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Os avanços na legislação brasileira e internacional

2.3 Proposições de políticas e práticas pedagógicas para o desenvolvimento de uma

2.3.3 Os avanços na legislação brasileira e internacional

A preocupação com o acesso ao ensino superior para as pessoas com surdez é evidenciada pelo MEC – Ministério da Educação e Cultura, de modo a promover a equidade no Ensino Superior. Nas recomendações do Relatório sobre Política Linguística de Educação Bilíngue – Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa de 2014, a avaliação de exames institucionais, como o ENEM (Exame Nacional de Ensino Médio), ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), ANA (Avaliação Nacional de Alfabetização), Provinha Brasil, Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), Encceja (Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos), vestibulares e os concursos públicos, entre outros, deve seguir as recomendações já existentes, ou seja, a recomendação 001/2010 do CONADE(Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência), que verte especificamente sobre “a aplicação do princípio da acessibilidade à pessoa surda ou com deficiência auditiva em concursos públicos, em igualdade de condições”; e as recomendações da Comissão Assessora de Especialistas em Educação Especial e Atendimento Diferenciado em Exames e Avaliações da Educação Básica do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) (MEC/SECADI/2014).

A garantia dos direitos da pessoa com surdez na educação superior é assegurada por meio de dispositivos legais, que têm alcançado avanços consideráveis no Brasil. Dentre esses dispositivos destacam-se a, a Lei nº 9.394/1996, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, Portaria nº 9.488/2007, a Lei nº 10.436/2002 que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão, o Decreto nº 6.949/2009, o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (BRASIL, 2009) Vê-se, portanto, que mesmo com toda essa política, a Universidade se depara com os desafios da formação de um sistema social mais inclusivo, o que se justifica pelo incremento do direito à educação. De acordo com informações contidas no Censo de Ensino Superior 2012 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), foram incluídas as categorias “Autismo Infantil”, “Síndrome de Asperger”, “Síndrome de Rett”, “Transtorno Desintegrativo da Infância” e “Altas habilidades/Superdotação”. Alterações ocorreram ainda na nomenclatura das variáveis “Baixa visão” para “visão subnormal ou baixa visão” e na “Deficiência intelectual/mental” para deficiência intelectual. Quanto às informações de cursos superiores, no Censo 2012 são criadas novas categorizações na variável “Recursos de Tecnologia Assistida Disponíveis às Pessoas com Deficiência”. Mesmo com essas mudanças nas nomenclaturas muitas são as dificuldades que estes alunos

enfrentam. Por isto, faz-se necessário a promoção de ações que possibilitem a inclusão no ambiente acadêmico em condições de igualdade (INEP, 2013).

As instituições de ensino superior também se deparam com os desafios da formação de um sistema social mais inclusivo. Isso se justifica pelo incremento do direito à educação, o desafio atual se pauta na necessidade de viabilizar o acesso e a permanência dessas pessoas, de formar um profissional e superar as barreiras de qualquer tipo, porque em relação à legislação, o Brasil tem alcançado avanços consideráveis.

De acordo com a referida Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, Portaria nº 948, de 09 de outubro de 2007 (BRASIL, 2007a), a Educação Especial se efetiva na Educação Superior por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação dos alunos. Estas ações envolvem o planejamento e a organização de recursos e serviços para a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas comunicações, nos sistemas de informações, nos materiais didáticos e pedagógicos, que devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas as atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão.

De acordo com os dados do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre as pessoas com deficiência com mais de 15 anos no país, 61,13% não têm instrução ou têm somente o ensino fundamental completo. Outros 14,15% têm ensino fundamental completo ou médio incompleto, 17,67% têm ensino médio completo ou superior completo e apenas 6,66% concluíram um curso superior. O Brasil, ainda conforme o último Censo, tinha em 2010, 45.606.048 pessoas com deficiência, o que representava 23,9% da população (IBGE, 2010).

Segundo dados constados no Portal do Ministério da Educação/Educação Superior Assessoria de Comunicação Social de outubro de 2012, a quantidade de matrículas de pessoas com deficiência na educação superior aumentou 933,6% entre 2000 e 2010. Estudantes com deficiência passaram de 2.173 no começo do período para 20.287 em 2010 – 6.884 na rede pública e 13.403 na rede particular. O número de instituições de educação superior que atendem alunos com deficiência mais que duplicou no período, ao passar de 1.180 no fim do século passado para 2.378 em 2010. Destas, 1.948 contam com estrutura de acessibilidade para os estudantes. No orçamento de 2013, o governo federal destinou R$ 11 milhões a universidades federais para adequação de espaços físicos e material didático a estudantes com deficiência, por meio de o Programa INCLUIR. O valor é quase quatro vezes maior em relação ao investimento deste ano, de R$ 3 milhões. O referido programa tem como objetivo promover ações para eliminar barreiras físicas, pedagógicas e de comunicação, a fim de

assegurar o acesso e a permanência de pessoas com deficiência nas instituições públicas de ensino superior. Até 2011, o programa foi executado por meio de chamadas públicas. Desde 2012, os recursos são repassados diretamente às universidades, por meio dos núcleos de acessibilidade. O valor destinado a cada uma é proporcional ao número de alunos (MEC, 2012). No entanto, quero destacar que os repasses do Programa Incluir, não vieram em 2016. (MEC, 2016)

No Brasil, 4,6 milhões possuem deficiência auditiva e 1,1 milhão são surdas, totalizando aproximadamente 5,7 milhões de pessoas1. No Censo do IBGE foram utilizadas 3 categorias para este levantamento populacional: "não consegue de modo algum" (supostamente, ouvir e escutar); "grande dificuldade" ou "alguma dificuldade". Segundo o Censo Escolar (INEP,2012) o total de alunos surdos na Educação Básica é de 74.547, os dados indicam a fragilidade da oferta e, consequentemente, da matrícula na educação infantil (4.485); a dificuldade de acesso à educação profissional (370), a predominância de matrículas no ensino fundamental (51.330); a queda das matrículas no ensino médio (8.751); a crescente evolução de matrícula na EJA (9.611). De acordo com o Censo da Educação Superior (INEP,2011), há um total de 5.660 estudantes matriculados em cursos superiores, sendo 1.582 surdos, 4.078 com deficiência auditiva e 148 com surdocegueira. Noto, portanto, que até o último Censo, os surdos e a surdez foram inscritos na ordem da dificuldade em escutar e ouvir. As conquistas dos movimentos sociais, em especial, as dos movimentos surdos deslocaram a questão da diferença de ser surdo - como elemento nucleador de um povo - da condição auditiva; um povo, ou comunidade, com cultura própria. Os surdos são diferenciados pela lei de Libras, do ponto de vista sociolinguístico, como pessoas surdos usuários de uma língua – a Libras. (MEC, 2014)

Nesse sentido, a sociedade é quem cria os problemas para as pessoas com surdez, causando-lhes barreiras para o desempenho dos papéis sociais, pois apresenta: restrições em ambientes; políticas discriminatórias e atitudes preconceituosas com as diferenças e ainda a exigência de pré-requisitos em que apenas uma maioria supostamente homogênea atinge; um total descaso, sobre os direitos das pessoas, além das práticas discriminatórias em muitos setores de atividade humana.

Em se tratando de direito a pessoa com deficiência se destaca, ainda, o Decreto nº 5.296, de 02 de dezembro de 2004 (BRASIL, 2004), que regulamenta a Lei nº 10.048 de 08 de novembro de 2000 que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica. Da mesma forma, este decreto regulamenta a Lei nº 10.098 de 19 de dezembro de 2000 (BRASIL, 2000),

que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção de acessibilidade das pessoas com deficiências ou com mobilidade reduzida.

A esse respeito, Fávero (2007) esclarece que o meio social constitui um dos fatores de maior relevância para operacionalização da educação inclusiva, especialmente professores, tem papel de fundamental importância na promoção do ensino inclusivo. No entanto, isso não basta. Parto da ideia de que a universidade, como grande formadora de profissionais e praticante de uma pedagogia que deve contribuir para superar a cultura da exclusão e da discriminação existente no seu interior. Seu papel fundamental de formar profissionais com mentalidade aberta ao trato com a diversidade, sendo que as práticas de inclusão desenvolvidas em seu interior devem servir de referência no processo de formação desses profissionais. Essa tarefa da educação superior encontra-se explicitada na Lei de Diretrizes e Bases, quando diz no Capítulo IV, artigo 43, sobre a finalidade da educação superior:

I- Estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo;

II- Formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua;

III- Incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive;

IV- Promover a divulgação de conhecimento culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação;

V- Suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento profissional e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração;

VI- Estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em participar os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;

VII- Promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição (BRASIL/LDB, 1996).

Pode-se observar que apesar de todos esses argumentos estarem explícitos nas referidas leis, as universidades ainda trabalham de uma forma excludente, preconceituosa e seletiva que se caracterizam por práticas desiguais (FÁVERO, 2007).

Considerando o princípio constitucional de que a educação é um direito de todos e, que deverá ser garantido em todos os níveis de ensino, o Estado deve proporcionar a Educação Superior não apenas em favor daqueles que recebem diretamente essa educação. Mas, também, considerar que o impacto para a sociedade passa pelos serviços prestados pelos profissionais por ela formados, a partir dos conhecimentos que produzem e compartilham.

A experiência profissional da pesquisadora, no contexto em que incorre a pesquisa, mostra que um dos aspectos referentes às questões acima trazidas, dizem de uma dificuldade de lidar com a diferença, os quais permitem identificar uma trajetória que considero instigante. Embora todos saibam que ser diferente é condição inerente do ser humano, a busca por semelhança parece oferecer uma pseudossegurança no estabelecimento das relações e nas práticas sociais.