa portuguesa era muito dependente da política externa britânica. Se analisarmos com atenção as relações anglo ‑portuguesas desde, pelo menos, o século XIV, mais precisamente 1373, verificamos que esse relacionamento serviu, essencialmente, os interesses britânicos.

Com base no que foi referido anteriormente, podemos concluir, entre outras coisas, que a entrada de Portugal na Primeira Guerra Mundial permitiu‑

197 “Os Açores, a I Guerra Mundial e a República Portuguesa no Contexto Internacional” in

Os Açores, a I Guerra Mundial e a República Portuguesa no Contexto Internacional, Actas do Colóquio, Presidência do Governo Regional dos Açores, Direção Regional da Cultura, Ponta Delgada, 2012. p. 34.

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‑lhe, de igual modo, um reconhecimento internacional, contribuindo, desta forma, para a sua participação na Conferência de Paz de Paris, em 1919, como uma das potências vencedoras daquele conflito.

Como também já foi mencionado, o principal objetivo da entrada de Portugal na guerra foi, sem dúvida, a preservação do seu império colonial. No entanto, existiram, de igual modo, objetivos de natureza económica e financeira que não foram de modo algum despiciendos. Entre estes objetivos, podemos referir os seguintes: a participação no Conselho Executivo da Sociedade das Nações; o pagamento de reparações e indemnizações de guerra por parte da Alemanha; a distribuição da tonelagem da sua marinha mercante; o perdão da dívida de guerra contraída ‑ ou, pelo menos, a ligação do seu pagamento à liquidação das reparações por Berlim, junto do Banco de Inglaterra no valor de 22 milhões de libras198.

No entanto, os Açores, com o fim da Primeira Guerra Mundial, perderam a sua centralidade, assistindo ‑se, de novo, ao isolacionismo norte ‑americano, tendo como principais preocupações a autonomia e o regionalismo.

Não nos podemos esquecer que, desde pelo menos 1823, a política externa norte ‑americana foi caracterizada pelo isolacionismo. Nessa altura, a Doutrina Monroe defendia a tese de que as Américas são para os americanos evitando, deste modo, a interferência dos europeus nos seus assuntos internos.

Podemos, todavia, afirmar que as pretensões norte ‑americanas durante a Primeira Guerra Mundial, foram praticamente todas satisfeitas, independentemente de algumas reações contrárias que existiram nessa altura, designadamente a do comandante do cruzador Vasco da Gama, Augusto Neuparth, que, como refere Medeiros Ferreira, “… a 23 de março de 1918, envia para Lisboa um relatório em que afirma que as forças navais americanas são poucas e nós poderíamos sem grande dificuldade ombrear com elas”199.

Por outro lado, Medeiros Ferreira escreve que um dos principais motivos

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