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3.1 1884: a abolição como anseio nacional

3.3 O violento embate entre abolicionistas e escravistas em 1887

3.3.2 Os atentados se intensificam

estavam certos de que a vitória do movimento campista estava próxima.

Por isso, interessava mais convencer os resistentes senhores da cidade, mostrando que estavam isolados, do que reforçar a ideia das fugas em massa por notas de felicitação ou de argumentação dos abolicionistas da corte. Era mais vantajoso ressaltar a realidade das fugas dos escravos que ocorriam naquele momento, pois elas eram a argumentação viva de tudo que o jornal afirmava há anos. Segundo, as violentas ações dos escravistas demandavam desses abolicionistas que se concentrassem em propagar o ocorrido na corte para intimidá-los e, assim, conter a fúria com que eram atacados, em vez de ainda tentar convencê-los a aderir ao abolicionismo. Baseamos essa nossa hipótese na constância e na intensidade com que os atentados sofridos pelos abolicionistas em 1887 são relatados. É o que veremos no item a seguir.

teatro, a luta continuou, agora com espadas e a ajuda dos praças à paisana, terminando o atentado com a fuga dos agressores para o quartel ou para fazendas. Após descrever o ocorrido, mais uma vez o jornal faz o papel da polícia, apresenta os culpados e as possíveis testemunhas, já demandando atitudes do juiz de direito, uma vez que afirma não se poder contar com a imparcialidade do suplente de delegado, nem com o comandante do destacamento. Por fim, Lacerda aponta a causa do assassinato, dizendo que, com a pouca iluminação, tinham tomado “a desventurada vítima por mim”, pois “o assassinado Luiz Fernandes tinha muitos traços fisionômicos iguais aos meus, usava a barba do mesmo modo, mesmo corpo, ocorrendo ainda que ao colo trazia [seu] filhinho mais velho, cuja idade é a mesma [da] do [filho do] assassinado.”93

O atentado foi muito exposto em jornais da cidade. A Gazeta do Povo afirma que, além de não oferecer suporte, a polícia estava envolvida no atentado. O Monitor Campista informa que todas as (muitas) versões existentes negavam o envolvimento da polícia, embora reconhecessem a necessidade de nomear um delegado remunerado, acima dos indicados políticos. Afirma ainda não crer que o atentado objetivasse interromper o abolicionismo. A violência ocorrida também foi bastante exposta na corte, posto que não se podia esconder o fato, uma vez que até o chefe de polícia foi enviado a Campos. Enquanto um jornal conservador da corte afirmasse que isso se devia aos últimos incêndios, o Gazeta da Tarde acusava ser essa uma manobra para encobrir o atentado, pois Cotegipe, atendendo a pedido de Thomaz Coelho, propunha a delação de escravizados, prometendo alforriar quem contribuísse com a resolução do crime, o que feria o Código de Processo, pois a testemunha não pode depor movida por interesses. Outro artigo da Gazeta da Tarde revela o que tinha gerado o atentado através de uma carta de Lacerda:

Os abolicionistas receberam o escravizado Fernando e conduziram-se profissionalmente pela rua, até que pudessem tirar-lhes os ferros.

A população indigna-se; os negreiros exasperam-se, dirigem-se à polícia, pedem-lhe que mande dissolver a reunião popular.

(VINTE E CINCO DE MARÇO, 6 fev. 1887, p. 2-3)

93 VINTE E CINCO DE MARÇO, Campos dos Goytacazes, 3 fev. 1887. Seção “Vinte e Cinco de Março”, p. 1-2.

Diante da afirmação, os escravistas armados decidem interromper os abolicionistas, mas, impossibilitados de uma ação enérgica durante o “desfile”

do escravizado, dado o cortejo popular que o acompanhava e o apoiava, agiram assertivamente durante o meeting, camuflando a ação como um mal-entendido. Após essa notícia, o jornal publica uma nota sobre três incêndios que, segundo testemunhas, haviam sido encomendados pelos próprios fazendeiros e pela polícia. Logo em seguida, há um aviso de que já haviam notificado a imprensa da corte sobre todo o ocorrido. Além disso, lê-se um outro aviso de uma reunião da Confederação Abolicionista, a ser realizada na corte, em protesto às falsas investigações dos incêndios em Campos. Os abolicionistas de Campos, dessa forma, deixam claro que não aceitariam as respostas dadas pelo governo o que é reforçado pelas denúncias críticas de que o juiz de direito de Campos havia sido parcial na investigação do atentado ao meeting abolicionista, porque devia favores a quem lhe indicara ao cargo. O juiz, Sr. Dr. Carlos Bastos, era irmão do Barão de Itaóca e genro do comendador José Cardoso Moreira, ambos amigos do conselheiro Thomaz Coelho. Em seguida, o Vinte e Cinco de Março traz análises detalhadas desmentindo as versões oficiais do atentado e afirma o envolvimento de Thomaz Coelho, do delegado e do juiz de direito no caso. Por fim, conclui que o intuito do atentado era a morte de Lacerda, pela qual seria responsabilizado Raimundo Moreira, a quem os escravistas esperavam que os abolicionistas atacassem, sendo por isso presos. Os abolicionistas, contudo, afirmam ser a liberdade deles mais importante que a morte de um sicário transformado em mártir. Era, portanto, fundamental continuar a luta e, por isso, convocam uma reunião abolicionista. Não adiantavam subterfúgios, a ideia da abolição seguiria a despeito das arbitrariedades dos senhores locais.

Para os abolicionistas, a impunidade deixava os escravistas ainda mais audaciosos, razão do assassinato de Antônio Eurico Cassalho, antigo homem dos escravistas que se negara a participar do atentado à Conferência Abolicionista ocorrida no teatro Empyreo. Mais uma vez agindo com investigações próprias, os abolicionistas afirmam que o desinteresse da polícia em investigar esse caso devia-se ao fato de ele envolver vários crimes escravistas. Buscavam com essas investigações particulares provar como os erros nos inquéritos policiais e as trocas de delegado em Campos deviam-se aos interesdeviam-ses da clasdeviam-se deviam-senhorial (capitaneada pelo condeviam-selheiro Thomaz Coelho) em esconder os seus crimes e também provar os laços pessoais dos

escravistas com os policiais. O Vinte e Cinco de Março afirma que, caso esses esquemas entre escravistas e a polícia não fossem bem-sucedidos, “a verdade ia aparecer e dos criminosos ia ter conhecimento a justiça pública”.94

Os abolicionistas também denunciam o fato de os cargos policiais servirem aos interesses políticos do conselheiro que, quanto mais perseguia os abolicionistas, mais apoio recebia dos escravistas. Argumentavam, diante disto, que os senhores estavam sendo manipulados pelos políticos que não buscavam o interesse da lavoura, mas seus interesses pessoais, como provava a manutenção do delegado Abreu Lima, designado ao cargo por motivações políticas, mesmo tendo realizado prisões indevidas, cometido arbitrariedades, tendo até mesmo sua destituição do cargo sido motivada pelos interesses políticos do conselheiro Thomaz Coelho.

Por fim, o Vinte e Cinco de Março afirma que o assassinato de Eurico Cassalho objetivava culpabilizá-los, pois ocorrera dois dias depois de eles anunciarem que não mais recuariam, que não respeitariam as famílias e que até mesmo avisariam isso aos escravizados. Logo, ou eles realmente fizeram uso aberto da violência (o que não parece ser o caso, pois tinham uma carta comprovando um breve apoio de Cassalho à causa abolicionista), ou os escravistas responderam às ameaças dos abolicionistas com o assassinato, provando que não se intimidavam com elas, pois assassinavam até os seus, caso demonstrassem apoio à ideia da abolição.

A perseguição aos abolicionistas de Campos ocorria também em cidades vizinhas. Em viagem do Clube Indiano Goytacaz, no dia 31 de Julho de 1887, para Macaé, foram cercados por pessoas na chegada à cidade, mas conseguiram fugir seguindo no trem e refugiando-se na estação Imbetiba.

Contudo, os sicários atacaram a população macaense. Embora afirmassem não haver relação entre o Clube Abolicionista Carlos de Lacerda e o Clube Indiano Goytacaz, este último sempre anunciara no jornal e muitos de seus membros eram conhecidos abolicionistas de Campos, como indica o atentado.

Para o Vinte e Cinco de Março, o atentado foi uma represália à exposição de Felipa, a escravizada surrada, cujo caso de violência recebeu destaque na imprensa local e na corte (por meio de transcrições do Vinte e Cinco de Março). A escrava foi declarada como posse do Visconde de Araruama, que negou o fato e, posteriormente, reclamada pelo Barão de Quissamã, ambos importantes fazendeiros de Macaé. A insatisfação desses senhores

levou-94 VINTE E CINCO DE MARÇO, Campos dos Goytacazes, 6 mar. 1887. Seção “Vinte e Cinco de Março”, p. 1-2.

os a usar seu poder pessoal para intimidar os abolicionistas de Macaé e Campos. Sendo Macaé “uma fazenda da família Quissamã (...) como é que um acontecimento daquela ordem ali se poderia dar, sem conhecimento dos que atualmente dirigem a política e os destinos daquele povo?”.95 O poder local era tão explícito que em um artigo do jornal macaense Constitucional, órgão do partido do Visconde de Araruama, publicou-se explicitamente que os fazendeiros de Macaé e Quissamã se reuniram e decidiram impedir, por todos os meios, atos abolicionistas (capitaneados por Lacerda) em sua cidade.

Contudo, o mais importante atentado sofrido pelos abolicionistas do Vinte e Cinco de Março ainda estava por ocorrer. Trata-se da invasão e destruição da tipografia do jornal em outubro de 1887. Ainda em agosto desse ano, sabendo do boato de que a sua redação seria arrombada por capangas e sicários, os abolicionistas afirmaram, ironicamente, que tinham decidido abrir as portas e assim deixar por toda a noite para que as arbitrariedades que vinham sendo feitas se operassem com menor dificuldade. Procurados pelo delegado para zelar por sua segurança, mantiveram, ainda assim, a tipografia aberta durante toda a madrugada, não tendo nada acontecido. No dia seguinte, no entanto, garantem ter ouvido no bonde que, de fato, havia um plano de invasão à tipografia. Mesmo diante desse fato e das muitas intimidações que sofriam, o jornal permaneceu fazendo suas denúncias, sendo a mais grave a que afirmava que o delegado Abreu Lima, além de impedir a realização das conferências abolicionistas, recebia dinheiro diretamente do Clube da Lavoura para defender os interesses particulares daqueles que lhe pagavam. Abreu Lima foi à imprensa desmentir, mas o Vinte e Cinco de Março publicou uma prova do recebimento de dinheiro pago pelo chefe do Clube da Lavoura e uma declaração de gastos. Essa grave denúncia é também relatada por Robert Toplin (1975), para quem os escravocratas de Campos, através do Clube da Lavoura, subsidiavam destacamentos da polícia, com o intuito aberto de intimidar violentamente os abolicionistas da cidade.

Em ato contínuo, o jornal traz como capa a tréplica do Vinte e Cinco de Março às falas do escrivão da delegacia (alferes José Francisco Corrêa), do tesoureiro (João Belisário Soares de Souza) e do secretário (Dr. Jeronimo Batista Pereira) do Clube da Lavoura. Afirmam escrever por responsabilidade jornalística, mas que a partir dali “o julgamento

95 VINTE E CINCO DE MARÇO, Campos dos Goytacazes, 7 ago. 1887. Seção “Vinte e Cinco de Março”, p. 1-2.

compet[ia] à opinião pública”.96 Rebatem ponto a ponto o que foi questionado por seus interlocutores, demonstrando com a transcrição das leis os crimes cometidos. Num primeiro momento, o escrivão reconhece que recebia um salário mensal do Clube da Lavoura, entregue pelo secretário e autorizado pelo tesoureiro do clube. Atitude que se configurava crime de peita, art.

130 do Código Criminal. Ele também afirma ter recebido quantias maiores que o seu salário, enquanto o delegado, bacharel Abreu Lima, afirma que não sabia desse recebimento, pois ele era feito clandestinamente. Mas os abolicionistas afirmam que mesmo que o delegado não tivesse ciência de tais fatos, o crime ocorria sob o seu comando, incorrendo em crime de Prevaricação, e demandam por justiça.

Diante dessas denúncias e da luta do Vinte e Cinco de Março pela libertação de 13 mil cativos em Campos (que veremos em seguida), o atentado de 25 de outubro faz bastante sentido. Nesse segundo e bem-sucedido atentado, a tipografia foi invadida e destruída por praças da polícia.

O estrago foi suficiente para que o jornal não fosse publicado em novembro e dezembro de 1887, voltando apenas em janeiro de 1888. Na versão do Vinte e Cinco de Março, alguns soldados tentavam retirar das paredes do jornal a pintura do apelido depreciativo do comandante da força policial (“Capitão Peixe Frito”), quando os abolicionistas os intimaram a se retirar;

eles responderam atirando e os abolicionistas também. Tempos depois, os soldados retornaram com reforços e os abolicionistas fugiram.

Hervé Rodrigues (1988) acrescenta outros fatos. Ele afirma que, durante a fuga, os abolicionistas abriram uma porta subterrânea para que os escravos acoitados na sede do jornal também pudessem escapar. Carlos de Lacerda fugiu sozinho para Macaé, de onde apanhou um navio para o Rio.

Outros abolicionistas foram presos, a redação do jornal empastelada e suas máquinas quebradas. A confusão teria se estendido às ruas por vários dias, acabando apenas com a intervenção do juiz municipal Godofredo Xavier da Cunha, que ordenou o recolhimento dos soldados ao quartel. Embora os senhores objetivassem destruir a luta abolicionista, o Vinte e Cinco de Março reafirma seu argumento de que esse tipo de atitude, pelo contrário, a fortalecia. Da mesma forma que São Paulo executava sua libertação, Campos também a faria, pois a população da cidade demonstrava seu apoio ao jornal, indignada com o atentado.

96 VINTE E CINCO DE MARÇO, Campos dos Goytacazes, 13 out. 1887. Seção “Vinte e Cinco de Março”, p. 1-2.

Surpreendentemente, o inquérito policial acusava os abolicionistas de atacarem os praças, e não o contrário, o que foi duramente criticado pelo jornal.Como reação, o Vinte e Cinco de Março ofendeu publicamente a moral do delegado responsável pelo “infame inquérito”97 (o bacharel Abreu Lima) e criticou o inquérito, no qual eram réus os abolicionistas Adolfo Porto, Julio Armonde, Feliciano da Silva, Leopoldino Ferreira e José de Matos Sobrinho, acusados de atentar contra a vida dos praças. Baseados no código brasileiro e na opinião de analistas jurídicos, o periódico abolicionista desqualificou o inquérito como omisso e falso, pois ele afirmava terem ocorrido prisões em flagrante delito, mas os abolicionistas presos haviam sido capturados na casa de um deles, longe do local do crime. Além disso, o inquérito não trazia a assinatura de nenhuma testemunha do flagrante, exigência primordial para executar-se o flagrante delito. Também publicaram a análise detalhada do inquérito, feita pelo Dr. Godofredo Xavier da Cunha, que contrapôs a perícia com os testemunhos e afirmou que o inquérito sequer cumprira a primeira exigência: mostrar a intenção dos agentes do crime. Como defesa, queriam provar que o inquérito fora todo forjado para incriminar os abolicionistas e que tudo no processo era falso: os acusados não foram presos em flagrante, os depoimentos não tinham valor, não havia crime de tentativa de assassinato e nem prova de que os acusados tivessem perpetrado ferimentos nas vítimas.

Por fim, após sofrerem o atentado, combaterem o inquérito considerado fraudulento, os abolicionistas de Campos saíram vitoriosos, pois

[...] o exm. sr. dr. Juiz de direito, acima de todas as paixões, de todos os ódios, colocando a imparcialidade do magistrado honesto, consciente de sua missão, confirmou o despacho de despronúncia, do dr. juiz municipal, por sua vez, escrevendo nesse processo, que será de vergonha eterna, arquivada no cartório crime. (VINTE E CINCO DE MARÇO, 2 fev. 1888, p. 1-2)

97 VINTE E CINCO DE MARÇO, Campos dos Goytacazes, 22 jan. 1888. Seção “Vinte e Cinco de Março”, p. 1.

Confiantes da vitória, os abolicionistas afirmam que processariam o bacharel Abreu Lima pelo crime de dano e que pediriam indenização pela destruição da tipografia, elogiam os magistrados que decidiram a seu favor e afirmam que os abolicionistas libertos ficariam para sempre na memória histórica.

Em oposição, a versão exposta pelo Monitor Campista é bastante diferente. Descreve detalhadamente a destruição da tipografia com aparente imparcialidade, ressaltando as medidas tomadas pela polícia e as requeridas pelos advogados dos abolicionistas — Pedro Tavares e Cândido de Lacerda.

Em seguida há uma clara indicação do que o Monitor Campista supunha ser a causa da invasão do jornal. Sob o título de “Incêndio de canaviais”, o jornal relata que duas noites antes da invasão, ocorrera um “grande e violento incêndio em um dos maiores canaviais do Becco, do Sr. José de Araujo”, que julgam ter sido provocado, como outras várias vezes já havia ocorrido. Essa arrumação das notícias não pode ser considerada pura coincidência. Ela indica aquilo que os responsáveis pelo Monitor Campista criam ser a razão dos eventos ocorridos na noite de 25 de outubro de 1887: o envolvimento dos abolicionistas com os incêndios. Em outras notícias, o jornal indica as causas apresentadas pela polícia para a invasão do jornal, falando de denúncias recebidas pelo delegado de que na sede do jornal escondiam-se muitas armas, o que provaram ser verdade com uma busca policial ao local. Nas entrelinhas, ficava a versão de que eram os abolicionistas os responsáveis pelo ocorrido, pois provocaram os senhores ao acenderem os “fachos da abolição”, numa clara alusão à queima nos canaviais, ao buscarem fazer a abolição rápida e não natural. Como consequência trágica, acabaram com a paz da cidade.98

No dia 20 de novembro de 1887, os abolicionistas do Vinte e Cinco de Março sofreram outro atentado. A polícia, na expectativa de impedir uma conferência abolicionista, gerou uma grande confusão nas ruas resultando no assassinato de uma mulher (Angelica Maria da Conceição) e no espancamento de populares, com graves ferimentos nos trabalhadores presentes. Na abordagem do Vinte e Cinco de Março para narrar tal episódio, fez-se uma interessante comparação com a polícia britânica que, diante de uma reunião de mais de mil operários na Trafalgar Square, mesmo enfrentando sérios problemas, como as lutas operárias, a miséria e a questão irlandesa, ela, a polícia, não usou da força e não assassinou ninguém. Os abolicionistas questionaram, então, se a função da polícia era a de reprimir manifestações cujos interesses eram públicos. Também perguntaram qual seria a justificativa para o uso de armas letais, desenhadas para combater inimigos em guerra, para lidar com a população civil. Perguntas que, certamente, podemos fazer até hoje à nossa polícia.

98 MONITOR CAMPISTA, Campos dos Goytacazes, 26-27 out. 1887.

Esse foi o último atentado descrito no Vinte e Cinco de Março. No ano de 1888, a situação da cidade de Campos reverte-se completamente com as fugas em massa levando à libertação da cidade. Porém, antes da vitória efetivada pela ação conjunta de abolicionistas e escravos, o jornal tentou, ainda em 1887, tornar a cidade livre da escravidão mediante a interpretação precisa da lei. Ou seja, até o último instante os abolicionistas de Campos lutaram por uma libertação vinda pelo cumprimento da lei, reservando para si a glória de serem os condutores dessa abolição. O caso da tentativa de libertação da cidade por meio das matrículas irregulares é o que analisaremos em seguida.