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Os atores na cadeia da soja

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Neste trabalho focamos a cadeia produtiva da soja. Prochnik e Haguenauer (2000) entendem que as cadeias produtivas resultam da crescente divisão do trabalho e maior interdependência entre os agentes econômicos. Por um lado, as cadeias são criadas pelo processo de desintegração vertical e especialização técnica e social. Por outro lado, as pressões competitivas por maior integração e coordenação entre as atividades, ao longo das cadeias, reforçam as articulações entre agentes.

As abordagens dos estudos da Economia dos Custos de Transação, que estão focadas na gestão de Cadeias Produtivas, dão ênfase nas relações entre empresas e produtores. Entretanto, as teorias econômicas pouco consideram as estruturas e redes sociais na definição do

comportamento econômico e a Nova Sociologia Econômica destaca que o processo de produção, a formação dos mercados e a gestão econômica são expressões da interação social, sobretudo na forma de redes sociais, o que propicia um enraizamento dos mercados na sociedade (GRANOVETTER, 1985). A Sociologia Econômica pressupõe que há outros aspectos que precisam ser analisados para a compreensão dos fenômenos econômicos da maneira mais completa possível (SERAFIM, 2008).

A nova sociologia econômica surge como resposta à expulsão da vida social da análise econômica, tanto na visão neoclássica quanto nas formulações da nova economia institucional (Wilkinson, 2008). Entretanto Steiner faz uma importante ressalva, a Sociologia Econômica não pretende ser antagônica à economia e visa retomar o diálogo interrompido durante 60 anos, oferecendo-lhe alternativas analíticas de modo que, juntas, possam produzir uma melhor compreensão de seus fenômenos de interesse (SERAFIM, 2008).

Segundo Steiner (2006), a sociologia econômica demonstra que o funcionamento da economia não pode ser explicado simplesmente pela gerência mercantil (preços), apontando para a necessidade de reintroduzir as instituições e as formas diversas de comportamento social na análise para dar conta da articulação entre os atores do mercado. Existe uma arena de trocas, onde estão inseridas questões estruturais, entre as quais, fatores naturais, históricas, tecnológicas e de atores, como Estado, sociedade civil e grupos de interesse, que apesar de externos à interação entre produtores e empresas, influenciam direta ou indiretamente estas relações cumprem papel central na coordenação das trocas, de forma simultânea em toda a interação do mercado. Esta arena pode ser compreendida como um espaço socialmente construído, onde os atores se conhecem, cooperam, colaboram e/ou disputam diferentes tipos de recursos.

Neste cenário situamos também questões do meio ambiente que envolvem as polemicas discussões do avanço da soja sobre novas fronteiras agrícolas, o desmatamento e as propostas de equilíbrio deste avanço com a moratória da soja, a política pública do Programa ABC ou ainda a manutenção de áreas protegidas com a reserva legal e o esforço do governo na criação do CRA - Cadastro Rural Ambiental.

Nesta mesma ótica, analisamos as diferenças entre o avanço da soja nas regiões Centro- oeste, no Norte e no Nordeste, ao identificar os seus fatores motivadores distintos: a relação dos produtores com a terra; a importância da tecnologia para a ocupação destas novas fronteiras; e as mudanças no cenário político, econômico e social nestas ocupações. Identificamos quais atores estão sendo fundamentais e como o Estado vem atuando de forma a incentivar, organizar ou frear

este avanço com políticas públicas distintas para cada região. E por fim, analisamos como estes grupos sociais organizados estão recaracterizando esta ocupação, com grandes transformações dos hábitos regionais.

Diante destas proposições, a da tese segue a seguinte estrutura. A Introdução aborda os principais referenciais que serão trabalhados nesta tese e inclui os Procedimentos de Pesquisa e o Referencial Teórico. Além desta Introdução, a tese contém mais três Capítulos, sendo o primeiro elaborado para entender a magnitude das transformações nas grandes commodities, mais especificamente a soja. Retrata a distribuição geográfica da produção mundial, e sua regionalização, abordando o nível de processamento e os dados históricos deste processo de transformação e a capacidade de transformação das principais esmagadoras.

O segundo capítulo focaliza a situação desse setor no Brasil para escoamento da produção de grãos. Identificam-se os atores líderes nas Cadeias Globais de Valor, o fluxo de exportação, o mix e os destinos dos produtos no mercado doméstico e a exportação do grão e seus subprodutos, como farelo, óleos e proteínas e a distribuição das exportações para diversos destinos, bem como as visões sobre a integração regional em torno da cadeia da soja nesse período. o impacto crescente da demanda chinesa e japonesa, da sua conexão com a expansão da fronteira no Centro- Oeste. Análisa as mudanças provocadas no mix de produtos exportados devido a forte entrada da China, as 4 grandes traders (ABCD - Archer Daniels Midland-ADM, Bunge, Cargill, Louis Dreyfus) agora somados aos novos atores como CofCo, Glencore, as traders japonesas e os Investment Funds, investindo ao longo da cadeia, tanto na produção da soja como na sua comercialização. Analisamos também o surgimento de atores regionais, como Amaggi, Caramuru, Algar, etc. Propõe-se apresentar a configuração da nova dinâmica de investimentos pelos grandes traders com as plantas de esmagamento no Centro-Oeste, motivados pela organização da cadeia a jusante, integrada com a indústria de gado, aves e suínos instaladas na região e os canais logísticos que apoiam a redistribuição da produção à nível global.

O terceiro capítulo tem como eixo as estratégias as políticas na promoção e plantio da soja, assim como as políticas que estão influenciando o mercado “disponível” e o “spot” e como estas relações se expressam em distintas estratégias e políticas logísticas e de acesso ao armazenamento.5 Os componentes do grupo ABCD e os novos atores do mercado estão se configurando para uma nova forma de atuação, com política de compra, financiamento da

5 O mercado disponível se refere a um mercado local criado pela política de armazenamento que permite aos produtores guardar a sua produção e nessa forma negociar melhores preços.

produção com a troca de insumos, também conhecido como barter e o aumento do mercado disponível redefinindo a organização da originação. Identifica-se, além das quatro grandes, a entrada de novos atores como Cofco, Glencore, as traders japonesas, atores vindos do mercado financeiro e grandes produtores que avançam a jusante – diante das novas oportunidades para exportar pelo Arco Norte, que agora se coloca como alternativa à problemática de “escoamento” pelos portos do sul e sudeste, já muito sobrecarregados. Trata por fim dos custos e rentabilidade desta cadeia produtiva, como fator atrativo dos novos atores.

O surgimento das Mega Farms na fronteira da soja/milho cria uma nova forma de organização dentro e fora da porteira, atuando com vantagens logísticas, por conta das facilidades de acesso aos portos do Arco Norte, ou pela atuação em novos segmentos de mercado com base na acumulação de capital agrícola. Este período de acumulação fortalece o grande produtor que consolida um novo poder político, oriundo do campo. Analisamos finalmente as mudanças legais que transformam o campo com uma legislação que propõe desde um selo social, a políticas ambientais, como o plantio direto - Programa ABC, a moratória da soja, as políticas de exportação de bens primários que geram há muito tempo disputas com o processo de industrialização (Lei Kandir 87/96), contrapondo produtores e processadoras numa nova dinâmica do campo.

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