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3) E por fim, há a terceira explicação de Conniff (1981), que considera a Reação Republicana como o primeiro movimento de caráter populista no

2.2 Os arranjos institucionais na sociedade brasileira de

Os três fenômenos sociais citados perpassam por atores e grupos semelhantes, denotando certa linearidade entre as reivindicações pretendidas e a transformação política necessária para desembocar em um sistema social distinto do vigente na Primeira República. A crise política instaurada na década de 1920 tem como principal problema a instabilidade do regime sucessório para a Presidência da República. Por não existir partidos nacionais, os candidatos sempre tinham seus nomes vinculados às oligarquias estaduais, transformando o sistema eleitoral em uma disputa intra-estados.

Aliado a esse problema político-partidário, a escolha do candidato oficial da situação era feita a partir de acordos entre as oligarquias, essencialmente as de São Paulo e Minas Gerais, que dominavam o federalismo hegemônico brasileiro. Quando este pacto era afetado, ocorriam às reverberações na política, dando margem a que novos grupos e atores entrassem na disputa pelo poder. Por esta razão a década de 1920 teve duas das três eleições mais disputadas na Primeira República, além das revoltas que abalaram o sistema oligárquico republicano.

Baseando-se na definição clássica de Leal (1975, p.40) do coronelismo, em que o regime representativo foi desenvolvido em uma estrutura econômica inadequada, Ferreira e Pinto (2006, p.5) analisam a dominação política que a Constituição de 1891 possibilitou. Com um federalismo hegemônico, a Carta deu poderes aos governadores dos Estados e uma autonomia destes frente aos municípios, passando os governadores a ser eleitos através da máquina eleitoral dos partidos estaduais.

Em conjunto com a questão política está a econômica e o enfraquecimento do poder dos fazendeiros, ao passo que o Estado gradualmente adquire suas funções

36 de dominação local para a manutenção deste poder. O voto agora não mais censitário permite a participação de outros atores na eleição, principalmente os da zona rural, sendo estes sustentados com a troca de favores entre o Estado e os coronéis através do voto. Como os atores do meio agrário são dependentes dos proprietários rurais, há um fortalecimento de uma autonomia extra-legal dos coronéis, que distribuem os votos de seu curral para legitimar o processo político e não abalar o sistema oligárquico.

Através de uma revisão conceitual feita por Carvalho (1997, p.4) sobre a temática do coronelismo, é identificada uma crítica de Cammack (1979) ao argumento referente as negociações do poder local efetivadas entre os coronéis com os governadores dos Estados, tendo o mecanismo do voto como uma ferramenta de barganha.

O peso do voto nas eleições do período não significa praticamente nada, tendo em vista a população eleitoral. No ano de 1930, atingiu o seu ápice com 5% de eleitores do total da população. Além disso, a Constituição de 1891 impedia os analfabetos de participarem do pleito, reduzindo drasticamente a contagem eleitoral devido ao Brasil ser um país com alto índice de analfabetismo, principalmente nas zonas rurais, contradizendo dessa forma o argumento da importância da dominação eleitoral pelo voto apresentado acima por Ferreira; Pinto.7

Outro problema encontrado por Cammack refere-se às grandes fraudes existentes nas eleições por não se ter uma Justiça Eleitoral, não importando o resultado final, mas sim qual seria a apuração oficial do Congresso Nacional.

Há, porém, uma análise de Cammack feita pelo próprio Carvalho (1997, p.5), ratificando o voto como não sendo mesmo um ponto fundamental do coronelismo. Em outras palavras, a condição do voto não é necessária para o poder coronelista, somente se este tivesse uma associação individual com os governadores dos Estados, o que não ocorria exceto em alguns casos especiais como na Bahia. A força dos coronéis não era construída isoladamente, os seus poderes advinham de grupos que negociavam com o governador a troca de favores políticos.

Para o sistema possuir certo equilíbrio, era importante o apoio da maioria dos coronéis dos Estados ao governo, mesmo se este apoio não viesse através da máquina eleitoral. Como foi comprovado, se o voto fosse essencial para o

37 funcionamento do sistema coronelista certamente as eleições tenderiam a ter uma maior participação política da população, não os números entre 1% e 5% encontrados ao longo de todo o período de 1889-1930.

No figura 18 a seguir, é visto de forma simplificada a relação entre as três esferas de poder político na Primeira Republica:

Figura 1 - Representação do sistema Coronelista na Primeira República

Esse modelo foi bem utilizado até a década de 1920, da Primeira República, e conseguiu minimizar as crises políticas ocorridas no interior das oligarquias estaduais. Além disso, fortalecia alguns Estados em detrimento de outros, como ocorreu com São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, gerando certo descontentamento dos Estados considerados coadjuvantes na época.

Mas como os acontecimentos acima corroboram, houve um desgaste desta situação política, principalmente com os desarranjos nos partidos estaduais. O caso do Estado de São Paulo é emblemático e acusa a presença dos distintos sintomas apresentados até então. Diferentemente dos outros Estados brasileiros, o surgimento de um partido de oposição ao PRP em São Paulo, o PD em 1926, teve sua ligação não diretamente com um desgaste do coronelismo na política paulista (ao qual era de menor intensidade, como se verá a frente); mas sim com um embate

8 Representação feita pelo autor, baseada na conceituação e visualização da obra de Victor Nunes

Leal (1975). As demais figuras inseridas no estudo também foram criadas pelo autor para melhor esquematização dos conceitos.

38 no interior das elites políticas, como já apontava Queiroz (2006, p.180) e Casalecchi (1987, p.101) e o racha interno nomeado de a Dissidência dentro do PRP, no início do século XX.