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3 PESQUISA ANALÍTICA DA JURISPRUDÊNCIA CATARINENSE

3.1 Análise da jurisprudência catarinense

3.1.2 Os alimentos nas decisões catarinenses do compartilhamento de guarda

Quanto à fixação de alimentos no tribunal catarinense também existem decisões controversas e outras acertadas. Observe-se:

1) TJSC, APELAÇÃO CÍVEL N. 2015.050655-3, RELATORA DES.ª DENISE VOLPATO, julgamento em 29-09-2015

[...] Estabelecida a guarda compartilhada, e observada a capacidade financeira de ambos os pais (a despeito da diferença nos rendimentos), desnecessária a fixação

de alimentos. [...]

2) TJSC, APELAÇÃO CÍVEL N. 2015.041153-9, RELATOR. DES. JORGE LUIS COSTA BEBER, julgamento 24/09/2015

[...] Alusivamente aos alimentos, apesar de a guarda compartilhada não

impedir o pensionamento, não verifico, no caso, necessidade de continuidade da prestação alimentícia, tendo em vista que a filha do casal ficará sob a custódia física do pai na maior parte do tempo, além do que ambos os genitores trabalham

e ostentam condições de arcar com as despesas da menor enquanto esta estiver sob seus cuidados, ainda que bem demonstrado nos autos que o genitor apresenta melhores condições financeiras.

3) TJSC, APELAÇÃO CÍVEL N. 2014.066271-7, RELATORA DES.ª ROSANE PORTELLA WOLFF, julgamento 18/06/2015

[...] Dessa forma, bem sopesadas essas variáveis, à luz do trinômio de necessidade (presumida no caso), capacidade e proporcionalidade, os valores dos alimentos

devidos devem ser rateados nas seguintes frações: 40% por parte da Recorrente e 60% à custa do Recorrido. Como dito, entretanto, por inexistirem

informações quanto às despesas, no momento, deixa-se de balizar a distribuição concreta do encargo, ficando dependente de diálogo e acordo, que decerto já vem ocorrendo, para a satisfação dos débitos dos filhos, sem prejuízo, naturalmente, de eventual execução seguindo os parâmetros fixados.

4) TJSC, APELAÇÃO CÍVEL N. 2014.045340-0, RELATOR DES. RONEI DANIELLI, julgamento em 03/02/2015

[...]

Em que pese a fixação da guarda compartilhada, tendo em vista que os jovens permanecerão residindo com a mãe, cujos alimentos são prestados in natura, permanece o genitor com a obrigação alimentar nos termos fixados pelo julgador

primeiro grau (1 salário mínimo), em atendimento ao trinômio necessidade, possibilidade e proporcionalidade

5) TJSC, APELAÇÃO CÍVEL N. 2014.047067-1, da Capital, RELATOR DES. SEBASTIÃO CÉSAR EVANGELISTA, julgamento em 26/02/2015.

[...]

A apelante em sua insurgência pugnou pela inversão da verba alimentar fixada na sentença, todavia aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores. As crianças e adolescentes têm presumida sua necessidade alimentar, razão pela qual há que se considerar os diversos gastos com alimentação, vestuário, lazer, educação além de outros inerente a faixa etária. Desta forma, uma vez que a residência principal da menor é na casa do genitor a verba fixada para a mãe pagar em favor da filha é necessária para custear parte das despesas da infante.

Interessante perceber que no julgado n. 1 é reconhecida a discrepância entre os valores percebidos pelas partes e mesmo assim é reputada desnecessária a obrigação alimentar. Os pais podem saber e exercer a responsabilidade conjunta, entendendo e se organizando na questão dos pagamentos, independente de obrigação judicial. É o que acontece com muitos casos onde os pais são suficientemente maduros para tanto, mas não é que seja desnecessário o pagamento de alimentos como a decisão afirmou, apenas depende da situação. In casu, vê-se que o decisum por ter instituído guarda compartilhada sem plano de convivência regulado, também não dispôs sobre os alimentos, relegando tais decisões para o dia a dia dos genitores. Em casos que ambos os genitores se dão bem e tem diálogo desenvolvido pode ser uma opção viável e é o que parece ser nesse caso, com "poucas desavenças [...] [que] tendem a ser superadas com o encerramento da celeuma judicial".

No caso n. 2 percebe-se que o a residência base foi definida como a casa do genitor, e assim, este prestará alimentos in natura, e embora ambos aufiram monta relevante, não seria absurdo imaginar que ela devesse pagar alimentos, contribuindo diretamente para parte do custeio da educação ou alimentação.

Já no caso n. 3 percebe-se que há algo incomum, na decisão foi delimitado que os alimentos ficariam divididos entre 40% da genitora e 60% do genitor. É incomum, pois na verdade o que o Judiciário estava realizando era apenas resolução de como as contas deveriam ser divididas; embora seja prática interessante, não se rotula de alimentos, vez que não faria sentido nenhum o genitor pagar uma quantia à genitora e, após, a genitora pagar ao genitor outra quantia a título de mesmas verbas, já que o dinheiro é por natureza fungível, bastando que se compensasse; mas claramente esse não é o objetivo da decisão.

E nos casos de números 4 e 5 são exemplos de aplicação precisa dos alimentos quando do compartilhamento de guardas. Percebe-se que nesse quesito os parâmetros não mudam muito do que na guarda unilateral, principalmente porque o que deve efetivamente

mudar é a presença constante dos dois pais na vida da prole. Quanto às contas, deve haver organização para minimizar a chance de conflitos também nesse aspecto, sendo os alimentos bastante eficazes; aquele que está com a base de residência do infante e já gasta com toda essa estrutura deve (certamente nas situações em que o outro genitor tiver condições) receber alimentos para a ajuda de custo da criação da criança.

Além desses casos, há o processo de n. 2014.064263-6, sob relatoria do Des. Alexandre d'Ivanenko que tem por objeto especificamente a discussão de alimentos em compartilhamento de guardas, com explicação e conclusão plausíveis:

Quanto ao infante, muito embora tenha sido estabelecida a guarda

compartilhada, o magistrado singular determinou a manutenção da criança no lar anteriormente ocupado pela família, cuja administração é agora exercida exclusivamente pela genitora e os gastos por ela suportados.

Por se tratar o alimentante de pessoa com considerável rendimento, vê-se que a família sempre gozou de excelente condição de vida, usufruindo de todo o conforto e facilidades cujo acesso restringe-se a uma camada privilegiada da população, podendo-se afirmar, inclusive, que desfrutavam de certos luxos e extravagâncias. [...]

Assim, entendo que a quantia de 3 (três) salários mínimos mostra-se insuficiente para garantir a manutenção do infante em padrão próximo ao anteriormente sustentado.

Registro, em tempo, que não desconheço os motivos pelos quais a verba fora fixada neste patamar, entretanto a guarda compartilhada deve ser pautada na

manutenção do modo de vida do menor.

Sem embargo da necessária e legal contribuição de ambos os pais, proporcionalmente, o arranjo deve contemplar a forma como se dará

efetivamente a divisão de tempo com o filho.

[...]

Desta feita, entendo por bem a majoração da pensão alimentícia em favor do filho

para 5 (cinco) salários mínimos, a menos enquanto sua genitora for também

beneficiária da verba alimentar. Alterada tal situação fática, permite-se revisão. (grifo nosso)

Assim, percebe-se que neste tópico não há a negação expressa de que é indevido o pagamento de alimentos por conta da guarda compartilhada, mas ainda há certa confusão quanto os exatos termos do porquê e do quando devem ser pagos. Assim, parte do Judiciário catarinense precisa se sintonizar com o tema.