• Nenhum resultado encontrado

Os ambientes escolhidos para serem observados

5 EM DIREÇÃO AO CONTEXTO ESCOLAR INVESTIGADO: PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS

Esquema 5: Sistema de articulação entre as situações corrente, imaginada e arranjada

6 O CONTEXTO ESCOLAR INVESTIGADO

6.2 Os ambientes escolhidos para serem observados

No período noturno da escola em que se inserem os ambientes escolhidos para serem observados, o funcionamento é exclusivo para a EJA, com quatro salas de aula voltadas para o Ensino Fundamental. As turmas são organizadas no início do ano letivo de modo aleatório, à medida que os alunos se matriculam na escola. Como já foi destacado anteriormente, ao longo de todo o ano, alunos veteranos deixam de freqüentar as aulas assim como novos alunos passam a fazer parte de cada uma das turmas.

Curiosidades, questionamentos, expectativas me acompanhavam nos primeiros momentos de observação, em que estive ao lado do professor em sua rotina escolar. Ao entrar pela primeira vez em cada uma das salas de aula, fui apresentada aos alunos como uma pesquisadora da UFMG, que nelas permaneceria por um tempo durante suas aulas de Matemática.

Em cada turma, novas curiosidades, novos questionamentos e novas expectativas, que levavam a novas impressões. Em duas turmas, as quais serão denominadas nesta dissertação como A e B, o professor lecionava um maior número de aulas semanais e, por esse motivo, foram escolhidas como os ambientes a serem observados.

A assistência às aulas ocorreu em dois momentos distintos da investigação: enquanto estava sendo iniciado o estudo teórico sobre a Etnomatemática e sobre a Educação Matemática Crítica, durante os meses de março e abril de 2007; e nos meses de novembro e dezembro daquele ano, quando houve a conclusão desse estudo teórico. Tal escolha metodológica possibilitou novos olhares e posturas diferenciadas com relação às aulas observadas. Num primeiro momento, direcionei a atenção para aspectos mais específicos da aula e dos conteúdos matemáticos que estavam sendo trabalhados; num segundo, percebi com maior clareza a presença de lacunas nos diferentes momentos observados. Segue, portanto, um relato das impressões gerais que tive acerca de cada uma dessas turmas.

Na turma A, o número de alunos que freqüentava as aulas variava em torno de 25 a 30. Essa turma possuía uma característica particular: tinha uma grande quantidade de alunos mais jovens, na faixa etária entre 18 e 30 anos. Nos primeiros dias de observação, notei que um pouco de constrangimento rondava a sala devido a minha presença naquele ambiente. Após uma

semana, tal postura já tinha sido superada. Foi a partir desse momento que as aulas se desenvolveram com uma maior liberdade: o professor mantinha uma relação de amizade com os alunos e eles correspondiam participando ativamente dos trabalhos.

Percebi nessa turma um companheirismo entre os colegas, pois um incentivava o outro que estava cansado devido à jornada de trabalho que enfrentava ou às dificuldades em aprender determinado conteúdo. Esse companheirismo também esteve presente em outras ocasiões, como nas confraternizações que os alunos organizavam para comemorar os aniversários dos colegas em determinados períodos. Essas confraternizações aconteciam na própria escola, e tive a oportunidade de participar de uma delas. Tal acontecimento possibilitou uma maior aproximação entre mim e os alunos, o que concorreu para que as aulas se desenvolvessem com mais naturalidade.

Ao retornar a campo, no segundo momento de observação de aulas, fui recebida com bastante entusiasmo pela turma A. O mesmo companheirismo foi demonstrado, pois os alunos conversavam comigo como se eu fosse uma grande amiga deles. A turma estava com alguns alunos novos, mas a grande maioria daqueles que já estavam presentes no início do ano mantinham-se freqüentes às aulas.

A turma B possuía uma característica bastante diferenciada: os alunos que freqüentavam as aulas eram um pouco mais velhos e apresentavam um maior grau de dificuldade em entender os conteúdos matemáticos. Talvez por isso, eles acompanhavam as aulas com uma maior concentração. Apesar de, nessa turma, estarem matriculados um número maior de alunos em relação à turma A, variavam em torno de 12 a 15 os que freqüentavam as aulas regularmente. Essa alta rotatividade de alunos presentes na sala fazia com que aumentassem as dificuldades e, conseqüentemente, que diminuísse o ritmo de exposição de conteúdos.

Durante a exposição dos conteúdos, essa turma tinha quatro alunos que se manifestavam com mais freqüência valendo-se de questionamentos, comentários e reclamações voltadas para os conteúdos matemáticos. Os demais participavam como coadjuvantes, assistindo aos acontecimentos e tentando fazer os exercícios quando o professor solicitava.

No segundo momento de observação, levei um grande susto ao entrar na turma B, pois os alunos já não eram os mesmos. Dos quatro alunos que mais questionavam durante as aulas de Matemática, dois não se faziam mais presentes, indicando que a rotatividade permanecia ao longo de todo o ano.

De acordo com as características dos ambientes escolhidos para serem observados, é possível destacar as singularidades que cada um deles traz para o trabalho e que, certamente, influenciarão na condução das aulas de Matemática. Ao descrever as situações escolhidas para serem analisadas, percebi que o fato de se referirem a turmas que possuem como características principais um grande companheirismo (turma A) e uma alta rotatividade dos alunos (turma B), teve uma influência direta no andamento da aula. A descrição das situações escolhidas para serem analisadas, bem como a exposição dos motivos que me levaram a selecionar tais momentos, é apresentada na seção seguinte. É também nessa seção que exponho a análise de cada uma dessas situações que, com a incorporação de imaginações pedagógicas, levará à estruturação de uma (entre as tantas possíveis) situação imaginada.